A Mulher e o Dragão

A situação da nação israelense e do mundo nos leva a refletir acerca das profecias bíblicas. De acordo com o tex­to profético: “Olhai para a figueira e para to­das as árvores. Quando já começam a bro­tar, vós sabeis por vós mesmos, vendo-as, que perto está já o verão. Assim também vós, quando virdes acontecer essas coisas, sabei que o Reino de Deus está perto”, Lc 21.29- 31, os acontecimentos escatológicos giram em tomo de Israel (figueira) e das outras na­ções, chamadas por Jesus de árvores.

Em Apocalipse 12, apóstolo João des­creve uma visão que abrange o passado, o presente e o futuro do povo israelita. O ob­jetivo deste artigo é analisar esse importan­te texto, que apresenta, ainda resumo do pla­no de Deus para salvar a humanidade, enfatizando os constantes ataques do Ini­migo ao povo escolhido por Deus, ao lon­go dos séculos.

OS ACONTECIMENTOS DOS ÚLTIMOS TEMPOS

Para que o texto em questão seja en­tendido é preciso ter em mente a ordem dos principais acontecimentos escatoló­gicos, que são as seguintes:

Arrebatamento da Igreja – este aconteci­mento, que dá início a uma série de even­tos escatológicos, é a primeira parte da Se­gunda Vinda de Cristo e ocorrerá rapida­mente, num abrir e fechar de olhos (1 Co 15.51-52). Somente os salvos verão a Jesus nessa ocasião (ITs 4.16-17).

Tribunal de Cristo – dar-se-á em algum lugar, nos ares (Ap 22.12 e Mt 16.27), e somente os salvos participarão deste julga­mento, que conferirá galardões de acordo com o trabalho prestado a Deus, na terra (2Co 5.10 e 1 Co 3.12-15).

Bodas do Cordeiro – será uma grande fes­ta no céu, com a participação dos santos galardoados de todas as épocas (Ap 19.7 e Mt8.11).

Grande Tribulação – acontecerá na terra em um período de sete anos marcado pelo domínio da tríade satânica e por terríveis juízos divinos (Dn 9.27 e Ap 7.14; 16.13).

Vinda de Cristo em poder e grande glória – trata-se da segunda etapa da Vinda de Cristo (Mt 24.30 e Zc 14.4), através da qual li­vrará Israel do exército Anticristão (Ap 16.16; 17.14), lançará as duas bestas no Lago de Fogo (Ap 19.19-20), prenderá Satanás por mil anos (Ap 20.1-2), julgará as nações se­gundo o tratamento dispensado ao povo israelita e estabelecerá o Milênio na Terra (Mt 25.3146).

Milênio – será o reino milenial de Cris­to, do qual participarão os santos glorificados, os povos absolvidos no julgamento das nações e as pessoas nascidas no período de mil anos (Ap 20.1-6).

Revolta de Satanás – após o Milênio, o Inimigo será solto e enganará as nações, mas será destruído pelo Senhor e fará compa­nhia ao Anticristo e ao Falso Profeta no Lago de Fogo (Ap 20.7-10).

Juízo Final – todos os mortos cujos no­mes não constarem do Livro da Vida comparecerão diante do Trono Branco para re­ceberem a sentença de condenação (Ap 20.11-15). Será o último acontecimento escatológico, visto que, depois dele, tudo será glória eterna, com Cristo (Ap 21; 22). Aleluia!

A MULHER VESTIDA DO SOL

Os protagonistas do texto de Apocalipse 12 são a mulher e o dragão: “E viu-se um grande sinal no céu: uma mulher vestida do sol, tendo a lua debaixo dos pés e uma coroa de doze estrelas sobre a cabeça”, Ap 12.1. “E viu-se outro sinal no céu, e eis que era um grande dragão vermelho, que tinha sete cabeças e dez chifres e, sobre as cabe­ças, sete diademas”, Ap 12.3.

Há muitas teorias a respeito da mulher vestida do sol. Para o catolicismo romano, ela é Maria, mãe de Jesus, enquanto a Ciên­cia Cristã assevera que se trata de Mary Baker Eddy, fundadora desta seita. Alguns teólogos dizem que se trata da Igreja. Mas todas essas afirmações não passam de es­peculações desprovidas de embasamento contextual.

Não há dúvidas, à luz do contexto, de que a mulher seja Israel. O versículo 17 da passagem em análise mostra que o Diabo fará guerra “ao resto da sua semente”, uma referência clara ao remanescente israelita: “Também Isaías clamava acerca de Israel: Ainda que o número dos filhos de Israel seja como a areia do mar, o remanescente é que será salvo”, Rm 9.27.

ANALISEMOS AS CARACTERÍSTICAS DA MULHER

Vestida do sol – representa a glória do Senhor que tem envolvido o povo israelita ao longo dos séculos (SI 84.11; 104.1-2 e Ml 4.2).

