Na Constituição Dogmática sobre Revelação Divina, o Concílio Vaticano II, no capítulo sobre a Escritura Sagrada na Vida da Igreja, declarou que “Ela (a igreja) sempre considerou as Escrituras junto com a tradição sagrada como a regra suprema de fé, e sempre as considerará assim”.
Da declaração anterior, nós, os cristãos evangélicos, rejeitamos, desde logo, a tradição sagrada como regra de fé. Ficamos, pois, em terreno comum com os católicos romanos no que diz respeito às Escrituras. No entanto, nisto também existe uma diferença de suma importância. Isto tem relação com os livros do cânon do Velho Testamento. No livro “Consultas dei Clero”, parágrafo 207, se transcreve assim o decreto emitido pelo Concílio de Trento sobre as Sagradas Escrituras:
“Se alguém não receber como sagrados e canônicos estes livros inteiros, com todas as suas partes, tal como se encontram na Antiga Versão Vulgata, seja anátema”. Seguindo a mesma posição doutrinária, o Concílio Vaticano II, no capítulo sobre “A inspiração Divina e a Interpretação da Escritura Sagrada”, se pronunciou da seguinte maneira:
“Aquelas realidades divinamente reveladas, contidas e apresentadas na Escritura Sagrada, foram reduzidas à escritura sob a inspiração do Espírito Santo. A Santa Madre Igreja, descansando sobre a crença dos apóstolos, sustenta que os livros, tanto do Velho como do Novo Testamento, em sua totalidade, com todas as suas partes, são sagrados e canônicos, porque, havendo sido escritos sob a inspiração do Espírito Santo, têm a Deus como seu autor e foram transmitidos como tais à igreja mesma”.
Mas, quando a Igreja Católica Romana se refere ao cânon do Velho Testamento, ela inclui uma série de livros que os protestantes chamam de “Apócrifos” mas os católicos de “Deuterocanônicos”, os quais não aparecem nas versões evangélicas e hebraica da Bíblia. O resultado disto foi que na opinião popular dos católicos existem duas Bíblias: uma católica e a outra protestante. Mas semelhante asseveração não é certa. Só existe uma Bíblia, uma Palavra (escrita) de Deus. Em suas línguas originais (o hebraico e o grego), a Bíblia é uma só e igual para todos. O que nem sempre é igual são as versões ou traduções dela aos diferentes idiomas. Neste estudo iremos mostrar porque nós, cristãos evangélicos, não aceitamos os chamados, “Livros Apócrifos”, e consequentemente rejeitamos com provas sobejas as alegações romanistas de que tais livros possuem canonicidade e inspiração divina.
APÓCRIFOS: O QUE SIGNIFICA?
Na realidade, os sentidos da palavra ‘apocrypha’ refletem o problema que se manifesta nas duas concepções de sua canonicidade. No grego clássico, a palavra apocrypha significava “oculto” ou “difícil de entender”. Posteriormente, tomou o sentido de “esotérico” ou algo que só os iniciados podem entender; não os de fora. Na época de Irineu e de Jerônimo (séculos III e IV), o termo apocrypha veio a ser aplicado aos livros não-canônicos do Antigo Testamento, mesmo aos que foram classificados previamente como “pseudepígrafos”. Desde a era da Reforma, essa palavra tem sido usada para denotar os escritos judaicos não-canônicos originários do período intertestamentário. A questão diante de nós é a seguinte: verificar se os livros eram escondidos a fim de serem preservados, porque sua mensagem era profunda e espiritual ou porque eram espúrios e de confiabilidade duvidosa.
Natureza e Número dos Apócrifos do Antigo Testamento
Há quinze livros chamados apócrifos (catorze se a Epístola de Jeremias se unir a Baruque, como ocorre nas versões católicas de Douai). Com exceção de 2Esdras, esses livros preenchem a lacuna existente entre Malaquias e Mateus e compreendem especificamente dois ou três séculos antes de Cristo.
Significado das palavras CÂNON e CANÔNICO
CÂNON é uma palavra de origem semítica. Na língua hebraica “qãneh” (Ez. 40.3) e no grego “kanón” (Gl. 6.16), tem sido traduzido em nossas versões em português como “regra”, “norma”.
O significado literal é vara ou instrumento de medir.
O significado figurado é regra ou critérios que comprovam a autenticidade e inspiração dos livros bíblicos; lista dos Escritos Sagrados; sinônimo de Escrituras como regra de fé e ação investida de autoridade divina.
Outros significados: credo formulado (a doutrina da Igreja em Geral); regras eclesiásticas (lista ou série de procedimentos).
CANÔNICO – Aquilo que está de acordo com o cânon, em relação aos 66 livros da Bíblia hebraica e evangélica.
Significado da palavra PSEUDOEPÍGRAFO – Literalmente significa “escritos falsos”. Os apócrifos não são necessariamente escritos falsos, mas sim não canônicos, embora também contenham ensinos errados ou hereges.
DIFERENÇAS BÁSICAS ENTRE AS BÍBLIAS HEBRAICA, PROTESTANTE E CATÓLICA
1. Bíblia Hebraica [a Bíblia dos judeus]
a) Contém somente os 39 livros do Antigo Testamento.
b) Rejeita os 27 livros do N. T. como inspirados, assim como rejeitou a Cristo.
c) Não aceita os livros apócrifos incluídos na Vulgata [versão Católico-Romana).
2. Bíblia Protestante
a) Aceita os 39 livros do A.T. e também os 27 do N.T.
b) Rejeita os livros apócrifos incluídos na Vulgata, considerados não canônicos.
3. Bíblia Católica
a) Contém os 39 livros do A.T. e os 27 do N.T.
b) Inclui na versão Vulgata os livros apócrifos, ou não canônicos, que são: 3Esdras, 4Esdras, Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruque, 1º e 2º de Macabeus, seis capítulos e dez versículos acrescentados no livro de Ester e dois capítulos em Daniel. A seguir a lista dos livros apócrifos que se encontravam na Septuaginta:
- 3Esdras (O livro canônico Esdras aparece como 1Esdras; Neemias aparece como 2Esdras)
- 4Esdras
- Tobias
- Judite
- Adições a Ester (10:4 a 16:22)
- Sabedoria de Salomão
- Eclesiástico
- Baruque (contém a Carta de Jeremias)
- Acréscimos a Daniel (Oração de Azarias; Canto das Três Jovens; Susana; Bel e o Dragão
- Oração de Manassés
- 1Macabeus
- 2Macabeus
COMO OS APÓCRIFOS FORAM APROVADOS
A Igreja Romana aprovou os apócrifos em 8 de Abril de 1546, como meio de combater a Reforma Protestante. Nessa época os protestantes combatiam violentamente as doutrinas romanistas do purgatório, oração pelos mortos, salvação pelas obras, etc. Os romanistas viam nos apócrifos base para tais doutrinas, e apelaram, para eles aprovando-os como canônicos.
Houve prós e contras dentro da própria igreja católica, durante o concílio e também depois. Nesse tempo os jesuítas exerciam muita influência no clero. Os debates sobre os apócrifos motivaram ataques dos dominicanos contra os franciscanos. O biblista católico John L. Mackenzie em seu “Dicionário Bíblico”, sob o verbete cânone, comenta que no Concílio de Trento houve várias “controvérsias notadamente candentes” sobre a aprovação dos apócrifos.
Mas o cardeal Pallavacini, em sua “História Eclesiástica”, declara mais nitidamente que, em pleno Concílio, 40 bispos dos 49 presentes travaram luta corporal, agarrado às barbas e batinas uns dos outros. Foi nesse ambiente “ESPIRITUAL” que os apócrifos foram aprovados. A primeira edição da Bíblia católico-romana com os apócrifos deu-se em 1592, com autorização do papa Clemente VIII.
