Em Efésios 6.10 encontramos uma passagem conhecidíssima de todos os servos de Deus. Mas há uma outra passagem que devemos notar em Romanos 13.12-14 que diz: “A noite é passada, e o dia é chegado. Rejeitemos pois as obras das trevas, e revistamo-nos das armas da luz. Andemos honestamente, como de dia, não em glutonarias, nem em bebedeiras, nem em desonestidade, nem em dissoluções, nem em contendas e inveja. Mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo, e não tenhais cuidado da carne em suas concupiscências”.
Não há dúvida de que todos reconhecemos o nosso envolvimento na guerra espiritual. Todos nós temos experiências de ferrenhas batalhas contra o Inimigo. Ele nos ataca de todo modo possível através da tentação, da opressão, da depressão, da obsessão, e se possível através também da possessão. Mas, na maioria das vezes, são os desejos da carne que nos atraem e nos tiram da nossa posição em Cristo Jesus. Não batalhamos somente contra o Inimigo do lado de fora, mas sim com o inimigo de dentro, que é a nossa carne.
Em Efésios o apóstolo nos recomenda a nos revestir de toda a armadura de Deus. O Inimigo sempre nos ataca do lado desprevenido; raramente ele ataca do nosso lado forte. Mas de nada adianta pôr a armadura e deixar uma parte desprotegida, pois ali ele nos atacará.
Você já descobriu que Jesus é a nossa armadura? Ele é o nosso capacete da salvação. É Ele que nos guarda e protege dos ataques do Inimigo à nossa mente. A cabeça (a mente) é a parte mais vulnerável de nosso ser inteiro. Uma pancada na cabeça pode prejudicar seriamente o corpo todo (“…transformai-vos pela renovação do vosso entendimento…”, Rm 12.2).
A couraça da justiça protege o coração. Uma versão mais atualizada seria a “nossa integridade”. Ele, Jesus, é a nossa integridade e justiça, tanto no sentido espiritual como também em nosso andar e aparência diante dos homens. E você, conhece Jesus como a Verdade? Os seus lombos estão cingidos, guardados com Ele? Se a sua Verdade não lhe cobrir, você se encontrará desprotegido, solto e um alvo fácil para o Inimigo. Os nossos pés calçados com o Evangelho da paz significam que o seno de Deus precisa estar bem calçado.
A paz de Deus faz parte da sua vida e do seu andar? É esta paz que lhe guiará e lhe ajudará a decidir por onde andar (“E a paz de Deus…domine em vossos corações…”, Cl 3.15). Esta paz nos indicará o caminho em que devemos andar.
Cristo é também o escudo da fé. Este escudo fica à nossa frente e se posiciona em nosso favor quando vierem os dardos inflamados do Inimigo e as tentações nos pontos em que somos fracos. Para que nos revestirmos da armadura completa de Deus? A resposta encontra-se em Efésios 6.13: “… para que possais resistir no dia mau, e havendo feito tudo, ficar firmes”. Significa firmar-se, manter-se alerta e habitar em Cristo; e deixar que Ele seja a nossa proteção, e então os tipos e símbolos do Antigo Testamento se atualizam.
Ele é a nossa fortaleza, torre forte e refúgio; é debaixo de suas asas que encontramos abrigo e refúgio permanente. Ele é o nosso escudo e broquel. Ele é a nossa Rocha onde nos refugiamos. Ele é o nosso santuário e cobertura.
O plano do Inimigo é nos atrair para fora do local de segurança onde nos encontramos “escondidos com Cristo em Deus”. Temos esta promessa de segurança enquanto Nele estivermos e cobertos com a armadura. Entretanto, ao nosso redor vemos vítimas e feridos, e se formos sinceros sabemos que às vezes somos derrubados e vítimas desta batalha.
