Diante de tudo que já vimos é justo perguntar: a Bíblia é a Palavra de Deus ou de homens? Deve ser encarada como fruto de qualquer obra literária religiosa ou é um livro inspirado por Deus, trazendo uma mensagem infalível e pessoal aos seres humanos?
A pessoa que estudar a Bíblia destituída de preconceitos céticos constatará facilmente que ela [a Bíblia] faz reivindicações elevadíssimas para ser um mero livro de autoria puramente humana. Ela declara de si mesma ser a única revelação de Deus ao homem. Coloca-se como a fonte para as respostas cruciais da vida concernente à ética, moral, espiritualidade etc…
Podemos dizer então que a Bíblia é um livro sui generis, incomparável não só em sua estrutura, mas principalmente em sua mensagem. A Bíblia foi inspirada por Deus!
Sua Inspiração:
O que é inspiração? O Dicionário Aurélio do Século XXI nos dá várias definições desta palavra, as quais selecionamos algumas pertinentes ao nosso texto:
[Do lat. tard. inspiratione.]
S. f.
1. Ação ou efeito de inspirar(-se) ou de ser inspirado.
2. Fisiol. Ato de introduzir o ar nos pulmões, de inspirar (1 e 6).
3. Qualquer estímulo ao pensamento ou à atividade criadora.
4. P. ext. O resultado de uma atividade inspiradora.
5. Pessoa ou coisa que inspira; inspirador.
6. V. estro1 (1).
7. Teol. Moção divina que, segundo a crença cristã, teria dirigido os autores dos livros da Bíblia.
Podemos achar em algumas dessas definições um exemplo bíblico que a enquadram.
(1) A primeira de todas elas nos falam da ação que é gerada em si. Quantas pessoas não poderiam economizar seu dinheiro com sessões psiquiátricas, se tão somente olham-se para si e vissem como a imagem e semelhança de Deus! Certamente que tal noção como a coroa da criação levaria tais pessoas a se inspirarem para a vida.
(2) A segunda definição nos leva de volta para a criação do homem onde Deus com seu hálito insuflou para dentro do homem o seu fôlego de vida: “E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou-lhe nas narinas o fôlego da vida; e o homem tornou-se alma vivente.” (Gênesis 2.7)
(3) Aqui se enquadram todos os grandes gênios artísticos. Em literatura quando dizemos que tal obra foi inspirada, estamos admitindo que a pessoa que a compôs foi auxiliado por uma força criadora além dela. Dizemos então que tal pessoa foi inspirada em sua obra ou que tal obra nos inspira.
(4,5) Estas nos lembram as passagens bíblicas que nos alentam e nos inspiram quando estamos fracos ou cansados. A Bíblia inteira é capaz de inspirar as pessoas não somente na parte espiritual, mas até mesmo na artística como foi o caso das obras de Michelangelo um dos maiores gênios do humanismo renascentista que inspirado em passagens da Bíblia deixou uma coleção de pinturas nas paredes da Capela Sistina no Vaticano como um tesouro para a humanidade. Entre suas obras está a criação do céu, a criação de Eva, o dilúvio, o rei Davi, o profeta Ezequiel e o Juízo Final. No Brasil temos o gênio barroco Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho cuja obra principal foram suas famosas esculturas em pedra-sabão dos doze profetas.
Apesar de várias noções de inspiração poder ser partilhada por crentes e não crentes, é a última que diz respeito exclusivo às escrituras. Muitos consideram a Bíblia inspirada com algumas das definições descritas acima. Apesar de muitos tomarem para si essa concepção em relação à Bíblia Sagrada, é isso de fato que significa inspiração bíblica? A Bíblia é um livro diferente dos outros quanto a inspiração? Ou podemos considerá-lo em pé de igualdade com outras obras de inspiração humana?
