O gnosticismo não obteve êxito. Os membros deste movimento ensinavam a salvação através do conhecimento místico, e não pela fé em Jesus. Eles constituíam grupos muito diversificados em suas doutrinas, pois diferiam de lugar para lugar, e em seus períodos. Essa doutrina era nada mais que um enxerto das filosofias pagãs nas doutrinas cristológicas. Negava o Cristianismo histórico (segundo ela, o Senhor Jesus não teve um corpo, isto é, não veio em carne, e seu corpo seria mera aparência, que chamavam de corpo docético). Seu período áureo foi entre 135-160 d.C., mas o gnosticismo já dava trabalho às igrejas na época dos apóstolos. O evangelista João enfatiza que “o Verbo se fez carne” (Jo 1.14); e “todo o espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus…” (1 Jo 4.3). É bom lembrar que os escritos joaninos são do final do primeiro século, escritos na cidade de Éfeso, então capital da Ásia menor, de onde surgiu o gnosticismo.
A Igreja saiu ilesa nessa batalha contra o gnosticismo, mas deixou de saldo a preocupação dos cristãos sobre a divindade do Logos e o monoteísmo. Os pais da Igreja se empenharam muito nessa luta contra as heresias. Se Jesus é Deus absoluto, como fica o monoteísmo judaico-cristão? Por outro lado havia outra questão:
se o Logos é subordinado ao Pai, não se compromete a divindade absoluta de Jesus? Havia na época os alogoi e os ebionitas.
Os alogoi eram contra a doutrina do Logos: negavam a divindade de Jesus. Os ebionitas constituíam a seita do segundo século, que negava a deidade absoluta de Cristo. Formavam uma comunidade de judeus-cristãos. O nome vem do hebraico e significa “pobre”. Eles criam em Jesus como o seu Messias, mas negavam sua deidade — o embrião da doutrina cristológica das Testemunhas de Jeová. Os ebionitas tinham horror aos escritos paulinos, pois Paulo colocava judeus e gentios no mesmo bojo: “todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3.23), e pelo fato deste apóstolo pregar a divindade de Cristo (Rm 9.5; Cl 2.9; Tt 2.13, etc.). Viviam o ritual da Lei e os costumes judaicos, e eram hostilizados tanto pelos judeus como pelos cristãos. Eram numerosos no final do primeiro século, mas aos poucos foram desaparecendo do palco, sumindo de vista no cenário da história da Igreja. Hoje estão manifestos com nova roupagem.
*Monarquianismo
Nessa época surgiram os que Tertulíano chamou de monarquianistas (do grego monarchia – governo exercido por uma única pessoa). Os monarquianistas dinâmicos (do grego dynamis “força, poder”, pois diziam que Deus deu força e poder a Jesus, adotando-o como Filho), negavam a divindade absoluta de Jesus, e também a Trindade. Esta heresia era o prenúncio do arianismo, que, no início de terceiro século, negava a eternidade de Jesus, pois considerava Cristo um deus de segunda categoria, igual ao ensino das Testemunhas de Jeová. Essa doutrina dos dinâmicos era defendida por Teodoro de Bizâncio, Artemão e Paulo de Samosata.
Monarquianistas modais ou modalistas ensinavam que as três pessoas da Trindade manifestavam-se de vários modos, daí o nome modalista. Defendidos por Noeto de Esmirna e Práxeas de Cartago, ensinavam que o Pai nasceu e sofreu, e que Jesus era o Pai. Por essa razão, no Ocidente, eles eram chamados de patripassianistas (do latim Pater “Pai” e passus de patrior “sofrer” – o Pai encarnou-se em Cristo e sofreu com Ele). No Oriente eram chamados sabelianistas, pois o heresiarca Sabélio foi quem mais se destacou na propagação dessa heresia. Segundo essa doutrina, o Pai, o Filho e o Espírito Santo são apenas três aspectos da Divindade, sendo, portanto, uma só Pessoa. Esse ensinamento do bispo Sabélio é hoje chamado de sabelianísmo ou modalismo.
Sabélio usava a palavra “pessoa” para cada Pessoa da Trindade, mas para ele essa “pessoa” tinha o sentido de máscara ou manifestações diferentes de uma mesma Pessoa Divina. Na sua concepção o Pai, o Filho e o Espírito Santo são nomes de três estágios ou fases diferentes. Ele era Pai na criação e na promulgação da Lei; Filho na encarnação, Espírito Santo na regeneração. Essa doutrina foi combatida por Tertuliano em Contra Prãxeas, quando pela primeira vez este apologista usa o termo Trinitas (“Trindade”) para a Divindade:
“Todos são de um, por unidade de substância, embora ainda esteja oculto o mistério da dispensação que distribui a unidade em uma Trindade, colocando em sua ordem os três: Pai, Filho e Espírito Santo; três contudo,… não em substância, mas em forma, não em poder, mas em aparência, pois eles são de uma só substância e de uma só essência e de um poder só, pois é de um só Deus que esses graus, formas e aspectos são reconhecidos com o nome de Pai, Filho e Espírito Santo.”