Outras vezes temos que recuar da batalha. Todos nós conhecemos pessoas que “correram” tão bem e agora se encontram como vítimas da guerra espiritual. Isto sempre acontece com quem sai fora da cobertura ou da armadura. O Diabo é como o camaleão, aquele réptil que se adapta às cores do ambiente em que está. Ele nos vigia para descobrir as nossas fraquezas. Às vezes fraquezas em nosso caráter, nosso ambiente e nossa criação. Aí ele nos ataca no ponto mais fraco sem que o reconheçamos. Se o Inimigo não pode nos impedir de colocar toda a armadura então faz com que descuidemos de uma parte da mesma. Somos avisados continuamente na Palavra a este respeito, como em I Pedro 5.8: “Sede sóbrios, vigiai, porque o diabo, vosso adversário, anda em derredo: bramando como leão, buscando a quem possa tragar”.
A maioria de nós pensa que o Inimigo não nos atingirá, muito menos tragar ou devorar. Mas o apóstolo Pedro nos alerta sobre o perigo. Como pode ele devorar alguém que está em Cristo? Ele sabe que é impossível devorar Cristo, por isto anda em derredor para achar os que saem fora da proteção e cobertura Dele. E se tal acontecer conosco, seremos um “jantar” delicioso para o Inimigo. Como é que ele age para nos tirar do local de segurança?
- Não andar na luz
Em ljoão 1.5-7 lemos: “E esta é a mensagem que dele ouvimos, e vos anunciamos: Deus é luz e não há nele treva nenhuma. Se dissermos, que temos comunhão com ele, e andamos em trevas, mentimos, e não praticamos a verdade. Mas se andarmos na luz, com ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado”. O sangue de Jesus é a nossa cobertura também.
- Falta de perdão
Quantos de nós compreendemos o que significa orar? “Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos os nossos devedores (os que ficaram contra nós)”.
É algo de nos alarmar, mas a Palavra diz que nós não seremos perdoados se não soubermos perdoar a outros. A falta de perdão arranca a cobertura de Jesus de nossas vidas. Em 2Coríntios 2.5-11, o apóstolo Paulo recomenda perdoar e no versículo 10 e 11 diz: “para que não sejamos vencidos por Satanás porque não ignoramos os seus ardis”.
Devemos perdoar a todos, e especialmente nossos pais, filhos, parentes, patrões, supervisores, vizinhos e outros irmãos. Muitos encontram dificuldade neste ponto e recusam-se a perdoar, e isto se torna uma pedra de tropeço.
- Falta de amor
Em ljoão 2.9-10 lemos: “Aquele que diz que está na luz, e aborrece a seu irmão, até agora está em trevas. Aquele que ama o seu irmão está na luz, e nele não há escândalo”.
Se nós não amarmos os irmãos vamos cair nas trevas com a nossa atitude. Ficaremos fora da cobertura de Cristo. Quando cesso de amar permito que o Inimigo me empurre para fora da cobertura.
- Uma língua desordenada
“Irmãos, não faleis mal de um irmão. Tu, porém, quem és, que julgas a outrem?”, Tg 4.11-12. E ligado a estes está a passagem de Gálatas 5.15: “Se vós, porém, vos mordeis e devorais uns aos outros, vede não vos consumais também uns aos outros”.
Pode o crente ser consumido ou devorado? É claro que sim, e é por isso que o apóstolo Paulo nos avisa a esse respeito. Mas como? Mordendo, criticando, murmurando e falando contra outro irmão.
Podemos falar tão mal de outrem que o próprio inferno nos ouvirá. Tiago nos avisa: “Se alguém não tropeça em palavra, o tal varão é perfeito e poderoso para também refrear todo o corpo”, Tg 3-2. E continuando, diz: “A língua também é um fogo; como mundo de iniquidade. Com ela bendizemos a Deus e com ela amaldiçoamos os homens feitos à semelhança de Deus”.
Precisamos guardar nossos lábios, língua e boca. Temos um Deus que ouve tudo que dizemos e um inimigo que ouve também. A confissão de nossa boca e língua pode servir de bênção ou de maldição. Às vezes o crente diz: “Eu vou morrer de câncer, pois esta doença corre em minha família”; ou “se algo mal acontecer eu fico louco”, ou “não importa quanto eu ganhe sempre vou estar endividado”, ou “prefiro morrer à perder o meu marido”. Lembre-se de Mateus 12.34: “… do que há em abundância no coração, disso fala a boca”. Não saia de baixo da cobertura de Cristo, expressando-se com palavras torpes ou desafiantes ao Senhor.