Pedro responde essa pergunta ao dizer “que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação. Porque a profecia nunca foi produzida por vontade dos homens, mas os homens da parte de Deus falaram movidos pelo Espírito Santo.” (II Pedro 1.20-21)
Então no campo teológico, por inspiração, entendemos que a Bíblia foi dada diretamente por Deus. Uma passagem crucial para explicar a inspiração se encontra em II Timóteo 3.16 onde diz que “Toda Escritura é divinamente inspirada…”. A palavra para inspiração neste trecho é Theopneustos que tem uma conotação muito mais profunda do que mera inspiração. Na verdade o texto literalmente significa que o graphe foi “soprado por Deus”. As Escrituras receberam o sopro divino. Quanto a isso diz Champlin:
“A expressão simbólica talvez seja a de Deus a soprar sobre as Escrituras (Estando elas personificadas como um ser) para fazê-las viver, tal como fez com o homem, o qual se ornou alma vivente. Ou então as Escrituras podem ser reputadas aqui como o ‘sopro de Deus’, que infunde vida a tudo quanto atinge.” (N.T Interpretado…vol.5 pág. 396)
Quando os profetas escreviam suas profecias não era meramente um conto mítico, uma lenda, ou então uma história creditada às qualidades intelectuais do profeta, mas era verdadeiramente a Palavra inspirada pelo próprio Deus que estava sendo transportada de seus pensamentos para o pergaminho.
Os autores neotestamentario tinham essa forte convicção, quando mencionavam o Antigo Testamento.
A certeza de que o Antigo Testamento era em todos os sentidos “A Palavra Inspirada” de Deus permeia todo o Novo Testamento.
Certamente Jesus não deixou nada escrito para nós, contudo seus ensinamentos foram transmitidos através de seus apóstolos e discípulos. Deste modo podemos saber qual o conceito que Jesus nutria quando se tratava dos escritos do Antigo Testamento. Jesus não só confirmou todo o Antigo Testamento como inspirado como chegou a distinguir o que era e o que não era inspirado. É que para o judeu ortodoxo ou não a Palavra de Deus não é somente o que está escrito.
Os livros do Antigo Testamento são realmente vistos como a Bíblia dos judeus, mas a ortodoxia judaica está definida por uma coleção de tradições rabínicas antigas, conhecida como o Talmude. Em efeito, as tradições do Talmude levam uma autoridade igual a da Bíblia. O Talmude, segundo a terminologia adotada na edição de Basiléia (1578-1581), compreende a Mischná (conjunto de toda a lei oral admitida) e o Guemará (“aprendizado” ou “ensino” em aramaico, conjunto de comentários feitos por doutores da lei sobre a Mischná e outras coletâneas de leis orais).
Os judeus da época de Jesus também colocaram a sua Mischná em pé de igualdade com a Bíblia. Jesus então passa a confrontá-los com a verdadeira Palavra de Deus.
“Ele, porém, respondendo, disse-lhes: E vós, por que transgredis o mandamento de Deus por causa da vossa tradição?” Mt. 15:3
“Vós deixais o mandamento de Deus, e vos apegais à tradição dos homens.” Mc. 7:8
“Disse-lhes ainda: Bem sabeis rejeitar o mandamento de Deus, para guardardes a vossa tradição.” Mc 7:9
Jesus também reivindicava ser o cumprimento do Antigo Testamento: “Não penseis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim destruir, mas cumprir. Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, de modo nenhum passará da lei um só i ou um só til, até que tudo seja cumprido.” (Mt 5.17-18; Lc 24.44)
Jesus apelava constantemente para a autoridade do Antigo Testamento: “Mas Jesus lhe respondeu: Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus.” (Mt 4.4)
Suas citações quanto ao Antigo Testamento também são abundantes: “Porquanto, assim como nos dias anteriores ao dilúvio, comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca” (Mt 24.38)
Na época existiam vários livros apócrifos que em alguns lugares chegaram a competir com os livros sagrados.
Jesus e os apóstolos então usavam o termo “escrituras” para distinguir os livros divinamente inspirados do Antigo Testamento: “…e a Escritura não pode ser anulada…” (João 10.35) “Pois com grande poder refutava publicamente os judeus, demonstrando pelas escrituras que Jesus era o Cristo.” (Atos 18.28) “Todavia, se estais cumprindo a lei real segundo a escritura: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo, fazeis bem.” (Tiago 2.8)
Paulo usou o termo “sagradas letras” ao se referir ao Antigo Testamento:
“e que desde a infância sabes as sagradas letras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela que há em Cristo Jesus.” (II Timóteo 3.15)
Não há dúvida que a autoridade do Antigo Testamento como Palavra inspirada de Deus foi ratificada por Jesus e seus apóstolos.
