Na sequência dos eventos escatológicos, enquanto a Igreja arrebatada e ressuscitada está no céu (nos ares) com Cristo, inicia-se um novo e terrível período na Terra, identificado na linguagem bíblica como a Grande Tribulação. Esse período será precedido por vários sinais, reconhecidos pelos que leem e estudam as profecias bíblicas.
1 – O QUE Ê A GRANDE TRIBULAÇÃO
O sentido da palavra “tribulação” na Bíblia. Na língua grega do Novo Testamento, tribulação aparece como ‘thilipsis’, que significa “colocar uma carga sobre o espírito das pessoas”. Na tradução da Vulgata Latina, a palavra é ‘tribulum’ e se refere a uma espécie de grade para debulhar o trigo. Ou seja, o instrumento que o lavrador usa para separar o trigo da sua palha. A ideia figurada aqui é afligir, pressionar. Analisada à luz do contexto bíblico, a palavra pode referir-se tão-somente a um tipo de pressão, aflição ou angústia pela qual se passa na vida cotidiana. Outras vezes tem o sentido escatológico.
O sentido da expressão “Grande Tribulação”. A expressão é essencialmente escatológica. No Antigo Testamento é identificada por outros nomes, tais como “o dia do Senhor” (Sf. 1:14-18; Zc. 14:1-4); “a angústia de Jacó” (Jr. 30:7); “a grande angústia” (Dn. 12:1); “o dia da vingança” (Is. 63:1-4); “o dia da ira de nosso Deus”. No Novo Testamento, a expressão ganha maior sentido com o próprio Senhor Jesus identificando aquele tempo como período de “grande aflição” (Mt. 24:21), depois em Ap. 7:14, como Grande Tribulação.
A Igreja estará na Grande Tribulação? Existem duas linhas de entendimento acerca desse assunto: uma acredita que a Igreja não estará no primeiro período da Grande Tribulação; outra afirma que a Igreja sofrerá no primeiro período da Grande Tribulação. Os partidários do arrebatamento da Igreja depois da Grande Tribulação insistem que os rigores da tribulação são exclusivamente para Israel. Porém, entendemos que o arrebatamento dos santos em Cristo se dará, nem na metade nem depois da tribulação, mas exatamente antes dela, para livrar a Igreja desse inigualável tempo de sofrimento (ITs. 1:10; 3:10).
Podemos perceber que os juízos catastróficos de Deus sobre Israel e o mundo naqueles dias só terão início depois que a Igreja for retirada da Terra. Até o capítulo 5 de Apocalipse se fala da Igreja, mas no capítulo 6, quando se iniciam os juízos, a Igreja não mais aparece, senão no capítulo 19.
Os partidários da ideia de que a Igreja estará na primeira metade da Grande Tribulação confundem essa metade, que será de uma falsa paz negociada entre Israel e o Anticristo (Dn. 9:27). Não cremos que a Igreja necessite da paz do Anticristo, bem como não podemos interpretar o cavaleiro do cavalo branco de Ap. 6:2 como sendo Cristo, uma vez que na sequência do texto os outros cavalos e seus cavaleiros são demonstrações dos juízos divinos (Ap. 6:2-8).
2 – PROPÓSITOS DA GRANDE TRIBULAÇÃO
Dois principais propósitos se destacam: o primeiro é levar Israel a receber o seu Messias; e o segundo é trazer juízo sobre todo o mundo, especialmente, sobre as nações incrédulas.
a) Levar Israel a receber o Messias. O profeta Jeremias profetizou que esse tempo seria identificado como “o tempo da angústia de Jacó” (Jr. 30:7). Revela que será um tempo especial para os filhos de Jacó, isto é, Israel. Os eventos desse período são indicados na Bíblia como ‘o povo de Daniel”, “a fuga no sábado”, “o templo e o lugar santo”, “o santuário”, “o sacrifício”, e outras mais, todas expressões típicas da experiência política e religiosa de Israel. Portanto, antes de qualquer outra coisa, esse é um período especial para o povo judeu.
Outrossim, o propósito de Deus para Israel na tribulação é trazer à conversão esse povo, porque parte dele se converterá e entrará com o Messias no reino milenar (Ml. 4:5-6).
