Em seu Brave New World (Novo Mundo Audaz), Aldous Huxley inventou uma droga chamada “soma”, que tirava todas as asperezas da vida. Não resta dúvida de que, para salvar a humanidade, é preciso ser feita alguma coisa radical, e bem depressa. O homem está à beira do inferno, e as forças que adejam sobre nosso mundo mostram-se tão avassaladoras que, por toda a parte, o homem começa a gritar com desespero: “Que devo fazer para salvar-me?”
Em nosso mundo, tudo parece estar melhorando, menos o homem. Em sua natureza moral essencial, que governa sua relação com o semelhante, ele rouba, mata, mente, engana e espolia. Desde o começo do tempo, ele permanece essencialmente o mesmo. Os relatos jornalísticos de assassinato, estupro e brutalidade indicam que, de alguma maneira, nós fracassamos. Depois de muitos anos de estudos psicológicos, Carl Jung afirmou: “Todos os antigos pecados primitivos não estão varridos, mas acocorados nos cantos escuros de nossos corações modernos… ainda ali, e ainda tão medonhos quanto sempre o foram.”
O homem está sendo forçado a aceitar a realidade do pecado e da necessidade de um novo nascimento. Foi Walter Lippmann quem disse: “Estávamos tão certos de que finalmente surgira uma geração, ansiosa e ávida, que vinha endireitar esta terra desordenada… e preparada para essa tarefa… tínhamos tão boa intenção, fizemos tamanho esforço, e vejam o que conseguimos! Só conseguimos embaralhar as coisas. Torna-se necessário um novo tipo de homem.”
O grande filósofo dinamarquês, Kierkegaard, escreveu um livro intitulado A Doença Até a Morte, onde afirma: “O homem nasce e vive em pecado, nada podendo fazer a seu próprio favor, senão prejudicar-se.”
Estamos começando a perceber a incapacidade do homem, depois de séculos inteiros de esforços inúteis no terreno religioso, cultural, moral e educativo que visavam a transformar-lhe o coração. O homem lutou inutilmente por alcançar suas metas morais e transformar-se mediante a melhoria do ambiente. Agora, achamo-nos desiludidos e percebemos que, de algum modo, a transformação tem de vir de dentro de nós próprios.
AS TENTATIVAS DE TRANSFORMAÇÃO DO HOMEM
O homem faz na atualidade experiências nas chamadas ciências behaviorísticas, incluindo a antropologia, psicologia e sociologia, a fim de descobrir as leis do comportamento humano. O mal dessas experiências é que ignoram o fato do pecado humano. De acordo com as novas ciências, o pecado em grande parte é imaginário, o homem produto de seu ambiente, o produto afortunado ou não de uma combinação de genes e cromossomos. Nesse sentimentalismo pseudocientífico, o delinqüente juvenil é simplesmente uma criatura desprivilegiada e o ladrão não passa de um desajustado. Nessa filosofia, abandona-se a idéia do pecado e da responsabilidade individual, incriminando tudo, menos o que cometeu o crime ou delito. Assim, nada teríamos a curar a não ser o ambiente humano, em termos de mais condições de habitação, favelas, pobreza, desemprego e discriminação racial, enquanto o suspeito primordial, que é o indivíduo, continua ileso e imutável. O próprio homem e seu comportamento, de acordo com essa ciência nova, são considerados resultados da seleção natural.
Encontra-se, em seguida, a tentativa humana de transformar-nos mediante a química. Os cientistas acham-se anualmente empenhados a fundo no controle do comportamento humano por meio de agentes farmacológicos. Estamos às vésperas de um vasto aperfeiçoamento de drogas destinadas a controlar o comportamento humano. De início, essas drogas serão usadas apenas nos casos de doenças mentais, mas existe sempre a possibilidade de que os ditadores mundiais as empreguem para controlar segmentos inteiros da sociedade. Trata-se das drogas “que modelam as mentes humanas”, pois “com novos dispositivos os cientistas estão descobrindo como manobrar nossas emoções, pensamentos e comportamento”. Tais drogas “mudam a mente, alteram as sensações, percepções, estados de espírito, desejos, modos de pensar e de agir”.
O professor B. F. Skinner, da Universidade de Harvard, já declarou: “Estamos ingressando na era do controle químico do comportamento humano. As condições motivadoras e emocionais da vida diária normal provavelmente serão mantidas em qualquer estado desejado, pelo emprego de drogas.” Na melhor das hipóteses, entretanto tais drogas só nos proporcionarão modificações temporárias, seja para melhor ou para pior, dependendo da natureza de quem as administre, havendo danos permanentes prováveis para o cérebro humano.