Tem a lua debaixo dos seus pés – isto se re­fere à supremacia de Israel como nação escolhida: “Porque povo santo és ao Senhor, teu Deus; o Senhor, teu Deus, te escolheu, para que lhe fosses o seu povo próprio, de todos os povos que sobre a terra há”, Dt 7.6.

Tem uma coroa de doze estrelas sobre a cabe­ça – trata-se de uma alusão aos patriarcas, que deram origem às doze tribos formado­ras do povo de Israel (Gn 37.9).

Grávida, já com dores de parto, gritando com ânsias de dar a luz – isto mostra que o privilé­gio de ser escolhido como nação de onde surgiu o Messias trouxe e trará a Israel experiências dolorosas: “Como a mulher grá­vida, quando está próxima a sua hora, tem dores de parto e dá gritos nas suas dores, assim fomos nós por causa da tua face, ó Senhor!”, Is 26.17.

Alguns teólogos afirmam que o filho da mulher representa a Igreja, ou os mártires, ou os 144 mil judeus selados durante a Grande Tribulação. Entretanto, o contexto geral (SI 2.9 e Ap 2.27) e o versículo 5 do texto em análise deixam claro que se trata de Jesus Cristo: “E deu à luz um filho, um varão que há de reger todas as nações com vara de ferro; e o seu filho foi arrebatado para Deus e para o seu trono”

QUEM É O DRAGÃO?

O dragão não pode ser outro, senão o Diabo, que é apresentado ao longo das pá­ginas sagradas como: leão (1 Pd 5.8 e SI 91.13), serpente (Gn 3.15) e dragão (Ap 20.2).

Vejamos as características desse perso­nagem:

Grande – adjetivo que prova que o ini­migo, como “deus deste século” (2Co 4.4), possui grande força (Lc 10.19).

Vermelho – numa tradução literal, “avermelhado como fogo”, o que represen­ta a sua atuação sanguinária (Ap 6.4 e Jo 10.10). Esta cor também está associada ao pecado (Is 1.18). Nesse caso, o Diabo é aque­le que peca desde o princípio e induz as pessoas a pecarem (Jo 8.44).

Possui dez chifres – isto, analisado à luz da escatologia bíblica, representa os dez reinos que formarão a base do império anticristão: “E os dez chifres que viste são dez reis, que ainda não receberam o reino, mas receberão o poder como reis por uma hora, juntamente com a besta”, Ap 17.12.

Tem sete cabeças com sete diademas – signi­ficam a plena autoridade que o Diabo exer­cerá sobre os reinos da terra. A semelhança com a Besta enfatiza que esta terá o poder do dragão, como se lê em Apocalipse 13.2: “… e o dragão deu-lhe o seu poder, e o seu trono, e grande poderio”.

Possui uma grande cauda – refere-se à sua astúcia e ao seu baixo caráter (Is 9.15) para levar consigo a terça parte dos anjos que não guardaram o seu princi­pado (2Pd 2.4 e Jd 6).

O DIABO FRACASSA

No versículo 4, está escrito que o dra­gão “parou diante da mulher (…), para que, dando ela à luz, lhe tragasse o filho”, mas não conseguiu fazer mal ao menino. Des­de o princípio, o inimigo lutou contra Isra­el, pois sabia que, neste país, nasceria o Messias. Ele não frustrou o plano de Deus (Jo 3.16 e Gl 4.4-5), apesar de suas muitas tentativas:

A VITÓRIA DE CRISTO E DOS SEUS SANTOS

Como dissemos na introdução deste artigo, a narrativa em foco abrange passa­do, presente e futuro. O versículo 5 menci­ona a ascensão de Cristo às alturas, após a sua vitória na cruz e a sua ressurreição para a nossa justificação:”… foi arrebatado para Deus e para o seu trono”, Ap 12.5. Mas a visão apresenta também as consequências dessa vitória de Cristo no futuro.

Após o Arrebatamento da Igreja, have­rá uma batalha no céu. Liderados por Miguel, o arcanjo (Jd 9 e 1 Ts 4.16), encarre­gado de proteger a Israel (Dn 12.1), os anjos de Cristo prevalecerão contra os anjos do Diabo: “E houve batalha no céu: Miguel e seus anjos batalhavam contra o dragão; e batalhavam o dragão e os seus anjos, mas não prevaleceram; nem mais o seu lugar se achou nos céus”, Jd 7-9.

Os anjos do inimigo, apresentados como a terça parte das estrelas do céu, se­rão lançados sobre a terra pelos anjos de Deus (Ap 12.4). Hoje, os anjos do mal ha­bitam as regiões celestiais (Ef 2.2; 6.12). Por ocasião da Grande Tribulação, terão uma atuação mais direta sobre os mora­dores da terra.

