A periculosidade do islã em Ayaan Hirsi Ali

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O presente artigo propõe uma síntese das obras da escritora Ayaan Hirsi Ali (2007, 2008, 2011 e 2015). Nos seus escritos, Ali (2007, 2008, 2011 e 2015), apresenta um panorama dos argumentos comprometedores da estreita aliança entre teologia islâmica e terror islâmico. Nossas investigações bibliográficas dão conta que todo o arcabouço de pesquisa da autora é em si uma conclusão factual e testemunhal que o maometismo é perigoso em si mesmo, pela potencialidade ao fanatismo e ao pragmatismo dos terroristas internacionais na interpretação literal de textos sagrados do Alcorão. Religiosamente e historicamente, a escritora abre as cortinas, desvendando que sim, sempre, o Alcorão e a Sharia foram perigosos contra as sociedades que os acolheram. Apesar de singela, Ayaan propõem algumas dicas elucidativas da problemática em questão e isso poderá sim, se aplicado com cuidado, trazer algum alento a toda escaramuça acumulada pela mágoa e ressentimento dos ocorridos nos últimos 1.400 anos.

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  1. Introdução

O Islã é uma religião perigosa? Ayaan Hirsi Ali afirma categoricamente que sim. Ela argumenta que uma reforma religiosa seria necessária como o único meio de acabar com os horrores terroristas que os fanáticos têm perpetuado até nossos dias, a um preço de milhares de vidas inocentes, sobretudo, no mundo islamizado e dominado pela lei islâmica – a sharia.[1] Para a escritora, é uma obtusidade persistir, como os chefes de estado do ocidente costumam fazer, “eufemizando” os atos criminosos e violentos de extremistas maometanos. Esses atos não podem ser dissociados da doutrina islâmica que os inspiram e os motivam. É bastante relevante aceitar o fato de que tais realizações “martirizadoras” nascem e emergem de uma cosmovisão sociopolítica engendrada dentro do próprio cerne religioso islâmico.

Atualmente o planeta tem aproximadamente um bilhão e meio de praticantes do islã que se dividem em três grupos majoritários: Sunitas, Xiitas e Sufis. Mas, de fato e na prática, o islã é um só e, como explicita Ayaan (2007), não se pode negar que vários ensinamentos e expressões religiosas – sobretudo e principalmente o objetivo de perpetuar e difundir a “guerra santa” – são polêmicos, mas real e a força motriz da atividade terrorista por detrás da religião de Maomé. Na constatação da escritora, o islamismo ficou imune a mudanças históricas e atualizações imprescindíveis para que a religião fosse mais sociável com o contexto do século XXI. Então, o islamismo é o retrocesso civilizatório e não apenas uma religião tacanha e obliqua.

Por expor a ideia de que a violência islâmica não tem raízes em condições sociais, econômicas ou políticas — e nem mesmo em erro teológico —, e sim nos textos fundamentais do próprio islamismo, fui tachada de intolerante e “islamofóbica”. Fui silenciada, execrada e humilhada. Fui considerada herege, não só por muçulmanos — para quem já sou uma apóstata —, mas também por alguns liberais do Ocidente, cujas sensibilidades multiculturais se melindram com esse tipo de pronunciamento “insensível” (ALI, 2015, p. 3).

O historiador Paul Johnson (2001), em uma entrevista a Revista Veja, explicitou que quando se fala de fundamentalismo islâmico, está se referindo a uma expressão enganosa. Todo o Islã é fundamentalista na essência, pois a palavra Islã não significa paz, mas submissão. Nos livros da autora ela corrobora com essa cosmovisão. Deixa o leitor impactado com a periculosidade dessa religião que no Ocidente pousa de religião filantropa, mas nos territórios dominados por ela, caça os dissidentes como animais. Esse é o objetivo que o presente artigo pretende alcançar.

2. Quem é Ayaan Hirsi Ali

A TV Cultura traz uma biografia reduzida da autora. Entendo que é o suficiente para o proposto aqui e o entendimento do sobre o porquê ela se tornou uma das mais aguerridas militantes contra as praticas religiosas do islamismo:

