Muito se tem falado de Ouriel de Jesus, notadamente depois de alguns problemas envolvendo a igreja que dirige em Somerville e a polêmica de um livro lançado recentemente, coisas que continuam repercutindo por aqui e também no Brasil. Mas quem é afinal de contas Ouriel de Jesus? Conversamos com várias pessoas, buscando juntar informações que fechassem um “perfil’ do personagem em questão e o que obtivemos cremos ser o que de mais completo se publicou até então sobre o polêmico pastor.
As credenciais do líder
Basta uma olhada no resumo biográfico que encontramos no site oficial da World Revival Church, totalmente “inchado” para poder elevar o simplório homem procedente do Paraná à categoria de personalidade, para se ter uma idéia de suas pretensões. Está registrado lá: Ouriel de Jesus, presidente da Convenção Geral das Assembléias de Deus de Língua Portuguesa nos Estados Unidos; presidente mundial da W. O. E. M (World Organizations of Evangelical Ministers); presidente da Missões e Evangelismo Mundial Cristo Vencedor; presidente do Centro Teológico de Boston; professor de teologia; doutor em divindade pelo Christian Center of Oklahoma e American Bible College; comendador condecorado com a Ordem do Rio Branco; conferencista internacional; missionário brasileiro trabalhando nos Estados Unidos da América desde 1985; fundador do Ministério de Boston, hoje com dezenas de igrejas espalhadas pelos Estados Unidos e diversos países do mundo.
Oriel – o homem
Ouriel de Jesus ou pastor Ouriel é este homem amado por alguns, criticado por muitos, mas o certo é que nosso protagonista segue seu rumo. “Muito se tem falado sobre Ouriel de Jesus ultimamente, mas muitos falam sem conhecê-lo. Alguns mostram saber alguma coisa, mas poucos sabem o que realmente se passa com esse polêmico pastor. Considero que os dias em que vivi perto dele me mostraram alguma coisa de sua personalidade, do jeitão simples de caboclo interiorano do Paraná, de sua pessoa tranqüila, de sua forma gentil em tratar seus amigos nas partidas de ‘ping-pong’ em sua casa. Mas às vezes também um sujeito calado que entra num lugar e mal cumprimenta quem esta ali, reação esta que provoca indignação entre os que a vivenciam.
Ouriel faz o tipo pulso firme, demonstra que tem tudo no seu controle, mas às vezes parece que não tem tanto controle assim. Toma decisões sozinho, não costuma consultar ninguém para grandes projetos, fala que tudo é direção divina. Será mesmo?”, afirma certa pessoa que conviveu por muito tempo próximo a esse pastor.
Projetos ambiciosos
A começar pela biografia apresentada no site de sua igreja, Ouriel se mostra nada modesto, tem como objetivo o mundo, usa com facilidade a palavra “World” para seus projetos. Agora para quem saiu há bem pouco tempo do anonimato, temos que admitir que foi bem longe. Mesmo sem falar e entender o inglês, conquistou uma posição elevada e invejada, tanto para brasileiros nos Estados Unidos quanto para os que estão no Brasil. Uma coisa todos admitem, Ouriel é um grande empreendedor, pois nesses anos na América desenvolveu um grande ministério, comprou e alugou muitos templos, consagrou muita gente, quase todos eles, como ele próprio, oriundos do anonimato, da simplicidade. Todos esses “obreiros”são provenientes do Brasil sem “lenço e sem documento”, aceitando qualquer coisa. Uma posição de pastor de congregação, com salários pagos pontualmente à cada semana, era algo irrecusável. Nos cultos semanais de obreiros, Ouriel sempre exigiu a presença de todos na sede em Somerville e assim foi formando um pequeno exército de fiéis homens e consta que no ápice de sua igreja chegou a ter uma entrada financeira de em média 40 mil dólares por semana, contando a sede e as congregações. Essas cifras jamais chegaram a ser disponibilizadas aos membros, jamais levadas ao conhecimento do restante do ministério, coisa que Ouriel sempre controlou sozinho.
