Carta do Dr. John Harvey Kellogg
09 de janeiro de 1936
Ao Sr. E. S. Ballenger,
4138 Mulberry Street,
Riverside, Califórnia.
Caro Ballenger:
Eu estou com sua carta de 30 de Dezembro.
A Sra. White comeu carne, e muita carne. No dia seguinte, após ela ter chegado à América, em seu retorno da Escandinávia. Eu jantei com ela na casa de um amigo em comum, perto de New Bedford, Massachusetts. Um grande peixe assado ocupou o centro da mesa. A Sra. White comeu livremente dele, como fizeram todos, com exceção da anfitriã e de mim. A partir deste ocorrido, eu acredito que a Sra. White começou a fazer uso de carne durante os vários anos que passou no exterior, principalmente na Suíça e na Escandinávia. Ela visitou o Sanatório frequentemente durante os anos que intervieram, antes de ela ir para a Austrália. E quando lá esteve, ela sempre pedia carne e, geralmente, por frango frito. O Dr. H. F. Rand era então o cozinheiro no Sanatório e tinha se tornado um ardente vegetariano e ele, em mais de uma ocasião, me disse: “É algo muito difícil para mim ter que preparar frango frito para a Sra. White.” Naqueles dias tivemos uma mesa bem liberal no Sanatório, onde nós servíamos carne para os amigos de pacientes que insistiam em tê-la, embora não a prescrevíamos para os pacientes.
Nas reuniões anuais da Conferência Geral, que foram sempre realizadas em Battle Creek, estávamos habituados a dar um banquete durante a Conferência. A maioria dos membros eram membros do círculo de eleitorado do Sanatório. Pensávamos que lhes devíamos essa cortesia. Nesses banquetes eles esperavam que se servisse carne.
Naqueles dias, praticamente todos os ministros Adventistas do Sétimo Dia comiam carne.
Eles sabiam que a Sra. White comia carne e, com não mais de duas ou três exceções, todos comiam frango ou carne de carneiro guisado que, normalmente, lhes era servido.
No dia do funeral do Ancião White, seu irmão e seus dois filhos que estiveram presentes no funeral, J. E. e W. C., jantaram no Sanatório. Eles comeram à mesa liberal e ambos comeram carne, apenas uma hora depois de seu pai ter sido enterrado.
Depois que a Sra. White retornou da Escandinávia ela visitou muitas reuniões campais, em alguns dos quais eu estava presente. Ela tinha, então, o hábito de comer carne e o fato deve ter sido de conhecimento geral. Ouvi J. E., em uma certa ocasião, em pé na frente da tenda de sua mãe, gritando para uma carroça que vendia carnes, e que visitava o local regularmente, quando já estava de saída, “Ei, olá vocês! Vocês tem alguma peixe fresco?” “Não”, foi a resposta deles. “Vocês tem algum frango fresco?” Mais uma vez a resposta foi “Não”, e J. E. gritou, em voz muito alta, “Mamãe quer um pouco de frango! É melhor obterem alguns rapidamente!”
Sempre se suspeitou de que ele era um dos que permaneciam ansiosos pelo frango e que a Sra. White comia-o também e que era, então, seu hábito.
Surpreende-me que o Ancião Star tenha afirmado que a Sra. White não comeu carne na Austrália. Ele deve ter se familiarizado com o fato de queela comia carne regularmente. Ela estava comendo carne quando foi até lá e continuou a comê-la por vários anos até que ela desenvolveu um reumatismo tão forte que ela não era capaz de andar e tinha de ser conduzida em uma cadeira de rodas e se sentar em uma cadeira enquanto ela falava.
Depois de um tempo ela desistiu do uso da carne e me escreveu a respeito. Ela disse que um de seus discursos sobre Temperança Cristã foi assistida por uma mulher católica, que foi presidente da W. C. T. U., e tinha se tornado uma vegetariana.
