A Assembleia de Deus, a Lei e o Sábado – Parte 10

ADA ASSEMBLEIA DE DEUS, A LEI E O SÁBADO

Mais um exemplo de desonestidade intelectual

Citações do livro “O despertar de um mandamento” (p.16)

7) E o Sábado do Quarto Mandamento, Qual a sua Origem?

Num livro preparado pela Casa Publicadora das Assembléias de Deus (CPAD), para tirar algumas dúvidas sobre certos assuntos, intitulado A Bíblia Responde (destaque no original), nós lemos esta declaração:

“O observador mais acurado vai perceber que o sábado não é um mandamento originado na lei mosaica (Gên. 2:3), ainda que mais tarde a ela incorporado.”

Depois dele, quem responde a esta pergunta é o Pr. Carlo Johansson. Ele escreveu estas palavras:

O sábado tem a sua origem na criação, Gên. 2:1–3.” (destaque no original)

O Pr. Myer Pearlman, estudioso e dedicado, completa o que foi dito acima, da seguinte maneira:

“O Grande Arquiteto do Universo completou em seis dias Sua obra da criação, e descansou no sétimo dia. (…) No sétimo dia Ele descansou, dando ao homem um exemplo, trabalhando seis dias e descansando no sétimo.”

Conclusão: A origem do sábado, ao contrário do que ensinam alguns cristãos desinformados, não é a doação da lei dos Dez Mandamentos no Monte Sinai. Conforme os estudiosos da Bíblia, da Igreja Evangélica Assembléia de Deus, foi na SEMANA DA CRIAÇÃO. Seis dias de trabalho, e o sétimo para o descanso e culto. (destaque no original)

REFUTAÇÃO DA SÉTIMA PARTE

O que na realidade disse o livro “A Bíblia Responde”? Ele apoia de fato a visão adventista? Claro que não! É interessante saber que a citação faz parte de um trecho que, na verdade, refuta a visão sabatista; informação que o escritor adventista fez questão de omitir, mas do jeito que foi colocado, dá a falsa impressão de que ela apoia o ponto de vista de nosso oponente. Observe a citação do livro “A Bíblia Responde” na íntegra que começa com o sugestivo título de “Sábado ou Domingo?”:

“[…] Verá, inclusive, que o sábado não é nome do sétimo dia, da semana, mas a designação da sua funcionalidade. O termo em hebraico “Shabbath”,  da raiz “shãbhath” , supõe cessar, deixar de fazer, parar de fazer e até desistir.  Em nenhum dicionário a palavra significa descansar.  A idéia de que Deus descansou no sétimo dia só pode ser interpretada antropomorficamente, uma vez que Deus não pode cansar-se, sendo Ele o sustentador de toda a criação. Além do mais, devemos notar ainda o tempo em que o Gênesis foi escrito e a utilização de vocábulos babilônicos na sua composição sendo “shabbatum”  o que mais corresponde à intenção judaica de significar que Deus completou a sua obra no sétimo dia. E, se completou, trabalhou, o que tiraria a validade do sábado judaico como lei. Esta parece ser a idéia de que Jesus quis mostrar aos escribas e fariseus quando disse: “Meu Pai trabalha até agora e eu trabalho também”, João 5.17. A lei judaica posterior definiu 39 tipos separados de ações que constituem infração ao sábado. No entanto, as mesmas escrituras prescreviam oferendas de sacrifício no templo, no sábado, ainda que isso fizesse o ofertante incorrer em esforços físicos: Nm 28.9,10. Os princípios rabínicos prescreviam que se uma vida humana estivesse em perigo no sábado, tudo o que fosse possível devia ser feito para salvá-la. Jesus foi mais adiante quando arguiu: “E qual de vós que se a sua ovelha num sábado cair num buraco não a pegará e tirará dalí?”Mt 12.11. Quando Deus diz: “Lembra-te do dia do sábado para o santificar.” (Êx 20.8), poderia estar dizendo: “Lembra-te de honrar-me com teu louvor e ações de graça no dia do teu descanso”. É notório que nem todos podem descansar no atual sábado, ou seja, no sétimo dia da semana. Principalmente nas cidades grandes. Essa imposição da vida cotidiana poria milhões de crentes em desobediência contra Deus e passíveis de morte: Nm 15.32-36. Felizmente não estamos debaixo da lei e podemos santificar todos os dias da semana ao Senhor. E como foi no primeiro dia da semana que o Senhor Jesus ressuscitou (Mt 28.1; Mc 16.2; Lc 24.1; Jo 20.1) nesse dia denominado domingo, do latim “dies dominicu”, dia do Senhor, procuramos nele servir mais demoradamente à obra de Deus. Agora, quanto à santificação, não temos de escolher esse ou aquele dia, mas vive-la a todo o momento, pois, sem ela, ninguém verá o Senhor” (A Bíblia Responde, Rio de Janeiro: CPAD, 1983, p.45/50 – destaque nosso).

