Carlos IX, rei da França, no dia 24/08/1572, aos 23 anos de idade, ordenou que fossem barbaramente assassinados no país todos os hunguenotes, nome pelo qual eram conhecidos os protestantes. A história registra, que só na capital, Paris, foram mortas dez mil pessoas, incluindo bebês de colo. No resto da França morreram mais de vinte mil.
A matança foi comandada por Henrique I, Duque de Guisa, que já carregava nas costas a morte de seu próprio pai. Ele, no entanto, acabou sendo também assassinado por ordem de Henrique III, sob a acusação de conspiração para usurpar o trono.
O cruel e sanguinário monarca chegou a hospedar no seu castelo o Rei de Navarra e o Duque de Condé, ambos protestantes, mas deixou claro que poupara suas vidas “por especial atenção”, dizendo-lhes ainda que “deveriam negar a fé e abraçar novamente a única religião fundamentada nas Escrituras e autorizada pelos concílios e papas, rica em seus sacramentos, tremenda em suas censuras, venerável pela sua antiguidade e admirável na sua tradição”, segundo registram as páginas dos historiadores.
Dias antes daquela terrível matança, conhecida como “Noite de São Bartolomeu”, o rei chamara ao seu palácio o Almirante Coligny, a quem recebera com abraços, procurando demonstrar a mais sincera amizade. Ele era uma espécie de herói nacional, muito amado pelo povo francês, em especial pelos hunguenotes.
O Almirante, entretanto, foi um dos primeiros a ser morto. À meia-noite, em seu leito, recebeu estocadas e golpes de espada. Seu corpo foi queimado em praça pública, sendo antes a cabeça cortada e enviada de presente ao Papa Gregório XIII. Este, em “homenagem” à data, mandou cunhar uma medalha comemorativa.
Em Roma, os canhões do Castelo de São Ângelo saudaram a noite de São Bartolomeu, e pela manhã foi organizada uma procissão até a Igreja de São Marcos. A Espanha também comemorou, mas a corte da Inglaterra recebeu o embaixador francês com todos vestidos de luto, em uma sala coberta de panos pretos, e ninguém o cumprimentou ou sequer lhe dirigiu o olhar.
Carlos IX morreu dois anos depois, vitimado por uma doença inexplicável, que fazia seu sangue sair por todos os poros do corpo.
A Igreja Católica nunca se demonstrou arrependida do acontecimento, que na realidade não foi uma ação isolada de caráter político, mesmo porque na Idade Média não se tinha como separar o Estado da Igreja.
A noite de São Bartolomeu foi, na realidade, um fato ligado a muitos outros, de semelhante crueldade e arbítrio, que refletiu a perseguição católica, chamada pelos historiadores de contra-reforma aos protestantes que estavam se expandindo na Europa e em todo mundo. É bom lembrar que o carro chefe da contra-reforma era a Companhia de Jesus, fundada por Ignácio de Loyola, que mais tarde se tornou a Ordem dos Jesuítas. Hoje os métodos mudaram, mas a ideologia é a mesma.
Karl Weiss