“E assim por causa da vossa tradição invalidastes a Palavra de Deus.” Mt 15.6
A doutrina da Igreja Católica é um conjunto de leis, dogmas e revelações Bíblicas e extrabíblicas. Todo esse conjunto doutrinário está sustentado por um tripé que, segundo afirmam os melhores teólogos Católicos, é perfeito, uno e verdadeiro. Esse tripé é formado por três bases doutrinárias: a Palavra de Deus (Bíblia), o Magistério da Igreja e a Sagrada Tradição. Todas estas três bases são consideradas pelo Catolicismo de mesma fonte, isto é, têm o mesmo valor e a mesma autoridade.
A Palavra de Deus na Igreja Católica se divide em duas vertentes: a escrita (que é a Bíblia) e a oral (a Sagrada Tradição) que segundo afirmam, é a palavra transmitida “de
boca em boca” através dos séculos. Por sua vez, o Magistério da Igreja é o conjunto de todo o corpo episcopal e sacerdotal da Igreja que segundo creem, é responsável pela interpretação das Escrituras e tem autoridade para propor novas doutrinas.
Não é necessário ir muito longe neste assunto para entender a divergência entre o Catolicismo e as demais religiões Cristãs. Os Evangélicos, de uma forma geral, aceitam somente a Bíblia como base doutrinária. Algumas igrejas não protestantes oriundas da Igreja Católica, também rejeitam a Sagrada Tradição como base doutrinária.
Quando analisamos de forma prévia este assunto, podemos nos ver diante de um dos mais importantes assuntos que trataremos neste livro. Essa importância se dá, principalmente, porque muitas das demais doutrinas que serão estudadas neste livro dependem da Sagrada Tradição para existir. Portanto, é necessário que o leitor se familiarize com a importância da questão e trate-a como tal.
Não há uma data exata para a implantação da Sagrada Tradição, uma vez que a primazia Papal está presente no Catolicismo desde o Concílio de Constantinopla (607 d.C). Já o Magistério da Igreja foi implantado como base de doutrina no ano de 1076 pelo então Papa Gregório VII. No entanto, a Sagrada Tradição e o Magistério da Igreja só foram receber a mesma autoridade que a Sagrada Escritura no Concílio de Trento, no ano de 1546.
Neste capítulo, abordaremos a Sagrada Tradição e o Magistério da Igreja, mostrando o porquê de os Evangélicos crerem somente na Bíblia como fonte verídica de revelação divina.
O que é a Sagrada Tradição?
“A Sagrada Escritura é a palavra de Deus enquanto foi escrita por inspiração do Espírito Santo; a sagrada Tradição, por sua vez, transmite integralmente aos sucessores dos Apóstolos a palavra de Deus confiada por Cristo Senhor e pelo Espírito Santo aos Apóstolos, para que eles, com a luz do Espírito de verdade, a conservem, a exponham e a difundam fielmente na sua pregação;”
Concílio Vaticano II, Dei Verbum, parágrafo 9
“bem como as mesmas tradições que se referem tanto à fé como aos costumes, quer sejam só oralmente recebidas de Cristo, quer sejam ditadas pelo Espírito Santo e conservadas por sucessão contínua na Igreja Católica.”
Concílio de Trento, Sessão IV, parágrafo 783
Acima, temos dois trechos retirados de documentos oficiais da Igreja Católica. Estes dois trechos trazem breves definições do que é de fato a Sagrada Tradição. Mesclando estes dois trechos, podemos entender a Sagrada Tradição como “o conjunto de ensinamentos, leis, dogmas e costumes revelados aos Apóstolos e seus sucessores (no caso, os Papas) pelo Espírito Santo e conservados de contínuo na Igreja Católica de forma oral.”
Diante desta definição, gostaria de destacar três aspectos importantíssimos:
- A. A Bíblia não ensina a existência de uma Tradição Oral
A reforma protestante levava o seguinte slogan: Sola Fide, Sola Scriptura, Sola Gratia e Solo Cristo, isto é, Somente a Fé, Somente as Escrituras, Somente a Graça e Somente Cristo. A Sola Scriptura desconsiderava a Tradição Oral (supostamente recebida pelos apóstolos e mantida oralmente na Igreja sem ser escrita) como fonte autêntica da verdade.
É sabido que em nenhuma parte da Bíblia é ensinado a Sagrada Tradição nos moldes apresentados pelo Catolicismo. Os apologistas Católicos, em um esforço para provar Biblicamente a Tradição, sugerem dois versículos para tentarem validá-la. Abaixo temos os dois versículos retirados do Novo Testamento Edições Loyola traduzido pela CNBB:
“Eu vos louvo por lembrardes de mim, em tudo, e por conservardes as tradições tais quais vo-las transmiti.” (1Co 11:2)
“Portanto, irmãos, ficai firmes e guardai cuidadosamente os ensinamentos que vos transmitimos, de viva voz ou por carta.” (2Tes 2:15)
Segundo estes apologistas Católicos, a Tradição “é uma fonte paralela de convicção autêntica”. É necessário dizer que em nenhum dos dois versículos citados pelos apologistas Católicos existe qualquer sombra de uma suposta Sagrada Tradição. O que há nestes versos é uma demonstração da pregação oral ordenada por Jesus (Mt 28:20) que mais tarde seria escrita para segurança dos Cristãos (Fp 3:1) em virtude dos falsos profetas.