O observador mais acurado irá perceber que o livro “A Bíblia Responde”, não diz que o “sábado da criação” é o mesmo dado aos israelitas nos dez mandamentos, isso ficou inteiramente por conta da interpretação distorcida do indivíduo que escreveu o livro.

Todavia, concordamos com o pastor Carlo Johansson em que “O sábado tem a sua origem na criação” e com Myer Pearlman de que com isso Deus deu “ao homem um exemplo”.

Mas em que sentido o sábado tem origem na criação? Qual é a verdadeira posição dos escritores assembleianos sobre o assunto?

Numa Bíblia publicada pela Casa Publicadora das Assembleias de Deus (CPAD), as notas de rodapé sobre Genesis 2.3 trazem as seguintes informações esclarecedoras, sob o título: “O sábado de Deus (2.1, título)”, ela explica:

“O sábado de Deus não poderia ser o mesmo sábado do homem, pois Adão não foi criado antes do sexto dia e havia trabalhado somente um dia, dando nome aos animais (Gn 1.24-31; 2.7,19-25) Não há registro de nenhum sábado para o homem por pelo menos 2,513 anos após o descanso de Deus no sétimo dia. O primeiro sábado para o homem é mencionado em Êxodo 16.23-29. Isso foi um sábado apenas para Israel, como um sinal entre eles e Deus (Êx 31.12-18; Ez 20.12-24) para comemorar a libertação de Israel da escravidão – não para comemorar o dia do descanso de Deus 2.513 anos antes (Dt 5.15). (Bíblia de Estudo Dake, ed. 1995, CPAD, p. 77)

Como então o sábado tem origem na criação e que tipo de sábado estamos falando? Quem responde essa questão é o renomado pastor assembleiano Esequias Soares ao comentar o quarto mandamento:

1.0 shabat. Deus celebrou o sétimo dia após a criação e abençoou este dia e o santificou (Gn 2.2,3). Aqui está a base do sábado institucional e do sábado legal. O sábado legal não foi instituído aqui; isso só aconteceu com a promulgação da lei. O substantivo shabbat, “sábado”, não aparece aqui, na criação. Surge pela primeira vez no evento do maná (Êx 16.22, 23). A Septuaginta emprega a palavra sabbaton […] Desde a criação. É o sábado para descanso de todos os povos. É uma questão moral que Deus estabeleceu para a raça humana ao comemorar a criação. Tornou modelo e uma forma natural para toda a raça humana. É a ordem natural das coisas: os campos precisam de repouso, as máquinas necessitam parar para manutenção e assim por diante (Lv 25.4). O sábado institucional, portanto, não se refere ao sétimo dia da semana; pode ser qualquer dia ou um período de descanso (Hb 4.8) […] Não era mandamento. O sétimo dia da criação não era mandamento, mas revela a necessidade natural do descanso de toda a natureza. O repouso noturno de cada dia não é suficiente para isso. Deus abençoou e santificou esse dia não somente para comemorar a obra da criação mas para que, nesse dia, todos cessem o trabalho e assim descansem física e mentalmente para oferecer o seu culto de adoração a Deus.” (Lições Bíblicas, Os Dez Mandamentos, 1º Trimestre de 2015 – lição 6)

