Quando avaliamos a igreja de Deus atual, pois muito embora Deus não mude mas nós mudamos, algumas evidências nos mostram que certas igrejas continuam agindo como algumas do passado que deixaram de existir. Presenciei um noticiário da tv mostrando um religioso diante de um templo em ruínas, dizia que aquilo aconteceu pelo descaso das autoridades, pois aquele templo deixou de ser restaurado e por isto as paredes se destruíram , pois as intempéries da natureza junto com o mato tornaram aquele lugar morado de insetos e pequenos roedores.
O apelo do religioso foi comovente e mostrava o quanto nós seres humanos estamos ligados a matéria independente do propósito que direciona a vida coletiva, pois as instituições existem não por causa dos prédios mais sim em função das pessoas.
Questiono o porque de uma igreja fechar e não acho outro motivo que não seja a inexistência de seres humanos inseridos em seu contexto, sendo assim o fator humano é aquele que manterá as suas administrações financeiras, patrimoniais e humanas. Homens que irmanados por um mesmo objetivo estarão zelando por aquilo que entendem ser importante para a sua coletividade, igreja precisa ser do coletivo, instituição precisa interferir na história, na trajetória do ser que vive em sociedade.
A partir deste princípio entendemos que igreja é lugar que tem forma, aparência, exterior que retrata o coletivo, igreja precisa ser o retrato do ser que é humano que interage no coletivo, sendo assim não é lugar de extraterrenos, alienígenas ou alienados sociais, ela é formada por pessoas que ativamente influenciam os padrões morais e éticos pois elas praticam o normal entre os seres humanos: relacionamento.
Não é bom que o homem fique só, Deus nos fez seres incompletos individualmente, tanto para constituir família como para constituir tribos e interagir no coletivo. A igreja é formada por pessoas que encontramos na rua no dia a dia, pessoas que se vestem e aparentam ser o contexto cultural de sua sociedade, por isto igreja não tem o propósito de ditar a moda, pois a moda é conseqüência daquilo que a cultura aceita e em sua percepção do coletivo, igreja dita padrões morais que possuem referencial naquilo que Deus aprova ou não, daí entendermos que a moda e a igreja nunca estarão relacionadas, pois o mundo não possui padrões divinos em sua moral e sendo assim a única moda que a igreja pode ditar está limitada as sua cercas, correndo o risco de alienar-se socialmente, e com isto deixa de interferir na área intelectiva e espiritual de sua sociedade, pois cria uma sociedade dentro de outra sociedade, onde não existe convivência, foi assim no início com o grupo dos zelotes que na tentativa de lutar contra a cultura gentílica se isolaram em Massada, criando um estado paralelo não suportado por César. Moda é reflexo da maioria e igreja nunca será maioria por isto fomos chamados para fora do mundo, este é o sentido de igreja: comunidade dos chamados para fora.
Uma igreja deve ser além do retrato do homem que vive o social, também o retrato do homem interior que sofre no social, portanto igreja não é lugar de poderosos mas sim de fracos e derrotados, pessoas que não maquiam o seu estado de miséria existencial, pois esta é a natureza humana pecadora, então igreja é local dos problemáticos que entenderam a sua natureza errante e por isto estão buscando respostas fora da sua dimensão, pois foram tirados de uma instituição falida e errante.
Igreja possui um fertilizante de crescimento que não está atrelado a oração, louvor, doutrina ou tradição precisamente, pois existem instituições que perduram na história onde existe os fatores citados e mesmo assim não possuem o atestado de divina, pois esta igreja precisa ter a semente que é oriunda de uma doutrina correta proveniente de uma teologia sadia, pois uma teologia enferma pode encontrar uma comunidade de seres serviçais ao extremo, contudo em sua sinceridade direcionam a gratidão ao que não é verdadeiro, pode-se sinceramente servir ao mal crendo ser o bem, aja vista os grupos extremistas que no percurso histórico mataram em nome de Deus. O mesmo Deus da lei é o da graça, o Deus que mandava matar criancinhas é o mesmo que diz na graça que não haverá perdão ao que fizer tropeçar uma criancinha, o que mudou foi Deus? Não ele não muda o que mudou foram as criancinhas, o que mudou foram os homens que agora possuem a possibilidade da reconciliação que a lei não admitia.
Portanto igreja é formada por uma comunidade sarada em todos os sentidos, pois foram curados do mal da humanidade que se chama pecado, daí terem em si a paz que o mundo não pode ter ,pois já não possuem o peso do pecado. Igreja é formada pelos que são salvos e não pelos que estão salvos, pois não é um estado transitório e corruptível , o perdão foi completo e irrecusável, não dependeu da igreja ser tirada do mundo pois não precisaram de provas para receber a fé, foram iluminados e redirecionados por ação divina, daí entender que está inserida em uma embarcação que segundo o dilúvio , teve as portas lacradas por Deus, onde as águas não entraram e só puderam sair quando pisaram em terra segura, preparada por aquele que os guardou no dilúvio.