Os reformadores protestantes publicaram a Bíblia com os apócrifos, colocando-os entre o Antigo e Novo Testamentos, não como livros inspirados, mas bons para a leitura e de valor literário histórico. Isto continuou até 1629. A famosa versão inglesa King James (Versão do Rei Tiago) de 1611 ainda os trouxe. Porém, após 1629, as igrejas reformadas excluíram totalmente os apócrifos das suas edições da Bíblia, e “induziram a Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira, sob pressão do puritanismo escocês, a declarar que não editaria Bíblias que tivessem os apócrifos, e de não colaborar com outras sociedades que incluíssem esses livros em suas edições.”Melhor assim, tendo em vista, evitar confusão entre o povo simples, que nem sempre sabe discernir entre um livro canônico e um apócrifo e também pelo fato do que aconteceu com a Vulgata! Melhor editá-los separadamente”.
PORQUE REJEITAMOS OS APÓCRIFOS
Há várias razões porque os protestantes rejeitam os Apócrifos. Eis algumas delas:
1. PORQUE COM O LIVRO DE MALAQUIAS O CÂNON BÍBLICO HAVIA SE ENCERRADO.
Depois de aproximadamente 435 a.C. não houve mais acréscimos ao cânon do Antigo Testamento. A história do povo judeu foi registrada em outros escritos, tais como os livros dos Macabeus, mas eles não foram considerados dignos de inclusão na coleção das palavras de Deus que vinham dos anos anteriores.
Quando nos voltamos para a literatura judaica, fora do Antigo Testamento, percebemos que a crença de que haviam cessado as palavras divinamente autorizadas da parte de Deus é atestada de modo claro em várias vertentes da literatura extrabíblica.
• 1ºMacabeus (cerca de 100 a.C.): O autor escreve sobre o altar: “Demoliram-no, pois, e depuseram as pedras sobre o monte da Morada conveniente, à espera de que viesse algum profeta e se pronunciasse a respeito” (1Mac. 4.45-46).
Aparentemente, eles não conheciam ninguém que poderia falar com a autoridade de Deus como os profetas do Antigo Testamento haviam feito. A lembrança de um profeta credenciado no meio do povo pertencia ao passado distante, pois o autor podia falar de um grande sofrimento “qual não tinha havido desde o dia em que não mais aparecera um profeta no meio deles” (1Mac. 9.27; 14.41).
• Josefo explicou: “Desde Artaxerxes até os nossos dias foi escrita uma história completa, mas não foi julgada digna de crédito igual ao dos registros mais antigos, devido à falta de sucessão exata dos profetas” (Contra Apião 1:41). Essa declaração do maior historiador judeu do primeiro século cristão mostra que os escritos que agora fazem parte dos “apócrifos”, mas que ele (e muitos dos seus contemporâneos) não os consideravam “dignos de crédito igual” ao das obras agora conhecidas por nós como Escrituras do Antigo Testamento. Segundo o ponto de vista de Josefo, nenhuma “palavra de Deus” foi acrescentada às Escrituras após cerca de 435 a.C.
• A literatura rabínica reflete convicção semelhante em sua frequente declaração de que o Espírito Santo (em sua função de inspirador de profecias) havia se afastado de Israel: “Após a morte dos últimos profetas, Ageu, Zacarias e Malaquias, o Espírito Santo afastou-se de Israel, mas eles ainda se beneficiavam do bath qôl” (Talmude Babilônico, Yomah 9b repetido em Sota 48b, Sanhedrín 11 a, e Midrash Rabbah sobre o Cântico dos Cânticos, 8.9.3).
• A Comunidade de Qumran (seita judaica que nos legou os Manuscritos do Mar Morto) também esperava um profeta cujas palavras teriam autoridade para substituir qualquer regulamento existente (veja 1QS 9.11), e outras declarações semelhantes são encontradas em outros trechos da literatura judaica antiga (veja 2Baruc 85.3, Oração de Azarias 15). Assim, escritos posteriores a cerca de 435 a.C. em geral não eram aceitos pelo povo judeu como obras dotadas de autoridade igual a do restante das Escrituras.
• O Novo Testamento: não temos nenhum registro de alguma controvérsia entre Jesus e os judeus sobre a extensão do cânon. Ao que parece, Jesus e seus discípulos de um lado, e os lideres judeus ou o povo judeu de outro, estavam plenamente de acordo em que acréscimos ao cânon do Antigo Testamento tinham cessado após os dias de Esdras, Neemias, Ester, Ageu, Zacarias e Malaquias. Esse fato é confirmado pelas citações do Antigo Testamento feitas por Jesus e pelos autores do Novo Testamento.
Segundo uma contagem, Jesus e os autores do Novo Testamento citam mais de 295 vezes várias partes das Escrituras do Antigo Testamento como palavras autorizadas por Deus, mas nem uma vez sequer citam alguma declaração extraída dos livros apócrifos ou qualquer outro escrito como se tivessem autoridade divina. A ausência completa de referência à outra literatura como palavra autorizada por Deus e as referências muito frequentes a centenas de passagens no Antigo Testamento, como dotadas de autoridade divina, confirmam com grande força o hiato de que os autores do Novo Testamento concordavam em que o cânon estabelecido do Antigo Testamento, nada mais nada menos, devia ser aceito como a verdadeira palavra de Deus.
2. PORQUE A INCLUSÃO DOS APÓCRIFOS FOI ACIDENTAL
A conquista da Palestina por Alexandre, o Grande, ocasionou uma nova dispersão dos judeus por todo o império greco-macedônio. Pelo ano 300 a.C. a colônia de judeus na cidade de Alexandria, no Egito, era numerosa, forte e fluente. Morrendo Alexandre, seu domínio dividiu-se em quatro reinos, ficando o Egito sob a dinastia dos Ptolomeus. O segundo deles, Ptolomeu Filadelfo, foi grande amante das letras e preocupou-se em enriquecer a famosa biblioteca que seu pai havia fundado. Com este objetivo, muitos livros foram traduzidos para o grego. Naturalmente, as Escrituras Sagradas do povo hebreu foram levadas em conta, apreciando-se também a grande importância que teria a tradução da Bíblia de seus antepassados da Palestina para os judeus, cuja língua vernácula era o grego.
Segundo um relato de Josefo, o Sumo Sacerdote de Jerusalém Eleazar enviou, a pedido de Ptolomeu Filadelfo, uma embaixada de 72 tradutores a Alexandria, com um valioso manuscrito do Velho Testamento, do qual traduziram o Pentateuco. A tradução continuou depois, não se completando senão no ano 150 a.C.
Esta tradução, que se conhece com o nome de Septuaginta ou Versão dos Setenta (por terem sido 70, em número redondo, seus tradutores), foi aceita pelo Sinédrio judaico de Alexandria; mas, não havendo tanto zelo ali como na Palestina, e devido às tendências helenistas contemporâneas, os tradutores alexandrinos fizeram adições e alterações e, finalmente, sete dos Livros Apócrifos foram acrescentados ao texto grego, como Apêndice do Velho Testamento. Os estudiosos acham que foram unidos à Bíblia por serem guardados juntamente com os rolos de livros canônicos, e quando foram iniciados os Códices, isto é, a escrituração da Bíblia inteira em um só volume, alguns escribas copiaram certos rolos apócrifos juntamente com os rolos canônicos.
