“… e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente” (Rm 1.25)
Não são permitidos vácuos dentro do coração humano. Se Deus não ocupar, no coração do homem, o espaço que lhe é devido, outra coisa o ocupará. A cultura contemporânea rejeitou o Deus bíblico e colocou em seu lugar uma quantidade enorme de outros deuses. Isso porque o homem é um ser que adora. Se o homem não adora o Deus vivo e verdadeiro, adora a primeira coisa ou pessoa que se apresente em seu caminho. E o movimento ecológico moderno forneceu aos praticantes da Nova Era argumentos para adorar a criação no lugar do Criador. Não estamos falando aqui de um legítimo amor e respeito à natureza, mas de uma idolatria neopagã, que tem como álibi uma devoção ilegítima por tudo o que foi criado.
Há uma diferença muito grande entre um projeto de “desenvolvimento sustentável”, que busca progresso sem agressão ao meio ambiente, e um culto à “Mãe-Terra”, à deusa Gaia e aos espíritos chamados de “elementais”, como gnomos, duendes e elfos. Este “retorno à natureza”, na verdade, é um “virar as costas para Deus”, reimplantando idolatrias enterradas há muito.
A hipótese Gaia
Como todo movimento religioso destes últimos tempos, a ecorreligião também foi buscar respaldo na ciência por meio da hipótese Gaia, formulada na década de 60 pelo físico inglês James Lovelock e pela microbiologista americana Lynn Margulis. Os dois afirmam que as características da Terra teriam sido criadas pelos organismos vivos nela existentes, durante todo o seu processo de evolução. Para esses cientistas, são os seres vivos que moldam o meio ambiente às suas características e criam as condições necessárias para sua sobrevivência.
A hipótese Gaia sugere que o planeta se comporta como um organismo inteligente, capaz de enfrentar situações ameaçadoras e recriar a harmonia. Esse mecanismo regulador das condições foi chamado de hipótese Gaia, como era chamada a deusa Terra dos antigos gregos. Vem daí o nome da hipótese, que influencia fortemente o movimento ambientalista.1
Sobre isso, assim se expressou Fritjof Capra, um dos maiores representantes mundiais do movimento Nova Era: “A hipótese Gaia, por estar apoiada sobre a mitologia antiga, de uns tempos para cá vem desfrutando de um reavivamento, inspirado pelos ativistas do meio ambiente e pelos aficcionados da Nova Era. Ajusta-se bem à visão global da Nova Era a noção de que a Terra é uma entidade viva e consciente, dotada de mente, a qual, por sua vez, participa de alguma mente universal ou cósmica”.2
Ecorreligião e neopaganismo
“A Terra é nossa mãe, precisamos cuidar dela. Em seu solo sagrado andamos a cada passo…”3
O amor pela natureza excedeu seus limites no mundo contemporâneo, assumindo o perfil de religião. O Movimento Nova Era assumiu posturas extremas com relação ao meio ambiente que fomentaram um retrocesso ao paganismo e à religião animista, que diz que todas as coisas têm espírito e devem ser reverenciadas.
“A consciência ecológica da Nova Era deriva-se da percepção de uma unidade universal e da teia interligada da vida biológica. Compartilha de muitos alvos do movimento ambientalista como um todo, e tira proveito da renovada apreciação pela cultura dos povos pré-colombianos e sua apreciação da natureza […] Para muitos adeptos da Nova Era, a ecologia4 contém a verdade religiosa básica de onde emanam todas as religiões. Uma outra maneira de expressar isto é pela frase ‘Eu sou a Terra’ […]. Bob Hunter, cronista do Greenpeace Chronicles, chega a denominar a ecologia de religião da Nova Era”.5
Ainda segundo o mesmo jornal, alinhar-se com a natureza é “liberar a divindade que há dentro de nós, é ser elevado a um estado superior do ser. É, ao mesmo tempo, liberar o animal que está dentro de nós”.6
Culto à “Deusa Mãe” ou “Mãe-Terra”, crença nos chamados “elementais”, gnomos, duendes, elfos e outras criaturas mitológicas dos bosques e florestas, foi o resultado de toda essa reverência idólatra pela criação. Os espíritos protetores da Terra e do meio ambiente, caso pertencessem à cultura dos índios americanos ou à cultura européia, passariam a ser cultuados e aceitos como reais. A “Volta ao verde” tornou-se a “volta aos cultos e às crenças ancestrais”, quando animais e plantas passaram a receber adoração aberta.
