Em Hb.1.6 lemos: “προσκυνησάτωσαν αὐτῷ πάντες ἄγγελοι θεοῦ”
Todos os anjos de Deus o adorem
Esse é um daqueles textos controvertidos, afinal o texto poderia ser traduzido como “prestem homenagem” e a tradução até poderia ser entendia como correta. Entretanto, se προσκυνέω aqui refere-se apenas a uma homenagem, como de alguém diante de um superior, deve-se lembrar que Aquele que recebe tal homenagem deve ser entendido como superior aos anjos. Contudo, como podemos saber como προσκυνέω é usado aqui? Sabe-se que nesse caso o autor de Hebreus está citando um outro texto, assim como o faz diversas vezes em outras ocasiões nesse mesmo capítulo. A pergunta então é: A que texto o autor de Hebreus está citando ou aludindo aqui? A verdade é que o autor de Hebreus está citando o Cântico de Moisés.
Três textos da LXX apresentam o Cântico de Moisés:
1) Dt.32.43, que diz: “προσκυνησάτωσαν αὐτῷ πάντες υἱοὶ θεοῦ” (todos os filhos de Deus O adorem). Nesse verso encontramos um texto deveras similar àquele encontrado em Hb.1.6, com duas diferenças: (a) Em primeiro lugar o texto fala sobre υἱοὶ θεοῦ (filhos de Deus) e não a respeito dos ἄγγελοι θεοῦ (anjos de Deus), mas deve-se lembrar que as duas expressões são intercambiáveis na LXX. (b) Em segundo lugar, Aquele que recebe a adoração aqui é o próprio Deus.
2) Odes 2.43: “προσκυνησάτωσαν αὐτῷ πάντες οἱ ἄγγελοι θεοῦ” (todos os anjos de Deus O adorem). O texto aqui é idêntico ao encontrado em Hebreus, à exceção do artigo οἱ antes de ἄγγελοι, e é uma re-edição do texto de Dt.32. Novamente aqui a distinção é que Aquele que recebe a adoração é o próprio Deus.
3) Sl 96.7 (97.7): “προσκυνήσατε αὐτῷ πάντες οἱ ἄγγελοι αὐτοῦ” (Todo os Seus anjos O adorem). Nesse verso encontra-se a referência aos anjos, mas προσκυνέω aqui está na segunda pessoa do plural ao passo em todos os outros casos o verbo imperativo está na terceira pessoa do plural. Entretanto, novamente aqui o objeto da adoração é o próprio Deus.
Todos os textos mencionados acima são alguma forma uma variação do Cântico de Moisés, um importante documento judaico frequentemente aludido no NT (Rom.10.19; 11.11; 12.9; 15.10; 1Co 10.20, 22; Fp 2.15; Lc 21.22; Ap 6.10; 10.5; 15.3; 18.20; 19.2) O que é interessante é que os texto citados acima tem duas características em comum:
1) Nos três versos προσκυνέω é indubitavelmente usado com o sentido de adoração;
2) O objeto de προσκυνέω nos três versos é o próprio Deus. Em outras palavras, o autor de Hebreus alude a um texto extremamente bem conhecido pela igreja primitivo no qual o sentido do texto era relacionado à adoração do próprio Deus e o aplica a Jesus Cristo. Dificilmente uma declaração mais clara da divindade de Cristo e do fato de que ele é digno de ser adorado pode ser oferecida. De fato, o contexto de Hebreus 1 suporta largamente essa conclusão, afinal, Ele já tinha sido apresentado como Criador (1.2), a expressão exata da essência (ὑπόστασις) de Deus (1.3), o sustentador de todas as coisas (1.3), tendo um nome superior ao dos anjos (1.4), de tal modo que os próprios anjos, sob ordenação divina o adoram.
Fonte: marceloberti.wordpress.com/2014/07/21/adorar-a-jesus-e-idolatria/
Bom dia amigo. A paz do Senhor Jesus.
Estou gostando muito do seu Blog, mas não entendi a referencia no terceiro paragrafo.
2) Odes 2.43: está desta forma. Seria um erro ortográfico? Ou é alguma referencia que talvez eu desconheça?
Abraços.
Werner
Odes 2.43 algo como uma versão de Hebreus 1:6 pela LXX , não foi um erro ortográfico.