Cada dia que passa, tenho visto o crescimento de grupos unitaristas. O unitarismo, também conhecido como arianismo (doutrina propagada e defendida por Ário e seus seguidores no século IV) é a doutrina que afirma haver uma única pessoa na divindade, ou seja, somente o Pai é Deus e o Filho é um ser criado e inferior ao Pai. Entre os defensores dessa visão, podemos destacar a Igreja Unitarista, boa parte dos adeptos do Judaísmo Messiânico, as Testemunhas de Jeová, a Igreja de Deus do Sétimo dia, dentre outras.
Os argumentos são muitos semelhantes entre os diversos grupos e indivíduos unitaristas, mas alguns chegam ao extremo de afirmar que não somente as traduções (como no caso das Testemunhas de Jeová), mas os próprios textos originais do Novo Testamento teriam sido adulterados pelos trinitarianos para legitimar sua doutrina. Mesmo se ignorarmos os textos apontados por eles como alvos de possíveis manipulações, ainda assim a divindade de Cristo pode ser facilmente comprovada por uma leitura honesta das Escrituras.
No presente artigo, pretendo dar um destaque especial ao Antigo Testamento, já que ele contém as profecias messiânicas, visando demonstrar que o Messias é uma figura divina e uma das manifestações do próprio Deus, ao mesmo tempo em que também abordaremos passagens do novo testamento que, ao apontarem o cumprimento dessas profecias, evidenciam a divindade do Senhor Jesus.
Deus visitaria seu povo
A primeira coisa que desejo considerar a respeito da deidade do Messias, é justamente o fato de que a vinda deste seria a maior das Teofanias. O povo de Israel já estava familiarizado com Teofanias (manifestações de Deus). O Senhor costumava aparecer como sendo o “Anjo do Senhor”, ao mesmo tempo em que tratava-se de um anjo, tratava-se do próprio Deus. Vemos isso claramente em vários relatos dessas aparições. Inclusive, em alguns momentos a fala do Anjo do Senhor, refere-se à Deus na terceira pessoa e em outros, em primeira pessoa intercaladamente. Observemos alguns relatos bíblicos de Teofania:
“Mas do céu lhe bradou o Anjo do SENHOR: Abraão! Abraão! Ele respondeu: Eis-me aqui! Então, lhe disse: Não estendas a mão sobre o rapaz e nada lhe faças; pois agora sei que temes a Deus, porquanto não me negaste o filho, o teu único filho. (…)Então, do céu bradou pela segunda vez o Anjo do SENHOR a Abraão e disse: Jurei, por mim mesmo, diz o SENHOR, porquanto fizeste isso e não me negaste o teu único filho, (Gn.11-12,15-16)”
“Apareceu-lhe o Anjo do SENHOR numa chama de fogo, no meio de uma sarça; Moisés olhou, e eis que a sarça ardia no fogo e a sarça não se consumia. Então, disse consigo mesmo: Irei para lá e verei essa grande maravilha; por que a sarça não se queima? Vendo o SENHOR que ele se voltava para ver, Deus, do meio da sarça, o chamou e disse: Moisés! Moisés! Ele respondeu: Eis-me aqui!” (Ex.3.2-4)
“ Então, veio o Anjo do SENHOR, e assentou-se debaixo do carvalho que está em Ofra, que pertencia a Joás, abiezrita e Gideão, seu filho, estava malhando o trigo no lagar, para o pôr a salvo dos midianitas. Então, o Anjo do SENHOR lhe apareceu e lhe disse: O SENHOR é contigo, homem valente. Respondeu-lhe Gideão: Ai, senhor meu! Se o SENHOR é conosco, por que nos sobreveio tudo isto? E que é feito de todas as suas maravilhas que nossos pais nos contaram, dizendo: Não nos fez o SENHOR subir do Egito? Porém, agora, o SENHOR nos desamparou e nos entregou nas mãos dos midianitas. Então, se virou o SENHOR para ele e disse: Vai nessa tua força e livra Israel da mão dos midianitas; porventura, não te enviei eu?” (Jz. 6.11-14)
Vemos aqui de maneira inquestionável que os autores bíblicos tinham muita clareza que de o “Anjo do Senhor” era o próprio Senhor. Por isso chamamos essas aparições de Teofanias (manifestações de Deus). Cabe notar, que ao mesmo tempo em que este anjo era Deus, era uma pessoa à parte dele. Ou seja, era um mensageiro (anjo) de Deus e ao mesmo tempo o próprio Deus. Então, não seria estranho que o Messias, fosse mais uma Teofania. Aliás, nada há de mais lógico que isso. Em Lucas 7.16, quando Jesus ressuscita o filho da viúva de Naim, vemos uma exclamação interessante: “Todos ficaram possuídos de temor e glorificavam a Deus, dizendo: Grande profeta se levantou entre nós; e: Deus visitou o seu povo.” Alguns dentre a multidão ao ver Jesus ressuscitar aquele jovem, consideraram a possibilidade de uma Teofania. Afinal, Deus já havia aparecido no passado como o “Anjo do Senhor”, agora estaria aparecendo na forma daquele homem que estava ressuscitando mortos.
