A liberdade de Deus

liberdade (1)

Não que a palavra de Deus haja faltado, porque nem todos os que são de Israel são israelitas; nem por serem descendência de Abraão são todos filhos; mas: Em Isaque será chamada a tua descendência. Isto é, não são os filhos da carne que são filhos de Deus, mas os filhos da promessa são contados como descendência. Porque a palavra da promessa é esta: Por este tempo virei, e Sara terá um filho. E não somente esta, mas também Rebeca, quando concebeu de um, de Isaque, nosso pai; porque, não tendo eles ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal (para que o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama), foi-lhe dito a ela: O maior servirá o menor. Como está escrito: Amei a Jacó, e odiei a Esaú.

O que é peculiar e único em relação a Israel é o fato que uma história divina está encaixada em sua história natural como um povo. Há, dessa forma, sempre um duplo Israel: um Israel no sentido de natureza e história secular e um Israel no sentido de história divina. Quanto estes dois diferem torna-se especialmente claro ao apóstolo na história de Abraão e Jacó, os dois patriarcas.

Em ambos há uma interseção da história divina e da natural. Ambos são assim testemunhas da liberdade de Deus, que intervém na história secular quando quiser, separando para si mesmo um povo pela eleição, contrariando todas as relações consangüíneas naturais. Não apenas a descendência natural de acordo com o sangue, mas também as qualidades morais mostram que não têm qualquer valor aqui. A história divina tem sua base unicamente no decreto de Deus. Isto não significa que a descendência física, a unidade natural do povo e a história de Israel não são importantes; meramente se pretende mostrar que Deus pode fazer com Israel o que quiser, que Ele não está preso a Israel, e o judeu não pode obter nenhum direito de Israel. Mas alguém pode deduzir do exemplo de Jacó e Esaú um duplo decreto de Deus que desde a eternidade decretou um para a condenação e outro para a vida eterna. Não se está falando disso aqui, mas da liberdade de Deus de contrariar os laços naturais, de acordo com sua escolha, através de sua história da redenção. Que a história da redenção passa por Jacó e não Esaú é um ato livre de Deus; não há nenhuma palavra a respeito da bem-aventurança ou desgraça de Jacó e Esaú. Mas quando Paulo cita as palavras do profeta Malaquias que Deus odiou Esaú, então ele certamente não está se esquecendo que “Esaú” lá significa o povo de Edom, que por causa de sua “perversidade” foi surpreendido pelo justo julgamento de Deus. Que é também o caso no que segue.

Fonte: The Letter to the Romans, 84, 85

Tradução: Paulo Cesar Antunes

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