Orgulho
O orgulho nos rouba da proteção e cobertura do Senhor. Satanás caiu através do orgulho que sempre antecede a queda de um ser. “Elevou-se o teu coração por causa da tua formosura, e corrompeste a tua sabedoria por causa do seu resplendor…”, Ez 28.17.
Foi o orgulho que provocou a queda do lindo querubim ungido. “De resiste aos soberbos, dá porém graça aos humildes; sujeitai-vos pois a Deus, resisti ao diabo e ele fugirá de vós”!
Quando houver orgulho em nós, mesmo que tal não reconheçamos Deus resiste a isto. Em vez de ser o nosso protetor Ele se torna o nosso opositor. “A soberba precede a ruína e altivez de espírito precede a queda. Antes de ser quebrantado eleva-se o coração do homem; e diante tía honra vai a humildade”, Pv 16.18; 18.12.
E além de ser orgulhoso perante o homem, às vezes nos tornam orgulhosos e arrogantes para com Deus. Mas Deus diz o seguinte em Isaías 66.2: “…mas eis para quem eu olharei: para o pobre e abatido de espírito e que treme diante da minha palavra”.
- Falta de temor de Deus
Precisamos intensificar o nosso temor ao Senhor. Dizem que isto está fora de época. Que Deus já não é mais um fogo consumidor. No Pentecoste, quando a Igreja se encontrava no seu auge, a Palavra diz em Atos 2.43: “E em toda a alma havia temor…”.
Quando o Espírito age em nossa vida, começamos a cuidar da nossa conduta, do nosso modo de falar e de levar as coisas. Quanto mais Deus age em nossas vidas, mais reverência e temor haverá da nossa parte. Deus diz no Salmo 34.11: “… eu vos ensinarei o temor do Senhor”.
Observe a história de Ananias e Safira. Pensavam que estavam lidando com homens e coisas sem reconhecerem que o caso era com Deus. Pedro disse a eles em Atos 5.4: “… Não mentistes aos homens mas a Deus”.
- Tomando o nome do Senhor em vão
“Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão; porque o Senhor não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão”, Êx 20.7. Aqui está um princípio bíblico e eterno. Tomar o nome de Deus em vão significar usá-lo de modo impróprio, falso e insignificante. É o contrário do que diz Jesus em Mateus 6.9; “… santificado seja o teu nome”. As escrituras falam severamente acerca destes profetas presunçosos que dizem falar em nome de Deus quando Ele não mandou dizer nada. Olhe em Deuteronômio 18.20-22 e Jeremias 14.14-15. Cuidado com as expressões: “Jesus, Jesus, Jesus”, ou “meu Deus, meu Deus”, por qualquer coisa.
“Então aqueles que temem ao Senhor falam cada um com o seu companheiro; e o Senhor atenta e ouve; e há um memorial escrito diante dele, para os que temem ao Senhor e para os que se lembram do seu nome”, Mt 3-16. O povo que temia ao Senhor também louvava o seu nome. Deus gravou as suas palavras.
- Fazendo promessas não razoáveis
Isto tem a ver de novo com a língua. Lembre-se de como Pedro se enganou dizendo em Marcos 14.29,31: ainda que todos se escandalizem, nunca, porém, eu”. E disse ainda com mais veemência: “ainda que me seja necessário morrer contigo, de modo nenhum te negarei. E da mesma maneira diziam todos também”. O resultado foi que Satanás quis moê-los e esmagá-los. Foi a intervenção de Jesus que não permitiu que isto acontecesse. “Não te precipites com a tua boca, nem o seu coração se apresse a pronunciar palavra alguma diante de Deus…”, Ec 5.2. Devemos meditar no que dizemos e examinar o que prometemos a Deus.