O NOVO NASCIMENTO
Foi Jesus Cristo quem exigiu: “Importa-vos nascer de novo” (João 3:7). Jamais teria Ele apresentado essa meta, se não houvesse a possibilidade do acontecimento. Sim, o homem pode ser transformado, de modo radical e permanente, de dentro para fora. Existe a possibilidade de chegarmos a ser um homem completamente novo.
É interessante notar que Jesus fez essa afirmação a Nicodemos, dirigente religioso correto e devoto, que deve ter ficado atordoado por ela. Se Cristo houvesse dito isso a Zaqueu, que fora desonesto em toda a sua escalada no mundo financeiro, ou à mulher no poço, que tinha diversos maridos, ou ao ladrão na cruz, ou à mulher apanhada em adultério, teria sido mais fácil compreender. Sabemos que essas pessoas precisavam de uma transformação. Mas Jesus o declarou a um dos grandes dirigentes religiosos de Seu tempo. Nicodemos jejuava dois dias por semana, passava duas horas por dia orando no templo, pagava o dízimo de toda sua renda, ensinava teologia no seminário. A maioria das igrejas o receberia com prazer, mas Jesus disse: “Não basta; terás de nascer de novo.” Isso implica que todos os homens necessitam nascer de novo e implica, também, que todos eles têm essa possibilidade.
Em recente volume de Peloubet’s Select Notes (Notas Seletas de Peloubet), o Dr. Wilbur M. Smith apresentou a seguinte análise específica de alguns aspectos do novo nascimento:
“Que significa nascer um homem de novo? Para começar, significa algo tremendamente radical. O que somos por natureza somos por causa do que éramos, quando nascemos. Ao tempo do nascimento já está determinado nosso sexo e a própria estrutura de nosso corpo. Não há dúvida de que o nosso temperamento, nossas capacidades, nossos hábitos e inclinações, tudo isso nos é dado ao nascimento, pelo menos fundamentalmente, acontecendo o mesmo à nossa própria aparência. Nascer de novo implica, ao menos, um início absolutamente novo, não uma reforma da vida, não o voltar mais uma página, não a adição de qualquer atributo, aspecto ou capacidade novos, mas tão radical transformação que, por seu intermédio, venhamos a ser completamente diferentes do que temos sido. É claro que todos sabem que não podemos nascer pela segunda vez materialmente. A referência é, pois espiritual. Trata-se de um renascimento não do corpo, mas da alma, do espírito e do caráter. Também devemos notar… a extensão universal e a necessidade absoluta de um milagre assim, se quisermos ser membros do reino de Deus. Ninguém se acha excetuado e ninguém pode substituir essa realidade tremenda por outra coisa.”
Para sua própria vergonha, e em detrimento da sociedade, a igreja moderna abandonou em grande parte essa mensagem do novo nascimento. Prega a transformação social, o desarmamento e legislação adequada, mas não se interessa por aquilo que resolverá realmente os problemas do nosso mundo – a transformação dos homens. O problema básico do homem é espiritual, e não social. O homem necessita de uma transformação completa, efetuada de dentro para fora.
A Bíblia refere-se muitas vezes a essa transformação de que falava Jesus. Afirmou o profeta Ezequiel: “Dar-vos-ei coração e porei dentro de vós espírito novo” (Ezequiel 36:26). No livro dos Atos, Pedro chama a isso arrependimento e conversão. Paulo fala disso, dirigindo-se aos romanos, como sendo “ressurretos dentre os mortos” (Romanos 6:13). Em Colossenses, Paulo fala em que “vos despistes do velho homem com os seus feitos, e vos revestistes do novo homem que se refaz para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou” (Colossenses 3:9, 10). Em Tito, fala ele do “lavar regenerador e renovador do Espírito Santo” (Tito 3:5). Pedro disse que somos “co-participantes da natureza divina” (II Pedro 1:4), enquanto João dizia que a renovação era passar “da morte para a vida” (João 5:24). No catecismo da Igreja da Inglaterra, chama-se ao acontecimento “uma morte para o pecado e um novo nascimento para a virtude”.