A Bíblia mostra um quadro totalmente diferente em relação à Tradição oral:
I. O próprio Deus escreveu os mandamentos – Êx 24:12
II. Ordenou a Moisés que escrevesse as leis – Êx 31:24-26, 34:27
III. Josué escreveu – Js 24:26
IV. Os profetas escreveram – Is 8:1, 30:8; Jr 30:2; Dn 7:1; Hc 2:2
V. Os Evangelhos foram escritos – Lc 1:3; Jo 20:30-31
VI. Lucas escreveu o livro de Atos – At 1:1
VII. Paulo escreveu diversas epístolas – Rm 15:15; 1Co 14:37; Gl 6:11; 2Tes 3:17; Fl 1:19
- Outros Apóstolos escreveram – 2Pe 3:1; 1Jo 5:13
IX. João escreveu o Apocalipse por ordem de Jesus – Ap 1:19, 2:18, 3:14, 14:13, 19:9, 21:5
Além destes, outros também foram inspirados por Deus para que escrevessem e registrassem a Palavra de Deus. Onde está a Tradição oral? Como pode haver uma tradição oral quando Deus se mostra tão interessado na escrita de sua Palavra? A Bíblia não ensina essa suposta Tradição, nem no Antigo Testamento e nem no Novo Testamento.
- B. A Tradição Oral, ainda que exista, não pode ser regra de fé
O porquê disto é bem simples. Diz um ditado popular muito válido “Quem conta um conto aumenta um ponto”. De certa forma, esse ditado se aplicaria à transmissão oral da Palavra se ela realmente necessitasse de ser eternizada assim. Como uma tradição oral iria atravessar séculos e séculos sem sofrer nenhuma alteração? É comummente conhecido que muitos Papas da Igreja Católica tiveram uma moralidade totalmente duvidosa; como podem ser dignos de confiança para portar uma Palavra tão gloriosa? Caro leitor, você realmente acredita que Deus deixaria sua poderosa Palavra, que tem poder para salvar (Rm 1:16), à mercê da honestidade humana? Pense nisto.
Felizmente Deus sempre proveu uma forma de tornar a sua Palavra inalterável. Por este motivo ele mandou que fosse escrita e lacrada com um selo: “Tudo o que te ordeno observarás; nada lhe acrescentarás , nem diminuirás” (Dt 12:32). Veja também Pv 30:5-6.
O apóstolo Paulo nos ensina muito bem a importância da escrita. Jamais poderia haver uma tradição oral na Igreja, pois ele sabia que muitos falsos mestres se infiltrariam nela. Quando Paulo escreve sua segunda carta aos Tessalonicenses já haviam se infiltrado alguns falsos ensinos naquela Igreja. Eles tinham recebido uma carta falsa em nome de Paulo, onde ele supostamente disse que o dia do Senhor já havia chegado (2Tes 2:2), e ficaram muito perturbados. Por este motivo, Paulo diz a eles que suas cartas teriam a sua própria assinatura (veja em 2Tes 3:17). Isso mostra que os ensinos da Palavra jamais poderiam subsistir por muito tempo dentro da Igreja por meio de uma Tradição oral sem serem deturpados.
Em sua carta aos Filipenses, Paulo lhes diz: “A mim, não me desgosta e é segurança para vós outros que escreva as mesmas coisas” (Fp 3:1). As mesmas coisas que Paulo já lhes havia ensinado de forma oral, ele fez questão de escrever, pois isso impediria que seus ensinos fossem deturpados por falsos mestres. Este foi o mesmo cuidado que Deus teve com sua Palavra, escrevendo-a e lacrando-a com a seguinte advertência:
“Eu, a todo aquele que ouve as palavras da profecia deste livro, testifico: Se alguém lhes fizer qualquer acréscimo, Deus lhe acrescentará os flagelos escritos neste livro; e, se alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida, da cidade santa e das coisas que se acham escritas neste livro.” (Ap 22:18-19)
Pense sinceramente nisto: depois da época apostólica, muitos falsos mestres apareceram ensinando heresias de fora e de dentro da Igreja. Onde está a Tradição oral? Como ela pode subsistir no meio de tantas heresias?
- C. Não pode haver revelações universais posteriores
A partir do momento em que João finalizou a escrita do livro do Apocalipse, a revelação estava completa e finalizada por inteiro. As palavras da profecia estavam totalmente entregues, nenhuma letra faltava, estava tudo perfeito. Mais tarde os livros foram reunidos em um único livro que foi chamado de Bíblia, palavra que vem do grego biblos.