Entretanto, é sempre bom lembrar que a inspiração diz respeito somente aos escritos e não aos escritores, diz respeito à mensagem não ao conteúdo, a inspiração se restringe aos originais e não às cópias.
É interessante sabermos aqui que há uma significativa diferença entre inspiração, revelação e iluminação.
A inspiração tem a ver com a recepção e o registro da verdade, a revelação tem a ver com a transmissão e a iluminação é a compreensão desta mesma mensagem. Toda a Bíblia foi inspirada por Deus, mas nem tudo nela é produto de revelação. A revelação implica em Deus mostrar fatos desconhecidos ao escritor sacro enquanto que na inspiração isto não se faz necessário. Por exemplo: Moisés recebeu os primeiros capítulos de Gênesis por revelação enquanto outros não foi necessário produto de revelação. Lucas foi inspirado a reunir vários documentos cristãos precedentes para confeccionar seus dois livros, o Evangelho e o livro de Atos (Lucas 1.1-4). Paulo que não andou com Cristo e nem recebeu instrução apostólica deixou-nos um tesouro teológico de inestimável grandeza em suas epistolas. Enquanto Lucas foi inspirado a escrever, a Paulo foi revelado o que escrever. Em 1 Pe 1.10 -12 está um ótimo exemplo do que significa a iluminação: “Desta salvação inquiriram e indagaram diligentemente os profetas que profetizaram da graça que vos era destinada, indagando qual o tempo ou o qual a ocasião que o Espírito de Cristo, que estava neles, indicava, ao dar de antemão testemunho sobre os sofrimentos que a Cristo haviam de vir, e sobre as glórias que os seguiriam. Aos quais foi revelado que não para si mesmos, mas para vós, eles ministravam estas coisas que agora vos foram anunciadas por aqueles que, pelo Espírito Santo enviado do céu, vos pregaram o evangelho. Coisas para as quais até os anjos desejam atentar”
Neste caso os profetas recebiam a revelação e a inspiração mas muitas delas não era acompanhada de iluminação. Existe graus na inspiração, mas não na inspiração.
Várias teorias tem surgido para explicar a inspiração das Escrituras que se apresentam dentro de três grandes grupos a saber:
1. Ortodoxia que sustenta ser a Bíblia a Palavra de Deus;
2. Liberalismo que sustenta que a Bíblia contem a Palavra de Deus e a;
3. Neo-ortodoxia que afirma que a Bíblia torna-se a Palavra de Deus.
Dentro destes grupos temos o que chamamos de:
a) Teoria da inspiração natural: essa teoria considera a Bíblia como produto da mente humana. Para eles os escritores foram homens dotados de uma inteligência especial tais como Sócrates, Milton, Rui Barbosa etc…
b) Teoria da inspiração divina comum: essa teoria ensina que a inspiração da Bíblia é a mesma que vem a nós quando oramos, pregamos, ou compomos um hino.
c) Teoria da inspiração parcial: essa teoria ensina que somente em algumas partes a Bíblia é inspirada.
d) Teoria do Ditado Verbal: essa teoria ensina que somente as palavras foram inspiradas. Ela exclui qualquer possibilidade de Deus ter usado os dotes literários e o estilo de cada escritor. O escritor seria uma espécie de máquina de escrever.
e) Teoria da inspiração das idéias: essa teoria sustenta que Deus inspirou apenas as idéias e não as palavras.
Não obstante, a única teoria que faz jus às reivindicações Bíblicas é a da inspiração Plenária ou Verbal. Ela ensina que apesar de Deus usar os escritores sacros em suas próprias línguas e estilos eles foram inspirados pelo Espírito Santo. Toda a Bíblia foi inspirada!
