Atualmente os muçulmanos estão retornando ao islamismo e os cristãos estão sendo perseguidos cada vez mais. Mas será que a culpa é mesmo do islã e do seu livro sagrado? Não há considerações étnicas, culturais, sociais e econômicas a se fazer? Onde está a prova de que o islamismo e a xaria são intrinsecamente hostis ao cristianismo? Aqui não é lugar para um exame completo da hostilidade para com os cristãos que se pode encontrar no Alcorão, no hádice ou Hadiz (compilação de ditos e feitos atribuídos a Maomé), nos ensinamentos dos ulemás (autoridades legais islâmicas) e nos textos históricos que registram séculos de jihad contra a cristandade. Mas um breve resumo das fontes islâmicas mais relevantes demonstrará por que os cristãos encontram-se tão vulneráveis no mundo islâmico.
O ALCORÃO E O CALIFA
O próprio alcorão abriga vários versículos anticristãos. Dentre eles incluem-se os versículos 5:73, “infiéis são aqueles que dizem que Alá é um entre três” uma referência à Trindade cristã -, e 5:17, “infiéis são aqueles que dizem que Alá é o Cristo, [Jesus] filho de Maria” (cf. também o versículo 4:171). Ser classificado como infiel (ou kafir) é pertencer à categoria dos inimigos do islã, que devem ser ou eliminados ou subjugados (cf. versículos 9:5 e 9:29).
Os apologistas islâmicos costumam citar outros versículos corânicos que falam explicitamente bem dos cristãos. O mais famoso desses versículos diz: “Descobrireis que os inimigos mais implacáveis dos fiéis [muçulmanos] são os judeus e os pagãos; e descobrireis que os que são mais próximos em afeição aos fiéis são os que dizem “somos cristãos” (Alcorão 5:82). Mas os que citam este versículo não costumam citar os seguintes, que esclarecem o contexto: os cristãos são os “mais próximos em afeição […) porque dentre eles há sacerdotes e monges, e eles não são arrogantes. E se eles prestarem atenção ao que foi relevado ao Mensageiro [Maomé], vereis seus olhos enchendo-se de lágrimas à medida que forem reconhecendo a verdade da revelação. Eles dirão, “Senhor nosso, contai-nos entre as testemunhas” (Alcorão 5:82-93). Em outras palavras, e de acordo com o que a principal corrente exegética islâmica sustenta, os cristãos mencionados nesse trecho são aqueles que estão perto de se converter ao islã e é precisamente por isso que o Alcorão os pinta de maneira positiva.
De todo modo, todas as sentenças do Alcorão devem ser interpretadas de acordo com a doutrina da “ab-rogação”, que foi desenvolvida muito cedo na jurisprudência islâmica com o intuito de explicar as várias frases contraditórias do Alcorão. Os muçulmanos creem que sempre que houver dois versículos que se contradigam um ao outro, o que foi escrito mais ao final da vida de Maomé deverá cancelar o mais antigo. O próprio Alá justifica a ab-rogação no Alcorão: “Sempre que ab-rogamos um versículo ou o relegamos ao esquecimento, substituímo-lo por outro similar ou melhor. Não sabeis que Alá tem poder sobre todas as coisas?” (Alcorão 2:106; cf. também 16:101, 13:39 e 17:86). Acontece que os poucos versículos tolerantes para com os cristãos são de muito cedo na carreira de Maomé, de quando ele ainda não tinha poder político, mas os versículos mais hostis, que chamam os cristãos de inimigos “infiéis”, são de mais tarde, praticamente do ponto alto de sua carreira. Portanto, os versículos hostis posteriores cancelam qualquer tolerância para com cristãos sugerida em versículos anteriores.
À palavra final do Alcorão sobre o destino dos cristãos e dos judeus é encontrada no versículo 9:29. Nele, Alá manda que os fiéis “combatam aqueles dentre os Povos do Livro que não acreditarem em Alá ou no Último Dia, que não proibirem aquilo que Alá e seu Mensageiro proibiram, que não aderirem à religião da verdade, até que paguem a jizia com submissão voluntária e se sintam pessoalmente subjugados”. Na terminologia islâmica, “Povos do Livro” é uma referência àqueles povos pré-islâmicos que possuem suas próprias escrituras cristãos e judeus, principalmente. Esse versículo confere permissão divina à sujeição perpétua dos cristãos ao islã. O versículo 9:29 e seu complemento igualmente belicoso 9:5, conhecidos como “os versículos da espada”, aparecem no momento em que os exércitos de Maomé se preparavam para invadir territórios cristãos do Império Bizantino. Até hoje, a principal corrente de jurisprudência islâmica afirma que esses dois versículos “ab-rogaram, cancelaram e substituíram 124 versículos que clamavam por tolerância, compaixão e paz”. Um ano depois de proclamar esses versículos anticristãos, Maomé morreu, as revelações acabaram e a jihad muçulmana contra os vizinhos infiéis, a maioria dos quais era cristã, entrou em erupção a partir da Arábia.
Extraído e adaptado do Livro “Crucificados: Relato da nova guerra do Islã contra os Cristãos”, R Ibrahim, Ed Ecclesiae, 2020.