O objetivo do presente estudo é mostrar aos irmãos do Adventismo que sua igreja depende de alguns aspectos doutrinários que não são apoiados pela Bíblia, e que, muito pelo contrário, estão em evidente e clara contradição com a Palavra de Deus. Para se descobrir a solidez ou a falácia de uma doutrina, basta fazer-se um estudo sério do texto bíblico, sem deixar-se pressionar pelas imposições de qualquer pessoa, grupo ou igreja. Muitas vezes, uma pessoa que se decide a estudar por si certo assunto pode correr até o risco de perder seu cargo na igreja, se não se submeter ao “controle” interesseiro dos que manobram a congregação.
Algumas vezes, por incrível que pareça, a busca da verdade bíblica pode nos trazer muitos desconfortes sérios, causados por aqueles que estão mais empenhados em defender uma instituição administrativa, para os quais frequentemente a pura e clara verdade bíblica passa a ser coisa de somenos importância. Pode até ser que você seja submetido a uma espécie de inquisição muito terrível, se quiser desafiar os “ditadores das verdades enlatadas” e começar a estudar o texto bíblico como sendo uma mensagem que Deus lhe tenha enviado pessoalmente, a qual você pode compreender por si mesmo. Num estudo de tal espécie, poderá acontecer que você descubra muitos aspectos que são deliberadamente escondidos aos olhos dos leigos, e até mesmo aos obreiros mais confiantes ou incautos, neste caso, você terá que decidir ficar fiel à Bíblia, ou se submeter ao pensamento humano que domina as instituições.
A Igreja Adventista está sendo sacudida simplesmente porque sua liderança administrativa não está disposta a se humilhar e reconhecer o erro de interpretação, quanto à questão ministerial de Cristo no céu após sua ascensão. A discussão do assunto sempre esteve presente no seio adventista e os que decidiram permanecer com a posição bíblica sempre terminaram por ser fulminados pela direção administrativa da igreja. Hoje, à medida que mais pessoas vão estudando despreconcebidamente a Bíblia, vão descobrindo que muita informação lhes foi sonegada a respeito do assunto, e vão se desiludindo e terminam por procurar algum caminho que seja biblicamente mais sério e mais honesto intelectualmente. Se você não crê que tudo isso possa acontecer, então pegue sua Bíblia, e somente ela, e deixe que ela lhe fale diretamente ao coração. Estude os seguintes aspectos:
1- Jesus à destra de Deus imediatamente após sua ascensão.
2- Jesus no Santo dos Santos imediatamente após sua ascensão.
3- Jesus é Sumo Sacerdote c não um simples sacerdote cotidiano.
4- O sacerdócio de Cristo c imutável.
O presente estudo não tem, absolutamente, a pretensão de esgotar a matéria a respeito do assunto. É apenas pálido resumo de tudo que você poderá encontrar se decidir estudar mais. Na verdade, há um imenso material a ser pesquisado, mas apresento apenas as linhas gerais do mesmo, sempre fiel ao espirito do todo, assegurando cm que nenhum momento há qualquer distorção que vise favorecer algum pensamento humano. Ao estudar a Bíblia e preciso deixar que ela mesma nos fale; em vez de ouvir a palavra dos homens, ouçamos o que Deus nos fala em sua palavra escrita.
Na verdade, não são muitos os aspectos doutrinários envolvidos na questão da controvérsia teológica que está enraizada no Adventismo.
A meu ver, o problema maior é que nos últimos anos este assunto tende a destronar a doutrina da JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ de seu honroso trono de doutrina fundamental da igreja cristã. E qualquer igreja, ou movimento religioso, que queira tomar o título de cristão, precisa aceitar esta doutrina como básica e superior. Menosprezar a doutrina da justificação pela fé, em favor de qualquer outra, é incabível no conceito do evangelho apostólico, não coaduna com o espírito da Reforma Protestante, e não deve acontecer em qualquer ramo do Cristianismo.
Há contradição? Veja, em geral os membros da IASD têm sido ensinados que, após sua ascensão, Cristo entrou no primeiro compartimento do santuário celeste, para somente em 1844 entrar no segundo compartimento – do lugar Santo para o Santíssimo só em 1844! Por isso, convido o leitor a examinar comigo a descrição apresentada no livro de Hebreus, um livro muito pouco estudado e até evitado pelos pastores, quando se quer fazer um estudo mais minucioso e exegético do texto e contexto do livro.
