A primeira parte do versículo corânico 9:29 é uma ordem explícita que não está limitada temporal ou espacialmente para que se faça guerra contra cristãos e judeus. A segunda parte explica quando essa guerra deve cessar: quando cristãos e judeus se converterem ao islamismo ou “pagarem a jizia com um voluntário sentimento de submissão e servidão”.
A ideia de combater não-muçulmanos até que paguem esse imposto é fundamental no islamismo e não está limitada ao Corão. Num hádice canônico e muito famoso, Maomé manda seus guerreiros jihadistas invadirem os reinos dos infiéis e ordenarem os povos a se converter ao islã: “Se eles recusarem o islã, obrigai-os a pagar a jizia. Se concordarem em pagar, aceitai o dinheiro deles e freai vossas mãos. Se se recusarem a pagar o imposto, procurai a ajuda de Alá e combatei-0s”? Num outro hádice canônico, Maomé declara: “Foi-me ordena do guerrear contra a humanidade até que toda ela dê testemunho de que só Alá é Deus e Maomé é seu Mensageiro; e até que se engaje toda em oração, prostrada, e pague a esmola [isto é, até que se torne toda muçulmana]. Se assim o fizer, seu sangue e suas propriedades ficarão protegidos”.* Há literalmente centenas de textos islâmicos similares a este, ordenando os muçulmanos a combater os não-muçulmanos até que estes se convertam ou paguem o imposto e vivam em submissão. Por causa desses textos, os ulemás islâmicos seus sábios, eruditos, xeiques, clérigos e muftis, do passado e do presente entraram em acordo quanto ao fato de que o islamismo estará sempre em guerra contra o mundo não-islâmico até que todos os seus habitantes sejam subjugados. Conforme escreveu Ibn Khaldun, filósofo, erudito e historiador:
Na comunidade islâmica, a guerra santa [jihad] é um dever religioso, por causa do universalismo da missão islâmica e da obrigação de converter todos os povos ao islamismo, seja por persuasão ou pela força […). Os outros grupos religiosos não tiveram essa missão universalista, e a guerra santa nunca lhes foi um dever religioso, a não ser em casos de defesa […]. A eles cabe apenas estabelecer seus credos nas suas próprias comunidades […]. Mas o islã tem a obrigação de obter poder sobre as outras nações. [Ênfase minha).
Majid Khaduri (1909-2007), estudioso consagrado da xaria, concorda. Ele já escreveu que a jibad definida como o estado de guerra cujo objetivo é dominar o mundo não-muçulmano “é considerada por todos os juristas [islâmicos], com quase nenhuma exceção, uma obrigação coletiva de toda a comunidade muçulmana”. Os manuais legais do islamismo, escritos em árabe, são mais explícitos ainda.
Antes que a era do politicamente correto tivesse se estabelecido, as autoridades do Ocidente moderno também concordavam univocamente com isso. À entrada para jihad na Encyclopaedia of Islam explica: “A propagação do islã pela espada é um dever religioso obrigatório para todos os muçulmanos […]. A jihad deve continuar até que o mundo todo esteja sob domínio do islã […]. O islamismo deve estar totalmente difundido antes que a doutrina da jihad possa ser eliminada”, Imposto e submissão O versículo 9:29 do Corão diz que a jihad só acabará quando os Povos do Livro “pagarem a jizia com um voluntário sentimento de submissão e servidão” isto é, quando pagarem o imposto e viverem sob domínio do islã. Em parte porque é mais lucrativo subordinar os inhéis do que massacrá-los por completo, até mesmo àqueles grupos religiosos que originalmente não faziam parte dos Povos do Livro, como os hindus, foi oferecida afinal a opção de pagar a jizia c viver em submissão.
Ainda que o termo “jizia” costume ser traduzido como “imposto”, a raiz da palavra significa “pagar de volta”, “recompensar”, ou basicamente “compensar” alguma coisa. De acordo com o Hans Wehr, dicionário padrão de árabe-inglês, a jizia é algo que “toma o lugar” de outra coisa, ou “serve no lugar de”. Simplificando, os não-muçulmanos conquistados deveriam comprar o direito à vida que do contrário seria entregue aos conquistadores muçulmanos com dinheiro. Alguns juristas explicitavam isto, dizendo que “as vidas e posses deles somente serão protegidas em razão do pagamento da jizia”.*” Os apologistas ocidentais costumam chamar a jizia de “dinheiro de proteção”, o que de fato ela é mas não uma proteção contra estrangeiros, como se costuma entender, e sim contra os muçulmanos vizinhos, os quais a não ser que a Jizia, 1.€., a compensação, tivesse sido paga consideravam perdida a vida de um infiel. Na Idade Média, os cristãos que passassem por terras muçulmanas deviam usar seus recibos de jizia pendurados no pescoço, a fim de provarem que suas vidas haviam sido resgatadas, ou corriam o risco de ser assassinados como infiéis que não tinham pagado o imposto.