Após a palestra, ela chamou a Sra. White e agradeceu-lhe pela palestra e comentou: “Claro que você não deve comer carne, Sra. White.” E a Sra. White respondeu que ela o fez, por várias vezes, e naquele momento aquela senhora caiu sobre os seus joelhos e, com lágrimas escorrendo pelo seu rosto, suplicou que a Sra. White nunca mais permitisse que um pedaço de carne passasse pelos seus lábios. Disse a Sra. White em sua carta para mim, “Eu pensei que era o tempo de começar praticar meu próprio ensino.” Então, foi quando disse: “Eu parei com o uso de carne para mim mesma, mas eu ainda a sirvo para os meus funcionários.” Fanny Dolton estava com ela naquela época. Um, ou dois anos depois, Fanny voltou para Battle Creek. Ela abandonou a Sra. White, que incorporou em um de seus livros algo que ela tinha escrito, sem dar-lhe o devido crédito. Ela disse que a Sra. White tinha o hábito de fazer isso, copiando textos de vários outros livros, de modo que ela e Mary Ann Davis tinham de fazer uso destes materiais, transpondo frases e mudando parágrafos, tendo de desenvolver uma forma inteligente a fim de esconder a pirataria. Ela falou com a Sra. White sobre o assunto e se opôs a ter seu próprio manuscrito utilizado sem o devido crédito. A Sra. White ficou muito irritada e lhe esbofeteou o rosto. Ela mencionou o ocorrido a um dos pregadores e, logo em seguida, foi imediatamente demitida do emprego pela Sra. White, voltando para a América.
Eu não me lembro do nome de qualquer ministro que foi aconselhado pela Sra. White a comer carne, mas eu me lembro, claramente, de ela ter aconselhado algumas pessoas a comerem carne.
O fato é que muitas pessoas foram prejudicas naqueles dias pela prática do que eles chamavam de a Reforma da Saúde, algo que não era bem fundamentado. A falha principal estava no descarte da manteiga, que eliminou a vitamina A, baixando a resistência vital e eu creio que isso levou várias pessoas a desenvolverem tuberculose em muitos casos. Muitas pessoas foram, sem dúvida alguma, prejudicadas com a falta de gordura, especialmente gordura contendo vitamina A, como é o caso da manteiga e também de gordura animal (carneiro e bois).
Quando George I. Butler estava na cadeira presidencial da denominação Adventista do Sétimo Dia, a carne foi livremente utilizada e servida nas provisões padrões em todas as reuniões campais. Havia ocorrido uma deserção universal da Reforma de Saúde. Esta deserção, provavelmente, salvou um bom número de vidas, pois as pessoas estavam sofrendo por falta de vitaminas, não porque eles não usavam a carne, mas porque elas não usavam manteiga.
Com referência à história de Fanny Bolton sobre a Sra. White comer ostras, Fanny me disse que a primeira vez que ela encontrou a Sra. White foi em Chicago, em um restaurante. Ela havia sido informada de que a Sra. White estava comendo seu jantar em um determinado restaurante, foi até lá e descobriu que ela estava comendo ostras cozidas.
Eu penso que não devemos culpar a Sra. White de comer ostras, carne etc. tanto quanto as pessoas associadas a ela. Eles a fizeram acreditar que ela precisava de carne e devia comê-la.
Quando visitei as terras do acampamento Grand Rapids, uma das primeiras reuniões campais realizadas, eu encontrei nas provisões padrões, que ficavam bem visíveis a todos, bacalhau, grandes filés de linguado, arenques defumados, carne seca e mortadela. Eu encontrei algumas das mesmas coisas em todas as reuniões do acampamento que eu já visitei.
Depois de alguns anos eu tentei fazer com que essas coisas fossem retiradas. Em uma ocasião, a fim de limpar a provisão padrão, eu peguei todo o estoque de carne, queijo forte e algum material da padaria que eram custosos e detestáveis, que perfaziam quinze dólares, e ordenei que fossem jogados no rio. Eu estava certo de que isso seria feito, mas soube depois que essa provisão foi colocada do lado de fora após o fim da reunião do acampamento e que foi dividido entre os pregadores da Conferência. Isto ocorreu em Indiana. Eu recebi estas informações do Ancião Covert, que foi Presidente da Conferência.
A Reforma da Saúde que foi ensinada naqueles dias foi perversamente misturada com o erro e provavelmente fez mais mal do que bem e é uma vergonha colocar a responsabilidade disso sobre o Todo-Poderoso.
É claro que eu não quero ter meu nome associado a tudo isso. Eu não estou lutando contra os Adventistas do Sétimo Dia por duas razões: Eu acho que no geral, eles estão fazendo algumas coisas boas, e eu não quero impedir qualquer boa causa. Quanto aos seus erros eu os lamento e os repudio tanto quanto você, provavelmente até mais. Meu trabalho no mundo é criar e construir, e não destruir. Não tenho nada a dizer sobre o que é o dever de outras pessoas.
Com os melhores cumprimentos,
Atenciosamente,
(Assinado) Harvey Kellogg
Olá, boa tarde! Você tem a fonte desse documentos?