Todos estes livros, com exceção de Judite, Eclesiástico, Baruque e 1Macabeus estavam escritos em grego, e a maioria deles foi escrita muitíssimos anos depois do profeta Malaquias, o último dos profetas da dispensação antiga, escrever o livro que leva o seu nome. O que se pode concluir daí é que, quando a Septuaginta era copiada, alguns livros não canônicos para os judeus eram também copiados. Isso também poderia ter ocorrido por ignorância quanto aos livros verdadeiramente canônicos. Pessoas não afeiçoadas ao judaísmo ou mesmo desinteressadas em distinguir livros canônicos dos não canônicos tinham por igual valor todos os livros, fossem eles originalmente recebidos como sagrados pelos judeus ou não. Mesmo aqueles que não tinham os demais livros judaicos como canônicos certamente também copiavam estes livros, não por considerá-los sagrados, mas apenas para serem lidos. Por que não copiar livros tão antigos e interessantes? Estes livros, entretanto, têm a importância de refletir o estado do povo judeu e o caráter de sua vida intelectual e religiosa durante as várias épocas que representam, particularmente, a do período chamado intertestamentário (entre Malaquias e João Batista, de 400 anos); é, talvez, por estas razões, que os tradutores os juntaram ao texto grego da Bíblia, mas os judeus da Palestina nunca os aceitaram no cânon de seus livros sagrados.
3. TESTEMUNHAS CONTRA OS APÓCRIFOS
Traremos agora o depoimento de várias personagens históricas que depõe contra a lista canônica “Alexandrina”, como consta na Septuaginta, na Vulgata e em todas as versões das Bíblias católicas existentes. Pelo peso de autoridade que representam esses vultos, são provas mais do que suficientes e esmagadoras contra a inclusão dos Apócrifos no cânon bíblico. Vejamos:
Josefo: A referência mais antiga ao cânon hebraico é do historiador judeu Josefo (37-95 a.C.). Em Contra Apionem ele escreve: “Não temos dezenas de milhares de livros, em desarmonia e conflitos, mas só vinte e dois, contendo o registro de toda a história, os quais, conforme se crê, com justiça, são divinos”. Depois de referir-se aos cinco livros de Moisés, aos treze livros dos profetas, e aos demais escritos (os quais “incluem hinos a Deus e conselhos pelos quais os homens podem pautar suas vidas”), ele continua afirmando: “Desde Artaxerxes (sucessor de Xerxes) até nossos dias, tudo tem sido registrado, mas não tem sido considerado digno de tanto crédito quanto aquilo que precedeu a esta época, visto que a sucessão dos profetas cessou. Mas a fé que depositamos em nossos próprios escritos é percebida através de nossa conduta; pois, apesar de ter-se passado tanto tempo, ninguém jamais ousou acrescentar coisa alguma a eles, nem tirar deles coisa alguma, nem alterar neles qualquer coisa que seja”.
Josefo é suficientemente claro. Como historiador judeu, ele é fonte fidedigna. Eram apenas vinte e dois os livros do cânon hebraico agrupados nas três divisões do cânon massorético. E desde a época de Malaquias (Artaxerxes, 464-424) até a sua época nada se lhe havia sido acrescentado. Outros livros foram escritos, mas não eram considerados canônicos, com a autoridade divina dos vinte e dois livros mencionados.
Orígenes: No terceiro século d.C., Orígenes (que morreu em 254) deixou um catálogo de vinte e dois livros do Antigo Testamento que foi preservado na História Eclesiástica de Eusébio, VI: 25. Inclui a mesma lista do cânone de vinte e dois livros de Josefo (e do Texto Massorético) inclusive Ester, mas nenhum dos apócrifos é declarado canônico, e se diz explicitamente que os livros de Macabeus estão “fora desses [livros canônicos]”.
Tertuliano: Aproximadamente contemporâneo de Orígenes era Tertuliano. (160-250) o primeiro dos País Latinos cujas obras ainda existem. Declara que os livros canônicos são vinte e quatro.
Hilário: Hilário de Poitiers (305-366) os menciona como sendo vinte e dois.
Atanásio: De modo semelhante, em 367 d.C, o grande líder da igreja, Atanásio, bispo de Alexandria, escreveu sua Carta Pascal e listou todos os livros do nosso atual cânon do Novo Testamento e do Antigo Testamento, exceto Ester. Mencionou também alguns livros dos apócrifos, tais como a Sabedoria de Salomão, a Sabedoria de Sirac, Judite e Tobias, e disse que esses “não são na realidade incluídos no cânon, mas indicados pelos Pais para serem lidos por aqueles que recentemente se uniram a nós e que desejam instrução na palavra de bondade”.
Jerônimo: (340-420) propugnou, no Prologus Galeatus. A citação pertinente de Prologus Galeatus é a seguinte: “Este prólogo, como vanguarda (principium) com capacete das Escrituras, pode ser aplicado a todos os Livros que traduzimos do Hebraico para o Latim, de tal maneira que possamos saber que tudo quanto é separado destes deve ser colocado entre os Apócrifos. Portanto, a sabedoria comumente chamada de Salomão, o livro de Jesus, filho de Siraque, e Judite e Tobias e o Pastor (supõe-se que seja o Pastor de Hermas), não fazem parte do cânon. Descobri o Primeiro Livro de Macabeus em Hebraico; o Segundo foi escrito em Grego, conforme testifica sua própria linguagem”.
Jerônimo, no seu prefácio aos Livros de Salomão, menciona ter descoberto Eclesiástico em Hebraico, mas declara em sua convicção que a Sabedoria de Salomão teria sido originalmente composta em Grego e não em Hebraico, por demonstrar uma eloquência tipicamente helenística. “E assim”, continua ele “da mesma maneira pela qual a igreja lê Judite e Tobias e Macabeus (no culto público), mas não os recebe entre as Escrituras canônicas, assim também sejam estes dois livros úteis para a edificação do povo, mas não para estabelecer as doutrinas da Igreja”, e noutros trechos, prima pelo reconhecimento de apenas os vinte e dois livros contidos no hebraico, e a relegação dos livros apócrifos a uma posição secundária”. Assim, no seu Comentário de Daniel, lançou dúvidas quanto à canonicidade da história de Suzana, baseando-se no fato que o jogo de palavras atribuído a Daniel na narrativa, só podia ser derivado do grego e não do hebraico (inferência: a história foi originalmente composta em grego). Do mesmo modo, em conexão com a história de Bel e a do Dragão, declara “a objeção se soluciona facilmente ao asseverar que esta história especifica não está incluída no texto hebraico do livro de Daniel. Se, porém, alguém fosse comprovar que pertence ao cânone, seríamos obrigados a buscar uma outra resposta a esta objeção”.
Melito: A mais antiga lista cristã dos livros do Antigo Testamento que existe hoje é a de Melito, bispo de Sardes, que escreveu em cerca de 170 d.C. “Quando cheguei ao Oriente e encontrei-me no lugar em que essas coisas foram proclamadas e feitas, e conheci com precisão os livros do Antigo Testamento, avaliei os fatos e os enviei a ti. São estes os seus nomes: cinco livros de Moisés, Gênesis, Êxodo, Números, Levítico, Deuteronômio; Josué, filho de Num; Juízes; Rute; quatro livros dos Reis; os dois livros de Crônicas; os Salmos de Davi; os Provérbios de Salomão e sua Sabedoria; Eclesiastes; o Cântico dos Cânticos; Jó, os profetas Isaías e Jeremias; os Doze num único livro; Daniel; Ezequiel; Esdras”.
É digno de nota que Melito não menciona aqui nenhum livro dos apócrifos, mas inclui todos os nossos atuais livros do Antigo Testamento, exceto Ester. Mas as autoridades católicas passam por cima de todos esses testemunhos para manter, em sua teimosia, os Apócrifos!
AS HERESIAS DOS APÓCRIFOS
Uma das grandes razões, talvez a principal delas, porque nós evangélicos rejeitamos os Apócrifos, é devido à grande quantidade de heresias que tais livros apresentam. Fora isso, existem também lendas absurdas e fictícias e graves erros históricos e geográficos, o que fazem os Apócrifos serem desqualificados como palavra de Deus. A seguir daremos um resumo de cada livro e logo a seguir mostraremos seus graves erros.
