As palavras do líder da Igreja Católica Romana, Bento XVI, sobre o islã e o profeta Maomé causaram intensa reação no mundo islâmico. No último dia 12 de setembro, durante aula magna proferida na Universidade de Resensburg, na Alemanha, o papa defendia a tese de que a fé deve andar de mãos dadas com a razão, não com a violência. Em seu discurso, citou frases do imperador bizantino Manuel II (1350-1425), que disse que Maomé, o profeta muçulmano, só trouxe “coisas más e desumanas” e espalhou “sua fé pela espada”. Bento XVI citou ainda teólogos que dizem que não há racionalidade no Islã. O fato foi o suficiente para provocar protestos enfurecidos em diversos países por parte dos muçulmanos, e levantar uma questão: será que o Ocidente está se tornando refém do Islã?
A reação do mundo islâmico atemoriza sobretudo os europeus. Devido as declarações de Bento XVI, multidões atiçadas pelos clérigos islâmicos tomaram as ruas no Paquistão, na Indonésia, e em quase todo o Oriente Médio. Na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, palestinos atacaram com conqurteis molotov sete igrejas cristãs (nenhuma delas católicas romanas), queimando totalmente duas delas. Na Somália, uma freira foi morta a tiros dois dias depois de Abubakar Hassan Malin, a principal autoridade religiosa do país, orientar os fieis a matar os cristãos em represália.
Na tentativa de dar um fim à crise, Bento XVI declarou “lamentar muito” que seu discurso tenha ofendido os muçulmanos. Em uma reunião com representantes de países de maioria islâmica, em Castelgandolfo, casa de verão do Vaticano, o Pontífice declarou que o diálogo entre católicos romanos e muçulmanos é uma necessidade da qual depende o futuro das duas religiões. A expectativa em relação ao encontro era tão grande que foi transmitia ao vivo pela tevê e pela rádio do Vaticano, e também pela rede Al-Jazeera, para todo o mundo árabe.
Em primeiro momento, a iniciativa foi bem recebida. Porém, nem todos ficaram satisfeitos e manifestantes de diversos países muçulmanos insistem que o papa peça desculpas formal-mente por suas declarações. Enquanto isso, os protestos contra Bento XVI prosseguiram por todo o mundo islâmico. No Iraque, na cidade de Barsa, cerca de 500 manifestantes queimaram a bandeira dos Estados Unidos e da Alemanha e um boneco representando o pontífice romanista.
A crise detonada pela declaração do líder romanista foi uma das mais sérias e não foi a única. Em fevereiro, uma onda de violentos protestos varreu o mundo muçulmano em decorrência da publicação, em jornais da Europa, de charges ironizando Maomé. Uma delas mostrava Maomé vestindo um turbante em forma de bomba. As charges foram publicadas, originalmente, em setembro de 2005, em um jornal dinamarquês, e posteriormente republicadas por jornais de países como Alemanha, Itália, Holanda, Espanha e França. O governo da Dinamarca chegou a pedir desculpas pela publicação, mas não foram suficientes. Além de protestos contra o país, produtos originados da Dinamarca foram boicotados em países de maioria muçulmana no Oriente Médio. Muçulmanos declararam que os desenhos eram ofensivos à sua religião e os protestos causaram a morte de mais de 100 pessoas, a maioria muçulmanos.
Explicação Para a Violência
Depois do episódio envolvendo as declarações do líder católico romano, especialistas do mundo inteiro e de diferentes credos tentam achar uma explicação para as manifestações violentas que resultaram na morte de inocentes. No entanto, a cena de multidões enfurecidas protestando por qualquer coisa tem se tornado comum em vários países, principalmente na Europa, que se tornou refém do medo.
Em matéria publicada na revista Veja, de 27 de setembro de 2006, o americano Philip Cunningham, professor de Teologia do Boston College, nos Estados Unidos, considera que o pensamento moderno, o qual inclui os valores de liberdade, tolerância e direitos humanos, está defasado na maior parte do mundo islâmico. Segundo ele, as liberdades religiosas e de expressão são valores elementares nas sociedades ocidentais, o que não acontece no mundo islâmico. “Pode-se dizer coisas terríveis sobre o Cristianismo, mas ninguém sairá às ruas em protestos violentos” afirma.