Infelizmente isso foi um fato que não impediu posteriores “revelações”. Muitos falsos profetas se levantaram ao longo da história recebendo supostas revelações como Maomé, Joseph Smith, Ellen G. White, entre outros. Na verdade, suas revelações eram interpretações descabidas de textos Bíblicos, nas quais era desconsiderado o contexto, o sentido Teológico e até mesmo contradizendo outras partes da Bíblia. A Igreja Católica entrou neste redemoinho recebendo “revelações” totalmente fora do contexto Bíblico. Um simples texto como o de João 20:28, difícil de ser compreendido (2Pe 3:16), se tornou o principal texto que ensina a prática de indulgências e enriqueceu a Igreja Católica no século XVI.
O Catolicismo coloca sobre os ombros do Magistério da Igreja a tarefa de interpretar as Escrituras, pois só o Magistério teria o chamado “dom da verdade” e receberiam a “revelação” infalível do sentido de qualquer texto da Bíblia. Isto é puro monopólio da verdade.
Tudo que deveria ser revelado já o foi feito completamente. Deus não se esqueceu de nada e tudo que aprouve a Ele nos revelar está contido na sua Palavra que se autodeclara completa (Ap 22:18-19). Esta revelação completa está ao alcance de todos.
Caro leitor, você realmente acredita que a Sagrada Tradição é verdadeira? Não é intrigante o fato de que uma tradição que ensina que os sacerdotes devem ser celibatários só foi aplicada no ano de 1074? Por que não foi aplicada antes? Será que isso lhes foi revelado só em 1074? Sabemos que Deus nos revelou tudo por completo na sua poderosa palavra, portanto, devemos crer nela, pois ela é a única fonte da verdade divina.
O Carisma da Verdade no Catolicismo
“Com efeito, progride a percepção tanto das coisas como das palavras transmitidas, […] com a sucessão do episcopado, receberam o carisma da verdade. Isto é, a Igreja, no decurso dos séculos, tende contìnuamente para a plenitude da verdade divina, até que nela se realizem as palavras de Deus.”
Concílio Vaticano II, Dei Verbum, parágrafo 8
No trecho acima, o Concílio Vaticano II define a Igreja Católica como portadora do carisma da verdade. Carisma é o mesmo que dom, assim, o Catolicismo diz possuir o “dom da verdade”.
Existem duas coisas que me chamam atenção no trecho citado e creio que interessarão ao leitor também:
- A. O carisma da verdade
Quando, no trecho transcrito, a Igreja Católica afirma que “com a sucessão do episcopado, receberam o carisma da verdade”, ela se autointitula detentora única da verdade. Isto porque afirma que possui a sucessão do episcopado, coisa que outras Igrejas Cristãs oriundas da reforma protestante supostamente não têm.
Eu gostaria de informar aos clérigos Católicos que o carisma da verdade não está presente em uma instituição religiosa pelo fato de supostamente serem sucessores dos apóstolos. O dom da verdade está presente na Sagrada Escritura (veja Jo 17:17), mais expressamente no ensino da sã doutrina (1Tm 6:3-5). Por este motivo Paulo desfaz expressamente a autoridade espiritual de apóstolos que não ensinarem a sã doutrina (Gl 1:8). Ele também afirma que a Igreja é “coluna e baluarte da verdade” (1Tm 3:15), isto é, a Igreja deve zelar pela ensino perfeito e correto da verdade, missão que a Igreja Católica não cumpriu.
O fato principal nesta questão é o ensino Católico de sua infalibilidade. Por supostamente serem detentores do dom da verdade, ensinam que a Igreja Católica não pode errar em termos de fé e doutrina. Isso têm se tornado uma grande arma para neutralizar os argumentos de pessoas que utilizam a Bíblia para demonstrar alguns dos erros do Catolicismo.
É necessário que o leitor compreenda que todos estamos sujeitos ao erro, mesmo os que se dizem sucessores dos apóstolos. A única forma de não errarmos em matéria de fé e doutrina é seguindo a infalível Palavra de Deus. Paulo exorta Tito neste sentido, dizendo que ele deve ser “apegado à palavra fiel, que é segundo a doutrina, de modo que tenha poder tanto para exortar pelo reto ensino como para convencer os que o contradizem” (Tt 1:9).
- B. A tendência gradativa da revelação
Outra afirmação feita pela Igreja Católica no trecho é que a Igreja, no decorrer dos séculos, “tende continuamente para a plenitude da verdade divina”. Isso se equivale a dizer que a Bíblia não possui a revelação completa e acabada da verdade, e que nem mesmo a Sagrada Tradição possui toda a verdade. Neste ponto, adentramos no universo do dogmatismo revelado.
O dom da verdade que a Igreja Católica afirma possuir supostamente dá ao Magistério da Igreja uma competência para propor alguma verdade não conhecida antes. Esta é a razão pela qual o Catolicismo adiciona doutrinas e dogmas à fé Católica gradativamente.
A base do erro do Catolicismo está na revelação ser de caráter gradativo. Dizer que a Igreja tende continuamente para a plenitude da verdade é o mesmo que dizer que a verdade que Deus nos quer revelar ainda não foi entregue por completo. Essa ideia contradiz o que Judas escreveu no versículo 3 de sua carta: “exortando-vos a batalhardes, diligentemente, pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos”.