TOBIAS (200 a.C.) – É uma história novelística sobre a bondade de Tobiel (pai de Tobias) e alguns milagres preparados pelo anjo Rafael. Apresenta:
• justificação pelas obras – 4:7-11; 12:8;
• mediação dos Santos -12:12;
• superstições – 6:5,7-9,19;
• um anjo engana Tobias e o ensina a mentir 5:16 a 19.
JUDITE (150 a.C.) E a história de uma heroína viúva e formosa que salva sua cidade enganando um general inimigo e decapitando-o. Grande heresia é a própria história onde os fins justificam os meios.
BARUQUE (100 a.D.) – Apresenta-se como sendo escrito por Baruque, o cronista do profeta Jeremias, numa exortação aos judeus quando da destruição de Jerusalém. Porém, é de data muito posterior, quando da segunda destruição de Jerusalém, no pós-Cristo. Traz, entre outras coisas, a intercessão pelos mortos em 3:4.
ECLESIÁSTICO (180 a.C.) – É muito semelhante ao livro de Provérbios, não fossem as tantas heresias:
• justificação pelas obras – 3:33,34;
• trato cruel aos escravos – 33:26 e 30; 42:1 e 5;
• incentiva o ódio aos Samaritanos – 50:27 e 28.
SABEDORIA DE SALOMÃO (40 a.D.) – Livro escrito com finalidade exclusiva de lutar contra a incredulidade e idolatria do epicurismo (filosofia grega na era Cristã). Apresenta:
• o corpo como prisão da alma – 9:15;
• doutrina estranha sobre a origem e o destino da alma 8:19 e 20;
• salvação pela sabedoria – 9:19.
1MACABEUS (100 a.C.) – Descreve a história de três irmãos da família “Macabeus”, que no chamado período interbíblico (400 a.C. 3 a.D) lutam contra inimigos dos judeus visando a preservação do seu povo e terra.
2MACABEUS (100 a.C.) – Não é a continuação do 1Macabeus, mas um relato paralelo, cheio de lendas e prodígios de Judas Macabeu. Apresenta:
• a oração pelos mortos – 12:44 – 46;
• culto e missa pelos mortos -12:43;
• o próprio autor não se julga inspirado -15:38-40; 2:25-27;
• intercessão pelos Santos – 7:28 e 15:14.
ADIÇÕES A DANIEL:
Capítulo 13 “A História de Suzana” – segundo esta lenda Daniel salva Suzana num julgamento fictício baseado em falsos testemunhos.
Capítulo 14 – Bel e o Dragão – Contém histórias sobre a necessidade da idolatria.
Capítulo 3:24-90 – o cântico dos três jovens na fornalha.
LENDAS, ERROS E HERESIAS
1. Histórias fictícias, lendárias e absurdas:
Tobias 6.1-4 – “Partiu, pois, Tobias, e o cão o seguiu, e parou na primeira pousada junto ao rio Tigre. E saiu a lavar os pés, e eis que saiu da água um peixe monstruoso para o devorar. A sua vista, Tobias, espavorido, clamou em alta voz, dizendo: Senhor, ele lançou-se a mim. E o anjo disse disse-lhe: Pega-lhe pelas guelras, e puxa-o para ti. Tendo assim feito, puxou-o para terra, e o começou a palpitar a seus pés”.
2. Erros Históricos e Geográficos:
Os Apócrifos solapam a doutrina da inerrância das Escrituras, porque esses livros incluem erros históricos e de outra natureza. Assim, se os Apócrifos são considerados parte das Escrituras, isso identifica erros na Palavra de Deus. Esses livros contêm erros históricos, geográficos e cronológicos, além de doutrinas obviamente heréticas; eles até aconselham atos imorais (Judite 9.10,13). Os erros dos Apócrifos são frequentemente apontados em obras de autoridade reconhecida.
Por exemplo: O erudito bíblico DL René Paehe comenta: “Exceto no caso de determinada informação histórica interessante (especialmente em 1Macabeus) e alguns belos pensamentos morais (por exemplo Sabedoria de Salomão), Tobias contém certos erros históricos e geográficos, tais como a suposição de que Senaqueribe era filho de Salmaneser (1.15) em vez de Sargão II, e que Nínive foi tomado por Nabucodonosor e por Assuero (14.15) em vez de Nabopolassar e por Ciaxares. Judite não pode ser histórico, porque contém erros evidentes. Em 2Macabeus há também numerosas desordens e discrepâncias em assuntos cronológicos, históricos e numéricos, os quais refletem ignorância ou confusão”.
3. Ensinam Artes Mágicas ou de Feitiçaria como método de exorcismo
a) Tobias 6.5-9 – “Então disse o anjo: Tira as entranhas a esse peixe, e guarda, porque estas coisas te serão úteis. Feito isto, assou Tobias parte de sua carne, e levaram-na consigo para o caminho; salgaram o resto, para que lhes bastassem até chegassem a Ragés, cidade dos Medos. Então Tobias perguntou ao anjo e disse-lhe: Irmão Azarias, suplico-lhe que me digas de que remédio servirão estas partes do peixe, que tu me mandaste guardar: E o anjo, respondendo, disse-lhe: Se tu puseres um pedacinho do seu coração sobre brasas acesas , o seu fumo afugenta toda a casta de demônios, tanto do homem como da mulher, de sorte que não tornam mais a chegar a eles. E o fel é bom para untar os olhos que têm algumas névoas, e sararão”.
b) Este ensino que o coração de um peixe tem o poder para expulsar toda espécie de demônios contradiz tudo o que a Bíblia diz sobre como enfrentar o demônio.
c) Deus jamais iria mandar um anjo seu, ensinar a um servo seu, como usar os métodos da macumba e da bruxaria para expulsar demônios.
d) Satanás não pode ser expelido pelos métodos enganosos da feitiçaria e bruxaria, e de fato ele não tem interesse nenhum em expelir demônios (Mt. 12.26).
e) Um dos sinais apostólicos era a expulsão de demônios, e a únicas coisas que tiveram de usar foi o nome de Jesus (Mc. 16.17; At. 16.18).
4. Ensinam que Esmolas e Boas Obras limpam os pecados e salvam a alma.
a) Tobias 12.8, 9 – “É boa a oração acompanhada do jejum, dar esmola vale mais do que juntar tesouros de ouro; porque a esmola livra da morte (eterna), e é a que apaga os pecados, e faz encontrar a misericórdia e a vida eterna”.
b) Eclesiástico 3.33 – “A água apaga o fogo ardente, e a esmola resiste aos pecados”.
c) Este é o primeiro ensino de Satanás, o mais terrível, e se encontrar basicamente em todas as seitas heréticas.
d) A salvação pelas obras destrói todo o valor da obra vicária de Cristo em favor do pecador. Se caridade e boas obras limpam nossos pecados, nós não precisamos do sangue de Cristo. Porém, a Bíblia não deixa dúvidas quanto o valor exclusivo do Seu sangue como um único meio de remissão e perdão de pecados:
• Hb. 9.11,12,22 – “Mas Cristo… por seu próprio sangue, entrou uma vez por todas no santo lugar, havendo obtido uma eterna redenção …sem derramamento de sangue não há remissão”.
• 1Pe. 1.18,19 – “sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver, que por tradição recebestes dos vossos pais, mas com precioso sangue, como de um cordeiro sem defeito e sem mancha, o sangue de Cristo”.
e) Contradiz Bíblia toda. Ela declara que somente pela graça de Deus e o sangue de Cristo o homem pode alcançar justificação e completa redenção:
• Romanos 3.20, 24 e 29 – “Ninguém será justificado diante dele pelas obras da lei, sendo justificados gratuitamente por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus. A quem Deus propôs no seu sangue…. Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei”.