Tendo um sobrinho como tesoureiro, sua filha na direção dos negócios da organização “OJ”, como está grafado em alguns produtos que vem lançando no mercado, como livros, brinquedos supostamente educativos, cd’s e fitas de vídeo, Ouriel vem desenvolvendo um império religioso/comercial, tendo à frente a família. O nome “OJ” foi recentemente mudado para “Cristo Vencedor”, vindo logo em seguida o título “World Revival Church Assembly of God”, seguido do sub-título “A Igreja do Avivamento Mundial”. Assim vem Ouriel de Jesus, sempre criativo, mudando seus planos, criando novos projetos, procurando um lugar ao sol, de preferência onde todos o vejam. Considera-se um super dotado espiritual, dono de uma intimidade maior com Deus. Visita constantemente o Paraíso e gosta muito de usar a frase “pagar um preço”. Ouriel costuma fazer coisas como jejuar por 30 dias, de preferência anunciando isso de forma que todos saibam disso. Num desses lances de piedade exibicionista ele escreveu um livro sobre seus jejuns, como se tivesse sido ele o primeiro homem do mundo a fazê-lo. Alem de escrever o livro ainda colocou sua foto nele para mostrar a debilidade conseqüente dos dias de sua abstenção alimentar.
Prestígio a qualquer custo
Sempre jogou com fatores que pudessem guindá-lo a uma posição onde estivesse sozinho. Certa feita orou pra que não nevasse tanto num determinado inverno. Para glória dele aquele inverno foi fraco de neve, acertou mais uma vez e passou a ser respeitado pelo fato. Quem se levantará contra tal homem? Segue então Ouriel em sua cruzada anti-neve, como se o fenômeno natural “neve” fosse uma manifestação de uma certa “imperfeição” de Deus que esquadrinhou o tempo. Uma espécie de “erro” de Deus. Mas no ambiente criado na World Revival Church não existe espaço para comentários contrários ao que afirma o líder, não há espaço nenhum para contestações, ao contrario existe sim um clima de super devoção a Ouriel de Jesus. Ele é chamado de “Daddy”, uma palavra tomada do inglês, com sentido carinhoso, usada para se referir ao “pai” da World Revival Church, que vale no púlpito ou fora dele. Pregadores de renome no Brasil que passaram e passam pela World Revival Church, como Marcos Feliciano, Cláudio Gama, Lanna Holder e outros “profissionais da Palavra” logo aprenderam esta palavrinha do inglês e sempre usam para identificar Ouriel.
Há dois anos passados Ouriel tentou a sorte novamente. Orou pra que não nevasse naquele ano, fato registrado em fita de vídeo. Desta vez não teve tanta sorte assim porque nevou e nevou muito.
Em todos esses anos de pastor presidente das igrejas de língua portuguesa nos Estados Unidos Ouriel criou muitos amigos e também inimigos. Um número considerável de “falsos” amigos também sem dúvidas. Pastores que estiveram lado a lado com ele por um tempo, mostraram-se depois não serem tão amigos assim e o abandonaram.
Exibicionismo
Ouriel, fez portanto, amigos e inimigos, mas para fazer “amigos”, sempre dispôs do fator econômico. Com a supervalorização do dólar frente ao real nem foi preciso muito esforço para isso. Uma oferta para um pastor aqui, para outro ali e conseguiu prestígio e respeito também fora de Boston. Mantêm como obreiros na sede de Somerville algumas “personalidades evangélicas” do Brasil que para uns já estavam em fim de carreira, mas para Ouriel continuam sendo muito úteis, principalmente para traduzir profundas e seladas revelações vindas dos céus, um exemplo é o pastor Geziel Gomes.
Para quem conhece hermenêutica ou simplesmente gosta de ouvir uma boa pregação Ouriel simplesmente não serve como pregador, dadas suas muito conhecidas limitações num púlpito, mas mesmo assim para ele não foi difícil chegar a ser pregador no maior congresso missionário anual dos evangélicos no Brasil, o conhecido Gideões Missionários. Ouriel usa e abusa de chavões, frases feitas, coisas do tipo: “Aleluia de rachar as costas”, “quando cheguei aqui minha mala era um saco e a fechadura era um nó”. Berrando muito e fazendo uso de tais citações, calçado com muito dinheiro, Ouriel vai levando no grito todo mundo e para não desagradar o chefe a corte toda cai no riso quando ele repete suas gracinhas, como se fosse a primeira vez que ouvem tal coisa.
Uma unção particular?