A Bíblia é clara ao afirmar que a doutrina já foi totalmente entregue. Ninguém pode ficar descobrindo novas doutrinas de tempos em tempos como se fossem gotas para encher um copo. O copo já está cheio, finalizado no livro do Apocalipse, pois estamos no que Paulo chama de “plenitude dos tempos” (Ef 1:10), onde Deus se revela de forma imparcial.
A Igreja Católica afirma possuir o dom da verdade. Isto exclui as demais igrejas Cristãs (principalmente os Evangélicos) de possuir tal dom. É necessário destacar que estudaremos o Magistério da Igreja mais à frente e veremos que a posse do dom da verdade pertence aos Cristãos em geral, pois eles conhecem e difundem a sã doutrina não havendo nenhum impedimento para eles, tanto para aprenderem a Bíblia, como para interpretá-la.
O Cânon Bíblico Católico e a Sagrada Tradição
“Mediante a mesma Tradição, conhece a Igreja o cânon inteiro dos livros sagrados, e a própria Sagrada Escritura entende-se nela mais profundamente e torna-se incessantemente operante; e assim, Deus, que outrora falou, dialoga sem interrupção com a esposa do seu amado Filho;”
Concílio Vaticano II, Dei Verbum, parágrafo 8
O Cânon das Sagradas Escrituras é o conjunto dos livros divinamente inspirados agrupados em um único volume conhecido normalmente pelo nome de Bíblia. A Igreja Católica possui em seu cânon setenta e três livros, sete a mais do que o cânon das demais religiões cristãs que relacionam somente sessenta e seis. Os sete livros excedentes presentes na Bíblia Católica são chamados de Apócrifos – que significa oculto – e são de inspiração extremamente duvidosa e questionável.
O Catolicismo afirma que os sete livros apócrifos contidos em seu Cânon Bíblico são inspirados por Deus baseada em sua Tradição e na suposta infalibilidade da Igreja. Eu gostaria de fazer algumas considerações sobre o Cânon Católico e desafiar a canonicidade destes sete livros, já que tal ato será de extrema importância no decorrer deste livro.
- A. A duvidosa infalibilidade do cânon Católico
No Concílio de Trento no ano de 1546 (época da contra reforma) definiu-se o cânon das Sagradas Escrituras dentro da Igreja Católica. Abaixo temos a citação do Concílio de Trento sobre o cânon dos livros do Antigo Testamento (onde estão presentes os sete apócrifos):
“Do Antigo Testamento: os 5 de Moisés, a saber: Gênese, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio; Josué, Juizes, Rute, os quatro dos Reis, os dois do Paralipômenos, o primeiro de Esdras e o segundo, que se chama Neemias; Tobias, Judite, Ester, Job, o Saltério de David com 150 salmos, os Provérbios, o Eclesiastes, o Cântico dos Cânticos, Sabedoria, Eclesiástico, Isaías, Jeremias, com Baruque, Ezequiel, Daniel; os 12 profetas menores, isto é: Oséias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miquéias, Nahum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias; o primeiro e o segundo dos Macabeus.”
Concílio de Trento, Sessão IV, parágrafo 783
Os sete livros apócrifos citados no trecho acima são: Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruque e 1 e 2 Macabeus. Os demais livros citados são inerentes a todos os Cânones Cristãos e Judaicos.
A questão é bem simples. Se estes livros já estavam presentes na Bíblia Católica oriunda da tradução feita por Jerônimo, por que não foram canonizados antes? Alguns dizem que tais livros só foram aprovados dentro do Cânon Católico, pois contém bases para algumas doutrinas do Catolicismo que foram atacadas pelos reformadores protestantes. Antes de Trento, os livros apócrifos eram permitidos para leitura e para edificação, mas não eram permitidos como bases doutrinárias.
Vários pais da Igreja (patriarcas dos primeiros séculos) rejeitaram a canonicidade dos sete livros apócrifos, provando que a Tradição Oral não pode definir o índice canônico. Eis alguns dos pais da Igreja que rejeitaram a canonicidade dos apócrifos:
I. Militão (bispo de Sardes) – Séc. I
II. Orígenes – Séc. III
III. Anatásio, Cipriano, Eusébio – Séc. IV
IV. Jerônimo e Epifanio – Séc. V
V. O Papa Gregório, o Grande – Séc. VII
VI. João Damasceno – Séc. VIII
Além destes, vários outros rejeitaram os apócrifos nos séculos seguintes. Gostaria de destacar o famoso Cardeal Caetano (Séc. XVI) que escreveu um comentário sobre os livros históricos do Antigo Testamento doze anos antes do Concílio de Trento. Neste documento, ele mostra sua consideração por Jerônimo, quando este faz distinção entre os livros canônicos e os apócrifos. Eis a sua declaração:
“Bem-aventurado padre: A Igreja Latina Universal deve muitíssimo a São Jerônimo, não só por causa de suas notas sobre as Escrituras, como também porque fazia distinção entre os livros canônicos e os não canônicos, por cujo motivo nos pôs a salvo da acusação dos judeus que, de outra maneira, poderiam dizer que nós havíamos forjado livros ou parte de livros pertencentes ao antigo cânon, os quais eles nunca haviam recebido.”
