A sombra de Jonestown

Jim Jones

Jim Jones, ministro da seita Discípulos de Cristo, levou  grande número de seus adeptos à morte por envenena­mento nas matas da Guiana. A tragédia ocorreu após ter ele assassinado um senador e membros da comitiva desse político, os quais visitavam a colônia da seita com a finalidade de investigar denúncias de irregularidades.

Qualquer análise séria dos perigos do movimento Nova Era precisa levar em consideração a lição trágica de Jonestown, onde 915 seguidores de Jones e um senador preocupado que investigava a seita se tornaram vítimas de um fanático influenciado pelos ensinamentos da Nova Era.

Essa celebrada tragédia de engodo e assassinato por uma seita, em 1978, pode ser atribuída com segurança às doutrinas da Nova Era sobre a divindade do honu a, e à concepção relativista que ela faz do mundo.

Esse fato pouco conhecido tem sido omitido por todos os estudos da Nova Era. Ele é, contudo, importante e precisa ser analisado.

Apresso-me a acrescentar que Jones foi a exceção entre os seguidores de seitas, não a regra. Mas ele foi influenciado de maneira significativa pela Nova Era, e infelizmente capitulou ante essas idéias com terríveis conseqüências. Jones levou alguns dos ensinamentos a conclusões aterrorizantes, ilógicas.

 

O Elo Perdido: O Pai Divino e o Movimento da Missão de Paz

Depois de Jonestown, descobrimos que Jim Jones havia sido admirador e imitador do líder de uma seita sediada na cidade de Filadélfia, que se havia proclamado Pai Divino.

Pai Divino, cujo nome verdadeiro era George Baker, nasceu de escravos numa fazenda na ilha Hutchinson, no estado da Geórgia. Em 1914, em Valdosta, Geórgia, George Baker foi detido e preso como “ameaça pública”. Visto George Baker ter-se recusado a dar seu verdadeiro nome, o registro do tribunal declarava: O povo x John Doe , vulgo Deus. (N. da T. — John Doe eqüivale a João da Silva.)

O júri declarou que Baker “não era louco o suficiente para ser enviado ao hospício estadual, mas era louco o suficiente para ser obrigado a deixar o Estado da Geórgia”. Assim, o futuro deus empreendeu apressado êxodo do estado ingrato. De Valdosta, Baker conduziu um pequeno grupo de seguidores à cidade de Nova York, onde chegou em 1915 e se associou a um cavalheiro conhecido como S. João Hickerson, o Divino, que tinha uma obra bem-sucedida chamada a Igreja do Deus Vivo. Com Hickerson, Baker aprendeu a organizar seu grupo e, embora terrivelmente carente de educação formal, tornou-se um pupilo apto na arte da “divindade”.

Após muita deliberação, Baker comprou um sobrado por 2.500 dólares no número 72 da rua Macon, na comunidade totalmente branca de Sayville, em Long Island, e mudou-se para lá em seguida. A escritura da casa trazia os nomes de Major J. Divino e sua esposa Penniah.

George Baker, a exemplo de Hickerson, cria muito literalmente em 1 Coríntios 3:16, que se refere aos crentes como “santuários de Deus”; por isso ele raciocinava que, como Deus habitava nele, ele era Deus e com direito à autoridade divina. Baker ficou conhecido como “o mensageiro”, trazendo o exaltado título de “Deus e o Grau de Filiação”.

A fim de sustentar e expandir seu trabalho, Pai Divino instituiu a vida comunitária entre os seus seguidores, tomando os salários das pessoas na comunidade para financiar casa e comida para um número crescente de pessoas.

Depois de 1929, havia muitos estômagos vazios que de boa vontade aclamariam como divina qualquer pessoa que os enches­se. Ele se mudou de Sayville para o Harlem, e lá, durante a Grande Depressão, alimentou centenas de milhares de pessoas e esteve no topo da onda de popularidade do Harlem. Após Baker ter assumido o nome de “Pai Divino”, aceitou adoração dos seus seguidores. Era comum seus devotos louvarem-no com palavras como: “Lou­vado seja o seu santo coração, Pai Querido. Seus filhos estão felizes em saber que o senhor é um deus presente e não um deus do céu distante.”