A Bíblia ensina assim que o homem pode passar por uma transformação radical, espiritual e moral, produzida pelo próprio Deus. A palavra que Jesus utilizou, e que se traduz como “de novo”, ou “novamente”, na verdade significa “de cima”, “vindo de cima”. O contexto do terceiro capítulo de João ensina que o novo nascimento é o que Deus faz pelo homem quando este deseja aceitar a Deus. Como vimos, a Bíblia ensina que o homem está morto pelos seus delitos e pecados, e que sua grande necessidade é de VIDA. O homem não possui dentro de si a semente da nova vida, que tem de vir do próprio Deus.
Certo dia, uma lagarta sobe em uma árvore e a natureza a envolve num manto de fibras. Dorme a lagarta e daí a algumas semanas emerge na forma de bela borboleta. Também o homem, perturbado, desanimado, infeliz, perseguido pela consciência, impelido pela paixão, governado pelo egoísmo, beligerante, brigão, confuso, deprimido e abatido, arrasado, que faz uso de álcool e barbitúricos, que procura fugir, pode chegar a Cristo pela fé e emergir como um novo homem. Isto parece inacreditável, até mesmo impossível, mas é precisamente o que a Bíblia nos ensina.
MAIS DO QUE REFORMA
Esse novo nascimento é muito mais do que uma reforma. Há muitos que, á entrada do Ano Novo, tomam uma série de decisões sobre o que farão no ano que começam e só conseguem mesmo é deixar de cumpri-las, por lhes faltar capacidade para tanto. O homem está sempre a reformar-se, mas a reforma, na melhor das hipóteses, é coisa temporária. É preciso transformar a natureza humana.
Ao efetuarem sua convenção anual, um grupo de barbeiros resolveu demonstrar o valor de sua arte. Encontraram um vagabundo num bairro pobre e cortaram-lhe os cabelos, barbearam-no e lhe deram um banho, vestindo-o depois com roupas novas feitas por excelente alfaiate. Haviam assim demonstrado, para sua própria satisfação, o valor do bom corte de cabelo e da barba bem feita, mas três dias depois o vagabundo estava novamente nas sarjetas. Fora externamente transformado em homem de aspecto respeitável, mas os impulsos de seu ser íntimo não se haviam transformado. Fora perfumado e bem tratado, mas não modificado.
Pode-se escovar um porco, borrifar-lhe Chanel n.° 5, e pôr-lhe ao pescoço uma fita colorida e levá-lo para a sala. Mas, quando o soltarmos, ele pulará na primeira poça de lama que encontrar, porque a sua natureza íntima não foi modificada e ele continua a ser porco.
A Bíblia ensina que graças ao novo nascimento o homem entra num mundo novo. Existe uma dimensão nova de vida e a transformação que ocorre no homem se exprime na Bíblia com diversos contrastes: concupiscência e santidade, trevas e luz, morte e ressurreição, um estranho que se torna um cidadão no Reino de Deus. O homem que passou pelo novo nascimento é chamado pessoa da casa de Deus. A Bíblia ensina que sua vontade é modificada, os seus objetivos na vida transformados, a sua disposição mudada, as suas afeições transmutadas e ele apresenta então propósito e significado em sua vida. No novo nascimento, nasceu uma vida nova em sua alma, e ele recebe nova natureza e novo coração. Torna-se uma nova criatura.
Nicodemos ficou intrigado por essas afirmações de Cristo e perguntou: “Posso entrar no ventre de minha mãe e nascer pela segunda vez?” Era uma pergunta natural, que qualquer de nós teria feito. Tanta coisa em que Nicodemos acreditara havia sido afastada! Estava descobrindo que a religião não era suficiente, que a Lei de Moisés não o poderia salvar, pois ele não estava realmente atendendo às suas exigências. Tinha de nascer de novo. Ficava sabendo que ninguém poderia entrar no Reino do Céu sem possuir a vida eterna, pois nada pode existir lá senão a vida em Deus. Aquele que tiver essa vida poderá entrar. A grande pergunta é a seguinte: “Possuo a vida eterna? Se não a possuo, como posso obtê-la?” Trata-se da pergunta mais importante que um homem pode formular ou ver respondida.
A Bíblia nos fala de muitos homens que foram transformados graças ao seu encontro com Jesus Cristo, como o endemoninhado cujas correntes não continham a força de seus acessos, mas que, ao encontrar Jesus se transformou e mais tarde foi visto em seu lar “vestido e em juízo perfeito”. Não era mais presa de alucinações, não estava mais sujeito ao poder satânico. Não sentia mais os temores que constantemente o atormentavam, não constituía mais uma ameaça à sua gente. Tornara-se um homem mudado, no caráter, no vestuário, na conduta e até no ambiente (Lucas 8:26-29).