Desobediência à unção
A unção tem muito a ver com a nossa posição e cobertura em Cristo, “e a unção, que vós recebestes dele, fica em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas como a sua unção vos ensina todas as coisas, e é verdadeira, e não é mentira, como ela vos ensinou, assim nela permaneceis”, 1Jo2.27. Enquanto permanecermos na unção estamos habitando Nele e temos a sua cobertura, mas quando tomamos as nossas próprias decisões e operamos em nossa própria sabedoria e força, estamos em dificuldades.
- O pecado costumeiro é provocador
“Porque se pecamos voluntariamente, depois de termos recebido o conhecimento da verdade, já não resta mais sacrifício pelos pecados”, SI 10.26.
Todos nós pecamos mesmo depois de crentes, mas não devemos permanecer na prática do pecado. Se assim fizermos, Deus tirará a sua cobertura e proteção das nossas vidas. Ele é fiel e justo para perdoar todos os nossos pecados, mas não para que continuemos praticando-os.
- Desobediência à vontade de Deus
Se Deus falar contigo pelas Escrituras ou de outra maneira, obedeça-lhe. Davi ficou em casa quando deveria estar com seus homens na linha de batalha. Subiu ao alpendre, talvez para meditar ou compor um novo salmo, mas fora da vontade de Deus. Sabemos dos resultados trágicos. Por isso está escrito aos Efésios 5.17: “Pelo que não sejais insensatos, mas entendeis qual seja a vontade do Senhor”. Lembremos de Jonas, e de outros que desobedeceram à vontade de Deus.
- Ignorando a ordem divina
O Senhor é um Deus ordeiro e não permite que haja mudança no seu sistema e ordem metódica. Por exemplo, quando a mulher começa a mandar no marido, fica descoberta. Quando o marido simplesmente tolera a esposa em vez de amá-la, perde a cobertura. Quando a igreja maltrata o pastor e o ministério, ou quando o pastor pisa e machuca as ovelhas todos perdem a cobertura.
Mas agora, como é que nós restauramos a cobertura e o lugar de segurança? Há cinco coisas a fazer e a aprender:
Tomar ação imediata. Coloque as coisas no lugar imediatamente. Não deixe passar horas, dias, e muito menos semanas ou meses para pedir perdão e restaurar a comunhão e cobertura. O Inimigo em poucos segundos ou minutos pode lhe enganar. Então clame a Deus.
Reconheça que você perdeu a cobertura. Não tente se justificar. Confesse imediatamente. Confesse com o coração e lábios. “Andai na luz, como ele na luz está”. Aprenda a pedir perdão, e se humilhar, a se retratar. O Espírito Santo nos ajudará a saber em que ponto nos desviamos ou perdemos a cobertura.
Através da fé, reative a sua posição em Cristo. Não importa as acusações do Inimigo da falta de fé, de consideração, ou de fraqueza. Recupere a sua posição em Cristo através da graça de Deus e do poder do sangue de Cristo.
Coloque as coisas nos seus devidos lugares, não importando o preço a pagar. Às vezes temos que pisar em nosso orgulho e valentia, especialmente quando se trata de igreja ou de alguns irmãos. Quando andamos na luz com Ele na luz está, “temos comunhão uns com os outros”. Se ofendemos a nosso irmão, não basta que recebamos o perdão do Senhor, mas carecemos do perdão de nosso irmão também, senão voltamos à estaca zero. Mas quando nos consertamos com o nosso irmão, aprendemos a lição e fazemos melhor na próxima ocasião.
Aprenda a lição. Sempre há uma lição quando perdemos a cobertura. Não acontece de qualquer maneira. O louco não é a pessoa que comete um equívoco, mas sim aquele que continua a errar, errar e errar mais. Quem permanece no erro e na falta de cobertura sai fora do curso e ritmo da verdadeira vida em Cristo.
Meu irmão, minha irmã, “aquele que está em Cristo nova criatura é. As coisas velhas se passaram e eis que tudo se fez novo”. Aleluia!
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Fonte: Bernhard Johnson – Agosto /1992 ( Artigos Históricos – Mensageiro Da Paz /Vol.3).