Mas o problema não acaba aí. O versículo 9:29 do Corão não diz apenas que os não-muçulmanos conquistados devem pagar a jizia, mas que devem fazê-lo “com um voluntário sentimento de submissão e servidão”. À palavra árabe aqui traduzida por “servidão” é saghirun, que vem de uma raiz que, segundo o dicionário Hans Wehr, significa: “ser rebaixado, submisso, servil, humilde”; “desprezível; servil”; “bajular, adular, rastejar”; “baixo, rebaixado, desprezado, desprezível; humilhado, submisso, decaído; subjugado, servil, sujeito”. Portanto, tratar alguém como um saghirun é “menosprezar, zombar, ridicularizar, aviltar, humilhar” a pessoa. (De acordo com o Hans Wehr, a raiz dessa palavra significava originalmente “depreciar, rebaixar, reduzir enfraquecer” fisicamente, e o uso desse termo provavelmente indicava que o empobrecimento dos não-muçulmanos subjugados “deprecia, rebaixaria, reduziria, enfraqueceria” seu vigor e suas forças – O que certamente acontecia).
É assim, portanto, que os muçulmanos têm que fazer seus oponentes derrotados se sentirem, conforme manda o Corão tido por todos os muçulmanos como o pronunciamento literal de Alá. Essas são as imagens que vêm à mente dos leitores árabes do Corão muito mais gráficas do que sugere o termo traduzido “servidão”.
O tema da degradação dos não-muçulmanos aparece com frequência nos comentários das autoridades islâmicas. De acordo com a Medieval Islamic Civilization Encyclopedia, os juristas muçulmanos “passaram a entender que alguns aspectos repressivos e humilhantes da dhimma deveriam ser um costume. Os dhimmis deveriam pagar a jizia publicamente, à luz do dia, com as palmas das mãos viradas para cima, e deveriam receber do agente coletor de impostos um tapa na testa ou na nuca”. Alguns juristas islâmicos chegaram a ordenar que muitos outros rituais humilhantes fossem executados no momento do pagamento da jizia, incluindo um que rezava que o oficial muçulmano que estivesse encarregado da coleta estapeasse, sufocasse e em alguns casos até puxasse a barba do dhimmi pagador, que inclusive podia ser obrigado a se aproximar do oficial andando como um animal, em quatro apoios.”
Mesmo que haja outros versículos que explicitam que os infiéis devem ser desprezados (cf. Corão 3:100, 110-112; 118-120), o versículo 9:29 é a pedra de toque de todo o edifício da humilhação sistemática dos não-muçulmanos. Consideremos a exegese de Ibn Kathir desse versículo trata-se de uma interpretação amplamente aceita:
Alá disse: “Até que eles paguem a jizia”, se não quiserem professar o islã, “com um voluntário sentimento de submissão”, isto é, subservientes e dominados, “e de servidão”, isto é, desgraçados, humilhados e apequenados. Portanto, não é permitido aos muçulmanos honrar algum dhimmi ou elevá-lo acima dos muçulmanos, porque todo dhimmi é um miserável, um desgraçado e um humilhado. A Sahih Muwslim [uma coleção de hádices canônicos] registra da parte de Abu Hurraira que o Profeta teria dito: “Não cumprimentai os judeus e os cristãos com o Salam [saudação da paz), e se os encontrardes na rua, forçai-os para o beco mais estreito”. Por isso foi que o Líder dos Fiéis fo segundo califa] Omar bin al-Khartab que Alá seja glorificado nele ordenou que suas famosas condições continuassem a ser observadas pelos cristãos; eram condições que garantiam que eles sempre seriam humilhados, degradados e desgraçados.
Extraído do Livro “Crucificados: Relato da nova guerra do Islã contra os Cristãos”, R Ibrahim, Ed Ecclesiae, 2020.