O neopaganismo tem forte ligação com as antigas religiões de bruxaria dos antigos celtas, ligadas aos ciclos da natureza. A maior parte das religiões neopagãs tem poucos credos e não possui profetas. Sua base está firmada nas celebrações em certas estações do ano (ciclos do plantio e da colheita), nos costumes e experiências, e não na palavra escrita. Segundo Gordon Melton, do Instituto de Estudo das Religiões Americanas, na Califórnia, a grande maioria das pessoas que se consideram feiticeiros (as) “segue a adoração politeísta, voltada para a natureza, da Grande Deusa Mãe, cujos nomes incluem Diana, Ísis, Demeter e também Gaia”.7
Embora toda a retórica da Nova Era seja recheada de cunho científico, sua prática, porém, nada mais é do que puro culto pagão, no qual um Deus impessoal é identificado com a criação, e a criação é adorada como deusa. Nem toda a argumentação complexa formulada por tais ambientalistas pode livrá-los do fato de serem ecólatras.8
“Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder como a sua divindade, se entendem, e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis. Porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos. Pois mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura [ou a criação] do que o Criador” (Rm 1.20, 21, 22, 25).
Até mesmo Eddie Van Feu, autora do livro Wicca – rituais, grande defensora da bruxaria moderna, admite: “O que caracteriza a Wicca? O amor à Terra e à natureza e o respeito a tudo e todos acaba fazendo muita gente, como os ecologistas, por exemplo, ligar-se à Wicca sem o saber”.9
Em contrapartida, a bruxaria moderna se coloca como superior ao cristianismo neste aspecto. Diz a escritora: “Os wiccanos possuem uma espécie de consciência que os faz tratar o planeta como um ser vivo, com respeito e dignidade, protegendo e amando todos os seus filhos – homens, animais, minerais, vegetais – como irmãos. A filosofia cristã, no entanto, prega que o homem pode subjugar todos os outros seres e elementos, por ter sido criado superior”.10
Diante de tudo isto, só podemos concluir que certos aspectos do movimento pela ecologia foram “contaminados” por elementos religiosos ligados ao ocultismo. É extremamente difícil, como sempre foi, separar o joio do trigo. Apoiar uma causa ecológica qualquer pode significar envolvimento com crenças completamente pagãs e esotéricas. A causa, como vemos, tem até mesmo sido utilizada pelos adeptos da Nova Era com o intuito de atacar o cristianismo. Mas ficar calado, omitir-se de forma total, pode significar concordância.
Amando as fábulas
“E desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas” (2Tm 4.4)
Uma famosa apresentadora de TV revelou à imprensa ter visto um duende aos pés de sua cama. E afirmou que, desde então, sua vida mudou. Adesivos com a declaração “Eu creio em duendes” estão espalhados nos vidros dos carros. Maçãs e outros frutos têm sido oferecidos a pequenas imagens destes seres. É quase inacreditável que o imaginário fabuloso pagão e pré-cristão pudesse se tornar em uma crença de pessoas cultas em pleno século XXI. Isto só pode significar que algo muito errado está acontecendo.