*Modalismo moderno
Restauração do modalismo. O sabelianismo ganhou espaço por mais ou menos cem anos em Roma, Ásia Menor, Síria e Egito. Em 263 A.D., Dionísio de Alexandria enfrentou o próprio Sabélio, derrotando o sabelianismo. Depois disso o cristianismo passou a repudiar o sabelianísmo, e o combate a essa heresia continuou até que ela desapareceu completamente da história. Depois de muitos séculos, esse ensinamento retornou das profundezas do Inferno, por John G. Schepp, fundador da seita “Só Jesus”, em 1913. Temos no Instituto Cristão de Pesquisas (ICP) uma lista de mais de quinze seitas modalístas. Não é possível, aqui, um comentário sobre todas elas, mas apresentaremos apenas as principais:
*Só Jesus
Fundada por John 8. Schepp em 1913, ensina que o batismo salva, igual à doutrina da Congregação Cristã no Brasil, e deve ser realizado só em nome de Jesus. Seus adeptos não seguem a fórmula batismal de Mateus 28.19:
“Em nome do Pai, e do Filho, e do Espfrito Santo”. Essa seita provocou muitas divisões nas igrejas evangélicas da época. Ela mesma depois se dividiu em várias facções, entre as quais a Igreja Pentecostal Unida do Brasil, presente em outros países, que também é modalista e batiza só em nome de Jesus. (Não confundir com a Igreja Unida.)
*Tabcrnáculo da Fé
Fundado por William Marrion Branham (1906-1965), chamado por seus adeptos de “o profeta do século e mensageiro do Apocalipse”, William Marrion Branham, como os demais funda dores de seitas, arroga para si a mesma autoridade dos profetas e apóstolos da Bíblia e nega a doutrina bíblica da Trindade. Seus adeptos são modalistas, pois seguem o ensino de seu líder, e o batismo nas águas é realizado só em nome de Jesus.
*Voz da Verdade
Igreja que utiliza o mesmo nome do conjunto Voz da Verdade. Suas músicas são cantadas sem restrição alguma na maioria de nossas igrejas. Muitos ainda não se deram conta dessa gravidade. Eles são uma seita e atacam a doutrina bíblica da Trindade, e seu batismo nas águas é realizado em nome de Jesus. Seus hinos que enfatizam a divindade de Jesus constituem a doutrina unicista, e estão “sacrificando o Pai”, como disse Tertuliano, dos modalistas de sua época.
*Igreja Local de Wltness Lee
Conhecida por seu ônibus “Expo-livro” e por
seu jornal Árvore da Vida. É a que mais suscita problema entre os evangélicos, por causa de seu proselitismo sectário e desleal. Eles perturbam nossas igrejas e camuflam-se facilmente em nosso meio. Dizem que não são modalistas porque Sabélio dizia que Pai, Filho e Espírito Santo são três aspectos temporários da Divindade, ao passo que a Igreja Local afirma que são três aspectos eternos da Divindade. O ponto divergente entre eles é que ambos declaram ser a Divindade uma só Pessoa. Como Sabélio, usam com freqüência a palavra “pessoa” para cada Pessoa da Trindade, mas com outro sentido. Empregam até o nome Trindade, mas não é o mesmo trinitarianismo do Credo Atanasiano.
*Testemunhas de Ierrochua.
Fundado em 1987, em Curitiba, PR. Além de modalistas, pregam que o nome do Salvador não é Jesus, mas Yehoshua, forma hebraica do nome “Josué”. Os manuscritos gregos do Novo Testamento destroem completamente essa teoria das Testemunhas de Ierrochua. Há diversos disparates em sua doutrina.
*Refutando o sabelianismo
A Bíblia apresenta o Deus verdadeiro como Pessoa, muito longe das idéias do panteísmo, mas não há nas Escrituras uma referência sequer de que Deus seja uma Pessoa única. Falam de um só Deus (Dt 6.4; Mc 12.29; 1 Co 8.6; Ef 4.6).
*No batismo de Jesus
Jesus é o Filho do Pai (2 Jo 3) e não próprio Pai. Basta uma leitura simples da Palavra de Deus, principalmente dos quatro evangelhos, para descobrir o absurdo dessa doutrina sabelianista. No batismo de Jesus manifestam-se as três pessoas distintas da Trindade – o Pai falando do Céu, o Filho saindo das águas do Jordão, e o Espírito Santo repousando sobre Ele (Mt 3.16,17). Como os três podem ser uma só Pessoa? Nos evangelhos encontramos com freqüência Jesus referir-se a seu Pai como outra Pessoa. Muitas vezes Ele se dirigiu ao Pai em oração (Jo 17). Afirmar que Pai e Filho são uma mesma Pessoa é um disparate.
