O Criador não precisa de apoio para validar seus feitos. Ele mesmo formou todas as coisas e estabeleceu o conhecimento, partindo Dele como fonte de toda a inteligência. O tempo, a matéria, a energia e o espaço, todas as formas de vida animal ou vegetal, do macro ao microrganismo; o ecosistema e seu equilíbrio, foram criados por Ele e para Dele dependerem. Portanto, o valor que tentamos imprimir aqui está na sabedoria divina e não na descoberta humana. Esta serve tão somente para exaltar a grandeza do Eterno e provar nossa eterna dependência Dele, e não para validar os seus feitos.
Milhares de anos depois que o Senhor estabeleceu a circuncisão como selo de seu pacto com Abraão, descobriu-se, por meio de informação científica – a exemplo de outras ocorrências, como a do efeito positivo da alegria no organismo -, que o oitavo dia da criança é a fase ideal, sem quebra de dúvida, para a sua realização.
Sobre a alegria, cerca de 900 anos antes de Cristo, Salomão já dizia que “o espírito alegre aformoseia o rosto” e que ela serve também de “bom remédio” (Pv 15.13, 17.22; 18.14).
Desde do Iluminismo, fatos, orientações e ortodoxias registrados na Bíblia, têm sido criticados por alguns, taxados pelo Livro Sagrado de ineptos, insensatos, ignorantes – néscios. Temos visto muitos céticos atacarem preceitos divinos na tentativa de provar o improvável. É interessante notar que a Bíblia tem vida própria, pois ela é exalada por Deus (Theopneustos) e defende-se por si mesma.
O caso da prova incontestável do oitavo dia como sendo o ideal para a realização da circuncisão, que mostramos neste artigo, confirma a abrangência do domínio divino, o cuidado e o compromisso que Ele mantém com tudo aquilo que lhe diz respeito.
A circuncisão foi dada por Deus aos judeus como sinal externo do seu concerto com Abraão. Por ter sido praticada pelo patriarca, tanto os judeus quanto os muçulmanos a praticam, pois estes são, em sua maioria, árabes e, portanto, também descendentes de Abraão. Este selo ocorreu quando o nome de Abrão (Pai Elevado) foi mudado para Abraão (Pai de uma Multidão): “Este é o meu concerto, que guardareis entre mim e vós e a tua semente depois de ti: Que todo macho seja circuncidado. E circundareis a carne do vosso prepúcio; e isto será por sinal do concerto entre mim e vós”, Gn 17.10-11. Na Lei ficou prescrito por Moisés: “E, no oitavo dia, se circuncidará ao menino a carne do seu prepúcio”, Lv 12.3.
“Cortar ao redor”
A circuncisão é o nome dado à operação cirúrgica para remover o prepúcio – pele que cobre a glande do órgão sexual masculino. Acredita- se que com exceção do corte do cordão umbilical, a circuncisão seja o tipo de cirurgia mais antigo. Se nome deriva-se da junção das palavras latinas circum e cisióne com o significado de cortar ao redor.
A circuncisão masculina, como se conhece na Bíblia, ainda é praticada como ritual religioso entre judeus e muçulmanos, mas alguns povos usam-na como ação medicinal.
Ela passou a ser considerada como prática da medicina normal, a partir do século 20, como forma de facilitar a higiene pessoal. Com o recrudescimento da prática da higiene, sua incidência diminuiu. Mas a medida profilática, por meio da cirurgia conhecida como fimose, é uma forma de inibir a formação e acúmulo de secreção chamada esmegma, entre a glande (cabeça) e a pele (o prepúcio) que a cobre.
Além do mau cheiro esse espaço pode ser propício para a proliferação de bactérias que ocasionam irritação, expressa pela coceira, e infecção.
Entre os hebreus ela figura como uma aliança entre Deus e Abraão, e, daí, como identidade de um povo escolhido, eleito. Seria uma marca dos escolhidos – os hebreus. Ela sempre fora realizada no oitavo dia, conforme determinação divina, que a tornou obrigatória entre os hebreus.
“Este é o meu concerto, que guardareis entre mim e vós e a tua semente depois de ti: Que todo macho será circuncidade. E circundareis a carne do vosso prepúcio; e isto será por sinal do concerto entre mim e vós. O filho de oito dias, pois, será circuncidado; todo macho nas vossas gerações, o nascido na casa e o comprado por dinheiro a qualquer estrangeiro, que não for da tua semente… e estará o meu concerto na vossa carne por concerto perpétuo”, Gn 17.10-13.
A primeira circuncisão ocorreu quando o Senhor falou a Abrão, prometendo-lhe um filho com Sarai (Sara), sua mulher, já com 100 e 90 anos, respectivamente. Com seus nomes mudados, receberam a promessa do nascimento de Isaque. O Senhor prometeu ainda abençoar Ismael – filho de Abrão com a concumbina Agar e pai dos árabes -, enquanto Isaque dera origem aos hebreus.
A Lei de Moisés observou a obrigatoriedade desse rito, que deveria se estender até ao escravo. Os que não tinham a marca seriam punidos com a morte por quebrar o concerto (Gn 17.14).
Mesmo que o oitavo dia caísse no sábado – quando os judeus, conforme preceitos da Lei, não mantinham nenhum tipo de atividade, a circuncisão deveria ser realizada.
Entre os seguidores de Cristo
A questão da possibilidade de praticar esse ritual entre a Igreja foi muito debatida entre os primeiros cristãos e judaizantes (judeus que se convertiam a Cristo, mas que queriam que as imposições da Lei fossem seguidas também).