Observe como esses seres fictícios são cridos e descritos com um rigor quase científico: “Os seres elementais são os espíritos da natureza. Eles surgem espontaneamente dos quatro elementos básicos — terra, água, ar e fogo —, ganham forma física (de acordo com a região geográfica e a cultura a que pertencem) e vivem de 300 a 1000 anos. Após esse período, eles se desintegram e voltam ao seu elemento original. Há referências à existência de espíritos elementais em praticamente todas as civilizações. Na Índia, por exemplo, eles são chamados de gandarvas e se apresentam como seres intermediários entre os anjos (devas) e os homens. No Brasil, os espíritos da natureza também ganharam diversas formas: a Iara, por exemplo, é o elemental da água, e o caapora é o espírito guardião das matas. Mas foram os gnomos e os duendes, com aparência de camponês europeu, que se tornaram mais populares no mundo todo. Talvez por conta das obras de um alquimista suíço: Paracelsus (1493-1541), que os descreveu em sua obra Filosofia oculta”.11
Os estudiosos deste assunto dividem os elementais nos seguintes grupos.12
Gnomos (elementais da terra – minerais): são seres de pequena estatura e, por sua íntima ligação com a Terra, desenvolveram grandes habilidades para lidar com ela. Trabalham nas minas escavando minerais valiosos com os quais constroem suas ferramentas. São de vários tamanhos – muitos deles bem menores que os seres humanos, ainda que alguns tenham o poder de alterar à vontade sua estatura.
Duendes (elementais da terra – vegetais): são alegres, amam festas, músicas e danças. São ligados à Terra e, geralmente, conseguem controlar os imprevistos da natureza. Vivem vários anos e chegam a constituir famílias. Adoram comer e fazer brincadeiras, tais como: esconder objetos. Alguns possuem orelhas grandes e pontudas e grande quantidade de pêlos no corpo. Quando confiam nos homens, se tornam fiéis e grandes protetores.
Ondinas (elementais da água): esta classificação aplica-se a todos os seres associados ao elemento água e à sua força. Estão presentes nos lugares onde há uma fonte natural de água. A atividade das ondinas se manifesta em todas as águas do planeta, quer provenham de chuvas, rios, mares, oceanos, etc.
Salamandras (elementais do fogo): nenhum fogo é aceso sem o seu auxílio. Sua atividade é intensa no subsolo. São responsáveis pela iluminação, calor, explosões e funcionamento dos vulcões. Foram os movimentos “serpenteantes” desses elementais no interior das labaredas de fogo, semelhantes aos movimentos sinuosos das caudas dos lagartos e lagartixas, que lhes valeram esse curioso nome.
Fadas (elementais das flores): foram criadas pelos deuses da mesma forma que os seres humanos e os outros animais. São uma forma de vida paralela ao nosso mundo visível – em um plano astral. Apesar disso, possuem a habilidade e a capacidade de transcender esse plano e rapidamente viajar através dele. De certa maneira, estão associadas aos elementais, embora não sejam uma forma de energia pura. São seres pensantes que têm sentimentos e podem realizar encantos ou mesmo agir junto com bruxas e feiticeiras em diversas atividades mágicas ou ritualísticas.
Silfos (elementais do ar): são os que mais se aproximam da concepção que geralmente fazemos dos anjos e das fadas e, freqüentemente, trabalham lado a lado com esses mesmos anjos. Eles correspondem à força criadora do ar. As mais suaves brisas e os mais violentos furacões são resultados de seu trabalho.
Quem é como Deus?
“No princípio criou Deus os céus e a terra” (Gn 1.1).
Deus não os tornou céus e terra, mas os criou. A ausência desta simples distinção, localizada no âmago da espiritualidade “novaerense”, faz a diferença entre os verdadeiros adoradores e os idólatras. Toda espiritualidade que não é voltada para Deus por meio de Jesus Cristo (Jo 14.6) não passa de um canal para a atuação de espíritos malignos. As Escrituras não deixam dúvidas: o Criador e a criação não são manifestações diferentes de um mesmo ser. A criação derivou do Criador, em um ato livre e soberano.
Quando a Nova Era se refere a “deus”, com certeza não se trata do Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Seu “deus” deriva do panteísmo hindu, portanto sua adoração é pura manifestação idólatra, mesmo quando camuflada de devoção à natureza. O panteísmo é uma espécie de monismo, que identifica a mente e a matéria, e que pensa que a unidade é divina. E, assim, o finito e o infinito tornam-se uma e a mesma coisa, embora isso ocorra por meio de diferentes expressões de uma mesma coisa. O universo passa a ser auto-existente, sem começo, embora sujeito a modificações. De acordo com o panteísmo, todos os seres e toda a existência de Deus devem ser concebidos como um todo. Essa noção é uma mentira na qual se agarram os ecólatras da Nova Era, que nada mais fizeram a não ser alterar o foco da idolatria.
