Do ponto de vista do sistema de doutrinas mórmon, as ordenanças ministradas nas Igrejas evangélicas ou simplesmente a exposição do Evangelho pelas Sagradas Escrituras não têm nenhum valor. Isso porque não possuímos os sacerdócios de Arão e de Melquisedeque.1
Joseph Smith Jr. disse que “todas as ordenanças, sistemas e administrações que há sobre a Terra, de nenhum valor são para os filhos dos homens, a menos que tenham sido divinamente ordenadas e autorizadas; porque nada salvará o homem senão um administrador legal.” 2
OS SACERDÓCIOS
Para os mórmons, há duas divisões no sacerdócio aarônico, considerado inferior porque se encarrega das coisas temporais. Engloba os ofícios de diácono (jovens a partir de 12 anos de idade), mestre, sacerdote, bispo. Neste sacerdócio há três quorum: o dos diáconos, o dos mestres e o de sacerdotes.3 Este teve início com Arão e prosseguiu até João Batista, que em 15 de maio de 1829, depois de séculos de suspensão desse ministério devido à apostasia, foi restaurado pelo próprio João a Joseph Smith e Oliver Cowdery, que lhes conferiu tal poder sacerdotal (D&C 13).
O segundo sacerdócio, o de Melquisedeque, ministra as coisas espirituais do Reino de Deus, o que eles confundem com a sua religião3. É por meio desse sacerdócio que eles pensam que alcançarão a exaltação, ou seja, tornar-se-ão deuses. Engloba os ofícios de Élder, sumo sacerdote, patriarca, setenta e apóstolo.
O quorum de Melquisedeque é o quorum de élderes, de sumo sacerdotes 4 . Eles creem que este sacerdócio foi conferido inicialmente a Adão, posteriormente a todos os patriarcas e profetas. Mais tarde, através dos apóstolos Pedro, Tiago e João, fora restaurado à Terra a Smith e Cowdery. Joseph Smith disse que “todas as outras autoridades ou ofícios da igreja são apêndices deste sacerdócio… O sacerdócio de Melquisedeque possui direito de presidência, para administrar nas coisas espirituais sobre todos os ofícios da igreja.” (D&C 107:5,8).5
Diante do exposto, fica claro que se refutarmos a doutrina do sacerdócio estaremos abalando um dos principais pilares da igreja mórmon. Destarte, veremos quão frágil é esta ideia desenvolvida pelos mórmons, e como a Bíblia arruína tal heresia da dita igreja. Um dos principais títulos aplicados a Jesus Cristo encontra-se na carta aos hebreus: “Apóstolo e Sumo Sacerdote da nossa confissão”, Hb 3.1. Frequentemente, ao longo desta carta, o escritor mostra que a fé em Cristo é melhor que o Judaísmo por diversos aspectos. Embora os sacrifícios do sacerdócio da ordem de Levi fossem ordenados por Deus, eles apontavam para um sacerdócio permanente e um sacrifício permanente na pessoa e no trabalho do próprio Deus.
Jesus não foi apenas mais um na sucessão sacerdotal. Nunca houve um sacerdote livre do pecado, como o Filho de Deus. E nem nunca haverá! A chamada, de Jesus é superior (Hb. 5.5; 7.21. 22; 8.6 e 9.15). Deus o proclamou sacerdote eterno na ordem de Melquisedeque. Se é eterno, não há sucessor como na Igreja mórmon (Hb 7.24).
Por Deus achar falta no velho pacto, Ele fez um pacto novo e Jesus é o seu mediador (1Tm 2.5-6). Um outro aspecto diz respeito aos sacrifícios. Aqueles que serviam no sacerdócio levítico ou aarônico ofereciam sacrifícios anualmente de acordo com o mandamento. Tais sacrifícios não serviam para livrar os judeus da condenação que o pecado requeria. Porém. Jesus, através de um único sacrifício, deu-nos o livramento eterno do pecado (Hb 9-11-24; 10.12).
A superioridade do sacerdócio de Jesus é também devido a sua vida indestrutível (Hb 7.16). Muitos homens, durante vários séculos, serviram no sacerdócio levítico, contudo nenhum deles poderia continuar eternamente por serem mortais (Hb 7.23-25).
Em suma: ter Jesus o sacerdócio à maneira de Melquisedeque significa que o seu ministério é permanente (Hb 7.3), indissolúvel (Hb 7.6) e intransmissível (Hb 7.23-24).
Todos os membros da Primeira Presidência da Igreja Mórmon, desde Joseph Smith, foram do mais alto sacerdócio, o de Melquisedeque, depois do qual morreram todos. Note que esse padrão mais se parece com o sacerdócio levítico ou aarônico do que com o de Melquisedeque. A noção de que o sacerdócio de Melquisedeque possa ser ocupado por homens mortais se constitui um grande engano a respeito da natureza do ofício de tal sacerdócio. Na carta aos hebreus, o ponto saliente relativo ao sacerdócio de Jesus na ordem de Melquisedeque estava no fato de que Ele possuía o poder de uma vida indestrutível (Hb 7.16).
