A Assembleia de Deus, a Lei e o Sábado – Parte 9

ass deusA ASSEMBLEIA DE DEUS, A LEI E O SÁBADO

Mais um exemplo de desonestidade intelectual

Citações do livro “O despertar de um mandamento” (p. 15/16)

6) A que tipo de lei o apóstolo Paulo se refere em Colossenses 2:16?

O já citado Pr. Myer Pearlman responde apropriadamente a esta questão quando escreve:

“A sua relação com a Lei Cerimonial (vers. 15, 16). As festas, os dias santos e outras observâncias cerimoniais judaicas não passam de símbolos e figuras representando Cristo. Agora, desde que Cristo cumpriu os símbolos, os mesmos tornam-se desnecessários.”

Refutação da Sexta Parte

Curiosamente o escritor do livro não acrescenta nenhum comentário, talvez por acreditar tolamente que a declaração é em si mesma uma fortaleza inexpugnável em prol da defesa da lei e do sábado. Sinceramente não consigo ver como o escritor acredita que esse texto possa de fato ajudá-lo! Contudo, a pergunta apropriada para entender essa citação é a seguinte: o que será que Myer Pearlman queria dizer quando mencionou as expressões “as festas”, “lei cerimonial” e “dias santos”? É verdade que o contexto imediato da passagem não nos fornece maiores informações. Mas levando em consideração o contexto geral da teologia de Pearlman sobre a lei, presente em seus dois livros mais importantes, traduzidos em português, “Conhecendo as doutrinas da Bíblia” e “Através da Bíblia livro por livro”, podemos deduzir que o sábado muito provavelmente fazia parte das práticas exteriores da lei e, que o mesmo, encontrava-se presente em algumas destas expressões usadas por ele. É útil observar que quando Pearlman vai comentar as leis referentes às Festas de Levítico (cap. 23 e 24) ele coloca o sábado semanal como uma destas festas cerimoniais, observe:

“1. O sábado. (23.1-3). Podemos considerar esse dia como o dia de festa semanal dos israelitas, no qual descansavam de todos os seus trabalhos e se reuniam para o culto” (Através da Bíblia livro por livro, São Paulo, Ed. Vida, 2006, p. 37)

Esse comentário lança um pouco de luz ao de Colossenses 2.16. A dedução lógica que podemos chegar é que as festas mencionadas por Paulo como sombras e, por Pearlman como símbolos e figuras, incluem aí o sábado semanal que na nova dispensação é  “desnecessário”. Junta-se a isso o fato de que a estreita relação pastoral entre Pearlman e Olson deve ter afetado a crença teológica de seu mais famoso discípulo e tradutor, refinando-a na direção de que a lei e o sábado, para o cristão, não eram mais necessários.

Mas para jogar uma pá de cal no assunto, observe o que disse a própria Revista Adventista sobre isso: “Ao que parece, o texto de Colossenses 2.16 refere-se a quaisquer tipos de sábados: anuais, mensais ou semanais. Expressão similar à de Colossenses 2.16 (só que ao inverso) é encontrada em Gálatas 4.10: “Guardais dias [dias santos semanais], e meses [dias santos mensais], e tempos e anos [ dias santos anuais]” (Revista Adventista, janeiro de 2009, p. 18).

A revista corrobora com a declaração do já falecido teólogo adventista Samuel Bachiochi:

“O sábado em Colossenses 2.16: O tempo sagrado prescrito por falsos mestres referem-se como sendo ‘um sábado festival’ ou a lua nova ou um sábado. – ‘eortes e neomnia o sabbaton.’ (2.16). O consenso unânime de comentaristas é que estas três expressões representam uma lógica e progressiva seqüência (anual, mensal e semanal). Este ponto de vista é válido pela ocorrência desses termos… Um outro significativo argumento contra os sábados cerimoniais ou anuais é o fato de que estes já estão incluídos nas palavras ‘dias de festa…’Esta indicação positivamente  mostra que a palavra SABBATON como é usada em Cl 2.16 não pode se referir aos sábados festivais, anuais ou cerimoniais.”