*Jesus disse que o Pai era outra Pessoa
Jesus disse que era uma Pessoa, e o Pai outra (Jo 8.17,18). Cristo declarou: “E na vossa lei também está escrito que o testemunho de dois homens é verdadeiro. Eu sou o que testifico de mim mesmo, e de mim testifica também o Pai, que me enviou” (Jo 8.17, 18). Jesus falava de duas pessoas, e não de uma. Ele afirmou que veio do Pai e voltava para Ele (Jo 8.42; 16.5; 17.3, 8). Mais de 80 vezes Cristo afirmou que não era o Pai.
*Batismo em nome do Jesus
Os adeptos das seitas unicistas defendem o batismo somente em nome de Jesus. Essa prática é um desvio da Palavra de Deus. A Bíblia não nos autoriza esse procedimento. A fórmula determinada por Jesus foi “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28.19).
O Didache, palavra grega que significa “ensino”, pronuncia-se “didaquê”, também chamado “Ensino dos Doze Apóstolos”, documento encontrado em Constantinopla em 1785 e datado de 150 A.D., que, juntamente com todos os pais da Igreja, fala do batismo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Reconhecemos que a Bíblia é a palavra final. A patrística pode, às vezes, servir como jurisprudência. Longe de fundamentar nossa doutrina em outra fonte que não seja a Palavra de Deus. Essas citações servem para mostrar que a Bíblia é confirmada pela história da Igreja.
Esses unicistas apelam para quatro passagens no livro de Atos, as quais fazem menção do batismo em nome de Jesus (At 2.38; 8.16; 10.48, 19.5). A inconsistência dessa doutrina unicista é que essas passagens bíblicas não nos concedem a fórmula batismal. A prova disso é que em Atos 2.38 se diz: “em nome de Jesus Cristo”; 8.16: “em nome do Senhor Jesus”; 10.48: “em nome de Jesus Cristo”; 19.5: “em nome do Senhor Jesus”. As versões que seguiram o texto grego de Erasmo (Textus Receptus) trazem Atos 10.48: “em nome do Senhor”, como a Almeida Corrigida. Dessas quatro passagens três são diferentes, ou duas, dependendo da versão. Se elas revelassem a fórmula batismal, seriam
iguais, pois o método é padronizado. Isso mostra que não se trata de uma fórmula batismal. Revela que essas pessoas eram batizadas na autoridade do nome de Jesus.
A Bíblia diz que negar o Pai e o Filho traz a condenação (1 Jo 2.22, 23). Os sabelianistas mutilam a personalidade do Pai e do Filho, com a doutrina das “manifestações”, que é uma maneira camuflada de negar Jesus como o Filho de Deus (1 Jo 5. 5, 9). O “Jesus” dos sabelianistas não é o Jesus da Bíblia (1 Co 11.4).
*Explicando os textos usados pelos sabelianistas
Todas as seitas pinçam a Bíblia aqui e ali em busca de subsídios para consubstanciar suas heresias e assim poderem dar às suas doutrinas uma roupagem bíblica. A expressão “Pai da eternidade” (Is 9.6) não afirma que o Filho seja o Deus-Pai, mas que Ele tem si mesmo a eternidade, pois é o Senhor da mesma. Assim Ele pode dar a vida eterna aos que nele crêem. Costumam citar João 10.30: “Eu e o Pai vida eterna aos que nele crêem. somos um; no grego é (Ego kai ho pater hen esmen). O texto prova que Jesus é Deus absoluto igual ao Pai, e não a mesma Pessoa do Pai. “Um” no grego, nesse versículo, está no neutro, hen, e não no masculino, heis, e mostra assim duas pessoas numa só Deidade. Além disso, o verbo está no plural “somos” e não no singular “sou~ não pode, portanto, Pai e Filho serem a mesma Pessoa. O Espírito Santo é assunto registrado em outras passagens, principalmente nos capítulos 14,15 e 16 de João.
Jesus disse a Filipe: “Quem me vê a mim vê o Pai” (Jo 14.8, 9). Isso foi usado pelo próprio Sabélio para consubstanciar o seu unicismo. Esta passagem, como a de João 10.30, é ainda hoje usada pelos modernos sabelianistas para justificar a sua falsa doutrina, O versículo seguinte destrói completamente os argumentos sabelianistas: “As palavras que eu vos digo, não as digo de mim mesmo, mas o Pai, que está em mim, é quem faz as obras” (v. 10)
Fonte de Pesquisa:
Revista Defesa da Fé