No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo Era Deus (João 1:1)
εν αρχη ην ο λογος και ο λογος ην προς τον θεον και θεος ην ο λογος
Postulamos que o Verbo é o Ser cuja existência transcende o tempo. Sua preexistência eterna é implícita. O Verbo estava com Deus. A preposição com (gr. pros) implica relação e distinção. Usada com o acusativo significa não somente coexistência mas intercomunicação direta. O Verbo era Deus. Dito isto, não se deduz que o Verbo era o Deus que ele estava — O Pai; entretanto, significa mais do que Divindade. Há uma implicação definida na reivindicação de Ele ser Deus. O substantivo Theos é colocado em primeiro lugar sem o artigo, dando-lhe mais força. O Verbo é então identificado com Deus no sentido de que Ele é coparticipante da essência e natureza Divina e, em virtude de tal relação, pode ser considerado como Deus exatamente como o Deus que ele estava — O Pai. Isso não significa que exista mais que um Deus, pois afirmar isso seria ir contra o que o mesmo afirma (Is.43:10), logo, ao que tudo indica, é que há pluralidade na unidade e singularidade no Deus das Escrituras, e isso nos é revelado progressivamente a partir da mesma. No vers. 2, João reúne todas as três cláusulas da primeira sentença. O verbo era se usa no sentido absoluto de “existir” e não no sentido de “tornar-se”. Sua existência transcende o tempo, não sendo Ele criado.
Embora haja a co-igualdade das três pessoas da Divindade, ou seja, não exista uma subordinação na essência divina, existe uma subordinação de função, que é própria da Trindade econômica. Aqui falaremos de como isso procede na pessoa do Verbo, e como ocorreu sua filiação, a saber:
1 – O Verbo recebeu o nome “Jesus” na encarnação para a salvação do seu povo (Mateus 1:21; Lucas 2:21).
2 – O Verbo foi chamado “Filho de Deus” na encarnação, expressando sua submissão voluntária à primeira pessoa na divindade para cumprimento do programa de redenção estabelecido na eternidade (1Crônicas.22:10; 17:13; Lucas 1:35). Conquanto Jesus fosse eternamente o filho de Deus em antecipação à sua encarnação dado programa de redenção, foi quando gerado no tempo que foi declarado sua filiação assumindo o papel de submeter-se ao Pai. O salmo 2:7 é a única referência no AT para Pai/Filho na Trindade, estabelecida na eternidade passada e demonstrada na encarnação – Esse salmo evoca a passagem de 2 Samuel 7:8-16 como a base para o reino davídico. A expressão “unigênito” é um título que descreve a filiação singular e única de Jesus Cristo em relação a Deus através de Maria.
3 – A Divindade se revelou a nós como Pai (1), Filho (2) e Espirito Santo (3) e cada pessoa da Trindade em sua economia participou da geração do Jesus histórico — hominídeo.
1°Pessoa – Hebreus 1:5
2°Pessoa – João 1:14; Fp.2:7
3°Pessoa – Mateus 1:20
Assim, Deus — A Trindade — “aprove habitar nEle toda plenitude” (Cl.1:19), isso é, a humanidade gerada em Maria ocupou toda Plenitude da Divindade em si — O Verbo. No mesmo, quando diz “habitar nEle”, no grego, temos o verbo katoikeo, que é posto em contraste com paroikeo. O primeiro significa “tomar residência permanente”, “firmar-se em”, com a intenção de ficar. A mesma palavra é usada acerca da habitação de Cristo nos remidos, por meio do seu Espírito, em Ef.3:17.
