“E ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém, como em Samaria, e até os confins da terra” (At 1.8).
O pequeno grupo de Jerusalém, a princípio amarrado ao exclusivismo judaico, vai pouco a pouco se desprendendo de suas raízes étnicas. Com Paulo, a mensagem do Evangelho ganha projeção mundial, não só geograficamente pelo seu trabalho missionário, mas também culturalmente pela sua exposição da mensagem cristã dentro dos conceitos gregos. Seu vigoroso pensamento formado por elementos tanto judeus quanto não judeus, possibilitou ao Espírito Santo fazer de suas cartas uma boa nova para toda a humanidade. “… a palavra da verdade do evangelho, que já chegou até vós, como também está em todo o mundo e já vai frutificando…” (Col 1.5b,6a).
Próximo ao ano de 90 d.C. morria João, o último dos doze apóstolos. Mas o alicerce estava lançado. Roma, o mundo e a História, jamais seriam os mesmos. A pequena semente de mostarda começava a brotar e crescer, para dar alívio e cura a um mundo mergulhado na idolatria, na violência, no homossexualismo, no infanticídio, na vazia especulação filosófica, no negro ocultismo. “Enquanto o grande corpo (do Império Romano) foi invadido pela violência aberta, ou solapado pela lenta decadência, uma religião humilde e pura, gentilmente insinuou-se para dentro da mente dos homens, cresceu em silêncio e obscuridade, recebeu novo vigor da oposição, e finalmente erigiu a triunfante bandeira da cruz, sobre as ruínas do Capitólio”.
O sangue dos cristãos também é semente
“Lembrai-vos da palavra que vos disse: Não é o servo maior do que o seu senhor. Se eles me perseguiram, também vos perseguirão. Se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa” (Jo 15. 20).
Não tardaria e este grupo de pessoas entraria em conflito cada vez maior com o sistema existente. Sua vida pura, sua fé incomum, seu zelo, perturbaram o paganismo. Acusações de todos os tipos eram lançadas sobre os cristãos. Quando no ano de 68 d.C. Roma foi incendiada, provavelmente pelo próprio Imperador Nero, que para desviar a culpa de si, lançou-a sobre os cristãos, iniciando uma onda de perseguição e morte sobre a Igreja de Roma. “Em primeiro lugar prenderam os que se confessavam cristãos, e depois pelas denuncias destes, uma multidão inumerável, os quais todos não tanto foram convencidos de haverem tido parte no incêndio, mas de serem inimigos do gênero humano. O suplício destes miseráveis foi ainda acompanhado de insultos, porque ou os cobriam com peles de animais ferozes para serem devorados pelos cães, ou foram crucificados, ou os queimaram de noite para servirem como de archotes e tochas ao público. Nero ofereceu seus jardins para este espetáculo…”.
Isto seria apenas o início de uma longa série várias perseguições, em sua maioria promovidas pelo estado no intuito de apagar a chama que se acendera no Pentecoste. Domiciano, Trajano, Adriano, Antonino Pio, Marco Aurélio, Décio. Todos eles tiveram, na destruição da Igreja Cristã, parte de sua política. Os cristãos foram queimados, crucificados, decapitados, lançados às feras do Coliseu. Mas como no Egito, “quanto mais os afligiam… tanto mais se multiplicavam e se espalhavam” (Ex 1.12). Perto do ano 200 A.D., escreveu Tertuliano, grande apologista cristão de Cartago, ao Imperador: “Ainda que sejamos recentes, temos enchido todos os lugares de seu domínio, cidades, ilhas, corporações, concílios, exércitos, tribos, o senado, o Palácio, as cortes judiciais. Se os cristãos desejassem vingança, seu número seria abundante, pois eles tem seu partido, não nesta ou naquela província somente, mas em todos os cantos do mundo”. Como veremos, a oposição cerrada, solidificou a Igreja.