5. Ensinam o Perdão dos pecados através das orações
a) Eclesiástico 3.4 – “O que ama a Deus implorará o perdão dos seus pecados, e se absterá de tornar a cair neles, e será ouvido na sua oração de todos os dias”.
b) O perdão dos pecados não está baseado na oração que se faz pedindo o perdão, não é fé na oração, e sim fé naquele que perdoa o pecado, a oração por si só, é uma boa obra que a ninguém pode salvar. Somente a oração de confissão e arrependimento baseadas na fé no sacrifício vicário de Cristo traz o perdão (Pv. 28.13; IJo. 1.9; IJo. 2.1,2).
6. Ensinam a Oração Pelos Mortos
a) 2Macabeus 12:43-46 – “e tendo feito uma coleta, mandou 12 mil dracmas de prata a Jerusalém, para serem oferecidas em sacrifícios pelos pecados dos mortos, sentindo bem e religiosamente a ressurreição (porque, se ele não esperasse que os que tinham sido mortos, haviam um dia de ressuscitar, teria por uma coisa supérflua e vã orar pelos defuntos); e porque ele considerava que aos que tinham falecido na piedade estava reservada uma grandíssima misericórdia. É, pois, um santo e salutar pensamento orar pelos mortos, para que sejam livres dos seus pecados”. É neste texto falso, de um livro não canônico, que contradiz toda a Bíblia, que a Igreja Católica Romana baseia sua falta e herege doutrina do purgatório.
b) Este é novamente um ensino satânico para desviar o homem da redenção exclusiva pelo sangue de Cristo, e não por orações que livram as almas do fogo de um lugar inventado pela mente doentia e apóstata dos teólogos católicos romanos.
c) Após a morte o destino de todos os homens é selado, uns para perdição eterna e outros para a Salvação eterna – não existe meio de mudar o destinos de alguém após a sua morte. Veja Mt. 7:13,13; Lc. 16.26.
7. Ensinam a Existência de um Lugar Chamado PURGATÓRIO
a) Este é o ensino herético e satânico inventado pela Igreja Católica Romana, de que o homem, mesmo morrendo perdido, pode ter uma segunda chance de Salvação: Sabedoria 3.1-4 “As almas dos justos estão na mão de Deus, e não os tocará o tormento da morte. Pareceu aos olhos dos insensatos que morriam; e a sua saída deste mundo foi considerada como uma aflição, e a sua separação de nós como um extermínio; mas eles estão em paz (no céu). E, se eles sofreram tormentos diante dos homens, a sua esperança está cheia de imortalidade”.
b) A Igreja Católica baseia a doutrina do purgatório na ultima parte deste texto, onde diz: “E, se eles sofreram tormentos diante dos homens, a sua esperança está cheia de imortalidade”. Eles ensinam que o tormento, em que o justo está, é o purgatório que o purifica para entrar na imortalidade. Isto é uma deturpação do próprio texto do livro apócrifo. De modo que a igreja Católica é capaz de qualquer desonestidade textual, para manter suas heresias, até porque, ganha muito dinheiro com as indulgências e missas rezadas pelos mortos.
c) Leia atentamente os seguinte textos das Escrituras, que mostram a impossibilidade do purgatório: IJo. 1.7; Hb. 9.22; Lc. 23.40-43; 16.19-31; ICo. 15.55-58; ITs. 4.12-17; Ap. 14.13; Ec. 12.7; Fp. 1.23; SI. 49.7-8; 2Tm. 2.11-13; At. 10.43.
8. Nos Livros Apócrifos Os Anjos Mentem
a) Tobias 5.15-19 – “E o anjo disse-lhe: Eu o conduzirei e to reconduzirei. Tobias respondeu: Peço-te que me digas de que família e de tribo és tu? O anjo Rafael disse-lhe: Procuras saber a família do mercenário, ou o mesmo mercenário que vá com teu filho? Mas para que te não ponhas em cuidados, eu sou Azarias, filho do grande Ananias. E Tobias respondeu-lhe: Tu és de uma ilustre família. Mas peço-te que te não ofendas por eu desejar conhecer a tua geração.
b) Um anjo de Deus não poderia mentir sobre a sua identidade, sem violar a própria lei santa de Deus. Todos os anjos de Deus foram verdadeiros quando lhes foi perguntado a sua identidade. Veja Lc. 1.19.
9. Mulher que Jejuava Todos os Dias de Sua Vida
a) Judite 8:5,6 – “e no andar superior de sua casa tinha feito para si um quarto retirado, no qual se conservava recolhida com as suas criadas, e, trazendo um cilício sobre os seus rins, jejuava todos os dias de sua vida, exceto nos sábados, e nas neomênias, e nas festas da casa de Israel”. Este texto legendário tem sido usado pelos católicos romanos relacionado com a canonização dos “santos” de idolatria. Em nenhuma parte da Bíblia jejuar todos os dias da vida é sinal de santidade. Cristo jejuou 40 dias e 40 noites e depois não jejuou mais.
b) O livro de Judite é claramente um produção humana, uma lenda inspirada pelo Diabo, para escravizar os homens aos ensinos da igreja Católica Romana.
10. Ensinam Atitudes Anticristãs, como Vingança, Crueldade e Egoísmo
a) Vingança – Judite 9:2. Contraria Rm. 12.17-19.
b) Crueldade e Egoísmo – Eclesiástico 12:6. Contraria Pv. 25.21,22; Mt. 6.44-48; Jo 6.5 e Rm. 12.20.
c) A igreja Católica tenta defender a IMACULADA CONCEIÇÃO baseando em uma deturpação dos apócrifos (Sabedoria 8.9,20) que contradiz SI. 51.5; Lc. 1.30-35; Rm. 3.23.
Diante de tudo isso, perguntamos: Merecem confiança os livros Apócrifos? A resposta obvia é NÃO.
RESPOSTAS ÀS OBJEÇÕES ROMANISTAS
Os livros apócrifos do Antigo Testamento têm recebido diferentes graus de aceitação pelos cristãos. A maior parte dos protestantes e dos judeus aceita que tenham valor religioso, e mesmo histórico, sem terem, contudo, autoridade canônica. Os católicos romanos desde o Concílio de Trento têm aceitado esses livros como canônicos. Mais recentemente, os católicos romanos têm defendido a ideia de uma deutero-canonicidade, mas os livros apócrifos ainda são usados para dar apoio a doutrinas extrabíblicas, tendo sido proclamados como livros de inspiração divina no Concílio de Trento. Outros grupos, como os anglicanos e várias igrejas ortodoxas, nutrem diferentes concepções a respeito dos livros apócrifos. A seguir apresentamos um resumo dos argumentos que em geral são aduzidos para a aceitação desses livros, na crença de que detêm algum tipo de canonicidade e suas respectivas refutações.
OBJEÇÕES CATÓLICAS
1. Alusões no Novo Testamento. O Novo Testamento reflete o pensamento e registra alguns acontecimentos dos apócrifos. Por exemplo, o livro de Hebreus fala de mulheres que receberam seus mortos pela ressurreição (Hebreus 11.35) e faz referência a 2Macabeus 7 e 12. Os chamados apócrifos ou pseudo-epígrafos são também citados em sua amplitude pelo Novo Testamento (Jd. 14,15; 2Tm. 3.8).