Outra marca de Ouriel de Jesus e da World Revival Church é seus membros caírem no chão durante os cultos. Basta Ouriel olhar, fazer determinados gestos acompanhados dos tradicionais “reeceeeba!” e “vaaai!” que ninguém fica em pé. Cair nos cultos da World Revival Church é um ato positivo pra quem quer dizer que gostou da pregação. Ele costuma prolongar o “show” por horas, depois dos cultos ou mesmo nas reuniões de oração durante a semana, entregando seu paletó, o microfone que acabou de usar, as chaves de seu carrão de milhares de dólares e outras coisas pessoais aos circunstantes, que ao primeiro toque se atiram no chão como que fulminados fossem por um raio de poder que emana do chefe e “contamina” tudo o que ele toca. Como um Midas espiritual, Ouriel tem o toque mágico da unção, uma unção especial que ele se arroga ser dono, coisa que os circunstantes autenticam, se atirando ao chão ou fazendo caretas quando tocam algum instrumento tocado anteriormente por Ouriel. Um desses jovens circunstantes nos segredou que fazia parte do grupo do “cai cai”, dizendo que nunca sentiu nada diferente que o fizesse cair mas caía porque todo mundo caía e foi assim que arrumou até um empreguinho na igreja. “Ele costumava chamar a gente quando recebia a visita de algum pastor e queria impressionar. Nos entregava alguma coisa e a gente empacotava no chão. Quem era bobo de não cair?”, acrescenta o jovem.
Deslizes teológicos
Despreparo teológico é outra marca conhecida de Ouriel. Certa feita anunciou que estava escrevendo uma nova versão para a Bíblia porque havia encontrado erros na tradução de Almeida e precisava corrigi-los. Ao ser questionado por uma comitiva de pastores de Santa Catarina quais eram esses erros, ele responde: “Muitos, a começar pelo Evangelho de João que diz: “No princípio ERA o verbo, e o verbo ERA Deus, e o Verbo ESTAVA com Deus. Isso tá errado, mudarei o tempo do verbo ERA, que está no passado para o presente”, disse.
Ao terminar sua colocação, um dos pastores levantou-se, pediu a palavra e humildemente deu uma aula de Grego, provando para Ouriel a sua fraqueza teológica e que a Bíblia estava correta ao se referir assim, no passado, a Jesus Cristo. Parece que ele acatou o ensino, nunca mais voltou a falar, ao menos em público, sobre sua possível versão bíblica. Em outra discussão com pastores, sobre o livro de Apocalipse, deu uma versão de ficção científica para os gafanhotos descritos no livro, dizendo tratar-se de helicópteros, mísseis e máquinas modernas de guerra. Os circunstantes, conhecedores da visão teológica/escatológica sobre o livro de Apocalipse, gelaram, mas se calaram para não contrariar o chefe. Um deles se levantou e contrariou o chefe, mostrando o que aprendeu com a teologia praticada nas Assembléias de Deus, para espanto dos outros. Consta que Ouriel passou a pressionar nos bastidores tal pastor, que acabou se mudando para outra região.
Falsa modéstia também sempre foi uma das marcas de Ouriel. Certa feita, em reunião com seus obreiros, um deles comentou: “Pastor, acabei de ler na Internet que o Papa se reuniu em Roma com os principais líderes religiosos do mundo. Entre eles o chefe europeu mulçumano, o chefe da Igreja Anglicana, o patriarca da Igreja Ortodoxa Grega e outros importantes líderes”. Esperando do chefe um comentário com fundo teológico, talvez escatológico ou no mínimo inteligente, ele simplesmente diz: “Bobagem, esses caras não são líderes religiosos coisa nenhuma. Teria sido uma reunião com líderes de verdade se o Papa tivesse se reunido com Ouriel de Boston, fulano de tal de Springfield, ciclano de tal de New York…”. Quem convive com Ouriel sabe com que facilidade ele sai com coisas desse tipo.