A Al-Qaeda e seus aliados afirmaram que o Ocidente está amaldiçoado, declarando que a Jihad irá continuar até o islã dominar o mundo. No islã, a jihad é vista como dever básico do fiel.
Em recente entrevista ao jornal alemão Spiegel, o cientista político sírio naturalizado alemão, BassamTibi, 62 anos, reafirmou que os conflitos entre o mundo ocidental e os grupos muçulmanos é uma “guerra ideológica”. “O resultado do conflito entre os dois lados é que as pessoas dão caráter político às suas experiências culturais. Na Alemanha, por exemplo, os representantes das comunidades islâmicas tentam sequestrar as crianças que nasceram aqui para junto da comunidade islâmica, para prevenir que elas venham a ser influenciadas pela sociedade em que estão inseridos. Crianças nascidas na Alemanha são como folhas de papel vazia em que se pode escrever textos europeus ou islâmicos. Representantes muçulmanos querem que suas crianças cresçam como se não vivessem na Europa”, afirma Tibi.
Segundo o pastor Esequias Soares, líder da Comissão de Apologia da CGADB, o islamismo conseguiu suas conquistas nos últimos 1,3 mil anos pela força da espada, e esse mesmo estilo continua hoje no mundo islâmico. “O Islamismo manda matar o que chamam de pagãos” comenta. Essa afirmação pode ser comprovada através de textos do Alcorão. Na Sura 5.33, lê-se: “O castigo para aqueles que lutam contra Alá [Deus] e contra seu mensageiro [Maomé], e semeiam a corrupção na Terra, é que sejam mortos, ou crucificados, ou lhe seja decepada a mão e o pé opostos, ou banidos”.
O pastor João Kolenda Lemos, fundador do Instituto Bíblico das Assembleias de Deus (Ibad), não acredita que o Ocidente já seja refém do islã, mas crê que, se a atitude ocidental em relação à hostilidade islâmica não mudar, caminhará para isso. “Da maneira que vão as coisas, isso pode acontecer. A religião ilsâmica se tornou poderosa ao longo dos anos, porém não pelo discipulado, mas pela espada. E as pessoas têm medo de afirmar isso. O islamismo é uma religião muito agressiva, mas os jornais não dizem isso. Como o islã evangelizava? Qual era a catequese muçulmana? A espada. Os tempos passaram, mas o método, na maior parte dos países muçulmanos, permanece. Tanto é que, até onde se sabe, não há nenhum missionário cristão na Arábia Saudita. E se algum for para lá, vai morrer ao começar a pregar”, afirma o pastor Kolenda.
Como Conter a Onda de Violência
Tendo em vista tantos episódios de protestos e violência, fica a pergunta: O Ocidente estaria se tornando refém do islã? BassamTibi afirma que sim. “O fato de o administrador da ópera alemã ter cancelado a apresentação da peça de Mozart – Idomeneo – por receio das reações islâmicas é um sinal de que a Alemanha está se curvando ao Islã. Esse não é o primeiro sinal, mas é uma repetição dele. Recentemente vimos mais e mais atos de submissão, como no caso da apologia do papa. Quando isso vem do Islã, não há liberdade de imprensa ou liberdade de opinião na Alemanha. Grupos organizados nas comunidades islâmicas querem decidir o que é dito e feito aqui. Eu mesmo tenho declinado de vários eventos por causa das ameaças”, confessa o cientista.
Para o pastor e teólogo Elienai Cabral, líder da AD em Sobradinho (DF), o Ocidente tenta evitar o confronto direto com o Oriente e o islamismo. No entanto, eles estão ganhando espaço no mundo inteiro e impondo sua religiosidade. “Os muçulmamos impõem sua religiosidade sem respeitar até mesmo a liberdade religiosa e a liberdade de expressão que cada pessoa tem”, analisa.