Refutação: Apela-se frequentemente ao fato que o Novo Testamento usualmente emprega a tradução da LXX ao citar o Antigo Testamento. Portanto, já que a LXX continha os Apócrifos, decerto os Apóstolos do Novo Testamento reconheciam a autoridade da LXX inteira conforme então se constituía. Além disto, argumentam, é um fato que ocasionalmente apela-se a obras fora do “Cânone Palestiniano”. Wildeboer e Torrey colecionaram todas as instâncias possíveis de tais citações ou alusões a obras apócrifas, incluindo-se várias que apenas são hipotéticas. Mas toda esta linha de argumentos é realmente irrelevante para a questão em pauta, sendo que nem se alega que qualquer uma destas fontes seja proveniente dos Apócrifos Romanos. Na maioria dos casos, as obras que supostamente foram citadas desapareceram há muito tempo – obras tais como o Apocalipse de Elias e a Assunção de Moisés (da qual sobrou um fragmento latino). Só num único caso, a citação de Enoque 1:9 em Judas 14-16, é que a fonte citada sobreviveu. Há citações de autores gregos pagãos, também no Novo Testamento. Em Atos 17:28, Paulo cita de Arato, Phaenomena, linha 5; em 1 Coríntios 15:33, cita da comédia de Menander, Thais. Certamente ninguém poderia supor que citações tais como estas estabelecem a canonicidade ou de Arato ou de Menander. Pelo contrário, o testemunho do Novo Testamento é muito decisivo contra a canonicidade dos quatorze livros Apócrifos. Demais disso, a alegação de que em muitas partes os escritos do Novo Testamento refletem influências dos livros Apócrifos, é deveras frágil demais para ser sustentada, pois se fosse assim, o livro de Enoque citado por Judas seria digno de muito mais crédito no sentido de canonicidade do que os Apócrifos romanos. Judas cita versículos inteiros deste livro, enquanto os Apócrifos adotados nas Bíblias romanas não aparecem nenhuma vez com citações inteira ou em partes. Seguindo o mesmo raciocínio dos católicos, poderíamos então canoniza-lo também! Então dizemos que virtualmente todos os livros do Antigo Testamento são citados como sendo divinamente autorizados, ou pelo menos há alusão a eles como tais. Embora acabe de ser esclarecido que a mera citação não estabelece necessariamente a canonicidade, é inconcebível que os vários autores do Novo Testamento pudessem ter considerado como canônicos os quatorze livros dos Apócrifos Romanos, sem ter feito uso deles em citações ou alusões.
2. Emprego que o Novo Testamento faz da versão Septuaginta. A tradução grega do Antigo Testamento hebraico, em Alexandria, é conhecida como Septuaginta (LXX). Foi a versão que Jesus usou e é a versão mais citada pelos autores do Novo Testamento e pelos cristãos primitivos. A LXX continha os livros apócrifos. A presença desses livros na LXX dá apoio ao cânon alexandrino, mais amplo, do Antigo Testamento, em oposição ao cânon palestino, mais reduzido que os omite.
Refutação: Mas não é, de modo nenhum, certo que todos os livros na LXX foram considerados canônicos, mesmo pelos próprios judeus de Alexandria. Bem decisiva contra isto é a evidência de Filon de Alexandria (que viveu no primeiro século d.C.), assim como o judaísmo oficial em outros lugares e épocas. Apesar de ter citado frequentemente os livros canônicos do “Cânone Palestiniano”, não faz uma citação sequer dos livros Apócrifos. Isto é impossível reconciliar com a teoria de um “Cânone Alexandrino” maior, a não ser que porventura alguns judeus de Alexandria não tivessem recebido este “Cânone Alexandrino” enquanto outros o reconheciam.
Em segundo lugar, relata-se de fontes fidedignas que a Versão Grega de Áquila foi aceita pelos judeus alexandrinos no segundo século d.C., apesar de não conter os livros Apócrifos. A dedução razoável desta evidência seria que (conforme o próprio Jerônimo esclareceu) os judeus de Alexandria resolveram incluir na sua edição do Antigo Testamento tanto os livros que reconheciam como sendo canônicos, como também os livros que eram “eclesiásticos” i,é., foram reconhecidos como sendo valiosos e edificantes, porém sem ser infalíveis.
Apoio adicional para esta suposição (que livros subcanônicos possam ter sido conservados e utilizados juntamente com os canônicos) foi a descoberta recente dos achados da Caverna 4 de Cunrã. Ali, no coração da Palestina, onde seguramente o “Cânone Palestiniano” deve ter sido autoritativo, pelo menos dois livros Apócrifos se fazem representar – Eclesiástico e Tobias. Um fragmento de Tobias aparece num pedacinho de papiro, outro em couro; há também um fragmento em hebraico, escrito em couro. Vários fragmentos de Eclesiástico foram descobertos ali, e pelo menos na pequena quantidade representada, concordam bem exatamente com manuscritos de Eclesiástico do século onze, descobertos na Genizá de Cairo na década de 1890. Quanto a isto, a Quarta Caverna de Cunrã também conservou obras pseudoepigráficas tais como o Testamento de Levi, em aramaico, o mesmo em hebraico, e o livro de Enoque (fragmentos de dez manuscritos diferentes!). Decerto, ninguém poderia argumentar com seriedade que os sectários tão estreitos de Cunrã consideravam como canônicas todas estas obras apócrifas e pseudoepigráficas, só por causa de se terem conservado cópias delas.
A Palestina era o lar do cânon judaico, jamais a Alexandria, no Egito. O grande centro grego do saber pertencia no Egito, não tinha autoridade para saber com precisão que livros pertenciam ao Antigo Testamento judaico. Alexandria era o lugar da tradução apenas, não da canonização. O fato de a Septuaginta conter os apócrifos apenas comprova que os judeus alexandrinos traduziram os demais livros religiosos judaicos do período intertestamentário ao lado dos livros canônicos.
3. Os mais antigos manuscritos completos da Bíblia. Os mais antigos manuscritos gregos da Bíblia contêm os livros apócrifos inseridos entre os livros do Antigo Testamento. Os manuscritos Aleph (N), A e B, incluem esses livros, revelando que faziam parte da Bíblia cristã original.
Refutação: Isto é verdade apenas em parte. Certamente os Targuns aramaicos não os reconheceram. Nem sequer o pesita siríaco, na sua forma mais antiga, continha um único livro apócrifo; foi apenas posteriormente que alguns deles foram acrescentados. Uma investigação mais cuidadosa desta reivindicação reduz a autoridade sobre a qual os apócrifos se alicerçam a apenas uma versão antiga, a Septuaginta, e àquelas traduções posteriores (tais como a Ítala, a Cóptica, a Etiópica, e a Siríaca posterior) que foram dela derivadas. Mesmo no caso da Septuaginta, os livros Apócrifos mantêm uma existência um pouco incerta. O Códice Vaticano (“B”) não tem 1 e 2 Macabeus (canônicos segundo Roma), mas inclui 1 Esdras (não-canônico segundo Roma). O Códice Sinaítico (Alef) omite Baruque (canônico segundo Roma), mas inclui 4 Macabeus (não-canônico segundo Roma). O Códice Alexandrino (“A”) contêm três livros apócrifos “não-canônicos”: 1 Esdras e 3 e 4 Macabeus. Então acontece que até os três mais antigos manuscritos da LXX demonstram considerável falta de certeza quanto aos livros que compõem a lista dos apócrifos, e que os quatorze aceitáveis à Igreja Romana não são de modo algum substanciados pelo testemunho dos grandes unciais do quarto e do quinto séculos. Os escritores do Novo Testamento quase sempre fizeram citações da LXX, mas jamais mencionaram um livro sequer dentre os apócrifos. No máximo, a presença dos apócrifos nas Bíblias cristãs do século IV, mostra que tais livros eram aceitos até certo ponto por alguns cristãos, naquela época. Isso não significa que os judeus ou os cristãos como um todo aceitassem esses livros como canônicos, isso sem mencionarmos a igreja universal, que nunca os teve na relação de livros canônicos.