Os seguidores do Pai Divino alegavam que ele havia morrido quase 2.000 anos antes na forma de Jesus de Nazaré, e que a manifestação de Deus no século dezenove não deveria ser a volta de Jesus em poder, conforme a Escritura descreve muito clara­mente (Apocalipse 1:7-8), mas na forma de um cruzado contra a intolerância racial e a falsa informação sobre a verdadeira natureza de Deus.

O Pai Divino aprovava. Pregava ele:

Por que acreditar em algo que eles dizem poder salvá-lo depois que passar desta existência para mantê-lo viven­do em pobreza, devassidão, faltas, desejos e limitações enquanto você está peregrinando nesta Terra? Não apenas os elevarei como meus verdadeiros crentes, mas livrarei a humanidade de toda superstição, e farei com que esqueça tudo acerca desse Deus imaginário que estou agora eliminando e dispersando do consciente das pessoas.

Baker blasfemou:

Cumprirei as Escrituras ao pé da letra e vocês podem dizer a todos os críticos e aos acusadores e aos blasfemos quando eles falam maliciosa e antagonisticamente a meu respeito que sou o Espírito Santo personificado! Se eles acreditarem ou não é irrelevante para mim, pois todos sentirão os resultados das idéias que pensam e dizem a meu respeito.

Foi para esta missão que eu vim. Está escrito: “O gover­no estará sobre seus ombros, ele será chamado Maravi­lhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade.” Por que vocês me chamam Pai? Deus todo-poderoso! Ribomba a resposta de milhares. Ora, não é maravilho­so? E Príncipe da Paz! Por que vocês dizem paz por aqui? Porque o Príncipe da Paz foi reconhecido.

Numa carta pessoal dirigida ao Sr. Kenneth Daire, escrita em 16 de março de 1949, Pai Divino declarou:

Assim, quanto maior a oposição, mais progrido, e quan­to mais minha divindade é observada, mais provo mi­nha onipotência, onisciência e onipresença. E provo meu senhorio sobre toda carne, pois se eu não fosse Deus, teria fracassado há muito tempo.

Suas publicações revelam que ele descobria fundamentação para seus ensinamentos nos escritos da Unity School of Christmnity (Escola da Unidade do Cristianismo). Em alguns casos, a lingua­gem da Escola e as publicações de Pai Divino são idênticas. Essa Escola (fundada em 1891) foi fortemente influenciada pelo hinduísmo e pela teosofia, que ensinam o conceito da Nova Era de que o homem é essencialmente divino e precisa apenas reconhecer esse fato a fim de ser liberto das limitações desta existência. Pai Divino acreditava e ensinava a mesma coisa, combinando isso com um esforço genuíno de alimentar, vestir e abrigar as pessoas durante a Grande Depressão da década de 1930.

As obras sociais eram a grande ênfase do Pai Divino, mas ele também empreendia cruzadas contra o preconceito racial, que combinava com o ensinamento de que ele era Deus. Com relação ao preconceito racial, declarou:

Se os patrões preconceituosos e antagônicos se recusa­rem a empregá-los apenas devido à sua crença em mim e sua convicção da minha divindade, eles sofrerão da mesma forma que sofreram Sodoma e Gomorra, nas quais não foi encontrada justiça suficiente para salvá-las…

Assim, é o mesmo espírito, o mesmo a quem vocês têm estado a orar que agora sou no corpo, e sou resumido e reconhecido neste corpo para alcançá-los e salvá-los de toda condição indesejável. Isso é um glorioso privilégio! Mesmo enquanto vocês o vêem na minha função agora, iriam, ou não poderiam, pensar que uma expressão tal das chamadas diversas raças e cores pudesse ser unida na unidade do espírito da mente, do alvo e do propósito até que eu viesse pessoalmente! Mas eu vim para que vocês e toda a humanidade saibam que “de um só sangue Deus criou todas as nações de homens para habitar a face de toda a terra”.