Caetano Lpis. Dedic. Ad. P. Clem. VII ante Com. In lib. llist. V.T., Paris, 1546.
A Igreja Católica atribui as regras de definições do Cânon à sua suposta infalibilidade. Afirmam que eles definiram o índice das Sagradas Escrituras guiados pelo Espírito Santo e que por isso não podem errar. Caro leitor, você acha que esse argumento é válido? Ou será que a Igreja Católica aprovou os livros apócrifos somente para tentar combater as ideias protestantes? Pense nisto.
- B. Argumentos contra a canonicidade dos apócrifos
Os Evangélicos de uma maneira geral não aceitam a canonicidade dos livros apócrifos. Isso, no entanto, não os elimina como fonte histórica e edificante, já que ali residem narrações de muita importância para a nação de Israel. Contudo, estes livros não devem ser tomados como base para doutrinas, pois carecem de Inspiração divina.
Gostaria de apresentar alguns argumentos contra a canonicidade dos livros apócrifos. Peço a você, caro leitor, que examine estes argumentos com muita sinceridade e pensamento crítico.
Argumento 1 – A incompatibilidade com o Cânon Judaico
A Bíblia dos Judeus é chamada de Tanakh e contém 39 livros (somente os do Antigo Testamento). Estes 39 livros são divididos em três partes: Torá (o Pentateuco), Neviim (os Profetas) e Kethuvim (os Escritos).
Os Judeus consideram os apócrifos de muita importância histórica (principalmente os dois livros de Macabeus), mas não os colocam na mesma posição dos livros canônicos. Jesus, por exemplo, utilizou o Cânon Judaico de 39 livros, isto é, sem os Apócrifos.
Argumento 2 – Contém fábulas e erros
Os livros apócrifos contêm histórias que mais parecem lendas, além de erros geográficos e históricos. O livro de Tobias, por exemplo, erra ao supor que Senaqueribe era filho Salmaneser (Tobias 1:18) ao invés de Sargão II.
O mesmo livro de Tobias descreve uma situação um tanto exótica, senão vejamos:
“Tobias partiu, pois, seguido de seu cão, e deteve-se na primeira parada à beira do rio Tigre. Descendo ao rio para lavar os pés, eis que um enorme peixe se lançou sobre ele para devorá-lo. Aterrorizado, Tobias gritou, dizendo: Senhor, ele lança-se sobre mim. O anjo disse-lhe: Pega-o pelas guelras e puxa-o para ti. Tobias assim o fez. Arrastou o peixe para a terra, o qual se pôs a saltar aos seus pés.” (Tobias 6:1-4)
É útil dizer que o texto citado não se trata de uma visão, mas da narração de uma situação real. Não é necessário mostrar que a história contada pelo livro de Tobias é um tanto “exagerada” em seu conteúdo.
Além do livro de Tobias, podem-se encontrar erros cronológicos e históricos no livro de Judite. Em 1 Macabeus encontram-se erros cronológicos, históricos e numéricos que refletem ignorância e confusão.
A Palavra de Deus não contém erro algum, é totalmente perfeita de forma histórica, cronológica e principalmente Teológica.
Argumento 3 – Contém ensino de feitiçaria e contém mentiras
O livro de Tobias contém uma narração posterior ao episódio do peixe que ensina a prática de feitiçaria. Vejamos o trecho:
“Entretanto, Tobias interrogou o anjo: Azarias, meu irmão, peço-te que me digas qual é a virtude curativa dessas partes do peixe que me mandaste guardar. O anjo respondeu-lhe: Se puseres um pedaço do coração sobre brasas, a sua fumaça expulsará toda espécie de mau espírito, tanto do homem como da mulher, e impedirá que ele volte de novo a eles.” (Tobias 6:7-8)
A ação de se expulsar demônios por meio da fumaça do coração queimado é uma prática que se assemelha muito com a feitiçaria condenada pela palavra de Deus (Êx 22:12; Lv 19:31; Lv 20:27; Dt 18:20; Gl 5:20; Ap 21:8).
Curiosamente o mesmo livro de Tobias nos mostra outra informação interessante. Vejamos:
“Então o anjo disse-lhe: Eu o levarei até lá e to reconduzirei. Tobit então perguntou-lhe: Rogo-te que me digas de que família e de que tribo és tu?. O anjo respondeu: Que é que procuras: a raça do servo, ou o próprio servo para acompanhar teu filho?. Mas, para tranquilizar-te: eu sou Azarias, filho do grande Ananias.” (Tobias 5:15-18)
O anjo mentiu sobre sua identidade quando disse ser membro de uma família humana. Este anjo (cujo nome era Rafael, veja Tobias 8:3) não pode ser um anjo de Deus, visto que os anjos eleitos não mentem. A mentira é criação exclusiva de satanás (Jo 8:44) e, na esfera angelical, somente os anjos caídos a praticam. Quem ama e pratica a mentira não tem parte no reino de Deus (Ap 22:15).