Alguns textos do Antigo Testamento deixam claro que o messias seria uma visitação divina ao povo:
“Portanto, o Senhor mesmo vos dará um sinal: eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho e lhe chamará Emanuel.” (Is.7.14)
“ Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do SENHOR; endireitai no ermo vereda a nosso Deus.” (Is.40.3)
Emanuel (Imanu’el) em hebraico significa: “Deus conosco”. Este nome é dado profeticamente ao Messias, anunciando assim que sua vinda seria na verdade a presença de Deus entre seu povo. Já o texto de Isaias 40.3, ao profetizar o ministério de João Batista (a voz que clama no deserto) faz uma declaração incontestável: “Preparai o caminho do SENHOR (YHWH); endireitai no ermo vereda a nosso Deus.” Temos uma referência direta a essa profecia no evangelho de João, com o próprio João Batista declarando: “Eu sou a voz do que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta Isaías.” (Jo.1.19-23). O caminho deveria ser preparado para o próprio Deus andar por ele.
Nomes Divinos do Messias
Na cultura hebraica, o nome está ligado à essência da pessoa. Tanto é que quando Deus mudou situação de algumas pessoas ele mudou seus nomes para evidenciar isso, como foi no caso de Abraão e Sara (antes Abrão e Sarai). O Messias é chamado profeticamente por nomes divinos. No tópico anterior abordamos um desses nomes, Emanuel, que evidenciava que a vinda do Messias seria uma visitação pessoal de Deus ao povo de Israel, mas, encontramos outros:
Deus forte: El Gibbor (Is 9.6). Este título messiânico não deixa qualquer dúvida que é do próprio Deus que se está falando. Deus é chamado na Bíblia por vários nomes de construção semelhante, como por exemplo: El Shaddai ( Deus Todo Poderoso – Ex.6.3), El Roi (Deus que vê – Gn. 16.13), El Elyon (Deus Altíssimo – Gn.14.18). Deus forte (El Gibbor) portanto, é mais um dos nomes de Deus, nome este que profeticamente é dado ao Messias, revelando sua identidade Divina.
Pai da Eternidade: (Is 9.6) Esse título revela um atributo de Cristo que é um atributo do próprio Deus. A expressão: Pai (Ab) no hebraico pode significar: “gerador”, “possuidor” ou “fonte”. Portanto ao chamar Jesus de Pai da eternidade (ou Pai Eterno), a profecia aponta para o Messias como sendo fonte da eternidade. Tal título não poderia ser dado a nenhuma criatura, mas somente ao próprio Deus.