“Determinar o sentido de uma palavra baseando-se exclusivamente em conceitos teológicos em prejuízo de evidências línguísticas e contextuais é estar contra as regras de hermenêuticas bíblicas. Ademais, a interpretação que o Comentário Adventista dá à palavra ‘sábados’ de Cl 2.16 é difícil de ser sustentada, desde que temos visto que o sábado pode legitimamente ser tido como ‘sombra’ ou símbolos preparatórios de bênçãos da salvação presente e futura.” (Samuelle Bacchiochi – From Sabbath To Sunday, p. 358-360)

Retornemos aos escritores da Assembléia de Deus e vejamos se eles apoiam a linha de raciocínio do autor do livro em apreço.  O escritor Elinaldo Renovato, comentarista das “Lições Biblicas” da CPAD, deixa bem claro o que a teologia assembleiana entende pela lei de Colossenses 2.16:

“O cristão não precisa,pois, ficar preso a tais ordenanças, que eram sombras , ou tipos de Cristo, o antítipo, ou a realidade trazida à história. A vida do crente em Cristo é liberta de qualquer calendário escravizante, inclusive da guarda dos sábados, que era um concerto especial de Jeová com seu povo Israel (Êx 31.13; Dt 5.12; Ez 20.12), Os cristãos guardam o domingo apenas como dia de descanso semanal.”    (Lições Bíblicas: Jovens e Adulto. Colossenses. Rio de Janeiro: CPAD, 3º Trimestre de 2004, lição 07 – As heresias e o culto aos anjos).

Ainda que os comentários da “Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal”, editada pela CPAD, não são feitos por autoridades pentecostais, vale a pena reproduzir o comentário que ela faz de Colossenses 2.16:

“A frase “pelo comer. ou pelo beber” provavelmente se refere as leis judaicas relacionadas aos alimentos. As festas mencionadas são os dias santos judaicos celebrados anual, mensal (lua nova}   e semanalmente (o sábado). Essas cerimônias distinguiam os judeus de seus vizinhos pagãos.” (Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal, p.1697)

Agora o comentário de uma autoridade genuinamente assembleiana, o pastor Esequias Soares:

“O sábado cerimonial ou anual já está incluído na expressão “dias de festa”, que são as festas anuais, “lua nova”, mensais e “dos sábados”, festa semanal. O texto fala de um objeto projetando sombra, ou seja, a realidade espiritual na fé cristã é Cristo e não o sábado. Essas figuras das coisas futuras se cumpriram em Jesus. Por isso que Jesus afirmou ser Senhor do sábado (Mc 2.28). Esse texto de Colossenses é a melhor resposta bíblica para os sabatistas.” (Manual de Apologetica. CPAD, Esequias, 2003, p. 254)

E para finalizar a palavra do pastor assembleiano Elienai Cabral,

“… a lei dos mandamentos que consistia em ordenanças” (v. 15) indica que a legislação mosaica foi abolida; não só a cerimo­nial, mas toda a lei, com todas as suas ordenanças. Cristo, pela “sua carne”, desfez toda a condenação da lei, criando a “lei do espírito de vida”.” (Comentário Bíblico: Efésios. Elienai Cabral, 3ª Ed. – Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 1999)

Concluímos, portanto, que a interpretação que os teólogos assembleianos dão a Colossenses 2.16, é que o sábado aí incluso é o sábado semanal e que este fazia parte dos preceitos cerimoniais que foram cravados na cruz. Isso é fato, é algo concreto que pode ser demonstrado com fundamentações textuais claras, bem diferente das insinuações distorcidas dos autores tanto do livro “O despertar de um mandamento”, quanto dos sites e blogs adventistas que não se contentaram em apenas reproduzir o erro, mas contribuíram com suas interpolações, distorcendo ainda mais aquilo que já havia se consagrado como fraude.

Leia as demais matérias sobre o tema:

A Assembleia de Deus, a Lei e o sábado Parte 8

A Assembléia de Deus, a Lei e o sábado Parte 10

 

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