“Pois também Cristo sofreu pelos pecados de uma vez por todas, o justo pelos injustos, para conduzir-nos a Deus. Ele foi morto no corpo, mas vivificado pelo Espírito”(1 Pe 3.18 – NVI)
“Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus; mortificado, na verdade, na carne, mas vivificado pelo Espírito” (1 Pe 3.18 – RC)
O texto de 1Pe 3:18, no final, apresenta a expressão tô pneumati, que é traduzida como “pelo Espírito”. Todavia, é importante destacar o termo “tô” que aparece junto a Deus, “tô Theô” – a Deus, e junto a Espírito, “tô pneumati” – pelo Espírito. O artigo “tô” está no caso dativo [1]. Isso significa que além de definir também serve para indicar a pessoa a quem algo é dado, e (ou) para indicar a coisa com o qual se faz algo. Dessa forma, entende-se que se está indicando que fomos dados a Deus pelo sacrifício de Cristo, e que o agente vivificador de Sua ressurreição foi o Espírito.
Diante dessa informação podemos entender que na ação da ressurreição de Cristo o Espírito Santo estava ativo e atuante.
Outro fato importante a ser observado é que, na parte final do texto, o termo sarki é destacado, significando, segundo o Strong’s Hebrew and Greek Dictionaries [2]: carne, corpo, natureza humana. Ainda, segundo o mesmo Dicionário, o termo significa estritamente o corpo, e não a alma e espírito, mas apenas o corpo físico.
Assim sendo, podemos concluir com base no texto bíblico que a informação correta é que tanto o sofrimento de Cristo, bem como a nossa condução até a presença de Deus se dá por causa da morte física de Cristo. Nada encontramos, por menor que seja, que dê respaldo para a afirmação que Cristo morreu espiritualmente.
“A morte física não removeria os nossos pecados. Provou a morte por todo homem – a morte espiritual. Jesus é a primeira pessoa que já nasceu de novo. Por que o Seu espírito precisava nascer de novo? Porque ficou alienado de Deus.” Kenneth E. Hagin [3]
A afirmação do Sr. Kenneth Hagin de que a morte física de Cristo não seria suficiente para remover os nossos pecados constitui-se como uma verdadeira afronta ao verdadeiro ensino bíblico, demonstrando o grau de desconhecimento existente não só da sua parte, mas da parte de todos os que adotam tal heresia, colocando-os como alienados de Deus e da Sagrada Escritura.
A veracidade da mensagem bíblica deixa claro que foi exatamente a morte física de Cristo que removeu os nossos pecados. Vejamos alguns exemplos do que a Escritura nos diz a respeito:“Nele também fostes circuncidados, não por intermédio de mãos, mas no despojamento do corpo da carne, que é a circuncisão de Cristo” (Cl 2.11)
Ao escrever para a igreja de Colosso, o apóstolo Paulo afirma que fomos “circuncidados, não por intermédio de mãos, mas no despojamento do corpo da carne”.
Para entendermos tal expressão precisamos compreender o significado da circuncisão.
M. H. Woudstra [4] nos fala acerca do significado da circuncisão no Antigo Testamento e a complementação do ensino e de seu sentido no Novo Testamento:
“Como sinal da aliança com Abraão (Gn 17.11), participa das características dessa aliança. Parece passível de um aprofundamento progressivo em seu significado, e ensina verdades éticas e espirituais. O rito externo, cuja observância é rigorosamente exigida (Gn 17.12ss.; Ex 4.24ss.; Js 5.2ss.), deve ser o sinal de uma mudança interna, efetuada por Deus (Dt 10.16; 30.6). Os incircuncisos, bem como os impuros, estão excluídos da “Cidade Santa” (Is 52.1; cf. Ez 44.7, 9). A humildade e aceitação do castigo divino devem tomar o lugar do coração incircunciso, antes de Deus restaurar a Sua aliança (Lv 26.41).
O NT reflete este ensino e o completa. Sendo que a circuncisão é um sinal da justiça pela fé (Rm 4.10-11) e já que ela perdeu a sua relevância para a justificação, porque Cristo já veio (GI 5.6), nenhum crente neotestamentário pode ser obrigado a submeter-se a ela (At 15.3-21; cf. GI 2.3). À luz deste cumprimento no NT, a circuncisão agora se aplica igualmente aos cristãos judeus e gentios (Fp 3.3) visto que na “circuncisão de Cristo” todos os que são batizados despojaram-se do corpo da carne (CI 2.11-12).”
O que entendemos do significado da circuncisão pode ser resumido na afirmação de que é um ato físico que traz uma mudança interna, ou seja, uma mudança espiritual.
Entendemos que tal circuncisão veterotestamentária simbolizava o corpo de Cristo que seria dilacerado, assim como o apóstolo Paulo afirma: “não por intermédio de mãos, mas no despojamento do corpo da carne, que é a circuncisão de Cristo”. Portanto, essa mudança espiritual, que é chamada de avivamento espiritual foi permitida graças ao sacrifício físico de Cristo, e nada tem haver com uma suposta morte espiritual. Essa vivificação espiritual é realizada pelo Espírito Santo, graças ao despojamento do corpo físico de Cristo.
Se faz necessário entender que o termo no original que é empregado para se referir ao corpo de Cristo que é “circuncidado” é “sarkós”, do grego “sarki”.