Senhor Justiça Nossa: YHWH Tsidkenu (Jr. 23,5,6). O Antigo Testamento menciona vários nomes divinos compostos do tetragrama sagrado YHWH, que é geralmente traduzido como “O Senhor”, acrescido de algum título que expresse alguma caraterística ou atributo de Deus, assim como acontece com os nomes compostos de El (Deus). Vejamos: YHWH Rafah (O Senhor Cura), YHWH Jireh ( O Senhor Proverá), YHWH Nissi (O Senhor Minha Bandeira), YHWH Shalom (O Senhor é Paz), YHWH Tsebaoth ( O Senhor dos Exércitos). E aqui, temos mais um nome divino YHWH Tsidkenu ( O Senhor Justiça Nossa), que é atribuído ao Messias, apontando para a justificação por meio da fé nele.
Observando os nomes abordados acima, não há como negar que é ao próprio Deus que as Escrituras se referem em cada um deles, nem que tais nomes estão sendo usados para descrever o Messias. Logo, se o Messias é abertamente chamado de Deus (El) e Yahweh (YHWH), e ainda recebe um título que o identifica como a fonte da eternidade, está claro que esse Messias não é outro se não o próprio Deus.
Atributos Divinos do Messias
Depois de considerarmos que a vinda do Messias seria uma visitação especial de Deus e de atentarmos para os nomes divinos dados ele, notemos agora, mais evidencias nas profecias messiânicas de que estas se referem ao próprio Deus. Atentemos agora para o fato das Escrituras apontarem para atributos divinos presentes no Messias:
Eternidade: E tu, Belém-Efrata, pequena demais para figurar como grupo de milhares de Judá, de ti me sairá o que há de reinar em Israel, e cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade. (Mq. 5.2)
O profeta Miquéias afirma que aquele que havia de nascer em Belém – Efrata, seria alguém que existe desde os dias da eternidade. O texto bíblico está afirmando que ele não tem princípio. O único que não tem princípio é Deus, aquele que existe de eternidade a eternidade (Sl.90.2)
Rei da Glória: Levantai, ó portas, as vossas cabeças; levantai-vos, ó portais eternos, para que entre o Rei da Glória. Quem é o Rei da Glória? O SENHOR, forte e poderoso, o SENHOR, poderoso nas batalhas. Levantai, ó portas, as vossas cabeças; levantai-vos, ó portais eternos, para que entre o Rei da Glória. Quem é esse Rei da Glória? O SENHOR dos Exércitos, ele é o Rei da Glória. (Sl.23.7-10)
O Salmo 24 é um salmo messiânico. Os versículos acima descrevem a entrada triunfal do Cristo ressurreto no Céu. Ele é glorificado e identificado como sendo o próprio Deus. A glória descrita aqui é uma glória divina. O Novo Testamento afirma que Jesus é o Senhor da Glória (1 Co. 2.8). O Salmista deixa claro, que o Rei da Glória, é o próprio Senhor (YHWH), o Senhor dos Exércitos (YHWH Tsebaoth).
Se observarmos as características descritas acima, notamos que elas somente podem pertencer a Deus. Vemos uma clara descrição da natureza eterna do Messias, natureza tal que equivale à do próprio Deus. O Salmo 24 deixa claro que aquele que é descrito entrando pelos portais eternos é Deus, mas sabemos que é uma descrição do Cristo vitorioso e invencível retornando ao Céu, após ressurgir dentre os mortos, tendo concluído sua obra redentora.
Conclusão
Enganam-se aqueles que pensam que a fé trinitária depende de versículos isolados para manter-se de pé. No caso específico da divindade do Filho, já no Antigo Testamento, encontramos bases sólidas para afirmar a divindade da figura messiânica. Ao estudarmos as profecias, encontramos evidência sobre evidência, revelando que o Messias é Deus.
Mesmo que os unitaristas alimentem suspeitas sobre textos claros do Novo Testamento que afirmam que Jesus é Deus, alegando possíveis manipulações dos tradutores ou interpolações posteriores dos copistas, não podem usar o mesmo argumento sobre o Antigo Testamento. Este além de fazer parte da Bíblia cristã é a Bíblia hebraica, e tem sido preservado zelosamente por gerações entre os judeus. Examinando-o podemos concluir que o mesmo contém elementos suficientes que possibilitam presumir com exatidão a natureza divina do Messias.
Autor: Rev. Francisco Belvedere Neto