Argumento 4 – Contém erros Teológicos
O livro de Eclesiástico ensina:
“Faze o bem ao homem humilde, e nada dês ao ímpio; impede que se lhe dê pão, para não suceder que ele se torne mais poderoso do que tu. Pois acharás um duplo mal em todo o bem que lhe fizeres, porque o próprio Altíssimo abomina os pecadores, e exerce vingança sobre os ímpios.” (Eclesiástico 12:6-7)
Isso contradiz claramente um texto Bíblico: “Se o que te aborrece tiver fome, dá-lhe de pão para comer; se tiver sede, dá-lhe água para beber,” (Pv 25:21).
O livro de Tobias e o livro do Eclesiástico ensinam heresias sobre o perdão de pecados:
“Boa coisa é a oração acompanhada de jejum, e a esmola é preferível aos tesouros de ouro escondidos, porque a esmola livra da morte: ela apaga os pecados e faz encontrar a misericórdia e a vida eterna.” (Tobias 12:8-9)
“A água apaga o fogo ardente, a esmola enfrenta o pecado.” (Eclesiástico 3:33)
Em ambos os textos são ensinadas aberrações teológicas. Boas obras e esmolas não apagam o pecado. Os apócrifos contradizem a Lei de Deus que afirma que “sem derramamento de sangue não há remissão” (Hb 9:22). Portanto, como esmolas e boas obras não são sangue, não podem apagar o pecado do qual somente alcançamos a remissão pelo sangue de Jesus Cristo (veja Hb 9:11; 1Pe 1:18-19).
Além destes erros, existem outros que discutiremos no decorrer deste livro.
Argumento 5 – Os apócrifos são de inspiração duvidosa
O livro de 2 Macabeus contém informações sobre sua escrita que são irrelevantes para a definição de sua não canonicidade. Veja o trecho transcrito abaixo:
“ mas se pelo contrário foi escrita com menos dignidade, deve-se-me perdoar.” (2Macabeus 15:38)
A transcrição foi feita da Bíblia Católica traduzida pelo Pe. Antônio Figueiredo e mostra um pedido de perdão incomum nas Escrituras. O escritor pede perdão por uma eventual falta de cuidado com alguma informação contida no livro, algo humanamente muito bem aceito, mas que não pode haver em uma obra inspirada por Deus. O livro de 2 Macabeus pode ter uma importância histórica muito grande, até mesmo para a Igreja Cristã, mas assim como os outros seis apócrifos, não pode ser equiparado com o restante das escrituras.
Podem-se formular mais argumentos, mas deixo estes como exemplos do porque de a definição canônica de Trento ser de autoridade duvidosa. O Cânon Bíblico das demais religiões Cristãs é baseado em testemunhos dos pais da Igreja, informações e evidências judaico-cristãs além de diversos estudos nos livros em si. Não baseamos nossa certeza sobre os livros canônicos em uma suposta autoridade infalível que decide, no calor de uma luta doutrinária, o índice dos livros inspirados.
Não quis sair do assunto deste capítulo, mas apenas abri um parêntese para mostrar que, além da Sagrada Tradição ser incapaz de definir o Cânon Bíblico, o Magistério da Igreja se equivocou ao inserir os livros apócrifos no Velho Testamento. Peço ao amigo leitor, que guarde bem esses argumentos, pois nos serão necessários no decorrer deste livro.
Outra Base Para Doutrinas
“a sagrada Tradição, por sua vez, transmite integralmente aos sucessores dos Apóstolos a palavra de Deus confiada por Cristo Senhor e pelo Espírito Santo aos Apóstolos, para que eles, com a luz do Espírito de verdade, a conservem, a exponham e a difundam fielmente na sua pregação; donde resulta assim que a Igreja não tira só da Sagrada Escritura a sua certeza a respeito de todas as coisas reveladas.”
Concílio Vaticano II, Dei Verbum, parágrafo 9
A última frase do trecho transcrito acima diz categoricamente: “a Igreja não tira só da Sagrada Escritura a sua certeza de todas as coisas reveladas”. Isso mostra que a Igreja Católica não usa a Bíblia como a única fonte da verdade, mas como uma das fontes da verdade.
Afirmando que existe outra base para sua certeza das coisas reveladas, a Igreja Católica ganha campo para introduzir doutrinas que não se encontram na Bíblia, procurando nela somente “lampejos”. Assim, a Igreja Católica pode formular uma doutrina que não se encontra na Bíblia e apenas distorcer algum versículo das Escrituras com sua interpretação “infalível” feita pelo Magistério da Igreja.
Isso se assemelha muito ao que faziam os Fariseus na época de Jesus. Estudiosos afirmam que eles inseriram mais de 300 regras além da Lei de Moisés. Jesus os repreendeu várias vezes por causa disto (veja Mt 15:3, 6, 9), chegando a pronunciar a fala que escolhi para versículo áureo deste capítulo: “E assim por causa da vossa tradição invalidastes a palavra de Deus” (Mt 15:6).