Complicações na justiça
Ouriel foi convidado a ser membro do Conselho de Cidadãos Brasileiros da Nova Inglaterra, um conselho criado e presidido pelo Consulado Brasileiro de Boston. Foi durante sua permanência como membro do Conselho que foi condecorado com o título de comendador da Ordem do Rio Branco, uma homenagem dada a brasileiros que se destacam representando seu país ou exercendo algum tipo de liderança no exterior. Ouriel foi condecorado muito mais pelo número de pessoas que faziam parte de sua igreja que propriamente por qualquer coisa que tivesse feito pela comunidade. No Conselho Ouriel apenas fez número. Costumava chegar mudo e sair calado das reuniões, mostrando total apatia ou falta de interesse por tudo que era discutido. Até que finalmente por iniciativa própria deixou o Conselho. Mas mesmo a condecoração recebida certamente que não lhe seria conferida nos dias de hoje, visto ter tido seu nome e o de sua igreja ligado a diversas irregularidades na legalização em massa de membros de sua igreja, através do advogado Javier Lopera da Flórida. Os processos de legalização começavam a ser montados dentro da World Revival Church, eram enviados a Lopera que os “esquentava” ainda mais, legalizando um grande número de membros da igreja como se pastores fossem. A prática deu certo por muito tempo e ainda hoje muita gente se sente de certa forma em débito com Ouriel e a igreja por ter sido legalizado através do esquema Lopera. Mas a coisa desabou quando Lopera foi preso e condenado na Flórida por falsificação de assinaturas e documentos para orientar processos de legalização.
A lei de imigração é clara, legaliza a qualquer tempo ministros religiosos que provem ter formação em teologia, que sejam credenciados por um ministério e que vivam às expensas da igreja, ordem ou grupo religioso. Mas muito documento foi montado, fabricado e esquentado para que “house cleaners”, pintores de paredes e trabalhadores braçais virassem pastores, com diplomas em teologia, música ou outra atividade afim, com histórico de ministério e com salários pagos pela igreja. A prisão de Lopera levou os olhos do FBI para a igreja da Washington Street em Somerville. Desde então Ouriel tem feito muito esforço para se mostrar “limpo”, como encabeçar uma campanha de recolhimento de cartas/assinatura em apoio a um projeto de legalização e constantes viagens a Washington, onde faz sempre questão de aparecer posando para fotografias ao lado de autoridades e personalidades. Sempre acompanhado pelo fiel escudeiro Roberto Vieira, espécie de lacaio disfarçado de jornalista, que edita textos mal produzidos e truncados com muita foto para enaltecer o chefe nas páginas do mensário Mensageiro Cristão, órgão impresso oficial da igreja. Mas mesmo com todo esse esforço em provar o contrário, sabe-se que Ouriel e a World Revival Church continuam sob investigação e há inclusive boatos de uma prisão de Ouriel por agentes do FBI.
Sobre o incidente das legalizações, chegou-se inclusive a “sacrificar” um pastor de uma filial da World Revival Church em outro estado. Ato do tipo “boi de piranha” para que o dito pastor levasse as culpas das montagens e falsificações e assim defender o chefe, alegando-se que ele não tinha conhecimentos do que estava ocorrendo.
Outra coisa nebulosa nos negócios de Ouriel e da World Revival Church é a questão financeira. Ouriel nos últimos anos investiu pesado no Brasil. Comprou canal de televisão e montou loja e empresa de representações. Muito dinheiro foi transferido dos Estados Unidos para o Brasil, coisa que ninguém nunca saberá a quantia exata, inclusive contrariando as leis dos Estados Unidos que proíbem transferência de valores sem registros.
A questão da expansão a nível mundial também foi um projeto audacioso de Ouriel que escolheu a dedo alguns países para abrir filiais de sua igreja o “Ministério de Boston” como chamam. Foram escolhidos países como Canadá, Inglaterra, Japão e Austrália, todos países com algo em comum; economias fortes, moedas estáveis e lugares para onde se rumou levas e levas de imigrantes brasileiros nos últimos anos. A World Revival Church tem como objetivo apenas os imigrantes brasileiros e não os povos locais. Assim ficou de fora dos objetivos missionários da World Revival Church o miserável continente africano, por exemplo, lugar preferido por todos os apaixonados por verdadeiras missões a nível mundial.