Quando o Messias surgir, não só os judeus povoarão a Terra, mas uma multidão de gentios se converterá pela pregação do remanescente judeu (Mt. 25:31-46; Ap. 7:9) e entrará no reino milenar de Cristo.
b) Trazer Juízo sobre o mundo. 3:10 revela esse propósito quando fala à igreja de Filadélfia: “também eu te guardarei da hora da angústia que há de vir sobre o mundo inteiro”. A mensagem é para a Igreja e dá a garantia de que será guardada daquele tempo. Mais uma vez, compreende-se que a Igreja não passará pela Grande Tribulação. Entendemos que esse período alcançará todas as nações da Terra (Jr. 25:32-33; Is. 26:21; 2Ts. 2:11-12), e Deus as julgará por sua impiedade. Diz a Bíblia que as nações da Terra serão enganadas pelo ensino da grande meretriz religiosa, chamada Babilônia (Ap. 14.8), e seguirão ao Falso Profeta na adoração à Besta (Ap. 13:11-18). Esses juízos virão para purificar a Terra, e quando o Messias assumir o comando mundial de governo, haverá paz e justiça.
3 – O TEMPO DA GRANDE TRIBULAÇÃO
Não há texto bíblico mais explícito, quanto ao tempo da Grande Tribulação, do que a profecia de Daniel em 9:24-27, acerca das setenta semanas determinadas por Deus, para a manifestação dos juízos de Deus sobre Israel e sobre o mundo.
O que são as setenta semanas. A identificação começa com Dn. 9:24: “Setenta semanas estão determinadas”. A palavra semana interpreta-se como semana de dias. O número sete indica a quantidade de dias da referida semana. Porém, a palavra dia interpreta-se como ano. Cada dia equivale a um ano, e sete dias multiplicados por setenta (70 x 7) dá o total de 490 anos.
0s três períodos das 70 semanas. O primeiro período de sete semanas, equivalente a 49 anos, teve o seu início no reinado de Artaxerxes, através de Neemias, copeiro-mor (Ne. 2:1,5,8), quando pediu ao rei para voltar à sua terra e reedificar a cidade e os seus muros. Ocorreu em 445 a.C. quando foi dada a ordem “para restaurar e reedificar Jerusalém” (Dn. 9:25).
O segundo período de 62 semanas, equivalente a 434 anos, refere-se ao tempo do fim do Antigo Testamento até a chegada do Ungido, o Messias. Nesse período, o Ungido seria rejeitado, ultrajado pelo seu povo e morto (Dn. 9:26). Cumpriu-se esse segundo período até o ano 32 d.C, quando Cristo, o Ungido, foi rejeitado e morto pelos judeus. Até então, 69 semanas (ou 483 anos) se cumpriram.
O terceiro período abrange “uma semana” (7 anos) conforme está no texto de Dn. 9:27. Misteriosamente, acontece um intervalo profético na sequência natural das 70 semanas, identificado como os tempos dos gentios (o nosso tempo), no qual se destaca, especialmente, a Igreja constituída de um povo remido por Jesus, e que está em evidência até o seu arrebatamento para o céu. Terá início, em seguida, a última semana, a 70ª.
c) A última semana profética. No texto de Dn. 9.26 surge “um povo e um príncipe” que virão para assolar e destruir Israel sob “as asas das abominações”. Esse príncipe não é outro senão o “assolador”, o “Anticristo”, o “homem do pecado” e o “príncipe que há de vir” (Dn. 9:26). Ele fará uma aliança com Israel “por uma semana” (Dn. 9:27). Virá com astúcia e inteligência. Sua capacidade de persuasão será enorme e, na aliança que fará com Israel, não terá a plena aprovação desse povo. Sua tentativa será restabelecer a paz, sobretudo no Oriente Médio, oferecendo um tratado. O mundo todo o honrará e o admirará naqueles dias. Ele se levantará de uma força política mundial, uma confederação europeia, que, na linguagem figurada da profecia aparece como “um chifre pequeno” que surge do meio de “dez chifres” do “animal terrível e espantoso”, conforme Dn. 7:8. Esse “animal terrível e espantoso” pode ser identificado como o sistema europeu, equivalente ao antigo Império Romano.
Num breve espaço, “metade da semana” (três anos e meio), esse líder alcançará o apogeu do seu domínio mundial, e então haverá uma falsa paz. Nesse momento se dará o rompimento da aliança com Israel. O príncipe, embriagado pelo poder político, entrará em Israel e então se iniciará “a grande angústia de Israel” (2Ts. 2:4; Ap. 13:8-15), a Grande Tribulação.
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Pr. Elienai Cabral – REBD CPAD