Em João 20.19 lemos palavras de profunda significação espiritual: “Nesse dia, que era o primeiro da semana, à tarde, TRANCADAS as portas da casa onde se achavam os discípulos. POR MEDO que tinham dos judeus, veio Jesus, e pôs-se no meio deles e disse-lhes: PAZ SEJA CONVOSCO”.
Era domingo, pois o texto diz: “no primeiro dia da semana”; os discípulos estavam reunidos; se reunidos, naturalmente estavam a serviço de Deus; alí, portanto estava uma igreja: uma igreja com grandes homens, pois eram discípulos de Jesus: bem intencionados; dispostos ao trabalho do Senhor, amando o Senhor, buscando o Senhor. Isso tudo e mais, talvez, não duvidamos; mas o texto sagrado diz com uma nota de pesar: TRANCADAS AS PORTAS DA CASA ONDE SE ACHAVAM. . .; e mais: POR MEDO QUE TINHAM DOS JUDEUS. .
“Portas trancadas…” e “medo dos judeus…” E não é este, porventura o estado de muitas igrejas em nossos dias? Bonitos templos; templos grandes, confortáveis e ricamente construídos; excelentes organizações com métodos eficientes; muitos programas, muito movimento, grandes empreendimentos; talvez com uma receita colossal; fala-se em Missões, contribui-se até para esse fim, tão nobre e tão bíblico; maravilhosos sermões; tudo parece funcionar admiravelmente bem. Mas o dínamo não foi ainda acionado. A Igreja está de portas fechadas. Pode contar com todas essas maravilhas de realizações que acabamos de alinhar, mas continua de portas fechadas, porque o que abre as portas de uma igreja não é templo, nem programas, nem melhores métodos, nem maior número de organizações e nem lindos e arrebatadores sermões. A Igreja pode contar com essas coisas e, no entanto estar como a primitiva igreja de Jerusalém: de PORTAS FECHADAS. Alguém disse que a igreja de nossos dias assemelha-se à folha outonal, morta, porém,, aparentando uma certa forma e uma certa vida. . . mas está morta, mil vezes morta.
IGREJA DE PORTAS FECHADAS é a igreja onde JESUS ESTÁ AUSENTE. E quando Jesus não está, nada mais que essa igreja venha ou possa fazer, terá qualquer valor. É uma igreja morta, apesar de como se diz em Ap 3.1, “TER NOME DE QUE VIVE”. Aparência de vida, mas sem vida, porque Jesus não está presente, aparência de trabalho mas nenhum trabalho real, pois Jesus não está presente; muito esforço, como os apóstolos o fizeram nos remos ao atravessarem o Mar da Galiléia, mas sem proveito porque Jesus estava ausente: muitos planos. . . planos. . . planos sem fim. . . muitos programas. . . novos programas. . . melhores programas; muita gente aceita a Cristo nos apelos, mas não permanecem no Senhor; continuam membros da igreja, mas estão no mundo; talvez nunca tenham deixado o mundo; vivem numa terrível derrota; nenhuma vida cristã, testemunho apagado; os mesmos vícios de antes; o ministério se aflige com esse estado de coisas, se angustia: muita desculpa, muita evasiva, mas a causa real não vem a ser mais isto e nem mais aquilo . . a causa real é que JESUS ESTÁ AUSENTE.
A IGREJA DE PORTAS FECHADAS é uma igreja SURDA. Está aquém, muito aquém da realidade. É uma igreja indiferente ao drama aflitivo que as almas sem Cristo vivem: é uma igreja que não ouve a voz do Senhor dizer como disse a Isaías: “A quem enviarei eu e quem irá por nós?” É a igreja que não ouve o brado macedônico que Paulo outrora ouviu: “Passa a Macedônia, e ajuda-nos!” É a igreja que não tem “ouvidos para ouvir” o clamor que no- chega da Rússia sem Cristo, da China Vermelha onde não se pode pregar o Evangelho, da Coréia e de tantos lugares, onde as almas partem para a eternidade sem Cristo e sem salvação. Não ouve o clamor que nos chega dos sertões da pátria e de todas as direções, de um povo desesperado, de um povo massacrado pelos vícios, de um povo escravo da idolatria, de um povo ignorante e grandemente necessitado.
A Igreja DE PORTAS FECHADAS é a Igreja CEGA. Igreja sem visão. Seu alvo está colocado muito baixo. Não tem olhos para ver a imensidão da seara, e quão poucos são os ceifeiros; não pode erguer os seus olhos para contemplar OS CAMPOS BRANCOS PARA A CEIFA. Estando de portas fechadas, não consegue ver além das suas paredes; para tal igreja tudo confina ali. Contempla apenas os seus problemas, as suas necessidades. E por não ter visão divina das realidades dos fatos desta vida, essa igreja definha, murcha e acaba perecendo.
A Igreja de PORTAS FECHADAS é uma igreja DESOBEDIENTE. Jesus deu ordens claras, diretas e precisas a respeito de missões. Em Mat. 28. por exemplo, o Mestre ordenou: “Ide, pois, e fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo; ensinando-os a observar tudo quanto vos tenho mandado, e eis que eu estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos…” A Igreja de portas fechadas limita-se ao seu pequeno espaço e nunca pensa nos outros. Não serve. Não evangeliza. Não obedece ao Senhor Jesus. É também ordem do Senhor: “Mas recebereis poder ao descer sobre vós o Espírito Santo e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia, Samaria e até os confins da terra”. Mas como percorrerá as ruas de Jerusalém; ou como irá até a Judéia e depois à Samaria e então até os confins da terra, se permanece com portas fechadas? E a igreja desobediente, é uma igreja fadada à morte.
A Igreja de PORTAS FECHADAS é uma igreja IRRESPONSÁVEL. É uma igreja que faz o contrário de Paulo, que dizia: “Sou devedor a gregos, e bárbaros, a sábios e a ignorantes; assim, quanto é em mim, estou pronto a pregar o Evangelho também a vós que estais em Roma”; e também escrevendo aos coríntios disse: “Aí de mim, se não pregar o Evangelho”. É uma igreja que não sente a responsabilidade de orar pelos perdidos; que não semeia a Palavra; que não contribui para a extensão do Reino. É uma igreja que se vai fechando nos círculos acanhados de suas necessidades, sem vida, sem amor; igreja que definha e morre.
Amado ouvinte, para um pouco e pensa na tua vida, na vida da tua igreja. Seja ela grande ou pequena, não importa; o essencial é saber: tua igreja está com suas portas abertas ou fechadas? Responda seriamente diante do Senhor.
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FONTE: LIVRO: “PASSANDO POR JERICÓ” – ENÉAS TOGNINI – (1965).