Nunca se viu um conselho fiscal na administração da World Revival Church, todas as decisões, no que se refere a finanças principalmente, partem do comando de Ouriel somente. Seguindo o exemplo de outros movimentos religiosos que já causaram muita polêmica e escândalos financeiros, como a Igreja Universal do Reino de Deus, a Renascer em Cristo e muitas outras, Ouriel é inflexível não apenas na direção eclesiástica, na direção administrativa como também no trato com a grana. Tendo como tesoureiro um sobrinho e outros parentes em pontos chaves da administração, controla tudo. Em poucas palavras: Oriel é autoritário e centralizador.
Numa dessas tomadas de decisão sem consultar nem ouvir ninguém, alugou um prédio desocupado perto do templo em Somerville para transformá-lo em igreja. Só depois da documentação assinada, através de um contrato de leasing de sete anos, com direito a anúncio com pompa e estardalhaço na primeira pagina de seu jornal Mensageiro Cristão, é que foi consultar a prefeitura. Veio então a triste notícia, o prédio que havia sido construído para depósito de papel não comportava o peso se ocupado fosse por gente. O projeto de um templo para cinco mil pessoas pedia uma reformulação na estrutura do prédio desde sua fundação. Tudo isso para se pensar em começar a obra propriamente dita. Assim já se passaram dois anos, perto de 2 milhões de dólares já foram enterrados no projeto, sem contar com o aluguel mensal de mais de trinta mil dólares, sem que o prédio tenha sido usado ainda. Pelo andar da carruagem a obra vai se alongar por muito mais tempo, um verdadeiro elefante branco na contra-mão. A decisão expansionista de Ouriel foi tomada no calor, na empolgação, nos tempos em que somente coisas boas eram faladas à respeito da maior igreja brasileira em Boston e o crescimento era algo que dava segurança para qualquer projeto.
Hoje, numa breve avaliação, se nota que o crescimento dos últimos cinco anos transformou o estilo de vida do simples interiorano paranaense e sua família. A casa em que moravam na cidade de Somerville ficou pequena e simples demais. Ouriel precisou construir um verdadeiro palácio numa região milionária de Boston, cidade por nome Saugus, e para corresponder com o estilo de vida tipo “novos ricos” a frota familiar de carros luxuosos foi também renovada e aumentada. Com tudo correndo muito bem a organização World Revival Church/Cristo Vencedor lançou no mercado brasileiro, a nível nacional, a cantora Elaine de Jesus, seu marido Alexandre Silva e a mais nova das filhas, Suelen de Jesus, também cantora. Todos alavancados com muito dinheiro, bons compositores, bons maestros e arranjadores. Verba gorda para colocá-los nos principais eventos evangélicos, para tocar nas principais rádios evangélicas a música que vem de Boston ungida a muito dólar foi uma fórmula que só podia dar certo.
Boston tem sido um atrativo para brasileiros que vêm para trabalhar nos Estados Unidos. Resultado disso revistas famosas como Época, Veja, Isto É e mesmo a Rede Globo costumam trazer reportagens de capa ou especiais mostrando o grande número de “conversões” de brasileiros na América. Uma dessas revistas chamou a World Revival Church de “O fenômeno religioso que fez milhares de brasileiros que jamais haviam entrado em uma igreja evangélica no Brasil se converterem para o evangelho na América”.
Sendo que numa dessas matérias fala-se de um poderoso líder religioso local, Ouriel de Jesus, coisa que faz bem ao seu ego extravagante e alimenta ainda mais suas pretensões mundiais. Quanto ao fato das conversões o que se anunciou nessas matérias não corresponde à verdade, pois os membros das igrejas evangélicas locais são em sua quase totalidade pessoas que já faziam parte do movimento evangélico no Brasil e se procuraram uma igreja evangélica aqui é porque já freqüentavam uma lá.
Mas o esperto Ouriel faz questão de capitalizar, citando estatísticas como se tudo fosse realmente conversão em massa.
Mas o bom astral de Ouriel vem declinando. Como se não bastassem os problemas que já existiam por uma disputa de liderança dentro do Distrito de Língua Portuguesa entre Ouriel e pastores ligados à Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil, os últimos meses foram muito problemáticos para ele, notadamente à partir do lançamento do polêmico livro “O Triunfo Eterno da Igreja”, fruto de supostas revelações divinas, com direito a visita ao Céu juntamente com outros seis componentes de um grupo chamado de “O Grupo Dos Sete”. Ouriel jura que leram no Céu, num lugar chamado de “Sala das Escrituras”, um livro selado, coisa que traduziram em português para os comuns mortais, que jamais teriam acesso a tudo isso se não fosse o nível espiritual elevado dele e do grupo.
