Você já deve ter ouvido “testemunhos” para lá de estranhos, como um que, há algum tempo, virou motivo de zombaria na Internet, pelo qual certo pregador afirma que galinhas, em um galinheiro, teriam sido “batizadas com o Espírito Santo”. Uma delas, inclusive, teria falado em línguas angelicais, sendo interpretada por um galo! Confira:
Muitos têm argumentado: “Deus não usou a boca de uma jumenta? Por que não pode usar galinhas? Não podemos pôr Deus dentro de uma caixinha”. Oh, sim, porém, nas circunstâncias que envolviam o mercenário Balaão, não havia ninguém, de fato, para ser usado por Deus. Foi uma exceção à regra. Não vemos depois daquele episódio Deus usando outros animais para transmitir mensagens com voz humana. Ah, e não nos esqueçamos de que o Diabo também usou a boca de uma serpente, no primeiro caso em que um animal falou (Gn 3.1).
Deixando um pouco de lado o assunto do galinheiro, muitos irmãos me perguntam se Deus usou mesmo a boca de uma jumenta. É claro que sim, mas não como se ela fosse um profeta de Deus, que diz “Assim diz o Senhor”. Sabemos que jumentas não falam; não raciocinam como homens, pois não foram dotadas da mesma capacidade humana para falar. Como teria aquela jumenta raciocinado e repreendido o profeta, que a espancava?
Foi Deus mesmo quem abriu a boca da jumenta. E foi somente depois de Balaão ter reconhecido o seu erro, ao ouvir as palavras do animal, que Deus abriu os seus olhos! “Que te fiz eu, que me espancaste estas três vezes? (…) Porventura, não sou a tua jumenta, em que cavalgaste desde o tempo que eu fui tua até hoje? Costumei eu alguma vez fazer assim contigo? E ele respondeu: Não. Então, o Senhor abriu os olhos a Balaão…” (Nm 22.28-31). O profeta só viu o anjo depois de ter ouvido a repreensão da jumenta!
É, pois, um equívoco pensar que Deus apenas abriu a boca do animal, que, por conta própria, raciocinou, articulou bem as sílabas e impediu a loucura do profeta! Deus abriu a boca da jumenta e lhe deu palavras inteligíveis, como se fosse uma pessoa falando, a fim de repreender Balaão (II Pe 2.16). Isso foi um milagre, uma ação divina sobrenatural! Não houve mensagem profética, do tipo “Assim diz o Senhor”, mas, quanto ao fato de Deus ter usado a jumenta, não há dúvidas.
Bem, voltando ao episódio da galinha que teria falado em línguas angelicais, sendo interpretada por um galo, em um galinheiro repleto de aves “batizadas com o Espírito Santo”, afirmo que, como servos do Senhor, não devemos interpretar a Bíblia à luz das nossas experiências, e sim estas à luz da Palavra de Deus. Esse “testemunho“ é aberrante, antibíblico e blasfemo.
Não há nenhum caso similar no Novo Testamento. Mas os defensores de “testemunhos” como esse recorrem a passagens bíblicas isoladas, fora do contexto, dizendo ter a “unção da loucura de Deus”, fazendo uma interpretação forçada de I Coríntios 1.25, que não menciona a loucura de Deus de modo literal. Ali a ênfase recai sobre a grandeza da sabedoria de Deus em comparação com a limitada sabedoria humana (cf. I Co 2.1-10). Tanto que o versículo menciona também a “fraqueza de Deus”. Por que os milagreiros da atualidade não pregam sobre a “unção da fraqueza de Deus”?
Outra passagem preferida dos milagreiros é João 14.12. Fenômenos para lá de exóticos ocorrem, gerando confusão, todos acompanhados de heresias verbalizadas. Isso sem falar do fato de que os tais milagreiros verberam contra veteranos homens de Deus, chamando-os de “velharada”. No entanto, quando estudamos, à luz da língua original, a expressão “coisas maiores”, vemos que Jesus enfatizou quantidade, e não qualidade das obras. As “obras maiores” que a igreja deve fazer hoje são as mesmas mencionadas em Marcos 16.15-20, e não sinais exóticos, estranhos, esquisitos, que só geram confusão e divisão.
Nos cultos da igreja de Beréia, os crentes recebiam de bom grado as pregações, mas as examinavam à luz das Escrituras (At 17.11). Imagine se um pregador, naqueles dias, dissesse que Jesus batiza galinhas com o Espírito Santo! Com certeza, considerariam tal afirmação blasfema, haja vista distorcer o propósito do revestimento de poder, dado exclusivamente às pessoas salvas, obedientes ao Senhor (At 2.39,38; 5.32).
Fica para nós uma lição: qualquer experiência, por mais extraordinária e “fenomenal” que seja, se não tiver apoio claro e inquestionável da Palavra de Deus ou gerar confusão doutrinária, deve ser rejeitada. Não é por acaso que as Escrituras nos mandam provar se os espíritos são de Deus (I Jo 4.1). Afinal, quem é espiritual discerne, julga, prova bem tudo (I Co 2.15).
Fontes:
Ciro Sanches Zibordi
http://cirozibordi.blogspot.com/2008/02/galinha-e-jumenta.html
http://www.pastorpauloroberto.com/index.php?pg=mostra_paginabd.php&c=1