É extremamente importante manter vivo na mente que o livro de Hebreus não é de profecias, mas é uma tentativa de convencer os judeus a respeito da realidade da messianidade de Jesus Cristo. E, para demonstrar isso, o autor se utiliza de fatos já ocorridos. Ele descreve um quadro, fazendo um relato histórico de coisas já acontecidas na ocasião em que escreveu a mensagem aos hebreus. Por isso, a literalidade do livro é indiscutível e não pode ser mudada, sem que viole o espírito que o autor tinha ao escrever. Qualquer profecia, em outra parte da Bíblia, se quiser casar-se com Hebreus, terá que acomodar-se ao que ali está escrito como já tendo ocorrido. Não podemos pretender modificar uma coisa literal e claramente escrita, a fim de favorecer algum aspecto de alguma profecia que carece de interpretação. Se o autor de Hebreus descreveu coisas acontecidas, temos que aceitar como tendo elas já de fato acontecido – se é que pretendemos aceitar Hebreus como inspirado. Mudar o sentido de Hebreus é rejeitar sua inspiração. Em nosso estudo, consideramos Hebreus como um livro INSPIRADO e um relato de coisas já acontecidas por ocasião de sua composição.
I – JESUS À DESTRA DE DEUS IMEDIATAMENTE APÓS SUA ASCENSÃO
Talvez você tenha lido os versos abaixo inúmeras vezes, mas possivelmente eles nunca lhe chamaram a atenção. A pergunta, cuja resposta neles procuramos: Onde se colocou Cristo quando subiu ao céu? Leia Mc 16:19, At 2:34-35, At 7:55-56, Rm 8:34, Ef 1:20, Cl 3:1, Hb 8:1. Hb 10:12, Hb 12:2, IPe 3.22.
Portanto, onde se assentou Cristo imediatamente após sua ascensão? A Bíblia responde: à destra de Deus, no trono de Deus. O tempo do verbo utilizado – assentou está no passado, não no futuro. São pelo menos onze versos bíblicos que clara e indubitavelmente indicam isto. Teria você algum verso bíblico, ao menos um. que afirmasse que Cristo não se assentou à destra de Deus logo após sua ascensão? É-nos ditos que ele se assentou com o Pai, no trono do Pai (Ap. 3:21).
Pergunta-se: Onde está localizado o trono do Pai no santuário celestial? Ora, qualquer um pode ver por si mesmo a posição oficial da Igreja Adventista, na lição da Escola Sabatina de 21/11/1984: “O lugar Santíssimo, do santuário terrestre, era uma representação simbólica do aposento do trono, no céu
Onde está, pois, o trono de Deus: no Santo dos Santos? No Santíssimo? Onde?
II – JESUS NO SANTO DOS SANTOS IMEDIATAMENTE
Se é no Santíssimo, e Jesus assentou-se nesse trono, à destra de Deus o Pai, então é óbvio que Jesus ocupou o Santíssimo imediatamente após a sua ascensão, e não apenas 18 séculos mais tarde, em 1844, como afirmam os adventistas.
Hebreus é muito objetivo a respeito deste assunto. Basta ler com disposição de aceitar que o que está escrito é verdade: Hb 6:19-20. 9:1 -3, 9:11 -12, 9:24-28, 10:19-21.
No grego:
Hb 9:2, santo lugar, primeiro compartimento hagia.
Hb.9:3, santo dos santos, segundo compartimento. hagia hagio ou ta hagia ton hagion.
É verdade que algumas traduções trazem no verso 9:12 a palavra ‘santuário’ e, de fato, a palavra grega é hagia. Por isso é necessário considerar a qualidade do sacerdócio de Cristo, que será o ponto seguinte. Mas, há também que se procurar o melhor uso destas palavras gregas, para ver se o seu uso tem sido sempre coerente por parte dos escritores bíblicos.
No Velho Testamento, na LXX (Septuaginta), encontramos o uso de LUGAR SANTO ou SANTUÁRIO, referindo-se ao compartimento SANTÍSSIMO, e não há como negar este fato, busque-se o caso em Lv. 16:2:
- Almeida Revista e Atualizada: SANTUÁRIO
- Almeida Revista e Corrigida: SANTUÁRIO
- Bíblia Viva: LUGAR SANTO
- Matos Soares: SANTUÁRIO
- King James Version: LUGAR SANTO
- New English Bible: SANTUÁRIO
A ordem de Deus a Arão, através de Moisés, era para que não entrasse no Santuário, ou no Lugar Santo, em todo tempo, para que não morresse. Lendo o capitulo 16 de Levítico, vemos que ele deveria entrar ali naquele lugar apenas no 10° dia do sétimo mês (Lv. 16:29) porque seria o Dia da Expiação de todos os pecados (16:30), uma vez por ano (16:34). Ora, é mais do que óbvio que, quando Levítico menciona aqui Lugar Santo ou Santuário, está se referindo ao compartimento Santíssimo e, segundo, que é onde o Sumo Sacerdote entrava apenas no Dia da Expiação. Se entrasse cm outra ocasião morreria, fulminado pela presença de Deus. Ali estava o trono de Deus.