Na época, a circuncisão havia ganhado importância em função do avanço helenista. Tornou um símbolo contra essa “ameaça” logo depois de reacender-se com a Guerra dos Macabeus (167 a 63aC), quando chegou a ser proibida por povos dominadores.
Os judeus diziam que ela proporcionaria a proteção contra o inferno, e rabinos propunham que os circuncidados não sofreriam o Geena.
Por outro lado, durante o domínio de Roma, muitos judeus que acompanhavam a nobreza romana e participavam das saúnas públicas, preferiam ser submetidos a um tipo de cirurgia plástica para esconder o “sinal do pacto” e, assim, fugiam da zombaria. Podiam participar da vida pública entre os gentios. Eram judeus prósperos que não abriam mão dos benesses que a vida secular proporcionava, e então, não faziam questão de ocultar o pacto com Deus.
Paulo foi quem mais se opôs às práticas das leis dietéticas judaicas. Ele ensina que a circuncisão não tem nenhum poder para mudar o destino da pessoa no que tange ao espiritual, em especial no Dia do Juízo. Afirma que a circuncisão em si não tem poder espiritual, mas se atém à Lei e sua observação. “Mas é judeu o que o é no interior, e circuncisão, a que é do coração, no espírito, não na letra, cujo louvor não provém dos homens, mas de Deus”, Rm 2.29.
Ainda na Antiga Aliança (no Velho Testamento) os profetas começaram a exortar o povo por causa da dureza de coração, tomando-o como de “coração incircunciso” (Dt 10.16 e Jr 4.4) e de ouvido incircunciso (Jr 6.10). Paulo também chama os judeus de “incircuncisos de coração” em Atos 7.51.
A Igreja reuniu-se em Concilio, conforme Atos 15, e resolveu a situação de uma vez por todas, abolindo tal exigência da Lei de Moisés entre os crentes.
Por que no oitavo dia?
A cirurgia, realizada de forma artesanal, se comparada aos recursos de hoje, não podia ser realizada em dias anteriores, nem mesmo um dia antes, tampouco após. Por determinação divina teria de ser justamente no oitavo dia.
Naquela época ninguém sabia o significado do motivo dessa determinação divina. Nem mesmo Abraão, cremos. Ele, assim como todos os seus descendentes carnais, seguiram à risca a determinação divina, sob o mistério oculto, que hoje é revelado e que torna esse evento glorioso, no que tange a sua importância em função do oitavo dia de vida de um menino.
“Com base na consideração das determinações de vitamina K e de protrombina, o perfeito para se realizar uma circuncisão é o oitavo dia”. (Nenhuma Dessas Doenças, Dr. S. I. McMillen, 1986, pág. 21).
O oitavo é o dia perfeito e realmente não poderia ser outro. Até o oitavo dia, a criança ainda não possui a formação química necessária na composição sanguínea, para provocar a coagulação. Fosse a circuncisão realizada no sétimo dia, a criança morreria por hemorragia. Antes do oitavo dia o nível da substância de vitamina K e de protrombina é tão baixo que não conteria a hemorragia, o que não ocorre a partir do oitavo.
Mas por que então no oitavo dia e não em outro qualquer subsequente? Ocorre que essa composição química orgânica chega no seu mais alto nível justamente no oitavo dia e, depois, se estabelece em níveis normais. Portanto, é o melhor dia.
Na época de Abraão não se detinha nenhum estudo sobre a composição sanguínea, o que nos leva a perceber que essa informação formula uma outra: fica claro que a intervenção e orientação divinas acompanharam Abraão. Todo o cuidado foi preponderante para a manutenção de um povo, que seria preservado para que a semente prometida em Gênesis 3-15 – para esmagar a cabeça da Serpente, o espírito opositor-, brotasse entre ele, o que ocorrera na concepção e nascimento do Senhor Jesus – o Messias.
Extremo
Na contramão dessa orientação, a Igreja Católica Romana se posicionou contrária à circuncisão por meio da Bula de União com os Coptos, de 1442, editada pelo papa Eugênio IV: “… não pratiquem a circuncisão, seja antes ou depois do batismo, pois ponham ou não sua esperança nela, ela não pode ser observada sem a perda da salvação eterna”.
Antíoco IV (Epifânio) proibiu a circuncisão a exemplo do imperador romano Adriano (117-138). No caso do rei sírio, muitas mães se dispunham a morrer a transgredir a Lei de Moisés e a aliança com o Senhor.
Circuncisão da alma
O apóstolo Paulo ensina que a circuncisão deve estar no coração (na mente humana), que deve manter- se despido de toda impureza e passar pela “cirurgia” do novo nascimento em Cristo (Ungido) – o Salvador (Jesus).
A Igreja define que é “Deus que conhece os corações, lhes deu testemunho (a nós os não judeus) dando-lhes o Espírito Santo, assim como também a nós; e não fez diferença alguma entre eles e nós, purificando o seu coração pela fé”, At 15.8-9 (a frase entre parênteses é nossa).
Por fim, durante o Concilio de Jerusalém (At 15) os apóstolos mandam que nos abstenhamos da idolatria e suas contaminações, “da prostituição, do que é sufocado e do sangue” (v20). (Este artigo foi extraído do livro Pontos Difíceis de Entender (título provisório), do mesmo autor, que trata de traduções, significados, informações científicas, perguntas e respostas, que deverá ser lançado pela CPAD em junho).
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ANTÔNIO MESQUITA, FONTE: REVISTA “RESPOSTA FIEL” ANO 5 – N° 19