O mais intrigante é que o Catolicismo se assemelha muito ao farisaísmo neste aspecto. Moisés recebeu a lei de Deus e a escreveu para as gerações futuras. Os Fariseus de certo modo, desempenhavam um papel semelhante ao de Moisés enquanto autoridade espiritual (como afirma Jesus com a expressão “Cadeira de Moisés” em Mt 23:2), mas não se contentavam com a Lei de Deus e criavam doutrinas que eram mandamentos de homens. O Catolicismo não tem, ao longo de sua história, feito o mesmo? Não estão os Papas na “cadeira de Pedro” ditando ordenanças e dogmas que não se encontram na Bíblia? Se o leitor for Católico, pense sinceramente nisto.
Colocados em Igualdade
“Por isso, ambas devem ser recebidas e veneradas com igual espírito de piedade e reverência.”
Concílio Vaticano II, Dei Verbum, parágrafo 9
O Concílio Vaticano II reafirma o que foi definido em Trento: as Sagradas Escrituras, o Magistério da Igreja e a Sagrada Tradição têm o mesmo valor, a mesma autoridade e contém mesma verdade.
Ora, como alguém pode afirmar que suas palavras possuem a mesma autoridade que a Bíblia? É isso que afirma a Cúria Romana ao dizer que a Sagrada Tradição (palavras do Papa) e o Magistério da Igreja (todo o conjunto do magistério eclesiástico Católico) tem o mesmo valor que as Escrituras. Como podem afirmar uma coisa tão importante como essa? Dizendo isto, estão atraindo juízo para si.
Não existe autoridade espiritual na terra maior ou mesmo igual à Bíblia. A Bíblia é a Palavra de Deus, inspirada por Ele. Não me assusto ao ver a Igreja Católica elevando seu Magistério ao posto que só Deus deva ocupar. O Papa, por exemplo, é chamado de “vigário de Cristo”.
Por fim, lembremo-nos das palavras de Paulo, quando este mostra as características do “homem iníquo” ou anticristo, dizendo que ele “se assenta no santuário de Deus, apresentando-se como Deus” (2Tes 2:4). Meu pedido aos Católicos Romanos é que pensem bem no que acreditam, pois é certo que a Bíblia é verdadeira e fiel (Jo 17:17; Tt 3:8); mas e o Magistério da Igreja, é verdadeiro e fiel? Realmente possui o poder e autoridade que dizem ter? Pense nestas questões.
A Interpretação Bíblica e o Magistério da Igreja
“Porém, o encargo de interpretar autenticamente a palavra de Deus escrita ou contida na Tradição, foi confiado só ao magistério vivo da Igreja, cuja autoridade é exercida em nome de Jesus Cristo.”
Concílio Vaticano II, Dei Verbum, parágrafo 10
“decreta que ninguém, fundado na perspicácia própria […] ouse interpretar a mesma Sagrada Escritura contra aquele sentido, que [sempre] manteve e mantém a Santa Madre Igreja, a quem compete julgar sobre o verdadeiro sentido e interpretação das Sagradas Escrituras, ou também [ouse interpretá-la] contra o unânime consenso dos Padres”
Concílio de Trento, Sessão IV, parágrafo 786
Novamente a Igreja Católica reafirma aquele antigo papel da maioria que diz: “Nós somos a verdade por que nós dizemos que somos a verdade”. O Catolicismo libera a leitura da Bíblia aos leigos (mas nem sempre foi assim), porém, coloca-lhes limites para interpretarem a Bíblia. Novamente a Igreja Católica afirma possuir o dom da verdade, pois interpreta a Bíblia do jeito que quer e não permite ser contrariada.
Em absolutamente nenhuma parte da Bíblia existe um único versículo que afirme e comprove o que diz a Igreja Católica sobre sua particularidade na interpretação Bíblica. Aliás, a Bíblia diz o contrário: “nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação” (2Pe 1:20). Caro leitor, atente para a seguinte questão: onde está o Magistério da Igreja neste versículo: “Ora, estes de Beréia eram mais nobres que os de Tessalônica; pois receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim” (At 17:11) ? Isso revela que os Cristãos de Beréia estudavam e colocavam à prova as palavras de Paulo e Silas, sendo que por este motivo, são chamados de nobres.
A Bíblia nos ensina a provar as coisas pela Palavra rejeitando aquilo que não provém de Deus (1Tes 5:21). Devemos, porém, interpretar a Bíblia sabendo que “há certas coisas difíceis de entender” (2Pe 3:16) que necessitam de um estudo mais profundo em vários pontos. A verdade é que Deus deu a sua Palavra a todos (veja Sl 119:130) e todos podem interpretá-la desde que estejam dispostos a compreendê-la mais e mais. A própria Bíblia diz que Deus se revela àqueles que o buscam (Jr 29:13), principalmente se tal busca se der por meio das Escrituras Sagradas.