Jim Jones foi atraído pelo estilo de vida comunitário do movi­mento Missão de Paz do Pai Divino, e levou ônibus lotados com seu pessoal lá para observar como funcionava. Ele ficou impres­sionado com a capacidade do Pai Divino em prover fundos por meio da vida em comunidade, e de executar o que ele considerava como o imperativo cristão do Bom Samaritano, cuidando do próximo. Seguramente ninguém pode culpar o Pai Divino ou Jim Jones por buscar a ética cristã e a doutrina de “amar o próximo como a si mesmo” (Levítico 19:18). Mas, como mostrou a história, a coisa não terminou aí.

George Baker afirmava sua divindade em termos da Nova Era, e através de suas publicações ele instava com seus seguidores a que se reconhecessem como filhos dele. Foram essas as coisas que Jim Jones absorveu e colocou em prática em São Francisco.

Relatos de testemunhas oculares contam como Jones começava citando passagens da Bíblia em sua mão. Mais tarde, quando ele transferia a ênfase da Bíblia para si como mensageiro de Deus, ele jogava a Bíblia no chão e a chutava porque considerava sua autoridade como representante da divindade superior à Palavra escrita de Deus. Uma psicóloga que entrevistei e que havia traba­lhado na sede no Templo do Povo em São Francisco disse que Jones usava fervor, expressões e ilustrações pseudopentecostais para inflamar seus ouvintes até que, como disse ela, “ele se tornava o substituto de Deus para eles”.

George Baker havia seguido exatamente os mesmos métodos com a teologia igualmente corrupta. O elo estava formado.

O suicídio em massa em Jonestown começou com o reconhe­cimento de uma autoridade mais elevada do que Deus e sua Palavra, uma autoridade auto conferida por um filho espiritual do movimento Missão de Paz do Pai Divino. O trabalho que George

Baker e Jim Jones fizeram ao lutar contra o preconceito racial foi admirável, mas sem a força estabilizadora do Espírito de Deus e sua Palavra, ele também tornou-se pervertido ao ponto de os beneficiados iniciais se tornarem as vítimas no fim.

O Pai Divino, como Jim Jones, ficou encantado com a filosofia marxista. Eles abraçaram a idéia do lema de “cada um segundo sua capacidade, e para cada um segundo a sua necessidade”. Baker flertou com o movimento comunista por mais de oito anos e declarou certa vez em termos ardentes:

Apoio qualquer coisa que opere justiça entre homens e homens. Os comunistas são a favor de igualdade social e justiça em todas as questões, e esse é um princípio que defendo. Não estou representando a religião. Estou re­presentando Deus na terra e entre os homens, e coope­rarei com uma organização que seja a favor do direito e que trate as pessoas com justiça.

Em The New Day (O Novo Dia), o jornal de propaganda do Pai Divino, ele falou de sua cooperação com os comunistas, enquanto ao mesmo tempo afirmava sua singularidade: “Todo joelho se dobrará e toda língua confessará que o Pai Divino é Deus, Deus, Deus.”

Lá por 1941, a admiração do Pai Divino pelos comunistas estava bem desgastada. Seu relacionamento chegou a um fim abrupto naquele ano, e o Pai Divino descreveu os comunistas como maus americanos e descrentes. Quando a guerra da Coréia irrompeu em 1950, ele livremente se declarava “um lutador justo contra as forças do comunismo”.

Sabemos agora que Jim Jones sentia-se fascinado pelo marxis­mo, chegando mesmo a tentar subornar o embaixador russo na Guiana em vã tentativa de deixar a América do Sul e colocar-se sob o governo comunista em outro lugar. Parece que o Pai Divino, percebendo o que os comunistas representavam, teve o bom senso de alijar o apoio que lhes dava. Jim Jones, mesmo quando rejeitado pelos soviéticos, continuou a cortejá-los.

Extraído do livro “Como Entender a Nova Era” de Walter Martin

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