Ayaan Hirsi Ali nasceu na Somália, mas por causa da militância política do pai foi obrigada a deixar o país. Aos cinco anos, por uma tradição local, foi submetida a uma cliterectomia, a extirpação do clitóris. Criada numa família islâmica, de acordo com as tradições da religião, se viu forçada pela família a um casamento com um primo distante, que morava no Canadá. A caminho de encontrar o marido, fugiu e seguiu para a Holanda, onde pediu asilo. Estudou ciências políticas e se elegeu deputada da Câmara Baixa do Parlamento holandês, onde ficou de janeiro de 2003 a maio de 2006. Deixou o país no final de 2006, após perder o cargo e a cidadania holandesa, acusada de mentir ao solicitar asilo. Ayaan Hirsi Ali escreveu o argumento para o filme Submission [Submissão, filme realizado em 2004 e exibido na televisão holandesa, é um curta-metragem de dez minutos sobre a violência exercida contra as mulheres muçulmanas, especialmente a circuncisão feminina, e alertando para outros abusos, como incestos, estupros consentidos, casamentos forçados e o suicídio forçados de jovens mulheres muçulmanas migrantes], do holandês Theo Van Gogh. Nele, apresenta o seu ponto de vista sobre a submissão das mulheres muçulmanas. Após a exibição, viu o seu parceiro na produção ser assassinado. Um bilhete fincado em seu peito dizia que ela seria a próxima. Desde então, passou a andar com seguranças. Em 2007, Ayaan lançou um livro autobiográfico onde conta a sua trajetória: Infiel retrata o percurso da garota que nasceu na Somália, um dos países mais pobres da África, viveu exilada na Arábia Saudita, Etiópia e Quênia, e que depois se transformou em deputada e escritora, na Holanda. Neste ano [2008], Ayaan Hirsi Ali lançou A virgem na jaula: um apelo à razão. O livro é uma coleção de escritos que elaborou graças ao trabalho de tradutora que teve nos primeiros anos na Holanda. A experiência possibilitou que ela tivesse contato com histórias de outras famílias muçulmanas que, mesmo no Ocidente, mantêm os costumes de seus países de origem. Em 2005, a revista Time a incluiu na lista das cem pessoas mais influentes do mundo. Ayaan Hirsi Ali esteve no Brasil para participar da conferência Fronteiras do Pensamento Copesul-Braskem, realizada em Porto Alegre e Salvador, no final do mês de junho [de 2008]. Atualmente, vive em Washington, nos Estados Unidos, onde trabalha no American Enterprise Institute [for Public Policy Research – Instituto Americano de Empreendimento para a Pesquisa de Política Pública] na defesa dos direitos das mulheres muçulmanas (ALI, PROGRAMA RODAVIVA,  2015).

3.O Islã

O Islamismo é uma das três religiões monoteístas baseada nos ensinamentos de Maomé ou Mohammad (570-632 D.C.), chamado “O Profeta”, contidos no livro sagrado islâmico, o Alcorão. A palavra islã significa: submissão, e exprime o servilismo ao conjunto de leis religiosas, a sharia. Seus seguidores são chamados de muçulmanos, que significa aquele que se submete ao bom Alá.

Maomé nasceu na cidade de Meca, na Arábia Saudita, centro de animismo e idolatria. Como qualquer membro da tribo Quirache, Maomé viveu e cresceu entre mercadores. Seu pai, Abdulá, morreu por ocasião do seu nascimento, e sua mãe, Amina, quando ele tinha seis anos. Aos 40 anos, Maomé começou sua pregação, quando, segundo a tradição, teve uma visão do anjo Gabriel, que lhe revelou a existência de um Deus único. Dentro dessa conjuntura de visões e revelações, Maomé quase foi à loucura tentando o suicídio e acreditando que suas visões eram diabólicas, se não fosse a sua esposa ele teria tirado a sua própria vida.  Khadija era uma viúva rica que se casou com Maomé e investiu toda sua fortuna na propagação da nova doutrina. Maomé passou a pregar publicamente sua mensagem, encontrando uma crescente oposição. Perseguido em Meca, foi obrigado a emigrar para Medina, no dia 20 de Junho de 622. Esse acontecimento, chamado Hégira (emigração), é o marco inicial do calendário muçulmano até hoje. Maomé faleceu no ano 632.

Segundo os muçulmanos, o Alcorão contém a mensagem de Deus a Maomé, as quais lhe foram reveladas entre os anos 610 a 632. Seus ensinamentos são considerados infalíveis. São divididos em 114 suras (capítulos), ordenadas por tamanho, tendo o maior 286 versos. A segunda fonte de doutrina do Islã, a Suna, é um conjunto de preceitos baseados nos hadiz (ditos e feitos do profeta).

O objetivo final do Islamismo é subjugar o mundo e regê-lo pelas leis islâmicas, mesmo que para isso necessite matar e destruir os “infiéis ou incrédulos” da religião. Segundo eles, Alá deixou dois mandamentos importantes: o de subjugar o mundo militarmente e matar os inimigos do Islamismo – os idólatras (que seriam os judeus e cristãos).

