Pergunta: Se a alma humana reencarna para pagar os pecados cometidos numa vida anterior, deve-se considerar a vida como uma punição?
Resposta: Ora, se a vida fosse um castigo, ansiaríamos por deixa-la, visto que todo homem quer que seu castigo acabe logo. Ninguém quer ficar em castigo longamente. Entretanto, ninguém deseja, em sã consciência, deixar de viver. Logo, a vida não é um castigo. Pelo contrário, a vida humana é o maior bem natural que possuímos.
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Pergunta: Se a alma reencarna para pagar os pecados de uma vida anterior, dever-se-ia perguntar quando se iniciou esta série de reencarnações. Onde estava o homem quando pecou pela primeira vez? Tinha ele então um corpo? Ou era puro espírito? Se tinha corpo, então já estava sendo castigado. Onde pecara antes? Só poderia ter pecado quando ainda era puro espírito. Como foi esse pecado? Era então o homem parte da divindade? Como poderia ter havido pecado em Deus? Se não era parte da divindade, o que era então o homem antes de ter corpo? Era um anjo? Mas o anjo não é uma alma humana sem corpo? O anjo é um ser de natureza diversa da humana. Que era o espírito humano quando teria pecado pela primeira vez?
Respostas:
1) Se a reencarnação fosse verdadeira, com o passar dos séculos haveria necessariamente uma diminuição dos seres humanos, pois que, à medida que se aperfeiçoassem, deixariam de reencarnar. No limite, a humanidade estaria caminhando para a extinção. Ora, tal não acontece. Pelo contrário, a humanidade está crescendo em número. Logo, não existe a reencarnação.
2) Respondem os espíritas que Deus estaria criando continuamente novos espíritos. Mas então, esse Deus cria sempre novos espíritos em pecado, que precisam sempre reencarnar? Jamais Ele cria espíritos perfeitos?
3) Se a reencarnação dos espíritos é um castigo para eles, ter corpo seria um mal para o espírito humano. Ora, ter corpo é necessário para o homem, cuja alma só pode conhecer através do uso dos sentidos. Haveria então uma contradição na natureza humana, o que é um absurdo, porque Deus tudo fez com bondade e ordem.
4) Se a reencarnação fosse verdadeira, nascer seria um mal, pois significa cair num estado de punição, e todo nascimento deveria causar-nos tristeza. Morrer, pelo contrário, significaria uma libertação, e deveria causar-nos alegria. Ora, todo nascimento de uma criança é causa de alegria, enquanto a morte causa-nos tristeza. Logo, a reencarnação não é verdadeira.
5) Vimos que se a reencarnação fosse verdadeira, todo nascimento seria causa de tristeza. Mas, se tal fosse certo, o casamento – causador de novos nascimentos e reencarnações – seria mau. Ora, isto é um absurdo. Logo, a reencarnação é falsa.
6) Caso a reencarnação fosse uma realidade, as pessoas nasceriam de determinado casal somente em função de seus pecados na vida anterior. Tivessem sido outros os seus pecados, outros seriam seus pais. Portanto, a relação de um filho com seus pais seria apenas uma casualidade, e não teria importância maior. No fundo, os filhos nada teriam a ver com seus pais, o que é um absurdo.
7) A reencarnação causa a destruição da caridade. Se uma pessoa nasce em certa situação de necessidade, doente, ou em situação social inferior ou nociva, nada se deveria fazer, para ajudá-la, porque propiciar-lhe qualquer auxílio seria, de fato, burlar a justiça divina, que determinou que ela nascesse em tal situação, como justo castigo de seus pecados numa vida anterior. É por isso que na índia, país onde a grande maioria crê na reencarnação, praticamente ninguém se preocupa em auxiliar os infelizes. A reencarnação destrói a caridade. Portanto, é falsa.