A referida revista, no suplemento “Interagindo com o Professor”, página 5, traz a seguinte informação sobre o pastor Esequias Soares:

“O tema desse primeiro trimestre é Os Dez Mandamentos, Valores Divinos para uma sociedade em constante mudança. O comentarista da revista é o pastor Esequias Soares, um dos mais renomados biblistas do pentecostalismo brasileiro, líder da Assembleia de Deus em Jundiaí (SP) e presidente da Comissão de Apologética da CGADB. Mestre em Ciências das Religiões, graduado em línguas orientais e autor de várias obras publicadas pela CPAD.” (Lições Bíblicas, Os Dez Mandamentos, 1º Trimestre de 2015, lição 1 – Deus dá sua lei ao povo de Israel – destaque nosso)

A obra “A Bíblia Explicada” editada pela CPAD, comentando Mateus 12 assevera:

“Cristo e o sábado (1-8). F.W.Grant, na exposição deste trecho, chama atenção para o caráter da lei do sábado nos dez mandamentos. Um dia de descanso depois de seis dias laboriosos era concedido a Israel como privilégio: o sinal da aliança entre Israel e Jeová (Ex 31.17). Não era baseado nos eternos princípios da moralidade como os outros mandamentos; seu caráter era mais cerimonial que moral, e o privilégio do descanso semanal poderia perder-se caso fosse violada a aliança.”

Qual a conclusão a qual podemos chegar lendo as citações mencionadas acima? Concluímos que:

Os escritos dos teólogos assembleianos afirmam que o exemplo do sábado de fato tem sua origem em Gênesis;

  1. Todavia, esses mesmos escritos deixam bem claro que a passagem de Genesis 2.2,3 é descritiva e não prescritiva. Afirmam que não há nenhum mandamento de Deus para a humanidade neste texto sobre a guarda do sábado e nem menção, ainda que indireta, de alguém guardando o sábado antes do Sinai.
  2. Asseveram que Deus apenas cessou suas atividades e não que Deus descansou. Indicam que a palavra shabath é cessar e não descansar. Deus não se cansa, Cf. Isaías 40.28.[1]
  3. São de opinião que sábado e sétimo dia são coisas diferentes. A palavra sábado não aparece no livro de Genesis.
  4. Alguns deles concordam que antes da Lei de Moisés havia dia ou dias de descanso entre os povos, pois a própria natureza da criação assim o exige. Contudo, não havia mandamento, lei ou ordem estabelecida para guarda-lo e nem que tal descanso caísse sempre no sétimo dia.
  5. Essas autoridades mostram também que o exemplo de Deus cessando sua obra na “semana da criação” forneceu o exemplo para o sábado do sétimo dia da lei de Moisés.
  6. O sábado como princípio de cessar o trabalho é um princípio universal, mas o da lei de Moisés, caindo sempre no sétimo dia com todas suas cerimonias é exclusivamente judaico.
  7. Finalmente, todos são unanimes em asseverar que a Igreja de Cristo não está obrigada em guardar o sábado, mas que pode cumprir o princípio universal do descanso em qualquer dia, mas, principalmente no domingo – O Dia do Senhor.

O que acabamos de ler é o que acreditam os teólogos assembleianos desde o princípio. Não vejo outra razão na insistência de distorções deliberadas como as que fizeram o autor do livro, se não a de enganar.

O capítulo denominado “A Assembléia de Deus, a lei e o sábado” é uma vergonha; um verdadeiro exemplo de desonestidade intelectual, a maneira mais vil de argumentar. É o convencimento a qualquer custo.

[1] Tanto é que no hebraico, a palavra para “greve” (paralisação), shevita, vem da raiz shabath.

 

Leia as demais matérias sobre o tema:

A Assembleia de Deus, a Lei e o sábado Parte 9

A Assembléia de Deus, a Lei e o sábado Parte 11

Sair da versão mobile