Nesta sinopse sobre o islã, finalizo com o apotegma de Ayaan sobre sua antiga crença:

Para os muçulmanos, adorar a Deus significa obediência total às normas de Alá e abstinência total de pensamentos e atos que ele declarasse proibidos no Alcorão… Quando se diz que os valores islâmicos são a compaixão, a tolerância e a liberdade, olho para a realidade, para as culturas e os governos reais, e simplesmente vejo que não é assim (ALI, 2009, p. 494).

4. O ocidente e sua pouca compreensão do islã

Na cosmologia religiosa islâmica não existe estado de um lado e religião de outro – tudo é uma coisa só, ou como eles chamam: tudo é uma “única comunidade”, vivendo nas regras do Alcorão Sagrado e pela Sharia. Ayaan arrazoa da seguinte maneira:

Quando tentam explicar o caminho violento de alguns islamitas, analistas ocidentais às vezes atribuem tudo a condições econômicas penosas, circunstâncias familiares disfuncionais, confusão de identidade, alienação genérica de homens e jovens, falta de integração na sociedade maior, doença mental etc. Alguns da esquerda asseveram que a culpa é da política externa norte-americana. Nada disso é convincente. A jihad no século XXI não é um problema de pobreza, de educação falha ou de qualquer outra condição social prévia… Precisamos ir além dessas explicações fáceis. O imperativo da Jihad está arraigado no próprio Islã. É uma obrigação religiosa. Mas ele também reflete influência das mentes estratégicas por trás da jihad global, em especial: Sayyid Qutb, autor de Milestones, que explicitamente argumentou que o islã não é apenas uma religião, e sim um movimento político revolucionário; Abdullah Azzam, mentor de Osama Bin Laden, que propôs uma teoria da jihad pela ideia do “lobo solitário” individualista; e o general do exército paquistanês S. K. Malik, que no livro The Quranic Conception of War afirma que o único centro de gravidade na guerra é a alma do inimigo e, portanto, o terror é a arma suprema (ALI, 2015, p. 180, 181).

A pesquisadora expõe ainda que o islã é muito mais que religião – é uma facção religiosa, política e fundamentalista:

Temos de reconhecer que eles são movidos por uma ideologia política, uma ideologia com raízes no próprio islã, no livro santo do Alcorão e na vida e ensinamento do profeta Maomé descritos no hadith (ditos e feitos do profeta). Deixo claro o meu ponto de vista nos termos mais simples possíveis: o islamismo não é uma religião pacífica. Por expor a ideia de que a violência islâmica não tem raízes em condições sociais, econômicas ou políticas – e nem mesmo em erro teológico -, e sim nos textos fundamentais do próprio islamismo… Pretendo fazer muita gente se sentir incomodada – não só muçulmanos, mas também os apologistas ocidentais do islã… Sem alterações fundamentais em alguns dos conceitos centrais do islã não resolveremos, a meu ver, o problema urgente e cada vez mais global da violência política perpetrada em nome da religião (ALI, 2015, p. 10, 11).

A autora nos deixa alertados da bruma que cega os olhos dos ocidentais – é preciso que vejamos que o islamismo é culpado pelos atentados dos fanáticos islâmicos atuais nas ruas ocidentais (ou mesmo no oriente)! Eles não agiram sem ter um contexto histórico e teológico para seguir como linha de raciocínio. Se Maomé estivesse vivo hoje, provavelmente atuaria com os atuais radicais e os classificariam como verdadeiros servos de Alá:

O problema é o Alcorão e o profeta Maomé. É a mensagem à qual está sujeito 1,2 bilhão de indivíduos no mundo. O Islã não é só uma religião, mas uma civilização. Seu aspecto político e social, regido por códigos severos, contém sementes fascistas. É um sistema que espolia as liberdades do indivíduo e intervém na sua privacidade sem admitir ser contestado. Nenhum muçulmano é livre para questionar a sua crença religiosa. Ao contrário da Bíblia e do Talmude, livros sagrados dos monoteísmos abraâmicos semelhantes ao islamismo, qualquer exegese do Alcorão é inadmissível. Os muçulmanos devem crer, cegamente. Eu aprendi a decorar o Alcorão desde a infância, posso recitar suras inteiras. Algumas delas servem para justificar a violência, liberar a consciência dos seus autores e também dos observadores passivos. Segundo o livro sagrado do islamismo, os fiéis devem aspirar, em permanência, ao conhecimento. O mesmo livro diz que Alá sabe tudo. Toda fonte de conhecimento está contida no Corão. Pergunto, como conciliar as duas exigências? Qualquer comunidade que vive segundo os preceitos de Maomé e do Alcorão torna-se patológica ((ALI, 2015).