Sabe você qual a palavra que a LXX utiliza para Lugar Santo ou Santuário aqui em Levítico? Simplesmente tu hagia. E a LXX foi confeccionada muito tempo antes dos tempos do Novo Testamento, antes de Cristo. Foi dela que os escritores do Novo Testamento tiraram a maioria de suas citações do Velho Testamento.
Em Hebreus 9:8-12 temos o mesmo uso de ta hagia e é por isso que a versão Almeida Revista e Atualizada, a Bíblia Viva, a Bíblia na Linguagem de Hoje, a New English, a Matos Soares e também a The English Autorized Version traduzem ta hagia aqui como Santo dos Santos. E não só aqui, mas também em 10:19 e 9:15-25. Levando em conta o uso na LXX, está corretíssima a tradução Santíssimo para ta hagia.
Comparar Hb. 4:16 e 10:19. Devemos: 1) achegar-nos confiadamente junto ao trono da graça, e 2) entrar no Santuário com intrepidez, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que Ele consagrou pelo véu.
Onde está situado o trono da graça? Qual era no deserto o caminho que não estava aberto? No primeiro compartimento |e entrava diariamente, mas o caminho para o segundo estava fechado. Se Jesus em sua ascensão entrasse no primeiro compartimento, estaria abrindo um caminho que já estava aberto. Ridículo, mas não, Ele abriu o caminho que estava fechado, o segundo compartimento.
Primeiro véu – tanto Hb. 6:19 como Lv. 16:2,12,15 (LXX) em grego usam a expressão esoteron tou katapetasmatos (interior do véu). Ora, em Levítico 16 está mais do que claro tratar-se do segundo véu, onde o Sumo Sacerdote entrava apenas no Dia da Expiação. Por isso em Hb6:19 também trata-se do segundo véu, onde, conforme o verso 20, Jesus entrou como nosso precursor. Como poderia Ele ser nosso precursor para um lugar onde o homem já estava, o primeiro compartimento? É óbvio, pois, que Ele entrou como precursor no Santíssimo, já por ocasião de sua ascensão, e não apenas em 1844, como afirma Ellen G. White.
Sugerir, portanto, que Jesus Cristo, nosso Sumo Sacerdote, tenha sido excluído do Santo dos Santos até 1844, seria o mesmo que sugerir que seu sacrifício expiatório na cruz não fora aceito até então. Isto seria, e tem sido deliberadamente, uma intolerável violação do texto e uma gritante contradição com o evangelho do Novo Testamento. Uma negação da lógica da cruz e um total ignorar dos simbolismos dos tipos e antítipos.
III – JESUS É O SUMO SACERDOTE, NÂO UM SIMPLES SACERDOTE COTIDIANO
(Hb. 4:14; 5:1.5,6.10; 6:19-20; 7:26; 8:1.3; 9:11 e 10:21)
Os capítulos 9 e 10 de Hebreus são uma discussão do Dia da Expiação em relação ao superior suíno-sacerdócio de Cristo. Não teria sentido o autor estar aludindo ao sistema diário do sacerdócio. Ele estava se dirigindo a judeus cristãos, c discutindo a atividade sumo-sacerdotal no Dia da Expiação. Ele lhes disse que Cristo é o Sumo Sacerdote que ofereceu o sacrifício do Dia da Expiação e entrou então no Santuário, na própria presença do Pai, para apresentar o sacrifício consumado. Lembramos que o próprio véu do santuário terrestre se rompeu, perdendo doravante completamente o seu sentido e a razão de ser. O caminho até a presença de Deus estava completamente desimpedido dali para frente. O que poderia um judeu compreender, a não ser que Cristo havia cumprido o tipo da entrada do Sumo Sacerdote no lugar mais santo?
Segurar Cristo no primeiro compartimento do santuário celestial, até 1844, é rebaixá-lo à condição de simples sacerdote cotidiano. E há mesmo muitos de linha e agulha na mão, tentando recosturar o véu do templo terrestre que se rompeu por ação divina. Mãos que argumentam que existem versos falando de Jesus como sendo sacerdote apenas. E verdade, mas sempre “segundo a ordem de Melquisedeque” (Hb.6:20). Ele não é um sacerdote comum, mas segundo a ordem de Melquisedeque.
Qual seria a vantagem e a lógica de um Sumo Sacerdote exercer seu ofício no Lugar Santo? No tabernáculo terrestre, o que o Sumo Sacerdote faria no primeiro compartimento? Nada! Por que, então, no céu, o verdadeiro Sumo Sacerdote, Jesus, teria que ficar enclausurado durante 1800 anos nesse compartimento inferior? Qualquer resposta justificativa terá sempre o cunho do absurdo e da falta de lógica.