Ainda, segundo o Strong’s Hebrew and Greek Dictionaries [5] o termo significa: carne, corpo, natureza humana. Sendo empregado estritamente ao corpo físico, e não a alma e espírito, mas apenas ao corpo físico. Portanto, Cristo não morreu espiritualmente nem ressuscitou espiritualmente, para nos proporcionar uma “vivificação ou ressurreição espiritual”. Sua morte e ressurreição foram físicas, como deixa bastante claro o texto citado.
“Nessa vontade é que temos sido santificados, mediante a oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez por todas” (Hb 10:10)
Hebreus 10:10 é bastante claro, ainda, ao afirmar que fomos santificados pela oferta do corpo físico de Jesus Cristo.
Essa santificação é chamada de “hegiasmenoi”, cuja raiz é [6] “hagiazo”, significando: fazer santo, purificar, consagrar e ser santificado.
Portanto, foi o sacrifício físico de Jesus Cristo que nos trouxe benefícios espirituais a exemplo da santificação. Esse tipo de santificação não possui nenhuma ligação com uma hipotética e ilusória suposta morte espiritual ou ressurreição espiritual.
A forma como o termo “santificados” é apresentado nesse texto, “hegiasmenoi”, é traduzido literalmente com o sentido que não somos santos por buscar essa santificação, mas porque essa santificação nos foi proporcionada por outro alguém, nós fomos santificados, alguém nos fez isso, alguém nos imputou essa santificação. Portanto, essa não é uma santificação diária que todo crente deve buscar ao afastar-se do pecado e aproximar-se de Deus (santificação progressiva), mas é uma santificação posicional. Jesus Cristo, através de seu sacrifício físico, nos colocou nessa posição diante do Pai celestial.
Essa explicação é comprovada pela presença do caso genitivo [7] no grego através da presença do termo “tu”.
“tu sômatos tu Iêsu Christu efápaks” – “do corpo de Jesus Cristo, uma vez por todas”.
O termo tu, no caso genitivo, é utilizado para destacar que uma coisa está intimamente ligada com outra. Nesse caso, a santificação está intimamente ligada com a obra de Cristo, e esta obra está intimamente ligada com a oferta de seu corpo. Por conseguinte, o termo corpo refere-se ao corpo físico, como já vimos anteriormente.
Esses benefícios nos foram proporcionados por causa do grande amor do Pai que deu seu Filho unigênito para se entregar fisicamente por nós, e cuja operação de tais maravilhas em nossas vidas é efetuada mediante a ação do Espírito Santo. Nada tem haver com uma morte espiritual anti-bíblica.
A afirmação de que Cristo teria supostamente morrido espiritualmente repousa na defesa de que sua divindade não existia durante o período em que andou na Terra, após nascer como homem.
“Nas tuas mãos encomendo o meu espírito; tu me redimiste, Senhor Deus da verdade” (Sl 31.5)
“E, clamando Jesus com grande voz, disse: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito. E, havendo dito isto, expirou” (Lc 23:46)
“Por isto o Pai me ama, porque dou a minha vida para tornar a tomá-la. Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho poder para a dar, e poder para tornar a tomá-la. Este mandamento recebi de meu Pai.” (Jo 10:17-18)
Por várias vezes tentaram assassinar Jesus. Porém, tais investidas terminaram no insucesso. Quando estava prestes a nascer Herodes tentou mata-Lo (Mt 2.13); quando afirmou ser o Messias, tentaram joga-Lo de um precipício, mas Ele saiu andando pelo meio da multidão (Lc 4.21-30); quiseram apedreja-Lo dentro do templo, mas Ele saiu sem que ninguém o visse (Jo 8:59)… Arquitetaram, maquinaram e planejaram mata-Lo por diversas vezes (Mc 3.6; Mc 11.18; Jo 8.40; Jo 11.53).
Enfaticamente Jesus disse acerca de Sua própria vida:“Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou”. E na cruz do Calvário Ele provou a veracidade de Suas palavras, pois morreu no momento que bem desejou: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito. E, havendo dito isto, expirou”.
“Se Jesus não tivesse entregue a si mesmo, ninguém o teria entregue” (Santo Agostinho)
Para o Movimento da Fé, Jesus teria morrido espiritualmente, todavia, para isso seria necessário abrir mão temporariamente de Sua divindade. Entretanto, isso constitui-se um grande problema para quem afirma crer na Bíblia, pois Ela nunca firma que tenha acontecido tal fato.
Ora, Jesus foi capaz de cumprir o que havia predito acerca de sua morte: “Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou”. Ele morreu no momento que desejou e isso constitui-se como um verdadeiro milagre. Agora, se Ele foi capaz de morrer no momento desejado por que não seria capaz de ressuscitar da mesma forma? É ilógico pensar que Cristo teria capacidade de cumprir apenas a metade do que afirmou ser capaz.
Jesus morreu cumprindo as Suas próprias palavras e Sua morte foi física e não espiritual.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] DOBSON, James. Aprenda o Grego do Novo Testamento. CPAD, 1994. págs. 317-319.
[2] STRONG, James. Strong’s Hebrew and Greek Dictionaries, 1997.
[3] HAGIN, Kenneth E. O Nome de Jesus. Graça editorial, 1988. pág. 24.
[4] ELWELL, Walter A. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. Vida Nova, 1993, Vol I. pág.281.
[5] STRONG, James. Strong’s Hebrew and Greek Dictionaries, 1997.
[6] STRONG, James. Strong’s Hebrew and Greek Dictionaries, 1997.
[7] DOBSON, James. Aprenda o Grego do Novo Testamento. CPAD, 1994. pág.293
Autor: Robson T. Fernandes