No versículo 9, o dragão é expulso das regiões celestiais:”… foi precipitado o gran­de dragão”. Satanás já está julgado (Jo 16.8- 11), e a sua carreira está em descensão. Quando quis se igualar a Deus, foi precipi­tado dos céus para os ares (Is 4.12 e Ef 2.2). Na Grande Tribulação, será lançado na ter­ra (v 12). No Milênio, ficará preso no abis­mo (Ap 20.1-7). E, depois disso, será lança­do no Lago de Fogo (Rm 16.20 e Ap 20.10).

Mas a precipitação do Inimigo à terra tra­rá grande prejuízo ao mundo. A tríade satâni­ca (Ap 13; 20.10), formada por dragão, Anticristo (primeira Besta) e Falso Profeta (se­gunda Besta), se estabelecerá com muita des­graça: “Ai dos que habitam na terra e no mar! Porque o diabo desceu a vós e tem grande ira, sabendo que já tem pouco tempo”, Ap 13.12.

Enquanto isso, haverá grande alegria nos céus (Ap 12.12). Hoje, o Diabo tem um relativo acesso à presença de Deus para acu­sar os seus servos (Jó 1.2 e Zc 3), mas isso, então, não mais acontecerá (Ap 12.10). To­dos os santos arrebatados e os que morre­rem durante a Grande Tribulação estarão diante do Cordeiro, pois “… eles venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra de seu testemunho; e não amaram a sua vida até à morte”, Ap 12.11.

A FUGA DA MULHER PARA O DESERTO

Na segunda metade da Grande Tribula­ção, o Diabo perseguirá a mulher, isto é, Isra­el: “Quando o dragão viu que fora lançado na terra, perseguiu a mulher (…). E a serpen­te lançou da sua boca, atrás da mulher, água como um rio, para fazer que ela fosse arre­batada pela corrente”, Ap 12.13-15.

Os versículos 16 a 18, na versão Atuali­zada, de Almeida, que, nesse caso, traduz melhor o que está registrado no texto grego, mostram que Israel estará seguro, enquan­to o inimigo ficará parado sobre a areia do mar sem poder prosseguir com seus inten­tas. Deus protegerá a Israel: “E a mulher fugiu para o deserto, onde já tinha lugar pre­parado por Deus, para que ali fosse alimen­tada durante mil duzentos e sessenta dias”, Ap 12.6.

A expressão “mil duzentos e sessenta dias” se refere à última etapa da Grande Tribulação (três anos e meio), quando o Anticristo se levantará contra Israel. Este período final é apresentado como:

  1. 260 dias (Ap 11.3) – usando-se o número de 360 dias para cada ano, empre­gado no calendário judaico (1260/360), te­mos três anos e meio.
  2. 42 meses (Ap 11.2; 13.5) – dividindo- se pelo número de meses do ano (42/12), temos, igualmente, três anos e meio.
  3. Um tempo, tempos e metade de um tempo (Ap 12.14 e Dn 7.25; 12.7) – a palavra “tempo” corresponde a um ano, e “tempos” a dois anos; ou seja, três anos e meio.

COMO DEUS PROTEGERÁ A MULHER

“E foram dadas à mulher duas asas de grande águia, para que voasse para o de­serto, ao seu lugar, onde é sustentada por um tempo, e tempos, e metade de um tem­po, fora da vista da serpente”, Ap 12.14. Es­tas asas de águia representam a direção de Deus (Ex 19.4), através da qual Israel será levado para um lugar seguro, onde estará protegido do dragão (SI 27.5; 91.1,4).

O Inimigo lançará uma corrente de água contra a mulher (Ap 12.15). Na simbologia profética, águas representam reinos (Is 8.7 e Ap 17.15). Isto mostra que os exércitos do Anticristo marcharão contra Israel (Ap16.12,16). Mas o Espírito do Senhor arvora­rá contra eles a sua bandeira (Is 59.19). A mulher também terá ajuda da terra (Ap 12.16), isto é, dos povos que estarão ao lado de Israel (Mt 25.34-40).

Quando o remanescente de Israel esti­ver cercado, por ocasião da batalha do Armagedom (Ap 16.16), o Diabo terá de pa­rar “sobre a areia do mar” (Ap 16.18, Atua­lizada de Almeida). O próprio Jesus virá em glória para vencer os inimigos de Israel com o assopro da sua boca e prender Satanás por mil anos (2Ts 2.8 e Ap 19.19-21; 20.1-3).

Tudo isso acontecerá! Estejamos prepa­rados para as últimas coisas e exclamando com inteira certeza: “Ora, vem, Senhor Je­sus”, Ap 22.20.

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 CIRO SANCHES ZIBORDI, FONTE: REVISTA “OBREIRO” ANO 24 –  N° 19

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