As famílias islâmicas que se abrigam no ocidente, segundo a autora, são comunidades disfuncionais ao tecido da existencialidade da sociedade ocidentalizada:

É, portanto, de extrema importância que compreendamos a dinâmica da família muçulmana, pois nela está a chave para (entre outras coisas) a suscetibilidade de tantos jovens muçulmanos ao radicalismo islâmico… Uma minoria radical entre os muçulmanos acreditam que o islã está sob ataque. Essa minoria está dedicada a vencer a “guerra” santa que declarou contra o ocidente. Seu objetivo final é restaurar um califado teocrático nos países muçulmanos e impor tal sistema ao restante do mundo. Um grupo maio de muçulmanos, vivendo principalmente na Europa e nos Estados Unidos, acredita que atos de terror cometidos por seus colegas muçulmanos provocarão uma reação indiscriminada do Ocidente contra todos os muçulmanos. Com esse sentimento coletivo de perseguição, muitas famílias muçulmanas que moram no Ocidente se isolam em guetos produzidos por elas mesmas. Nesses guetos, agentes do islã radical cultivam sua mensagem de ódio e buscam soldados rasos para combater como mártires de sua distorcida visão de mundo. Jovens e desorientados em famílias disfuncionais de imigrantes constituem recrutas perfeitos para tal causa. Com o contínuo fluxo migratório proveniente do mundo todo e uma taxa de natalidade consideravelmente maior nas famílias muçulmanas, ignorar esse fenômeno é algo que fazemos por nossa própria conta e risco (ALI, 2011, p. 16 – 17).

5. A SHARIA

Sharia é a doutrina dos direitos e deveres religiosos do islã. Abrange as obrigações cultuais (orações, jejuns, esmolas, peregrinações), as normas éticas, bem como os preceitos fundamentais para todas as áreas da vida (matrimônio, herança, propriedade e bens, economia e segurança interna e externa da sociedade). Originou-se entre os séculos VII e X d.C. a partir dos trabalhos de sistematização realizados por eruditos e legisladores islâmicos e baseia-se no Corão, suplementado pela Suna (ditos e feitos do profeta), a descrição dos atos normativos do profeta Maomé.

Onde a sharia é estabelecida, o direito civil e a liberdade de expressão são cruelmente sufocados. A ideologia de grupos extremistas islâmicos visa ao objetivo de conquistar o mundo para implantar a sharia como legislação suprema:

Outra mudança seria na sharia, que regula absolutamente tudo no mundo islâmico. Há organizações e líderes muçulmanos que sustentam que o Islã não é o problema. O termo (“islamofobia”) foi fabricado para calar qualquer discussão ou crítica ao Islã. Foi criado por quem quer promover a ideia da sharia (CONSTANTINO, 2005).

Se olharmos a propaganda islâmica e sua agenda, o que estão dizendo é que as pessoas têm que viver pela lei da Sharia, a lei divina. É claro que há lei secular e questões de liberdade e governos que não têm nada a ver com religião. Porém, é possível ter uma discussão e uma opinião diferente sobre os seculistas e problemas como governo e sexualidade, mas tradicionalmente o principal problema tem sido entre pessoas que querem a religião no centro da moralidade e do governo e as outras que dizem ‘não, a religião deveria ser pessoal’ (ALI, 2015).

A sharia já é uma realidade em guetos dentro de berços democráticos como a Inglaterra e França. Leis paralelas às democráticas imperam nessas comunidades islâmicas e Ayaan denuncia isso:

Hoje existem vários tribunais da sharia em funcionamento na Grã-Bretanha. Segundo a sharia, em vez de herdarem com igualdade, como manda a lei nacional britânica, as mulheres muçulmanas só podem herdar metade do que herdam os homens; mulheres muçulmanas divorciadas não herdam nada e não podem adotar crianças, e os casamentos de não muçulmanos não são reconhecidos. A pressão para que a sharia se aplique em outros países ocidentais também é crescente. A França, por exemplo, esta sendo pressionada a mudar suas leis que proíbem a poligamia, pois homens e países muçulmanos querem que sua segunda ou terceira esposa imigre para juntar-se a eles. Até o momento as autoridades francesas se recusaram a sancionar casamentos polígamos, assim como a apoiar o uso de véu na escola por algumas muçulmanas ((ALI, 2015).