Em Hb.9:8 é dito que, enquanto havia o primeiro tabernáculo, o serviço do Santo Lugar (ta hagiu santo) ainda não se manifestara. Alguns argumentam que isto se refere ao primeiro compartimento, mas a expressão ta hagia também é usada no v.25, referindo-se ao compartimento onde uma vez ao ano o Sumo Sacerdote entrava. Uma vez por ano o Sumo Sacerdote entrava no ta hagia! Não seria isso, por acaso, o Santíssimo? Não se pode escapar dessa realidade! O que se percebe é que o autor de Hebreus usava livremente o termo ta hagia (os santos) para referir-se ao Santíssimo Lugar, da mesma forma que a LXX já o fizera antes. Por isso em Hb. 9:8 nos é dito que enquanto havia o tabernáculo terrestre, o caminho para o ta hagia (Santíssimo) não estava aberto, portanto, agora cm Hb 10:19, há o convite para que os leitores da Carta aos Hebreus se sentissem livres para entrar com intrepidez no ton hagion, pois Jesus já estava lá como precursor. Estava num lugar ao qual não havia acesso antes do sacrifício do último Dia da Expiação (a cruz). Ele agora fez esta expiação definitiva. Agora isto faz sentido.
No desespero para forçar o contexto lógico e as afirmações claras que encontramos no Livro de Hebreus, alguns teólogos adventistas têm insinuado que Cristo subiu ao céu, entrou no Santíssimo e depois então voltou para o Santo, onde ficou à espera de um sinal verde para entrar novamente, depois de 1800 anos. Mas Estêvão viu Jesus com o Pai (At. 7:55-56). Isso foi bastante tempo depois da ascensão de Jesus. Como provar, que em alguma data depois do apedrejamento de Estevão, Jesus tenha saído da presença do Pai, para retomar a uma simples função de sacerdote, uma vez que o sacrifício expiatório já estava consumado?
Além disso, leia Hb. 5:10, 6:19-20, 7:3, 7:17, 7:21, 7:24,7:27.9:25.9:28.10:10 e 10:14. Em Hebreus está sendo feito o contraste do ministério de Arão, no Dia da Expiação terrestre, com a obra de Cristo na cruz c sua entrada triunfal no céu. No capítulo 9 os contrastes são:
TIPO | ANTÍTIPO |
– O sumo sacerdote (v.7) Arão | – Cristo, o sumo sacerdote (v.11) |
– Uma vez ao ano (v.7) | – Uma vez por todas (v.12) |
– Sangue de bodes e carneiros (v.7) | – Seu próprio sangue (v.12) |
– No segundo compartimento (v.7) | – No Santo dos Santos (v.12) |
– O sumo sacerdote entrava cada ano no Santo dos Santos (v.25) | – Cristo entrou no próprio céu (v.24) |
A tipologia não está tanto voltada para as semelhanças do sumo-sacerdócio de Cristo e de Arão, mas pretende, isso sim, mostrar a incomensurável superioridade do Seu sumo-sacerdócio sobre o de Arão.
Se o sacerdócio de Cristo é imutável, pergunta-se: como justificar que alguns ensinam que Ele mudou o sacerdócio? Se em nossa mente obrigamos Cristo a ficar 1800 anos no primeiro compartimento do santuário celestial, estamos violando o ensinamento bíblico.
Alguns certamente perguntarão: como fica, então, a questão do Juízo Investigativo, e a estes digo: quando vocês ao menos encontrarem esta expressão escrita na Bíblia, perguntem o que quiserem sobre ela, porque ela simplesmente não existe na Bíblia!
Diante destes fatos, como justificar uma espera de 1800 anos? Torna-se cada vez mais difícil.
Ainda em Hb 10.20 nos é dito que devemos entrar no ton hagion através do novo e vivo caminho, que Ele nos consagrou pelo véu (dia ton katapeetasmatos). Ora, qual véu era necessário atravessar para adentrar à presença de Deus? O mais primário pesquisador bíblico sabe que era o segundo.
I Jo 2:1 diz que temos advogado junto ao Pai. O papel advocatício do sumo sacerdote terrestre era exercido apenas no Lugar Santíssimo, e era um símbolo do papel de advogado que Cristo exerceria depois que realizasse a EXPIAÇÂO DEFINITIVA. Segundo João, Jesus já estava advogando junto ao Pai quando a sua primeira epístola foi escrita.
LIVRO: CONSULTANDO A BÍBLIA – VOLUME 1, NATANAEL RINALDI