4. A arte cristã primitiva. Alguns dos registros mais antigos da arte cristã refletem o uso dos apócrifos. As representações nas catacumbas às vezes se baseavam na história dos fieis registrada no período intertestamentário.
Refutação: As representações artísticas não constituem base para apurar a canonicidade dos apócrifos. As representações pintadas nas catacumbas, extraídas de livros apócrifos, apenas mostram que os crentes daquela era estavam cientes dos acontecimentos do período inter-testamentário e os consideravam parte de sua herança religiosa. A arte cristã primitiva não decide nem resolve a questão da canonicidade dos apócrifos.
5. Os primeiros pais da igreja. Alguns dos mais antigos pais da igreja, de modo particular os do Ocidente, aceitaram e usaram os livros apócrifos em seu ensino e pregação. E até mesmo no Oriente, Clemente de Alexandria reconheceu 2 Esdras como inteiramente canônico. Orígenes acrescentou Macabeus bem como a Epístola de Jeremias à lista de livros bíblicos canônicos.
Refutação: Muitos dos grandes pais da igreja em seu começo, dos quais Melito (190), Orígenes (253), Eusébio de Cesareia (339), Hilário de Poitiers (366), Atanásio (373), Cirilo de Jerusalém (386), Gregório Nazianzeno (390), Rufino (410), Jerônimo (420), depuseram contra os apócrifos. Nenhum dos primeiros pais de envergadura da igreja primitiva, anteriores a Agostinho, aceitaram todos os livros apócrifos canonizados em Trento. Então será mais correto dizer que alguns dos escritores cristãos antigos pareciam fazer isto.
6. A influência de Agostinho. Agostinho (354-430) elevou a tradição ocidental mais aberta, a respeito dos livros apócrifos, ao seu apogeu, ao atribuir-lhes categoria canônica. Ele influenciou os concílios da igreja em Hipona (393) e em Cartago (397), que relacionaram os apócrifos como canônicos. A partir de então, a igreja ocidental passou a usar os apócrifos em seu culto público.
Refutação: O testemunho de Agostinho não é definitivo, nem isento de equívocos. Primeiramente, Agostinho às vezes faz supor que os apócrifos apenas tinham uma deutero-canonicidade (Cidade de Deus 18,36) e não canonicidade absoluta. Além disso, os Concílios de Hipona e de Cartago foram pequenos concílios locais, influenciados por Agostinho e pela tradição da Septuaginta grega. Nenhum estudioso hebreu qualificado esteve presente em nenhum desses dois concílios. O especialista hebreu mais qualificado da época, Jerônimo, argumentou fortemente contra Agostinho, ao rejeitar a canocidade dos apócrifos. Jerônimo chegou a recusar-se a traduzir os apócrifos para o latim, ou mesmo incluí-los em suas versões em latim vulgar (Vugata Latina). Só depois da morte de Jerônimo, e praticamente por cima de seu cadáver, é que os livros apócrifos foram incorporados à Vulgata Latina. Além disso, quando um antagonista apelou para uma passagem de 2Macabeus para encerrar um argumento, Agostinho respondeu que sua causa era deveras fraca se tivesse que recorrer a um livro que não era da mesma categoria daqueles que eram recebidos e aceitos pelos judeus.
Esta defesa ambígua dos Apócrifos, da parte de Agostinho, é mais do que contrabalançada pela posição contrária adotada por Atanásio (que morreu em 365), tão reverenciado e altamente estimado tanto pelo Oriente como pelo Ocidente como sendo o campeão da ortodoxia trinitária. Na sua Trigésima Nona Carta, parágrafo 4, escreveu: “Há, pois, do Antigo Testamento vinte e dois livros”, e então relaciona os livros que são aqueles que se acham no TM (Texto Massorético), aproximadamente na mesma ordem na qual aparecem na Bíblia Protestante. Nos parágrafos 6 e 7 declara que os livros extrabíblico (i.é., os quatorze dos Apócrifos) não são incluídos no Cânone, mas meramente são “indicados para serem lidos”. Apesar disto, a Igreja Oriental mais tarde demonstrou uma tendência de concordar com a Igreja Ocidental em aceitar os Apócrifos (o segundo Concílio Trulano em Constantinopla, em 692). Mesmo assim, havia muitas pessoas que tinham suas reservas quanto a alguns dos quatorze, e finalmente, em Jerusalém, em 1672, a Igreja Grega reduziu o número de Apócrifos canônicos a quatro; Sabedoria, Eclesiástico, Tobias e Judite.
7. O Concílio de Trento. Em 1546, o concilio católico romano do pós-Reforma, realizado em Trento, proclamou os livros apócrifos como canônicos, declarando o seguinte: “O sínodo […] recebe e venera […] todos os livros, tanto do Antigo Testamento como do Novo [incluindo-se os apócrifos] – entendendo que um único Deus é o Autor de ambos os testamentos […] como se houvessem sido ditados pela boca do próprio Cristo, ou pelo Espírito Santo […] se alguém não receber tais livros como sagrados e canônicos, em todas as suas partes, da forma em que têm sido usados e lidos na Igreja Católica […] seja anátema”. Desde esse concílio de Trento, os livros apócrifos foram considerados canônicos, detentores de autoridade espiritual para a Igreja Católica Romana.
Refutação: A ação do Concílio de Trento foi ao mesmo tempo polêmica e prejudicial. Em debates com Lutero, os católicos romanos haviam citado Macabeus, em apoio à oração pelos modos (v. 2Macabeus 12.45,46). Lutero e os protestantes que o seguiam desafiaram a canonicidade desse livro, citando o Novo Testamento, os primeiros pais da igreja e os mestres judeus, em apoio. O Concílio de Trento reagiu a Lutero canonizando os livros apócrifos. A ação do Concílio não foi apenas patentemente polêmica, foi também prejudicial, visto que nem os catorze livros apócrifos foram aceitos pelo Concílio. Primeiro e Segundo Esdras (3 e 4 Esdras dos católicos romanos; a versão católica de Douai denomina 1 e 2Esdras, respectivamente, os livros canônicos de Esdras e Neemias) e a Oração de Manasses foram rejeitados. A rejeição de 2Esdras é particularmente suspeita, porque contém um versículo muito forte contra a oração pelos mortos (2Esdras 7.105). Aliás, algum escriba medieval havia cortado essa seção dos manuscritos latinos de 2Esdras, sendo conhecida pelos manuscritos árabes, até ser reencontrada outra vez em latim por Robert L. Bentley, em 1874, numa biblioteca de Amiens, na França.
8. Católicos contra os Apócrifos?
Essa decisão, em Trento, não refletiu uma anuência universal, indisputável, dentro da Igreja Católica. Os católicos não foram unânimes quanto a inspiração divina nesses livros. Lorraine Boetner (in Catolicismo Romano) cita o seguinte: “O papa Gregório, o grande, declarou que primeiro Macabeus, um livro apócrifo, não é canônico. Nessa exata época (da Reforma) o cardeal Cajetan, que se opusera a Lutero em Augsburgo, em 1518, publicou Comentário sobre todos os livros históricos fidedignos do Antigo Testamento, em 1532, omitindo os apócrifos. Antes ainda desse fato, o cardeal Ximenes havia feito distinção entre os apócrifos e o cânon do Antigo Testamento, em sua obra Poliglota com plutense (1514-1517), que por sinal foi aprovada pelo papa Leão X. Será que estes papas se enganaram? Se eles estavam certos, a decisão do Concílio de Trento estava errada. Se eles estavam errados, onde fica a infalibilidade do papa como mestre da doutrina? Tendo em mente essa concepção, os protestantes em geral rejeitaram a decisão do Concílio de Trento, que não tivera base sólida.
