A teologia do nenê!

É uma infantofobia geral. A discriminação é total. Os nenês não têm vez. A mídia apresenta com freqüência a defesa dos direitos dos mais diversos grupos. O direito dos negros, árabes, mulheres, índios, adolescentes e etc são manifestos. Até as mais diversas preferências sexuais também recebem sua apologética! Animais silvestres, plantas raras, gatos, cachorros também são contemplados. Até objetos cúlticos populares são protegidos legalmente contra a discriminação. Já no caso dos nenês, isso não acontece! Os milhões de abortos praticados são “entendidos” a partir dos “problemas sociais”. As centenas de nenês abandonados pelos pais merecem apenas dó; mas, a mãe, é claro, não tem culpa. Se ela tivesse matado uma arara, aí sim, seria um crime inafiançável, mas abandonar um nenê… Temos de entender o que a levou a fazer isso. Não podemos julgar!!! Os nenês jogados pela janela pelas mães ou maltratados em casa deviam ter maturidade para entender que as mães e as mulheres têm problemas de depressão e de estresse. Infelizmente, não existe o sindicato de defesa dos nenês para reclamar o direito dos mesmos. Assim, a infantoclastia se generaliza.

Na Bíblia, porém, não é assim. Os nenês têm lugar especial. Ainda que a maioria dos religiosos e teólogos não se importe muito com eles também. Nem mesmo, os teólogos libertários, mais atentos a causas sociais, importam-se com os nenês! No caso de Deus, é diferente. É impressionante como Deus gosta de nenês. Para começar, sua primeira ordem para o primeiro casal criado é simples: “Sejam férteis e multipliquem-se!”, ou seja: “Tenham nenês” (Gn 1.28). Quando Deus constrói sua história de salvação através da Bíblia, os nenês têm papel importante. E tem mais! Nunca nenhum deles voltou-se contra Deus! A preocupação dos patriarcas escolhidos por Deus em Gênesis era ter nenê! Abraão, o homem de fé, só ficou realmente feliz quando nasceu o nenê de Sara, sua mulher. A alegria foi tanta que o nome do nenê era “riso”, significado do nome Isaque (Gn 21.5-6). Depois, quando Rebeca, mulher de Isaque, tem dificuldades de ter nenê, mais uma vez, a bondade de Deus manifesta-se: nasce um nenê, ou melhor, dois: Esaú e Jacó. A história da redenção divina poderia concentrar-se em batalhas ou em visões apenas, mas Deus faz questão de mostrar a primazia do nenê. Toda vez que alguma coisa especial vai acontecer lá está, adivinhe, o nenê. Um pouco mais adiante, a situação do povo ficará muito difícil no Egito. Quem surgirá para libertar o povo? Um anjo? Um arcanjo? Que nada! De novo, um nenê. Moisés, o nenê, que era um menino bonito e extraordinário (At 7.20), foi o grande libertador. Os maus odeiam os nenês, por isso, Moisés é o grande sobrevivente do holocausto contra os nenês promovido no Egito pelo faraó. Lembre-se, quanto mais perverso, mais ódio aos nenês. Esse foi o caso de faraó (Ex 1.22) e de Herodes, nos tempos de Jesus (Mt 2.16-18). No final da época dos juízes, no momento mais crítico da história do povo, outro nenê, muito esperado, vai fazer diferença. Graças às orações de Ana e à bondade divina, Samuel, o nenê, chegou trazendo esperança para Israel (1Sm 1.20).

