A Igreja do Diabo

Acabei de ler o conto “A Igreja do Diabo” de Machado de Assis.

O diabo, o protagonista da história, cansado de reinar desordenadamente no mundo pretende fundar uma igreja. Ele vai até Deus e conta de seu ambicioso projeto. Após um longo diálogo fastidioso, Deus, então, permite ao adversário fundar sua igreja. A igreja do diabo seria bem light, a igreja da negação, tudo ao contrário nela as pessoas dariam vazão aos seus instintos mais animalescos e os valores morais seriam trocados pelos vícios, bem ao gosto do freguês. Mas aconteceu algo inesperado que escapou até mesmo aos ardis de Satanás, como bem menciona o texto: “Um dia, porém, longos anos depois notou o Diabo que muitos dos seus fiéis, às escondidas, praticavam as antigas virtudes. Não as praticavam todas, nem integralmente, mas algumas, por partes, e, como digo, às ocultas”.

A história termina com Machado de Assis colocando nos lábios de Deus a seguinte conclusão “Que queres tu, meu pobre Diabo? As capas de algodão têm agora franjas de seda, como as de veludo tiveram franjas de algodão. Que queres tu? É a eterna contradição humana”.

Creio que o nosso eterno literato, observador arguto da sociedade, se estivesse ainda vivo, poderia fazer o mesmo conto com conteúdo às avessas. Ora, não é verdade que muitos membros de Igrejas contemporâneas se comportam tais quais os fiéis da Igreja de Satanás, só que ao contrário? A diferença é que enquanto estes seguiam a doutrina dos vícios e às ocultas faziam coisas boas, àqueles exteriormente seguem a doutrina cristã, mas às ocultas praticam o pecado. O que Machado chamou de eterna contradição humana, a Bíblia denomina de apostasia.

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