6. A Misoginia Alcorânica

No livro “A Virgem na Jaula” [2008], Ayaan denuncia as atrocidades e maus tratos às mulheres muçulmanas: garotas que são quase prisioneiras, dedicadas a servir ao pai, irmãos e maridos. Pequenas meninas, completamente em idades infantes, são oferecidas em casamentos arranjados e manipulados por interesses tribais e machistas. Esposas, rechaçadas do direito de viver, transformadas em máquinas de fazer filhos e em subserviência extrema aos seus maridos/donos. As mulheres idosas acabam repetindo o ciclo de opressão e servidão, corroborando com práticas tribais e mutilação genital de crianças e as “costuras vaginais” que garantem a virgindade das mulheres até o casamento:

O islã é fortemente dominado por uma moral sexual derivada de valores tribais árabes, vigentes quando o profeta Maomé recebeu suas instruções de Alá… A essência de uma mulher reduz-se a seu hímen. Seu véu serve de lembrete constante ao mundo externo dessa moral asfixiante, que faz dos homens proprietários das mulheres, obrigando-os a evitar suas mães, irmãs, tias, cunhadas, primas, sobrinhas e esposas… É uma ofensa quando uma mulher olha para um homem, roça seu braço ou aperta sua mão. A reputação e a honra de um homem dependem inteiramente do comportamento respeitável e obediente das mulheres da família (ALI, 2008, p. 11, 12).

7. O Islã e a violência

Ayaan havia previsto a violência religiosa muçulmana no ocidente, pois uma Europa islamizada e com uma alta taxa de refugiados maometanos, é campo fértil para o aparecimento de fanáticos que levam o Alcorão ao pé da letra. Os campos islamizados são lugares onde os mais radicais religiosos fazem suas colheitas; colheitas de pessoas geralmente sem esperança e prontas para morrer em nome de uma fé abstrata. Nisto estão seguindo de perto os ensinos do profeta Mohamed com relação ao tratamento dispensado aos infiéis. Ayaan comenta a questão ao falar da relação Isã e violência.[2]

O ponto que gostaria de arrazoar é bastante simples. Os Muçulmanos que cometem atos de violência e terror em nome de Deus podem encontrar uma grande justificativa para suas ações com base nos ensinamentos do Alcorão e nos ditos e exemplos do profeta Maomé? A seguir estão apenas alguns dos versos do Alcorão que podem e têm sido usados ​​na história do Islã em apoio à violência em nome de Deus e as glórias do martírio em uma guerra santa – textos que o próprio Osama Bin Laden usou como bandeira da sua militância:

2:190-193 “Combatei, pela causa de Deus, aqueles que vos combatem… Matai-os onde quer se os encontreis… combatei-os até terminar a perseguição e prevalecer a religião de Deus…”

2:216 “Está-vos prescrita a luta (pela causa de Deus), embora o repudieis. É possível que repudieis algo que seja um bem para vós e, quiçá, gosteis de algo que vos seja prejudicial; todavia, Deus sabe todo o bem que fizerdes, Deus dele tomará consciência”.
A leitura destas passagens e de várias outras[3], é capaz de incitar à violência e produzir na mente de muitos fiéis aversão contra os judeus, cristãos e outros não-muçulmanos. Muito embora estes versos sejam evitados no discurso dos muçulmanos ocidentais, não há como negar que na prática eles funcionam como verdadeiros catalizadores para a violência na mente de fundamentalistas que pretendem cumprir a todo custo a vontade de Alá explicitada em seu livro sagrado.

A violência no Islã seja na forma de terrorismo ou na perseguição aos cristãos e outras minorias no mundo muçulmano, ou a pena de morte para um indivíduo que se afasta do Islã, não é simplesmente alguns incidentes isolados ou deturpação exegética por aqueles que ensinam o Islã. Essas violências são, de fato, a raiz do Islã, tal como encontrado no Alcorão e nas ações e ensinamentos do seu próprio profeta.

A religião foi fundada por um guerreiro cujo ritmo das conquistas superava o da reflexão de uma teologia ou teoria política… Os conceitos de Jihad, martírio e de uma vida começa somente depois da morte… (ALI, 2011, p. 347).

O Alcorão inspira a violência? … Ele também é citado para justificar atos de violência, inclusive guerra total contra os infiéis… No alcorão a raiz da palavra ‘jihad’ aparece frequentemente ligada a combate (por exemplo, 2:218, 3.143, 8:72, 74-75, 9:16, 20, 41, 86, 61:11) ou a combatentes (Mujahidin, 4:95, 47:31)… Na evolução histórica do islã, ‘a luta armada- conquista agressiva – veio primeiro, e então significados tradicionais foram agregados ao termo (jihad)’… A interpretação literal do Alcorão é fundamental na motivação das sangrentas batalhas da jihad por toda a Síria e Iraque… Esta é a guerra que ele prometeu – é a grande batalha (ALI, 2015, p. 107, 108).

