Diante de mim vinte e seis horas de viagem, entre vôos e aeroportos, entre Recife-Guarulhos-Miami-St. Louis. Costumo ler e/ou escrever para preencher o tempo. No aeroporto compro um exemplar do livro de maior tiragem da história editorial brasileira (700 mil exemplares): “O Bispo – A História Revelada de Edir Macedo”, de autoria dos jornalistas Douglas Tavolaro e Cristiana Lemos (ambos funcionários da Record), Editora Larousse.
O texto é agradável de ler, com capítulos curtos e estilo narrativo. Uma biografia “chapa branca” de um empresário bem sucedido, nos ramos imobiliário, de comunicação e eclesiástico, que mora nos Estados Unidos e tem residência nos diversos continentes, para onde viaja em jato particular.
Em 35 anos de um galpão de uma antiga funerária no Rio de Janeiro para 172 países ( 4.748 templos e 9.660 pastores somente no Brasil) e a propriedade da segunda rede de televisão em audiência.
Um oriundo da Igreja de Nova Vida, do saudoso bispo Roberto MaCalister, juntamente com o seu cunhado Romildo Ribeiro Soares (o R.R. Soares da hoje Igreja Internacional da Graça de Deus) para a criação de algo peculiar em nosso cenário religioso: a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD).
O mais difícil no livro foi achar referências a pessoas e a obra de Jesus Cristo. Fala-se de Deus, da Igreja, do Bispo, dos Pastores. A Teologia é centrada em dois eixos: a troca entre oferta e bênção e os descarregos das entidades espirituais negativas, e só. Dentre as opiniões heterodoxas, a defesa do aborto.
Fui membro da Banca Examinadora da Dissertação de Mestrado em Sociologia da Religião, defendida pelo pastor Estevão Fernandes, da Primeira Igreja Batista de João Pessoa, na Universidade Federal da Paraíba, e fui membro da Banca do Exame de Qualificação da Dissertação na mesma área pelo reverendo anglicano Washington Franco, na Universidade Federal de Alagoas, ambas tendo como tema a Igreja Universal. Li textos e o jornal “Folha Universal”. Assisti aos padronizados programas de televisão, desde o antigo “25ª. Hora”.
A minha conclusão serena é que a Igreja Universal do Reino de Deus não é uma Igreja protestante ou evangélica, por não ter nenhuma relação teológica, confessional ou ética com qualquer das expressões da Reforma, mas se constitui em uma seita para-protestante (muito menos protestante do que a Congregação Cristã no Brasil), porém não uma seita para-cristã como as Testemunhas de Jeová, a Igreja Adventista do Sétimo Dia, os Mórmons ou a Ciência Cristã.
Não é uma igreja pentecostal, e não deve ser chamada de neo-pentecostal, porque além dos pentecostais serem protestantes, não há qualquer semelhança entre os dois grupos, antes posições até antagônicas. Daí o uso da expressão pós-pentecostalismo ( Paulo Siepierski), iso-pentecostalismo (sociólogos argentinos) e pseudo-pentecostalismo (Washington Franco).
O problema é que a Igreja Universal do Reino de Deus se apresenta como “evangélica” confundindo o já esfacelado e caótico quadro das Igrejas reformadas entre nós, e infiltrando suas crenças e práticas exóticas entre os nossos membros mais desavisados.
Ler o livro foi importante para mim, ratificando o que já percebia. A IURD é isso mesmo. Ainda vai dar muito o que falar. Ponhamos as nossas reformadas barbas no molho e ensinemos a verdade da Palavra ao nosso povo.
R. Cavalcanti – Igreja Anglicana.
* Revisado pelo CACP