Só a Bíblia Não Basta
“É claro, portanto, que a sagrada Tradição, a sagrada Escritura e o magistério da Igreja, segundo o sapientíssimo desígnio de Deus, de tal maneira se unem e se associam que um sem os outros não se mantém, e todos juntos, cada um a seu modo, sob a acção do mesmo Espírito Santo, contribuem eficazmente para a salvação das almas.”
Concílio Vaticano II, Dei Verbum, parágrafo 10
A Igreja Católica afirma que a Sagrada Tradição, o Magistério da Igreja e a Bíblia tem o mesmo valor. Porém, vão mais além, afirmando que estes três são codependentes. Em outras palavras, querem dizer que a Bíblia, por si só, não pode se manter sem a Sagrada Tradição e o Magistério da Igreja.
A Bíblia, ao contrário do que afirma a declaração do Vaticano II citado acima, tem poder próprio e independe de qualquer coisa para operar eficazmente. Isto porque a Palavra de Deus é “viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração” (Hb 4:12). Onde a Bíblia necessita de alguma tradição ou magistério para ser eficaz? Ela tem poder próprio, inerente a ela, pois ela não é uma palavra morta, mas sim viva.
O apóstolo Paulo nos mostra como a Palavra de Deus é suficiente para nos salvar completamente:
- A Palavra salva – Efésios 1:13
- A Palavra santifica – 1Timóteo 4:5
- A Palavra purifica – Efésios 5:26
- A Palavra gera fé – Romanos 10:17
Como uma Palavra tão poderosa pode necessitar de alguma coisa? Como pode ser ligada à outra coisa a ponto de não subsistir sozinha? Caro leitor, como alguém pode afirmar que a Palavra de Deus depende de alguém ou outra coisa para se manter?
Conclusão
Vimos que a Igreja Católica ensina o seguinte sobre a Sagrada Tradição e o Magistério da Igreja:
- A Sagrada Tradição é a doutrina não escrita transmitida através dos séculos de forma oral no seio da Igreja;
- A Tradição tem a mesma importância e veracidade que a Bíblia;
- Só pela ação do Magistério da Igreja pode-se interpretar corretamente a Bíblia;
- A Tradição também é base de doutrinas da fé Católica.
Existem vários argumentos formulados por Teólogos em favor da Sagrada Tradição, porém, todos facilmente refutáveis e, portanto, frágeis. É bom lembrar que realmente há coisas que não foram escritas na Bíblia (Jo 21:25), mas não podemos utilizar este fato para provarmos algo que está totalmente fora da perspectiva divina. Ora, como se deu a inspiração divina das escrituras (2Tm 3:16) ? Não foram inspiradas pelo Espírito Santo (Mc 12:36; At 1:16; Hb 3:7; 1Pe 1:11) ? Não foi este mesmo Espírito que selecionava as coisas por sua própria vontade (At 15:28; 1Co 12:11) ? Não poderia ele também selecionar o que queria escrever e o que não (2Pe 1:21; Ap 10:4) ? O próprio Jesus glorificado incita João a escrever suas visões (como fez João em 1Jo 1:1-4) que mais tarde seriam conhecidas como o livro do Apocalipse (Ap 1:11,19; 2:1,8,12,18; 3:1,7,12,14; 14:13; 19:9; 21:5). Perceba como o Espírito Santo é seletivo no que se deve escrever como demonstrado em Ap 10:4.
Podemos concluir que tudo o que ensina a Igreja Católica sobre a Sagrada Tradição não pode ser sustentado pela Bíblia. Isto significa que a Sagrada Tradição, nos moldes do Catolicismo, é um total desvio da fonte única de conhecimento de Deus na terra: a Sagrada Escritura. A revelação divina por oráculos especiais terminou com o livro do Apocalipse fechando completamente o Cânon das Sagradas Escrituras e da revelação divina.
Perguntas para a meditação:
- A Sagrada Tradição testifica da autoridade da Bíblia; mas por que a Bíblia não testifica sobre a autoridade da Sagrada Tradição?
- Por qual motivo a Sagrada Tradição só foi receber o mesmo valor que a Bíblia no Concílio de Trento? Será que ela mesma não testificava isto antes?
- Quando a Cúria Romana declara que a Sagrada Tradição e o Magistério da Igreja têm o mesmo valor e autoridade que a Bíblia, não estão eles dizendo que suas Palavras são tão poderosas e importantes quanto as Escrituras?
- Onde a Bíblia ensina que só o Magistério da Igreja pode interpretá-la? Por que as interpretações feitas por este magistério estão livres de erros? Não seria isso uma forma de manipular a verdade?
- Como alguém pode formular doutrinas que serão de suma importância na vida de uma pessoa, baseado em uma Tradição de origem duvidosa?
- Será que realmente existe uma Sagrada Tradição verdadeira? Será que o Magistério da Igreja realmente tem o poder que afirma ter? Ou será que estes são meios de ofuscar a verdade divina e torná-la dependente de homens?
Extraído do livro “O Catolicismo Romano e a Bíblia” – Rafael Nogueira