Algumas igrejas atuais asseveram-se de possuir poder e ser poderosas e nesta tentativa conseguem diminuir os diferentes, que segundo eles estão separados da verdadeira igreja. Precisamos avaliar a história sem deificarmos a instituição e lembrar que todas as seitas saíram um dia de uma principal, foi assim com a igreja primitiva, nós éramos chamados a seita do caminho, pois saímos do judaísmo, a igreja primitiva tornou-se um grupo que posteriormente ultrapassou o judaísmo e mesmo assim para o judeus continuamos a ser chamados de seita, pois eles não aceitam a nossa teologia.
Os anos passaram e as seitas mostraram a sua verdadeira cara quando negaram a pedra que os edificadores de Jerusalém negaram, aceitaram a outra pedra que posteriormente tornou-se o patrono da sua igreja, a igreja que não tem poder possui uma autoridade que não é dada por Deus, mas sim por homens corruptíveis. A igreja que tem poder possui um patrono que não deu a sua glória para ninguém, pois ele ressuscitou e reina acima de todos os principados e potestades, esta igreja possui um Senhor que ordenou que os seus discípulos pregassem e conduzisse a fé dos discipulados ao Senhorio não de uma instituição ou de homens, mas ao serviço do Senhor Jesus e este serviço seria caracterizado não por ser uma comunidade que levantou templos ou fincou raízes, mais sim por uma comunidade que caminha vigilante, pois aqui não é o seu lugar de descanso, o seu Senhor prometeu voltar para levá-los ao local que ele está, por isto ela vive na terra, mas com uma pátria que é celestial.
Questiono as igrejas que dizem ter poder, não por serem diferentes em sua liturgia ou doutrina, mas sim pelo Deus que recebe ordens segundo a palavra do religioso que dirige o culto, onde vemos pessoas que não encontramos nas ruas, pois a sua santidade coloca-os em cavernas sociais e existenciais que apenas encontram liberdade de expressão, na coletividade dos iguais, atrelados a intolerância aos diferentes que padecerão, segundo eles, no mármore do inferno; uma teologia do ódio, que substitui a soberania divina pela soberania humana, uma teologia que torna o servo de Deus em Senhor de Deus, onde a divindade recebe ordens segundo os desejos do profeta.
As igrejas do apocalipse foram destruídas e um dia tiveram o nome de igreja de Deus, a ponto de estarem descritas nas escrituras, contudo não ficou pedra sobre pedra, temo por igrejas que alegam um poder que exala um cheiro de triunfalismo, que torna os seus adeptos seres levados por cabrestos direcionados pela vontade humana corruptível; reportemos a igreja de Corinto que se perdeu nos carismas, onde a fachada de néon misturava-se ao fétido odor do pecado,que encoberto em uma teologia que destronou Deus de sua posição e entronizou o deus ventre, que santifica o pecado àqueles que dominados pela soberba e orgulho, caíram nas searas de lúcifer, pois ousou roubar a glória de Deus.
A igreja que tem poder sabe lidar com a autoridade sem libertinagem, pois o poder confunde o coração humano segundo o prisma diabólico de se tornar poderoso como Deus.
Gostaria de avaliar uma igreja poderosa segundo a chama que veio de Jerusalém, que ultrapassou os séculos enfrentando imperadores corruptos e malignos, escondendo-se em cavernas e morrendo pelo direito de ler os pergaminhos, penso nos mártires que tiveram a sua vida ceifada pelo fato de não adorarem a César e sendo jogados às feras e aos gladiadores glorificavam a Deus com o seu sangue , ou mais recente quando imputados como hereges eram jogados na fogueira, sendo o cheiro de carne queimada como aroma agradável, pois pelo testemunho destes a fé ultrapassou a idade das trevas, por negar a fé da igreja comandada por césar, morrendo se fosse necessário pela fé em Jesus. O fogo que veio do pentecostes, em Jerusalém, tornou a igreja poderosa para dar testemunho até os confins da terra sobre o fato de ser Jesus, o cristo, o messias que havia de vir; a igreja que tem poder lutou o bom combate sem depender do estado ou do homem, para fazer missões e alcançar os povos distantes, pois ousou viver e morrer por fé, crendo que a oração do justo é impactante no céu, e da mesma forma que após o dilúvio, Noé ofereceu sacrifício que foi agradável a Deus, esta oferece com a sua existência o sacrifício de consagração, disponível ao serviço do Senhor.
Onde há fogo ha algo sendo consumido, por isto a igreja que tem poder é queimada constantemente pelo poder do Espírito, do pecado que quer manchar a nossa carne com sangue e violência. Precisamos avaliar o fogo do altar pela vida daquele que está no altar, precisamos verificar as obras não por aquilo que falamos de nós mesmos, mas segundo aquilo que as nossas obras estão refletindo em nossa sociedade e conseqüente no mundo espiritual.
A igreja que tem poder suporta com mansidão a dor do silêncio de Deus e serve ao Senhor indiferente aos resultados alcançados materialmente, pois segundo Paulo aprendemos a nos contentar com o muito e com o pouco, aprendemos a ter e a não ter, aprendemos a nos alegrar e nos entristecer, aprendemos na riqueza e na pobreza, por isto podemos todas as coisas naquele que nos fortalece. A igreja que tem poder permanece fiel quando todas as coisas colaboram para blasfemar da soberania de Deus em nossas vidas, quando a nossa vontade não é a de Deus, quando o nosso sonho não se realiza, quando estamos diante do não, quando é necessário começar tudo de novo.
por Carlos Alberto Siqueira