É importante lembrar aos adoradores da terra e da natureza que a Terra foi amaldiçoada por Deus, assumindo característica de decadência e transitoriedade (Gn 3.17,18; Rm 8.20-22). Isto não significa que devemos prejudicá-la, todavia, divinizá-la é pura tolice diante desses fatos.
Finalmente, na Bíblia há um contraste agudo entre o caráter eterno de Deus e o caráter decadente e temporário da criação. Esse movimento fez uma péssima escolha. Isso sem citar a mera maquiagem para o paganismo, a bruxaria e a idolatria que o movimento ecológico tem apresentado. Deus, o Criador, apesar do mal que atingiu suas obras, paira eterno e invencível acima de tudo isto: “Desde a antiguidade fundaste a terra, e os céus são obra das tuas mãos. Eles perecerão, mas tu permanecerás; todos eles se envelhecerão como um vestido; como roupa os mudarás, e ficarão mudados. Porém tu és o mesmo, e os teus anos nunca terão fim” (Sl 102.25-27).
Índia e caboclo
Seres elementais, segundo o folclore brasileiro
Iara: é também chamada de Uiara ou Mãe-D’água. Está nitidamente ligada aos elementais da água, como ninfas e sereias. Possui origem amazônica, indígena. É apresentada como uma linda mulher, encarregada de proteger rios e lagos, cachoeiras e outros cursos de água.
Caipora: originalmente, é um dos vários elementais protetores da fauna. Ainda conhecido na região amazônica, o caipora é representado ora como um caboclo de pouca estatura, ora como um ser híbrido, meio homem, meio macaco, cavalgando porcos-do-mato e detendo os viajantes em busca de fumo para o cachimbo. Segundo o folclore, como protetor da natureza, evita que sejam derrubadas mais árvores do que o necessário.
• Adaptado do jornal O amigo do filatelista. Ano 10, nº 37.
Invocação aos gnomos
ALERTA! Quem pensa que o mundo “ingênuo” das fábulas não tem nada a ver com religião engana-se completamente. Observe a acentuada devoção em uma oração-modelo formulada para se invocar gnomos:
Eu vos saúdo, gnomos,
Que constituís a representação
do elemento Terra,
Vós que constituís a base e fortaleza da Terra,
Ajudai-me a transformar,
A construir todas as estruturas
materiais,
Assim como uma raiz fortifica a
árvore frondosa.
Gnomos,
Possuidores dos segredos ocultos,
Fazei-me perfeito e nobre, digno do vosso auxílio.
Mestres da Terra,
Eu vos saúdo fraternalmente.
Amém
Notas:
1 Almanaque Abril.
2 Alterando o ponto: Ciência, Sociedade e Cultura Emergente, Fritjof Capra, p. 292.
3 Cântico da Roda de Cura em Honra à Mãe Terra.
4 O termo ecologia provém da raiz grega oikos, que significa “casa”, e da raiz logos, que significa “a ciência” ou “o estudo de”. É um ramo da biologia que estuda as relações dos organismos e grupos de organismos com seu meio, o qual permite conhecer a estrutura da natureza e explica seu funcionamento, assim como as diferentes adaptações dos seres vivos e os fatores que influem: solo, clima, presença de outras espécies.
5 Compreendendo a Nova Era, Russel Chandler, p. 245-6.
6 Ibid., p. 245-7.
7 Enciclopédia dos Cultos Americanos, 1986, p. 211.
8 Ecólatras: são os adoradores da ecologia.
9P.13.
10 Ibid.
11 www.guruweb.com.br
12 www.belleangelencantados.hpg.ig.com.br/elementais/indexelementais.htm