Zaqueu roubara o povo como coletor de impostos. Depois de ter encontrado Jesus, tudo mudou para ele, que passou a restituir o que roubara. “Resolvo dar aos pobres a metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado alguém, restituo quatro vezes mais” (Lucas 19:8).
Muitos desses encontros com Cristo determinaram uma transformação instantânea. No dia de Pentecostes, houve três mil pessoas que nasceram de novo. De manhã, tinham estado perdidas, confusas e pecaminosas, mas antes do fim do dia haviam nascido para o Reino de Deus, e cada uma delas passara da morte para a vida (Atos 2:41).
Um jovem chamado Saulo ia a caminho de Damasco a fim de perseguir os cristãos, quando se encontrou com Cristo sob o quente sol da Síria, e jamais voltou a ser o mesmo. Lembrou-se depois repetidamente desse encontro e sobre ele falou nos anos posteriores, revivendo aquele dia e aquele momento em que encontrara a Cristo (Atos 9).
O carcereiro filipense passou por uma experiência semelhante. Quando, tomado pelo medo, gritou: “Que devo fazer para salvar-me?”, disse-lhe o Apóstolo Paulo: “Crê no Senhor Jesus, e serás salvo.” Muitos psiquiatras modernos poderiam dizer que ele não estava em condições emocionais de tomar uma decisão permanente, mas Paulo não entendeu assim e batizou o carcereiro naquela mesma noite. Depois disso, o carcereiro começou a lavar-lhes os ferimentos como sinal da nova vida que recebera de Deus (Atos 16).
Qualquer pessoa que queira pôr a sua confiança em Jesus Cristo como seu Salvador pessoal pode receber o novo nascimento agora. Os primeiros pregadores metodistas foram chamados “pregadores do agora”, pois ofereciam a salvação naquele mesmo instante. A vida nova não é coisa que se receba à hora da morte ou depois dela, mas para ser recebida agora. “Eis agora o tempo sobremodo oportuno, eis agora o dia da salvação” (II Coríntios 6:2). Deus oferece a vida eterna a todos que a queiram receber.
Suponhamos que eu ofereça ao leitor um presente. Há um momento em que ele não o tem, e no momento seguinte está em seu poder. A vida eterna é um presente dado por Deus. Há um momento em que não a possuímos, e outro em que a temos. Deve haver o momento em que seja aceita.
Joan Winmill, jovem atriz dos palcos londrinos, tinha tudo e nada tinha. Era como milhares de profissionais de nossos dias, que possuem talento, dinheiro e êxito – e também uma vida vazia. Chegara ao ponto de pensar no suicídio quando, tangida pela curiosidade, foi ter a uma cruzada evangélica na Harringay Arena. Ao fazer-se o convite para que se recebesse Cristo, sem saber o que estava fazendo, reagiu e recebeu a nova vida. Tornou-se inteiramente diferente e hoje em dia é uma das pessoas cristãs mais felizes que conheço, pois tem um propósito e um sentido na vida.
Jim Vaus era o homem empregado por Mickey Cohen na tarefa de ouvir secretamente as comunicações telefônicas alheias, e chefe do mundo criminoso da costa ocidental dos Estados Unidos da América. Passou um dia por uma tenda onde se realizava uma reunião evangélica, em Los Angeles. Respondeu ao apelo para entregar-se a Cristo, e isso o transformou tão completamente que Jim Vaus veio a ser um dos grandes trabalhadores religiosos e sociais de nossa época.
Poderia citar inúmeros exemplos de homens e mulheres que se encontraram com Jesus Cristo. Todos se tornaram criaturas novas, e suas vidas foram inteiramente transformadas. Ingressaram em nova dimensão de vida, nasceram pelo poder do alto. A natureza de Deus foi-lhes concedida. Estavam cheios de concupiscência, cobiça e egoísmo e passaram a glorificar a Deus, ajudando os seus semelhantes.
O homem pode reconquistar o paraíso. Perdeu-o no Jardim do Éden, mas pode recuperá-lo por intermédio de Jesus Cristo. Se um número suficiente de homens e mulheres tivesse essa nova vida, poderíamos transformar o mundo em que vivemos! Esta é a única esperança, o remédio único. Não há outro. O homem tem de passar por uma renovação completa, vinda de dentro de si mesmo.
Extraído do livro “O Mundo em Chamas”, B. Graham, Ed. Record