O pastor José Wellington Bezerra da Costa, presidente da Convenção Geral das Assembleias de Deus (CGADB), assevera que o islamismo é muito forte e atuante. Segundo o líder, a única forma de deter a onda de violência religiosa é por meio da pregação amorosa do Evangelho. “Essas declarações ferem a sensibilidade de um povo e provocam esse tipo de reação. Esse tipo de coisa gera polêmica sem resultado”, comenta o pastor Wellington.
O pastor Antonio Gilberto também desaprovou a atitude de Bento XVI, considerando seu pronunciamento intempestivo, mas ressalta que tais reações comprovam a proximidade do final dos tempos. “Isso vai cada vez mais se complicar à medida que a Segunda Vinda de Jesus se aproxima”, assegura.
O pastor José Wellington enfatiza a necessidade de pregar com amor o Evangelho, lembrando o que ocorria na antiga União Soviética, onde o Evangelho era proibido, referindo-se ao período da Cortina de Ferro. O termo era usado para designar a fronteira que dividiu a Europa em duas áreas separadas de influência política desde o fim da Segunda Guerra Mundial. A Europa Oriental esteve sob o controle político e influência da União Soviética, enquanto que a Europa Ocidental esteve sob o controle e influência dos Estados Unidos. O bloco se desfez definitivamente em 1991, com a dissolução da URSS. “Por muito tempo oramos para que Deus nos abrisse uma porta. Aos olhos humanos, parecia impossível isso acontecer, mas chegou o momento em que Deus destruiu a Cortina de Ferro. Hoje, essa parte da Europa está sendo evangelizada por muitas igrejas, inclusive pela nossa, com uma boa quantidade de missionários. Creio que o mesmo Deus que nos abriu a porta do Leste Europeu, com certeza fará o mesmo no Oriente. O próprio Senhor tem interesse na evangelização dos povos”, declara o líder.
O pastor Antonio Gilberto aconselha que qualquer pessoa que sai ao campo missionário para ganhar almas precisa estar possuída do elemento principal que é a plenitude do Espírito Santo na vida, pois o missionário precisa agir com muita sabedoria divina. “Somente a sabedoria humana, no sentido de antropologia, não é satisfatório. Do contrário, pode dar em nada. A sabedoria humana é utilíssima no sentido horizontal, mas no sentido de comunhão com Deus, a sabedoria humana não consegue avançar”, orienta.
O pastor Elienai Cabral vai além e alerta para a necessidade de uma preparação adequada para a evangelização transcultural, dando ênfase especial no caso do islamismo. “Não seria através de algum tipo de confronto com eles, agredindo, que conseguiremos as coisas. Seria através de um trabalho inteligente. Ou seja, é preciso conhecer a história, a doutrina do islamismo e as pessoas precisam ter habilidade para saber agir. Claro, dando valor acima de tudo à espiritualidade, a uma unção especial de Deus para fazer o trabalho”, esclarece o pastor, reiterando que é preciso coragem, mas principalmente inteligência: “Se tentarmos simplesmente ir até lá e abrir uma igreja, vamos comprar uma briga com eles. Apesar deles não sentirem o mesmo quando levantam seus templos no Ocidente”.
Coordenador teológico do Ibad, o pastor Richard Hoover complementa dizendo que não adianta tentar impor o Evangelho: “Creio que o evangelismo clássico que a gente faz, com pregação em praças, não vai funcionar. Precisamos nos aproximar de uma forma mais amigável, fazendo com que nossos filhos sejam amigos dos filhos deles. Devemos tomar cuidado com a forma como vamos nos colocar”, aconselha o pastor, reiterando que precisamops de estratégias e muita oração para que Deus nos mostre como alcançá-los. ”A Igreja precisa estar mais de joelhos, buscando estratégias para alcançar o povo islâmico”, afirma Hoover.
Artigo do Jornal “Mensageiro da Paz” – 14 de novembro de 2006
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