CONFRONTO COM AS ESCRITURAS
Os mórmons enfrentam um sério problema com o texto de Hebreus. Primeiro, Jesus mudou o sacerdócio levítico pelo de Melquisedeque (Hb 7.12). Devido ao fato de Jesus não ser da tribo de Levi, Ele não possuía o sacerdócio aarônico; logo este não poderia dar origem ao de Melquisedeque. O sacerdócio aarônico acabou. Se não fosse assim, o sacrifício de Cristo ficaria sem valor (Hb 9.24-26). É uma falácia os mórmons afirmarem que ele fora restaurado no século 19.
Um outro problema é a afirmação mórmon de que o sacerdócio tem a ver com a linhagem de Efraim.6 7 Ora, o sacerdócio aarônico deveria vir da tribo de Levi, da família de Arão, não de Efraim (Ex 28.1-41). Arão e seus filhos eram lavados com água; eram ungidos com óleo; um novilho era morto e queimado: seu sangue era aspergido na orelha de Arão e de seus filhos (Ex 29.4-21). Como se vê, aquilo que os mórmons pregam não é restauração, mas sublevação da ordem.
Os mórmons precisam do sacerdócio de Melquisedeque para a progressão eterna, para a exaltação celestial, ou seja, para serem deuses. Tal ensino, além de ser uma blasfêmia em si mesmo, diminui a pessoa e o trabalho de Cristo, relegando-o a um segundo plano.
Como o sacerdócio de Melquisedeque foi “restaurado” no século 19, se nunca foi perdido? Se Jesus é sacerdote eterno à maneira de Melquisedeque, como se restaurar algo eterno? Ainda que tivesse havido tal restauração, não é este um sacerdócio intransmissível? Como pode o cargo passar de uma pessoa para outra dentro do mormonismo? Jesus assumiu tal sacerdócio por ser “santo, imaculado, separado dos pecadores e feito mais sublime do que os céus” (Hb 7.26). Pergunte a um mórmon se ele é, ou conhece alguém que seja, imaculado ou separado dos pecadores para que possa reivindicar tal ofício? Com certeza isto não é restauração de algo sagrado! Absolutamente os mórmons não foram chamados a este ofício, são impostores.
A morte e ressurreição de Jesus nos deram mais que uma garantia de ressurreição física – Ele proveu o perdão de pecados e a garantia de morarmos com Deus eternamente. Até mesmo na eternidade, sempre dependeremos Dele, até porque nunca seremos deuses. Que os mórmons sinceros procurem depender exclusivamente do Grande Sumo Sacerdote que os pode realmente salvar-Jesus, o Deus Verdadeiro (Hb 7.25; 2Tm. 1.12; 1Jo 5.20).
Que os mórmons fiquem cientes de que a autoridade que temos para pregar, batizar ou realizar qualquer outro ato Divino foi outorgada pelo próprio Jesus Cristo (Jo 1.12, 13: At. 1.8; 1 Pedro 2.9).
1 Smith. Joseph E. Doutrinas de Salvação, Vol. III, p. 89
2 Smith. Joseph., Ensinamentos do Profeta Joseph Smith, p. 268.
3 Na obra “Os Ensinamentos dos Profetas Vivos” eles dizem: “Temos também as chaves do reino de Deus na terra, cujo reino é A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias”, p. 23.
4 Princípios do Evangelho, p. 89, 91, 92.
5 Smith, J. E, op. cit., p. 105.
6 Se os mórmons estão certos em afirmarem que atualmente o sacerdócio pertence a Efraim, por quê então João é quem veio restaurá-lo? De acordo com o Dicionário Aurélio “restaurar” significa: Obter de novo a posse ou domínio de (coisa perdida); recuperar, reconquistar, recobrar reaver. Como Efraim obteve de novo algo que nunca foi seu? Se nunca foi perdido, como lhe foi restaurado? Se era de Levi, como foi restaurado a Efraim? Se João era da tribo de Levi, descendente de Arão (Lc. 1.5), o que ele tem a ver com a de Efraim?
7 Richards. LeGrand.. Uma Obra Maravilhosa e um Assombro pp. 214-218.
8 Smith, J.F., op. cit., pp. 254-257. Na página 256 é dito o seguinte: “Hoje é Efraim quem retém o sacerdócio. É com Efraim que o Senhor faz convênio, revelando a plenitude do evangelho eterno. É Efraim quem está construindo templos e realizando ordenanças neles, tanto para os vivos como pelos mortos.”
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FRANSCICO EURICO, FONTE: REVISTA “REPSOSTA FIEL” ANO 2 – N°5