8. A solução para o problema do Islã

Ayaan Hirsi Ali faz um apelo insistente à comunidade muçulmana por uma nova maneira de enxergar o mundo e a religião islâmica dentro dele, propondo uma reforma no âmago do islamismo, o que entende ser o único modo de acabarem com o terrorismo religioso, as guerras sectárias e a repressão contra mulheres e outras minorias. Segundo Ali, “o islã não é uma religião de paz”; o Ocidente não deve tolerar os extremistas e nem aceitar o modelo islâmico de coletividade social. As comunidades islâmicas, mesmo quando pacíficas, rejeitam veemente o sistema ocidental democrático de sociedade. Então, sejam terroristas ou não, o islamismo não quer se engajar e tolerar nossa sociedade. Quanto a isso ela explica o seguinte:

Sugiro que o Islã se reconcilie com a modernidade. Os líderes islâmicos têm que reconhecer a liberdade dos membros das comunidades. Se eles quiserem podem aprender com a história do cristianismo, porque as pessoas foram reconhecidas não como inferiores à comunidade, mas o indivíduo é superior à comunidade. O indivíduo possui direitos e a liberdade para formar sua livre associação, sua própria comunidade. Nasci muçulmana e decidi não ser muçulmana, deveria ser decapitada por isso? É o que pensam os radicais muçulmanos. Você não pode deixar a fé? Isso é errado… A maioria dos muçulmanos diz não gostar do pensamento radical, mas também não quer ser vista como ocidentalizada, uma traição aos valores islâmicos. Tento dizer que há outras opções disponíveis sem rótulos ocidentais. Muitos muçulmanos com quem encontro e converso, por exemplo, são atraídos pela ideia de libertar mulheres, mas creem que isso seria trair o Alcorão e o profeta Maomé. Digo que é correto trair os seus ensinamentos por um bem maior: a liberdade das mulheres e sua igualdade perante a lei… No Ocidente, a Igreja não é a legisladora, a lei é feita de forma independente no Parlamento e no Congresso. As pessoas que as produzem são eleitas por outras pessoas, o presidente dos EUA não é eleito por Deus. Isso é um grande progresso em termos de humanidade se compararmos o cristianismo ao islamismo, um progresso que os muçulmanos ainda não enfrentaram por completo (ALI, 2015).

Nos últimos capítulos de seu livro “Herege” [2015], Ayaan oferece um registro detalhado de reformadores — imãs, sheiks, professores, intelectuais, políticos, jornalistas — que, tanto dentro como fora dos países islâmicos, segundo seu ponto de vista, já colocaram em marcha essa reforma por modificações estruturais dentro do maometismo. Ela contaria com a solidariedade velada de grande número de religiosos — entre eles, muitíssimas mulheres— conscienciosas de que só graças a essa modernização de sua fé poderiam seus países abraçar a modernidade e afastar-se do atraso medieval que significa, em pleno século XXI, continuar apedrejando as adúlteras, cortando as mãos dos ladrões, decapitando os hereges e apóstatas e considerando que, perante a lei, o testemunho de uma mulher vale só a metade do de um homem. Com muita razão, Ayaan exorta os mandatários e as lideranças políticas dos países democráticos a dar seu apoio a quem, arriscando sua vida, trava essa difícil ação religiosa e cultural, em vez de, por razões meramente diplomáticas, amparar regimes despóticos como o da Arábia Saudita e o Irã, onde predominam aqueles horrores, e outros não menos bárbaros, como os apelidados “crimes de honra” que faz com que o pai ou os irmãos assassinem a mulher estuprada, pois esse estupro alegadamente “desonrou” a família.

Quando indagada, se as mudanças religiosas viriam em breve para as comunidades islâmicas, explicitou que as mudanças viriam, mas não ocorreriam em breve:

Sou muito otimista e acho que vai acontecer, só não sei se isso ocorrerá enquanto eu ainda estiver viva, ex-jihadistas que foram membros da Al-Qaeda e do estado Islâmico que se desculparam, que mudaram de ideia e estão pedindo reformas… Governos podem colaborar encorajando a reforma, ajudando as organizações que propõem mudanças, confrontando a ideologia radical e propagando a narrativa da vida, da vida antes da morte, em vez de vida após a morte (ALI, 2015).

Apesar de comedida, a escritora não perdeu a esperança de que o islamismo pode evoluir e melhorar, mudando sua ótica em relação à vida e a existencialidade.

9. Considerações Finais

A odiosidade e as barbaridades causadas pelos islâmicos fanáticos e terroristas são apontadas por Ayaan como prova de que é necessário e urgente reformar o maometismo e retirar da religião o que a torna violenta e sangrenta. Entretanto, a cosmovisão de Ayaan sobre a reforma no islã não deve ser aceita facilmente ou com pouca rejeição. Ela é isola e rechaçada por ser a mais sincera com os fatos e por colocar a religião como problema sem fugir do assunto ou dos acertados crimes da religião do profeta Maomé.