Objeção católica: Uso não-católico. As Bíblias protestantes, desde a Reforma, com frequência continham os livros apócrifos. Na verdade, nas igrejas anglicanas os apócrifos são lidos regularmente nos cultos públicos, ao lado dos livros do Antigo e do Novo Testamento. Os apócrifos são também usados pelas igrejas de tradição ortodoxa oriental.
Refutação: O uso dos livros apócrifos entre igrejas ortodoxas, anglicanas e protestantes foi desigual e diferenciado. Algumas os usam no culto público. Muitas Bíblias contém traduções dos livros apócrifos, ainda que colocados numa seção à parte, em geral entre o Antigo e o Novo Testamento. Ainda que não-católicos façam uso dos livros apócrifos, nunca lhes deram a mesma autoridade canônica do resto da Bíblia. Os não-católicos usam os apócrifos em seus devocionais, mais do que na afirmação doutrinária.
9. A comunidade do Mar Morto. Os livros apócrifos foram encontrados entre os rolos da comunidade do Mar Morto, em Qumran. Alguns haviam sido escritos em hebraico, o que seria indício de terem sido usados por judeus palestinos antes da época de Jesus.
Refutação: Muitos livros não-canônicos foram descobertos em Qumran, dentre os quais comentários e manuais. Era uma biblioteca que continha numerosos livros não tidos como inspirados pela comunidade. Visto que na biblioteca de Qumran não se descobriram comentários nem citações autorizadas sobre os livros apócrifos, não existem evidências de que eram tidos como inspirados. Podemos presumir, portanto, que aquela comunidade cristã não considerava os apócrifos como canônicos. Ainda que se encontrassem evidências em contrário, o fato de esse grupo ser uma seita que se separara do judaísmo oficial, mostraria ser natural que não fosse ortodoxa em todas as suas crenças. Tanto quanto podemos distinguir, contudo, esse grupo era ortodoxo à canonicidade do Antigo Testamento. Em outras palavras, não aceitavam a canonicidade dos livros apócrifos.
Resumo e Conclusão
Resumindo todos esses argumentos, essa postura afirma que o amplo emprego dos livros apócrifos por parte dos cristãos, desde os tempos mais primitivos, é evidência de sua aceitação pelo povo de Deus. Essa longa tradição culminou no reconhecimento oficial desses livros, no Concílio de Trento, como se tivessem sido inspirados por Deus.
Mesmo não-católicos, até o presente momento, conferem aos livros apócrifos uma categoria de para-canônicos, o que se deduz do lugar que lhes dão em suas Bíblias e em suas igrejas.
O cânon do Antigo Testamento até a época de Neemias compreendia 22 (ou 24) livros em hebraico, que, nas Bíblias dos cristãos, seriam 39, como já se verificara por volta do século IV a.C. As objeções de menor monta a partir dessa época não mudaram o conteúdo do cânon. Foram os livros chamados apócrifos, escritos depois dessa época, que obtiveram grande circulação entre os cristãos, por causa da influência da tradução grega de Alexandria. Visto que alguns dos primeiros pais da igreja, de modo especial no Ocidente, mencionaram esses livros em seus escritos, a igreja (em grande parte por influência de Agostinho) deu-lhes uso mais amplo e eclesiástico. No entanto, até a época da Reforma esses livros não eram considerados canônicos. A canonização que receberam no Concílio de Trento não recebeu o apoio da história. A decisão desse Concílio foi polêmica e eivada de preconceito, como já o demonstramos.
Que os livros apócrifos, seja qual for o valor devocional ou eclesiástico que tiverem, não são canônicos, comprova-se pelos seguintes fatos:
1. A comunidade judaica jamais os aceitou como canônicos.
2. Não foram aceitos por Jesus, nem pelos autores do Novo Testamento.
3. A maior parte dos primeiros grandes pais da igreja rejeitou sua canonicidade.
4. Nenhum concílio da igreja os considerou canônicos, senão no final do século IV.
5. Jerônimo, o grande especialista bíblico e tradutor da Vulgata, rejeitou fortemente os livros apócrifos.
6. Muitos estudiosos católicos romanos, ainda ao longo da Reforma, rejeitaram os livros apócrifos.
7. Nenhuma igreja ortodoxa grega, anglicana ou protestante, até a presente data, reconheceu os apócrifos como inspirados e canônicos, no sentido integral dessas palavras.
À vista desses fatos importantíssimos, torna-se absolutamente necessário que os cristãos de hoje jamais usem os livros apócrifos como sejam Palavra de Deus, nem os citem em apoio autorizado a qualquer doutrina cristã. Com efeito, quando examinados segundo os critérios elevados de canonicidade estabelecidos, verificamos que aos livros apócrifos falta o seguinte:
1. Os apócrifos não reivindicam ser proféticos.
2. Não detém a autoridade de Deus. O prólogo do livro apócrifo Eclesiástico (180 a.C.) diz: “Muitos e excelentes ensinamentos nos foram transmitidos pela Lei, pelos profetas, e por outros escritores que vieram depois deles, o que torna Israel digno de louvor por sua doutrina e sua sabedoria, visto não somente os autores destes discursos tiveram de ser instruídos, também os próprios estrangeiros se podem tomar (por meio deles) muito hábeis tanto para falar como para escrever. Por isso, Jesus, meu avô, depois de se ter aplicado com grande cuidado à leitura da Lei, dos profetas e dos outros livros que nossos pais nos legaram, quis também escrever alguma coisa acerca da doutrina e sabedoria…Eu vos exorto, pois a ver com benevolência, e a empreender esta leitura com uma atenção particular e a perdoar-nos, se algumas vezes parecer que, ao reproduzir este retrato da soberania, somos incapazes de dar o sentido (claro) das expressões”. Este prólogo é um auto-reconhecimento da falibilidade humana.
3. Contêm erros históricos (v. Tobias 1.3-5 e 14.11) e graves heresias, como a oração pelos mortos (2Macabeus 12.45,46; 4).
4. Embora seu conteúdo tenha algum valor para a edificação nos momentos devocionais, na maior parte se trata de texto repetitivo; são textos que já se encontram nos livros canônicos.
5. Há evidente ausência de profecia, o que não ocorre nos livros canônicos.
6. Os apócrifos nada acrescentam ao nosso conhecimento das verdades messiânicas.
7. O povo de Deus, a quem os apócrifos teriam sido originalmente apresentados, recusou-os terminantemente. A comunidade judaica nunca mudou de opinião a respeito dos livros apócrifos. Alguns cristãos têm sido menos rígidos e categóricos; mas, seja qual for o valor que se lhes atribui, fica evidente que a igreja como um todo nunca aceitou os livros apócrifos como Escrituras Sagradas.
Eis as razões porque definitivamente rejeitamos os Apócrifos.
Este estudo foi fruto de várias pesquisas em livros, enciclopédias, manuais, léxicos, dicionários e internet:
1. Merece Confiança o Antigo Testamento?, Gleason L. Archer. Jr. Ed. Vida Nova.
2. Introdução Bíblica, Norman Geisler e William Nix. Ed. Vida.
3. Panorama do Velho Testamento, Ângelo Gagliardi Jr. Ed. Vinde.
4. O Novo Comentário da Bíblia vol I , vários autores. Ed. Vida Nova.
5. Evidência Que Exige um Veredito vol L Josh McDowell. Ed. Candeia.
6. Os Fatos sobre “O Catolicismo Romano”, John Ankerberg e John Weldon. Ed. Chamada da Meia-Noite.
7. O Catolicismo Romano, Adolfo Robleto. Ed. Juerp.
8. Estudos particulares de, Pr. José Laérton – JJBR Emanuel – (085) 292-6204.(internet)
9. Estudos particulares de, Paulo R B. Anglada, (internet)
10. Teologia Sistemática, Green. Ed. Vida Nova.
11. Anotações particulares do autor.