Ela proclama ser a Palavra de Deus e essa reivindicação interior é por demais contundente. Esse fio de pensamento encontra-se em todo o livro. Mas ela não só reivindica ser inspirada como dá provas internas e externas dessa reivindicação como, por exemplo, a frase “Assim diz o Senhor” que aparece mais de 2.600 dentro do Livro. Ele corta todo o Velho Testamento tal como um selo de autenticidade divina, também tem a Voz do Espírito Santo constantemente atestando no interior do ser humano esta verdade, a perfeita unidade da Bíblia em sua mensagem constitui um dos pontos mais importantes desta prova juntamente com sua milagrosa exatidão profética, e por fim sua poderosa capacidade de transformação. Com relação a este último ponto, ressaltamos que a Bíblia é o único livro que já deu provas de transformação social, moral, e espiritual no mundo. Céticos têm se dobrado ao seu poder convencedor, pagãos têm sido transformados em verdadeiros adoradores do Deus vivo e pessoas das mais diversas partes do mundo e de diferentes camadas sociais têm sido transformadas por sua mensagem.
Qual a importância da correta doutrina sobre a inspiração?
A correta doutrina sobre inspiração plena pressupõe inerrância. Por inerrância entendemos que a Bíblia não erra. Sendo que tal livro foi inspirado por Deus e sabendo de antemão que Deus não erra, por conseguinte a Bíblia não contêm erros. Erro neste contexto denota algo que não corresponde à realidade. Sem essa verdade outra importante doutrina decorrente dessa cairia por terra, isto é, a doutrina da infalibilidade.
Estes três pontos estão tão intrinsecamente ligados que se um deles cair, os demais desmoronam juntos.
É importante frisar, entretanto, que por inerrância não queremos dizer que não haja dificuldades na Bíblia. A infalibilidade como já dissemos não se estende às cópias. Gleason Archer nos dá uma lista de alguns destes erros de transmissão que são a causa de julgamentos preconcebidos. Restringiremos aqui a reproduzir parcialmente esta lista:
1. Haplografia – é escrever uma vez o que deveria ter escrito duas vezes.
2. Ditografia – Este erro é o oposto do primeiro, consiste em escrever duas vezes o que se deveria escrever uma única vez;
3. Metátese – Mudança da ordem das palavras ou letras;
4. Fusão – Consiste no erro de fundir duas palavras numa só, dando sentido diferente ao contexto;
5. Fissão – É o oposto da fusão;
6. Homofonia – palavras com sentidos diferentes tenham o mesmo som;
7. Leitura errônea de letras parecidas;
8. Omissão acidental de palavras.
Para resolver estas dificuldades textuais os críticos elaboraram algumas regras que servem para nortear o exame da Bíblia a fim de que se obtenha uma correta compreensão exegética. Eis algumas delas:
1. Em geral prefere o texto mais antigo ao mais recente;
2. O texto mais difícil é preferível ao mais fácil;
3. Deve-se preferir o texto mais curto ao mais longo;
4. O texto que tiver uma aceitação mais ampla ao que for mais restrito a certa região;
5. O texto que não reflete nenhum desvio doutrinário por parte do copista deve ser preferido à redação que deixa claro estar contaminada por espírito partidário;
Contudo é bom saber que muitas dificuldades partem não de algum erro textual, mas de erros de interpretação do próprio crítico. Geisler e Tomas Hower nos mostram alguns destes erros:
1. Assumir que o que não foi explicado seja inexplicável – Não devemos supor que o que até agora não foi explicado seja inexplicável;
2. Presumir que a Bíblia é culpada, até prova em contrário;
3. Confundir nossas falíveis interpretações com a infalível Palavra de Deus;
4. Falhar na compreensão do contexto da passagem;
5. Deixar de interpretar passagens difíceis à luz das que são claras;
6. Basear um ensino numa passagem obscura;
7. Esquecer-se de que a Bíblia é um livro humano, com características humanas;
8. Assumir que diferentes narrações sejam falsas e também;
9. Ignorar que Deus possa usar meios naturais para realizar milagres.
A doutrina da inerrância é tão importante que implica em ser uma das possíveis provas materiais da existência de Deus.
Está claro que a bíblia foi escrita por humanos inspirados e não inspirados por Deus. O propósito inicial de Deus era disponibilizar um manual sobre a vida na Terra. Ao invés disso humanos ambiciosos alteraram os textos originais em benefício próprio, propondo por exemplo o dízimo
aé ahhh você tem “muita razão” … rapaz : a Bíblia tem apoio contundente de várias fontes científicas diversas inclusive arqueológicas, o que você fala é um achomêtro gnosticista.
meus pêsames para você.