Nas suas obras literárias, a escritora precipita julgamentos e se diz desolada e decepciona com os liberais ocidentais, que se dizem defensores dos direitos das mulheres, minorias e gays, mas não se posicionam contra a teologia assassina e retrógrada da religião muçulmana. Para a autora, não há dúvida de que a raiz das perseguições no mundo islâmico são frutos de uma teologia ortodoxa e muito bem documentada no Alcorão e nas tradições do profeta guerreiro.

No livro “Herege”, Ayaan propõe uma série de alvos a reformar no islã, como a ideia de que o profeta Maomé é infalível e que o Alcorão deva ser levado sempre ao “pé da letra”. Mas o projeto – que transformaria a cultura religiosa de 1,3 bilhão de pessoas – é tarefa hercúlea. O maometismo, diferentemente do catolicismo, não tem um papa ou líder central, e a religiosidade se alargou em torno de variadas interpretações de fé e apreço pelo metafísico. Ayaan, sabendo disso, tenta encontrar primeiro líderes que levem adiante esse projeto e, com coragem, disseminem essa nova ideologia de vida no lugar da cosmovisão da morte.

 

REFERÊNCIAS:

ALI, A. H. Infiel. São Paulo: Cia das Letras, 2007.

________. A Virgem na Jaula, Um Apelo à Razão. São Paulo: Cia das Letras, 2008.

________. Nômade. São Paulo: Cia das Letras, 2011.

________. Herege, Por que o Islã Precisa de Uma Reforma Imediata. São Paulo: Cia das Letras, 2015.

ALI, Ayaan Hirsi. Entrevista à TV Cultura. Disponível em: <http://tvcultura.cmais.com.br/rodaviva/ayaan-hirsi-ali-1>. Acesso em: 07 de agosto de 2015.

[1] Lei islâmica baseada no Alcorão e na tradição do profeta.

[2] Um muçulmano moderado não questiona Maomé nem rejeita ou revisa textos do Alcorão. Talvez o muçulmano moderado não pratique o islã da mesma maneira praticada por um muçulmano fundamentalista – cobrindo-se com véus, por exemplo, ou recusando a apertar a mão de uma mulher -, mas tanto o fundamentalistas como os chamados moderados concordam quanto à autenticidade, ao caráter verdadeiro e ao valor das escrituras muçulmanas. É por isso que os fundamentalistas conseguem, sem grande dificuldade, convencer muçulmanos pouco praticantes a começar seu envolvimento na luta interna, a jihad íntima. Ordens são claras no Alcorão como “bata nas mulheres” e “mate os infiéis” se tornaram obscuras, e muitas cercas são construídas ao seu redor… O islã não é apenas uma crença, um modo de vida, um modo violento de viver. O islã está embebido na violência e encoraja a prática da violência (no mundo). O deus dos fundamentalistas é todo-poderoso; ele ditou o Alcorão, e precisamos viver como viveu o Profeta Maomé. Trata-se de uma posição clara. São teólogos ocidentalizados que estão presos na confusão, pois querem sustentar que o profeta Maomé era um ser humano perfeito, cujo exemplo deve ser seguido, que o Alcorão é uma escritura perfeita, e que todos os seus mandamentos principais – mate os infiéis, prepare emboscadas, tome a propriedade deles, obrigue-os a se converterem, mate os homossexuais e os adúlteros, condene os judeus, trate as mulheres como gado (Cf. Surata 4 e 9) – são misteriosos erros de tradução. Nos últimos anos, os americanos (ocidentais) que escutaram meus alertas quanto ao impacto cada vez mais perigoso do islã nas sociedades ocidentais me perguntaram repetidas vezes: O que pode ser feito? A mente muçulmana precisa ser aberta. Acima de tudo, a atitude acrítica dos muçulmanos em relação ao Alcorão precisa mudar, pois representa uma ameaça a paz mundial. Eis aqui algo que aprendi do modo mais difícil, mas que muitas pessoas bem-intencionadas no ocidente têm dificuldade em aceitar: Todos os seres humanos são iguais, mas há diferenças entre todas as culturas e religiões. Uma cultura que celebra a feminilidade é considera as mulheres senhoras de sua própria vida é melhor do que uma cultura que mutila a genitália das meninas e as confina atrás de paredes e véus ou as açoita e apedreja quando se apaixonam. Uma cultura que protege os direitos da mulher com lei é melhor do que uma cultura na qual é permitido a um homem ter quatro esposas ao mesmo tempo (fora as concubinas) enquanto às mulheres é negada a pensão alimentícia e metade da herança. Uma cultura que nomeia mulheres para a Suprema Corte é melhor do que uma cultura que declara que o depoimento de uma mulher tem metade do peso do testemunho de um homem. Oprimir as mulheres faz parte da cultura muçulmana (HIRSI, 2015).