Mas basta se ter uma formação evangélica básica, algum conhecimento bíblico para ver no livro produzido por Ouriel e seu grupo coisas absurdas desde a primeira página. Algumas asseverações chegam a ser infantis, outras beiram as raias do absurdo. Diz ele que ao lerem o livro selado numa sala chamada “Sala das Escrituras” (não procure isso na Bíblia que não irá encontrar) havia uma luz que permanecia vermelha enquanto liam os textos. Algumas partes levaram horas para serem traduzidas e somente quando havia exatidão na tradução é que esta luz se tornava verde, dando sinal que estava concluído aquele capítulo.
O polêmico livro: O Triunfo Eterno da Igreja
As reações contra o livro foram muitas. Não faltaram comentários escritos na Internet, em jornais e revistas especializados para contestar a obra supostamente revelada a Ouriel. Periódicos renomados, como o Mensageiro da Paz da CPAD por exemplo, não pouparam artigos contestando e condenando o livro. O Conselho das Assembléias de Deus dos Estados Unidos desligou Ouriel, seus pastores, tirou dele o direito de usar o nome Assembléia de Deus, alem de extinguir o Distrito de Língua Portuguesa do qual Ouriel era presidente. Tudo isso pelo que aquele Conselho chamou de “aberração doutrinária”, atitude esta seguida também pela Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil.
Diante das atitudes do Conselho Americano, da Convenção Geral, a Convenção das Assembléias de Deus no Paraná marcou reunião para também tratar do assunto Ouriel/TEI. Muito rapidamente Ouriel se mandou para uma viagem ao Paraná onde ficou por vários dias articulando com sua base aliada de pastores visando influenciar a decisão da assembléia da convenção. Consta que cobriu em dólar um rombo no caixa da FACEL, uma faculdade de teologia controlada pelos pastores do Paraná, visando “comprar” favores para não ser também desligado naquela convenção. Os conchavos deram certo e Ouriel saiu de lá ainda como membro daquela convenção.
De volta a Boston Ouriel não só continua a propagar o malfadado livro quanto seu órgão oficial “Mensageiro Cristão” ostenta em primeira página que a Convenção do Paraná havia “reparado um erro” cometido pela Convenção Geral, sendo que o próprio presidente da CGADB havia lhe pedido perdão durante o encontro no Paraná.
Ouriel segue a máxima de que enquanto ataca não é atacado e passou a usar o púlpito para mandar mensagens agressivas a todos que elegia como “inimigos da obra de Deus”. Os cultos na World Revival Church que já eram estardalhaçosos passaram simplesmente a fazer parte de um esforço de Ouriel e daqueles que o apóiam mais de perto para mostrar aos de fora que o chefe “tá com tudo e não tá prosa”. Para isso as “manifestações espirituais” típicas da WRC e que autenticam a super espiritualidade de Ouriel, foram ainda mais destacadas. Num desses cultos ele lança um desafio, já que os cultos da WRC são transmitidos para o Brasil e para o mundo via TV e Internet, a quem não estava acreditando nas manifestações que acontecem em Boston. E num lance de exibicionismo desenfreado ordenou que se desligasse as luzes do púlpito. Foi uma atrapalhação geral até alguém acertar quais eram os interruptores corretos. Ouriel quase perdeu a paciência, reclamou algumas vezes, orientou como deveriam fazer, até que finalmente conseguiram o que ele queria. Com as luzes de cima apagadas, os refletores de iluminação de vídeo projetaram uma sombra dele no chão, o circo estava montado. Ouriel ordena a quem estivesse doente que passasse pela sua sombra e dispara: “O mesmo poder que estava com a sombra de Pedro está comigo também”. As pessoas passavam e claro, caíam estateladas no chão.
Ouriel sempre fez coisas engraçadas e curiosas nas liturgias de seus cultos em Somerville. São mocinhas pré-adolescentes no púlpito, usando vestimentas que imitam anjos, que se prostram viradas para a parede como se estivessem vendo um ser angelical ou espiritual alí mesmo. Uma cadeira foi deixada vazia por algum tempo durante os cultos. Diziam ser para o Mestre se assentar. Mas alvo das críticas ferrenhas de um conhecido pregador do Rio de Janeiro a cadeira foi logo abolida da liturgia avivalista.
