A Urna de Tiago

“As próprias ciências onde surgiram objeções à religião, à medida que progrediram, removeram aquelas objeções e, por fim, forneceram plena confirmação à Palavra inspirada por Deus”.

Se a urna de pedra encontrada em Jerusalém em que aparece a inscrição aramaica “Tiago, filho de José, irmão de Jesus”, for verdadeira e não uma elaborada falsificação, se trataria, sem dúvida, do registro arqueológico mais importante relacionado a Jesus de Nazaré já encontrado.

A divulgação da descoberta foi feita pela RTP em 22 de outubro. De acordo com os peritos, o ossuário, que possui mais ou menos 50 cm de comprimento e 28 cm de largura, data do ano 63 da era Cristã. A tradução de sua inscrição foi feita pelo especialista em escritas antigas André Lemaire.

Por se tratar de uma urna de pedra, todas as pistas levam a um alto grau de probabilidade em relação a sua idade. Ossuários eram usados por famílias judias entre os anos de 20 a.C. e 70 da nossa era para guardar os restos de seus mortos.

Segundo especialistas, os nomes citados eram bastante comuns entre os judeus daquele tempo, mas em contraponto, a primeira parte da inscrição, “Tiago, filho de José”, corresponde perfeitamente aos costumes do tempo em que as pessoas eram conhecidas pelo nome do pai ou da cidade onde haviam nascido e acresce ainda a opinião dos pesquisadores que julgam ser praticamente impossível que, um ossuário daquela época, pudesse referir-se coincidentemente aos três personagens sem que os mesmos fossem os homens citados no Novo Testamento.

A pergunta mais importante que os especialistas estão se fazendo é o porquê de além de “filho de José”, a inscrição da urna inclui “irmão de Jesus”. E aí poderia estar toda a importância da dita inscrição. Segundo Lemaire, se o autor da inscrição incluiu na urna que Tiago, além de filho de José era também irmão de Jesus, é porque se tratava de um irmão “importante”, que devia ser popular na época, que devia ter-se algum mérito, se destacado por algo. De fato, toda a importância de Tiago na primeira comunidade cristã de Jerusalém era precisamente a de ser irmão de Jesus, o crucificado. Os apóstolos o tratavam com grande estima e reverência por ser irmão de Jesus e como podemos ler a seguir o texto bíblico confirma isso: “Em seguida, após três anos, subi a Jerusalém para avistar-me com Cefas e fiquei com ele quinze dias. Não vi nenhum apóstolo, mas somente Tiago, o irmão do Senhor” (Gl 1.18-19).

Mas, enquanto todos dirigem a atenção para o caso sob uma perspectiva arqueológica, científica, nos bastidores, os representantes da teologia católica romana, preparam-se para argumentar sobre a questão, uma vez que a igreja jamais admitiu que Jesus tivesse irmãos de sangue, contrariando o que pressupõe a “descoberta” e o que narra a Bíblia: “Não é ele o filho do carpinteiro? Não se chama a mãe dele Maria e os seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas? E as suas irmãs não vivem todas entre nós?” (Mt 13. 55-56).

OBJEÇÕES

No entanto, diferenças na caligrafia da inscrição em aramaico da urna levaram alguns especialistas a sugerir que a expressão que cita o Nome de Cristo poderia ter sido “adicionada”. Segundo fontes citadas pelo jornal norte-

americano the New York Times, a primeira frase Ya ‘a kov bar Yoseí (Tiago, filho de José) foi escrita em estilo formal, enquanto a segunda frase a khui Yeshua (irmão de Jesus) revelaria uma forma de escrever mais informal. A natureza e o tipo de inscrição foram debatidos durante uma conferência de pesquisadores da Bíblia e arqueólogos, em Toronto, no Canadá.

AUTENTICIDADE DEFENDIDA

André Lemaire, pesquisador francês especializado em aramaico pela Universidade de Sorbonne, que se tornou o primeiro a analisar a inscrição, voltou a defender a autenticidade da frase esculpida na urna funerária. “Quando observei a inscrição, não vi essa diferença. Na segunda parte da frase, também há a presença de uma escrita formal, embora haja duas letras em estilo informal. Mas a mistura dos dois gêneros de escrita também é comum em outras inscrições”, disse o pesquisador, cuja análise sobre a urna foi publicada pela revista Biblical Archaelogy Review no fim de outubro.

Durante a conferência, Lamaire contestou a afirmação de alguns estudiosos, ouvidos pelo jornal americano The Baltimore Sun, de que a segunda parte da frase, que faz referência a Cristo, teria sido adicionada durante o período bizantino em Jerusalém, quando peregrinos iam à Terra Santa em busca de objetos relacionados à pessoa de Jesus que pudessem ser venerados.

REFORÇO

No entanto, Peter Richardson, arqueólogo e professor emérito da Universidade de Toronto, lembrou que, durante o período bizantino, a maioria das pessoas referia-se a Tiago como irmão do Nosso Senhor”, e não como “o irmão de Jesus”. Para Richardson, a segunda parte da frase foi adicionada entre a metade do século 1 e o início do século 2 por alguém de uma comunidade cristã que conheceu Tiago. A segun­da parte da inscrição seria uma espécie de reforço da primeira, não uma falsificação”, destacou Richardson.

R Kyle McCarter Jr., um especialista em línguas antigas do Oriente Médio, da Universidade John Hopkins, concorda com Richardson. “Talvez alguém da comunidade onde Tiago era venerado, a qual guardava o ossá­rio dele, tivesse desejado tornar mais explícito que ele era irmão de Jesus”.

Hershel Shanks, editor da Bibli­cal Archaeology Review, a revista que publicou as primeiras notícias sobre a urna funerária, disse que não há razões para crer que a inscrição seja uma fraude. Por sua vez, geólogos israelenses, que analisaram a urna, disseram que ela, de fato, teria cerca de dois mil anos, conforme a revista noticiara no fim de outubro passado.

Em detrimento de tudo isso, embora reconheçamos a importância das descobertas científicas e até façamos uso delas, são nada mais que a confirmação da fé que professamos e vivemos. Ter a certeza de que Jesus foi um personagem histórico é um grande passo, mas não é suficiente para viver o cristianismo. Jesus foi mais que um simples homem que viveu entre nós. Jesus foi o verbo de Deus encarnado que veio ao mundo para redimir a humanidade por meio de seu sangue, padecendo por nossos pecados, morrendo na cruz para nos salvar e principalmente, sua ressurreição dentre os mortos, é a verdade que impulsiona a verdadeira igreja por ele fundada a marchar!

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