Nos EUA a Associação Humanista Americana espalhou em ônibus anúncios ateus com a imagem de Papai Noel e a mensagem: “Por que acreditar em um deus? Apenas seja bom, por caridade”. Apesar de a frase parecer inteligente, isto é possível? Vamos analisá-la com mais cuidado.
Primeiro, se não há um legislador moral supremo, então como pode haver uma lei moral que determina quem é bom? Cada receita tem um médico, e esta é uma prescrição moral.
Segundo, o que significa “bom”? Se isso pode significar qualquer coisa para qualquer um, então isso não significa nada para ninguém. E o relativismo total. Ser “bom” para alguns (como os nazistas) pode significar matar judeus. Mas para os judeus é o mal. Assim, nesta visão, não há diferença objetiva entre o bem e o mal.
Terceiro, o que significa “bondade”, por si só, no slogan ateu? Ser bom “por caridade” implica que algo é simplesmente bom em si mesmo. Ou seja, é uma bondade suprema. Mas essa definição é o que os cristãos entendem por Deus. Todas as coisas têm bondade, mas só Deus (o Supremo) é bondade. Neste caso, o ateu está usando “bondade” como um substituto para Deus.
Este jogo de gato e rato não é estranho para os ateus. Antes da teoria do Big Bang eles gostavam de fazer isso com a palavra “universo”. Criam que ele era eterno e, portanto, não precisava de uma origem, uma vez que apenas o que tem um começo precisa de um Criador. Carl Sagan empregou o termo “cosmos” como um substituto de Deus: “O cosmos é tudo o que sempre foi, é ou será”. Isso parece um pouco com o que o salmo 90 declara: “De eternidade a eternidade, tu és Deus”. Bertrand Russell tentou a mesma tática no famoso debate na BBC com o padre Copleston. Quando perguntado sobre o que originou o universo, ele respondeu: “Nada, ele apenas está lá”. Mas como pode um universo eterno, incriado, do qual todas as coisas vieram, ser diferente de uma Causa Incriada (Deus)?
No entanto, à luz da teoria do Big Bang, de que o universo teve um princípio, esta resposta carece de apoio científico. Como disse o agnóstico Robert Jastrow – astrônomo, físico e cosmólogo americano -, “a perseguição aos cientistas do passado termina no momento da criação” e “isto é um progresso excessivamente notável, imprevisto por todos, menos pelos teólogos. Eles sempre aceitaram o que a Bíblia diz: ‘No princípio criou Deus os céus e a terra’”.
Quarto, os filósofos Dembski e Wells oferecem outra objeção: “O ateísmo é uma crença com pretensões científicas, mas sem respaldo científico”. Não há nenhum respaldo científico para acreditar em um universo eterno. A Segunda Lei da Termodinâmica ainda está em vigor. O universo está ficando sem energia utilizável, portanto não pode ser eterno. E não há nenhum respaldo científico para a origem espontânea da vida.
Quinto, a verdade é que muitos dos grandes ateus sabem muito bem e ensinaram que sem Deus não há base para ser bom. O famoso ateu francês Jean Paul Sartre disse que, sem Deus, ele “era como um homem que perdeu sua sombra. E não havia mais nada no céu, nem certo ou errado, nem ninguém para me dar ordens”. Nietzsche disse que quando
Deus morreu, todos os valores objetivos morreram com Ele.
Sexto, os ateus deixam de fazer uma importante distinção. Alguém pode ser bom (como muitos ateus são) sem acreditar em Deus, mas não pode ser bom sem a existência de Deus. Ou seja, eles podem acreditar em uma lei moral (e viver de acordo com ela) sem acreditar em Deus, mas não podem justificar essa crença sem fazer referência a um Legislador Moral (Deus). Isto leva a uma última observação.
Sétimo, o fato é que você não pode ter uma lei moral objetiva sem um Legislador Moral. Mas os ateus são os primeiros a insistir que deve haver uma lei moral – do contrário, como podem argumentar contra Deus a partir das injustiças deste mundo? C. S. Lewis viu isso claramente quando escreveu: “[Como um ateu] meu argumento contra Deus era que o universo parecia tão cruel e injusto. Mas como é que eu tenho essa ideia de justo e injusto ? Um homem não conhece uma linha torta a menos que tenha alguma ideia de uma linha reta”. Assim, ele partiu desta lei moral objetiva para um Legislador Moral (Deus). O ateu deve fazer sua escolha dolorosa: ou ele perde a base para seu argumento contra Deus proveniente do mal ou deve admitir que há uma lei moral objetiva que conduz a um Legislador Moral. Uma coisa é certa: sem Deus o ateu não pode ter a bondade objetiva. De fato, uma vez que “por caridade” tem um significado eufemístico, significando “pelo amor de Deus”, então o anúncio ateu, literária e logicamente, deve ser reescrito: “Por que acreditar em Deus? Apenas seja bom, pelo amor de Deus! ”. Em outras palavras, é justamente porque há um Deus que nós podemos realmente ser bons. Sem um Deus absolutamente bom não há base objetiva para ser bom.