A estranha unção do cai, cai…
Mais curioso ainda foi a entrega do livro para a equipe ministerial, numa noite de lançamento do mesmo. Ele jurou que o livro possuía poderes e quem tocasse nele não se agüentaria em pé devido ao tamanho poder. O primeiro exemplar foi entregue à sua esposa, que firme e sorridente segura o livro, orgulhosa ao lado do marido. Logo depois começa o festival de cai-cai. Obreiros velhos e novos caindo ao tocar no livro que pegavam das mãos do líder máximo. Com alguns ele achava engraçado e ria muito, como se aquilo fosse uma pegadinha, algo hilário. A platéia pacientemente olhava o “show’ de obreiros se atirando pra trás, alguns claro dando uma rápida olhada antes de cair, evitando assim se esborrachar sobre uma cadeira ou outro objeto. O interessante é que dois ou três pastores, incluindo seu irmão e também pastor Divoncir de Jesus, pegaram o livro normalmente sem cair no chão. Em seguida vem o séquito de adolescentes e pós-adolescentes que ele fez pastores e continua o festival de quedas.
O incidente do lançamento do livro, quando uns caiam e outros não, pegou mal e os comentários, as insinuações começaram. “Será que o TEI dá umas falhadas de vez em quando?”, perguntou alguém.
Diante dos comentários e insinuações, perguntou-se a Ouriel porque as pessoas caiam ao tocar no TEI e não caiam ao tocar na Bíblia. Seria o livro mais “poderoso” então que a própria Bíblia? Parecia que finalmente Ouriel havia sido colocado em xeque, mas enganou-se quem pensou assim. Ouriel mostrou-se capaz de qualquer artifício, qualquer subterfúgio para manter a posição a qual ele mesmo se colocou, de super dotado espiritual. Para se sair da situação das quedas provocadas pelo livro TEI, Ouriel inventou o “filtro”. Isso mesmo, um filtro imaginário que segundo sua versão envolve a Bíblia. “Vejam bem, a Bíblia tem um ‘filtro’ e é por isso que as pessoas tocam nela e não caem. Já o TEI não tem este filtro e então as pessoas não suportam o poder que emana dele e caem no chão”, diz Ouriel, coisa que para qualquer pessoa equilibrada soou como uma das maiores tolices já ditas referindo-se sobre coisas espirituais.
Mas Ouriel não se dobra e disposto a provar que a história do filtro procedia, monta novamente o circo. Ouriel ora a Deus para que retire o filtro da Bíblia e a entrega a algumas pessoas, que arriam-se no chão como coqueiros sem as raízes. Ele mesmo diz que quando uma pessoa toca a Bíblia sem o filtro ou o TEI, recebe logo uma carga tão grande de poder que não se agüenta nas pernas e o melhor lugar para esses é o chão. Mas para que ninguém duvide, ele anuncia a um grupo de meninas adolescentes da coreografia: “Vou tirar o filtro, agora recebam!!” Todas caem. “Agora vou colocar o filtro e ninguém vai cair”. As meninas obedientes ao chefe seguram tranqüilas o “amarelinho poderoso” sem cair.
Em suma é isto que está acontecendo com esta igreja brasileira nos EUA. No Brasil algumas igrejas da Assembléia de Deus já foram contaminadas pela teologia de Oriel e estão indo no mesmo caminho. É lamentável ver que tais pessoas posem ainda como “homens de Deus”, levando muitos neófitos à heresia. Essa é a conseqüência e o fim daqueles que desprezando o ensino doutrinário da Palavra de Deus preferindo se enveredar pelo submundo espiritual das revelações.
Fica aqui a advertência e o alerta para que outras igrejas não caiam no mesmo erro.
Paulo Almeida é o nome fictício do internauta que nos enviou este artigo. Atualmente mora nos EUA.
Ps. Algumas pessoas ainda ligadas ou que foram por algum tempo ligadas à World Revival Church e ao pastor Ouriel contribuíram para a produção deste texto. Respeitando a vontade de todas elas em manter-se anônimas não citaremos seus nomes