[3] 2:244 “Combatei pela causa de Deus e sabei que Ele é Oniouvinte, Sapientíssimo”. 3:157-158 “Mas, se morrerdes ou fordes assassinados pela causa de Deus, sabei que a Sua indulgência e a Sua clemência são preferíveis a tudo quando possam acumular. E sabei que, tanto se morrerdes, como ser fordes assassinados, sereis congregados ante Deus”. 3:169 “E não creiais que aqueles que sucumbiram pela causa de Deus estejam mortos; ao contrário, vivem, agraciados, ao lado do seu Senhor”. 3:195 “… quanto àqueles que… sofreram pela Minha causa, combateram e foram mortos, absorvê-los-ei dos seus pecados e os introduzirei em jardins, abaixo dos quais corres os rios, como recompensa de Deus”. 4:101 “… os incrédulos; em verdade, eles são vossos inimigos declarados”. 4:74,76 “Que combatam pela causa de Deus aqueles dispostos a sacrificar a vida terrena pela futura, porque a quem combater pela causa de Deus, quer sucumba, quer vença, concederemos magnífica recompensa. Os fiéis combatem pela causa de Deus; os incrédulos, ao contrário, combatem pela do sedutor. Combatei, pois, os aliados de Satanás, porque a angústia de Satanás é débil”. 4:89 “Não tomeis a nenhum deles por confidente, até que tenham migrado pela causa de Deus. Porém, se se rebelarem, capturai-os então, matai-os, onde quer que os acheis, e não tomeis a nenhum deles por confidente nem por socorredor”.

4:95 “Os fiéis, que, sem razão fundada, permanecem em suas casas, jamais se equiparam àqueles que sacrificam os seus bens e suas vidas pela causa de Deus; Ele concede maior dignidade àqueles que sacrificam os seus bens e suas vidas do que aos que permanecem (em suas casas)”. 5:36 “O castigo, para aqueles que lutam contra Deus e contra o Seu Mensageiro e semeiam a corrupção na terra, é que sejam mortos, ou crucificados, ou lhes seja decepada a mão e o pé opostos, ou banidos. Tal será, para eles, um aviltamento nesse mundo e, no outro, sofrerão um severo castigo”. 5:54 “Ó fiéis, não tomeis por confidentes os judeus nem os cristãos; que sejam confidentes entre si. Porém, quem dentre vós os tomar por confidentes, certamente será um deles; e Deus não encaminha os iníquos”. 8:12-17 “E de quando o teu Senhor revelou aos anjos: Estou convosco; firmeza, pois, aos fiéis! Logo infundirei o terror nos corações dos incrédulos; decapitai-os e decepai-lhes os dedos! Isso, porque contrariaram Deus e o Seu Mensageiro; saiba, quem contrariar Deus e o Seu Mensageiro, que Deus é Severíssimo no castigo… Ó fiéis, quando enfrentardes (em batalha) os incrédulos, não lhes volteis as costas. Aquele que, nesse dia, lhes voltar as costas – a menos que seja por estratégia… Vós que não os aniquilastes, (ó muçulmanos)! Foi Deus quem os aniquilou”. 8:59-60 “E não pensem os incrédulos que poderão obter coisas melhores (do que os fiéis). Jamais o conseguirão. Mobilizai tudo quando dispuserdes, em armas e cavalaria, para intimidar, com isso, o inimigo de Deus e vosso, e se intimidarem ainda outros que não conheceis, mas que Deus bem conhece”. 8:65 “Ó Profeta, estimula os fiéis ao combate. Se entre vós houvesse vinte perseverantes, venceriam duzentos, e se houvessem cem, venceriam mil do incrédulos, porque estes são insensatos”. 9:5 “… matai os idólatras, onde quer que os acheis; capturai-os, acossai-os e espreitai-os; porém, caso se arrependam…”. 9:14 “Combatei-os! Deus os castigará, por intermédio das vossas mãos”. 9:29 “Combatei aqueles que não creem em Deus e no Dia do Juízo Final, nem abstêm do que Deus e Seu Mensageiro proibiram, e nem professam a verdadeira religião daqueles que receberam o Livro, até que, submissos, paguem o Jizya [imposto para poder morar entre os Muçulmanos]”. 47:4 “E quando vos enfrentardes com os incrédulos, (em batalha), golpeai-lhes os pescoços, até que os tenhais dominado, e tomai (os sobreviventes) como prisioneiros… E se Deus quisesse, Ele mesmo ter-Se-ia livrado deles; porém, (facultou-vos a guerra) para que vos provásseis mutuamente. Quanto àqueles que foram mortos pela causa de Deus, Ele jamais desmerecerá as suas obras”. 61:4 “Em verdade, Deus aprecia aqueles que combatem, em fileiras, por Sua causa, como se fossem uma sólida muralha”.[3]

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