A supervisão divina na formação de um nenê merece atenção especial na Bíblia. O salmista dá-nos os detalhes, valorizando o nenê ainda não nascido, digno perante Deus, sem valor para os homens maus: “Tu criaste o íntimo do meu ser e me teceste no ventre de minha mãe. Eu te louvo porque me fizeste de modo especial e admirável. Tuas obras são maravilhosas! Digo isso com convicção. Meus ossos não estavam escondidos de ti quando em secreto fui formado e entretecido como nas profundezas da terra. Os teus olhos viram o meu embrião; todos os dias determinados para mim foram escritos no teu livro antes de qualquer deles existir.” (Salmo 139.13-16)

No aspecto teológico, os nenês também estão numa situação privilegiada. Por exemplo, a relação dos fiéis genuínos com Deus tem como paradigma “os nenês”: “Cuidado para não desprezarem um só destes pequeninos! Pois eu lhes digo que os anjos deles nos céus estão sempre vendo a face de meu Pai celeste” (Mt 18.10). Quando chegamos ao campo da hermenêutica, ou da recepção e compreensão da revelação divina, novamente a vantagem é de quem é mais parecido com um nenê: “Naquela ocasião Jesus disse: ‘Eu te louvo, Pai, Senhor dos céus e da terra, porque escondeste estas coisas dos sábios e cultos, e as revelaste aos pequeninos (literalmente “nenês”). Sim, Pai, pois assim foi do teu agrado’.” (Mt 11.25,26)

Hoje em dia há uma grande discussão litúrgica na igreja. Qual é o louvor correto? Que instrumento usar? Que estilo é melhor? Tradicional? Avivado? Contemporâneo? Devemos louvar de frente? De costas? Sem costas? De lado? Tudo bobagem! Quem tem a resposta? De novo, os nenês!!! Basta ler a Bíblia. E lhe perguntaram: “Não estás ouvindo o que estas crianças estão dizendo?” Respondeu Jesus: “Sim, vocês nunca leram: “ ‘Dos lábios das crianças (literalmente “nenês”) e dos recém-nascidos suscitaste louvor’”? (Mt 21.16). Aqui é até mais fácil entender: nenês não vendem cds, não cantam para aparecer, são absolutamente sinceros e não têm palavreado vazio de crente!!!

Talvez esta primazia dos nenês e a predileção divina por eles explique o ódio contra os pobres pequeninos. Imaginem só: no mundo “civilizado”, é um “direito” matar nenês antes que nasçam, mas … tudo dentro da “lei”, como na época no estado nazista de Hitler. O chamado primeiro mundo está sofrendo por falta de nenês. As pessoas instruídas, cultas e ricas não gostam de nenês. Isso pode diminuir o valor delas na sociedade! Os psicólogos estão mostrando que muitas pessoas têm problemas sérios hoje porque foram maltratados quando eram nenês. Infelizmente, há até comércio de nenês! Que horror! Cuidado! O Deus, que é o Deus dos nenês, pode ficar irado e resolver agir!

A grande verdade é que o lugar do nenê é tão especial que Deus resolveu invadir a história humana na figura de um nenê. Em vez de descer diretamente do céu, ou de chegar repentinamente com um exército celestial para implantar seu reino, Deus preferiu a forma mais sublime de aproximar-se do homem: Vir como um nenê. Veja o que diz Lucas: “Enquanto estavam lá, chegou o tempo de nascer o bebê, e ela deu à luz o seu primogênito. Envolveu-o em panos e o colocou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria.” (Lc 2.6-7)

Diante disso, vale aqui lembrar as palavras de Madre Teresa de Calcutá, que parece ter percebido grande parte dessa importante realidade: “Temos medo da guerra nuclear e dessa nova enfermidade que chamamos de AIDS, mas matar crianças inocentes não nos assusta. O aborto é pior do que a fome, pior do que a guerra”.

Aqui vai um conselho espiritual. Antes de ler a Bíblia e de fazer uma oração, procure um nenê, de preferência dormindo, e gaste dois minutos em silêncio olhando bem para ele. Pronto, você está pronto para meditar e orar. Depois de tudo isso, acho que está na hora de parar por aqui. Já escrevi muito. Como um nenê, desculpem-me, preciso chorar.

Pr. Luiz Sayão

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