8) A reencarnação causaria uma tendência à imoralidade e não um incentivo à virtude. Com efeito, se sabemos que temos só uma vida, e que ao fim dela seremos julgados por Deus, procuramos nos converter antes da morte. Pelo contrário, se imaginamos que teremos milhares de vidas e reencarnações, então não nos veríamos impelidos à conversão imediata. Como um aluno que tivesse a possibilidade de fazer milhares de provas de recuperação, para ser promovido, pouco se importaria em perder uma prova – pois poderia facilmente recuperar essa perda em provas futuras – assim também, havendo milhares de reencarnações, o homem seria levado a desleixar seu aprimoramento moral, porque confiaria em recuperar-se no futuro.
9) Diria alguém: “Esta vida atual, desta vez, quero aproveitá-la gozando à vontade. Em outra encarnação, recuperar-me-ei”. Portanto, a reencarnação impele mais à imoralidade do que à virtude.
10) Ademais, por que esforçar-se combatendo vícios e defeitos, se a recuperação é praticamente fatal, ao final de um processo de reencarnações infindas?
11) Se assim fosse, então ninguém seria condenado a um inferno eterno, porque todos se salvariam ao cabo de um número infindável de reencarnações. Não haveria inferno. Se isso fosse assim, como se explicaria que Cristo, nosso Senhor afirmou que no juízo final Ele dirá aos maus: “Ide malditos para o fogo eterno” (Mateus 25.41)?
12) Se a reencarnação fosse verdadeira, o homem seria salvador de si mesmo, porque ele mesmo paga suficientemente suas faltas por meio de reencarnações sucessivas. Se fosse assim, Cristo não seria o Redentor do homem (Mateus 20.28). O sacrifício do Calvário seria nulo e sem sentido. Cada um salvar-se-ia por si mesmo. O homem seria o redentor de si mesmo. (Lucas 19.10: Efésios 2.8-9). Essa é uma tese fundamental da Gnose.
13) Em consequência, a Missa e todos os Sacramentos não teriam valor nenhum, seriam inúteis ou dispensáveis. O que é outro absurdo herético.
14) A doutrina da reencarnação conduz necessariamente à ideia gnóstica de que o homem é o redentor de si mesmo. Mas, se assim fosse, cairíamos num dilema: ou as ofensas feitas a Deus pelo homem não teriam gravidade infinita; (Romanos 6.23), ou o mérito do homem seria infinito.
15) Que a ofensa do homem a Deus tem gravidade infinita decorre da própria infinitude de Deus. Logo, dever-se-ia concluir que se o homem é redentor de si mesmo, pagando com seus próprios méritos as ofensas feitas por ele a Deus infinito, é porque seus méritos pessoais são infinitos. Ora, só Deus pode ter méritos infinitos. Logo, o homem seria divino. O que é uma conclusão gnóstica ou panteísta. De qualquer modo é absurda. Logo, a reencarnação é uma falsidade.
16) Se o homem fosse divino por sua natureza, como se explica ser ele capaz de pecado? A doutrina da reencarnação leva à conclusão de que o mau moral provém da própria natureza divina. O que significa a aceitação do dualismo maniqueu e gnóstico. A reencarnação leva necessariamente à aceitação do dualismo metafísico, que é uma tese gnóstica que repugna à razão e é contrária à fé.
17) É essa tendência dualista e gnóstica que leva os espíritas, defensores da reencarnação, a considerarem que o mal é algo substancial e metafísico, e não apenas moral. O que, de novo, é tese da Gnose.
18) Se, reencarnando infinitamente, o homem tende à perfeição, não se compreende como, ao final desse processo, ele não se torne perfeito de modo absoluto, isto é, ele se torne Deus, já que ele tem em sua própria natureza essa capacidade de aperfeiçoamento infindo.
19) A doutrina da reencarnação, que admite várias mortes sucessivas para o homem, contraria diretamente o que Deus ensinou na Sagrada Escritura: “ao homem está determinado morrer uma vez, vindo depois o juízo” (Hebreus 9.27).
20) Finalmente, a doutrina da reencarnação vai frontalmente contra o ensinamento de Cristo no Evangelho. Com efeito, ao ensinar a história do rico e do pobre Lázaro. Cristo Nosso Senhor disse que, quando ambos morreram, foram imediatamente julgados por Deus, sendo o mal rico mandado para o castigo eterno, e Lázaro mandado para o seio de Abraão, isto é, para o céu (Lucas 16.19-31).