Essa compreensão é atestada nos escritos apostólicos, por exemplo, João o descreve como “Deus unigênito” (1:18). A expressão “unigênito”, e seu significado, nos remonta ao que foi profetizado acerca do messias prometido (Sl.2:7), a mesma é aplicada ao Verbo após a encarnação (v.14-18), esse fato por si só já elucida a causa do uso dessa expressão. O fato do Verbo ser Plenamente Deus (v.1) e adquirir uma natureza humana gerada adicionada a sua pessoa o define como sendo o “único do tipo”, a saber, Deus em um corpo gerado de forma única ou Deus em carne. Como comenta o Apologista William Lane Craig:
“Biblicamente falando, a grande maioria dos eruditos contemporâneos do Novo Testamento reconhece que mesmo que a palavra tradicionalmente traduzida como “unigênito” (monogenes) tenha uma conotação de derivação quando usada em contextos familiares – em oposição ao significado meramente “único” ou “um” de um tipo”, como muitos estudiosos sustentam – no entanto, as referências bíblicas a Cristo como monogenes (Jo 1.1, 14, 18; 1Jo.4:9) não contemplam uma pré-criação ou procissão eterna do divino Filho do Pai, mas tem a ver com o Jesus histórico sendo o Filho especial de Deus (Mateus 1.21-23 ; Lucas 1-35; João 1.14, 34 ; Gl 4.4; Hebr. 1,5-6). Em outras palavras, o status de ser “monogenes” de Cristo tem menos a ver com a Trindade do que com a Encarnação. Essa compreensão primitiva do ser de Cristo ainda é evidente na descrição de Cristo por Inácio como “um médico, de carne e de espírito, gerado e não-gerado. . . Maria e de Deus ”(Efésios 7). Não há aqui nenhuma idéia de que Cristo em sua natureza divina é gerado. De fato, a transferência pelos Apologistas da Filiação de Cristo de Jesus de Nazaré para o Logos pré-encarnado ajudou a depreciar a importância do Jesus histórico para a fé cristã.”
4 – A Filiação Do Cristo pode ser entendida da seguinte maneira:
O plano pre-estabelecido na eternidade e executado no tempo. Precisamos ressaltar que Deus não muda, quero dizer, em Si mesmo Ele planejou os meios para salvação do seu povo, a Filiação da segunda pessoa como também a paternidade da primeira fizeram parte do programa.
O fato dos apóstolos se referirem ao Cristo pelo modo como eles o conheceram — Filho de Deus — responde a causa das menções do seu envio (Jo.3:17; 1Jo.4:9, 10, 14), outrossim, não há qualquer alusão do envio de um Filho nas profecias messiânicas. Precisamos esclarecer que as menções do envio do Filho unigênito no NT não significa necessariamente que o mesmo sempre foi o Filho gerado na Eternidade, más apenas faz alusão ao plano eterno preestabelecido anteriormente por Deus em Si mesmo e manifestado no tempo oportuno, assim como lemos: “conhecido antes da criação do mundo, revelado nestes últimos tempos em favor de vocês”(1Pe.1:20)… E também em outro lugar: “Embora eu seja o menor dos menores dentre todos os santos, foi-me concedida esta graça de anunciar aos gentios as insondáveis riquezas de Cristo, e esclarecer a todos a administração deste mistério que, durante as épocas passadas, foi mantido oculto em Deus, que criou todas as coisas (Ef.3:8,9). O Filho é o mistério que esteve oculto em Deus que foi manifesto a nós.
5 – Analisemos um texto:
“O Espírito Santo desceu sobre Ele em forma corpórea, como uma pomba, e uma voz vinda do céu: “Tu és o meu Filho amado, em ti me comprazo.” (Lucas 3:22).
Note agora que somente após a encarnação do Verbo que Deus disse: “Este é o Meu Filho”.
Confira:
• Mateus 17:5.
• Marcos 1:11 e 9:7
• Lucas 9:35
• 2 Pedro 1:17
Atanásio considerava a visão de que o Verbo se tornou o Filho em virtude de sua união com a carne (quatro discursos contra os arianos).4,20-22). Em resposta àqueles que dizem que o Verbo e a carne juntos são o Filho, Atanásio responde que ou o Verbo se tornou o Filho por causa da carne ou então a carne se tornou o Filho por causa do Verbo. Em qualquer dos casos, diz ele, será o Verbo ou a carne, não a união deles, que realmente é o Filho. Mas ele observa que seus oponentes podem escapar de seu dilema, sustentando que o Filho é constituído pela concordância dos dois, de modo que nem em isolamento possa ser chamado de Filho. A objeção de Atanásio a essa solução plausível é que então a causa da união do Verbo e da carne é o Filho verdadeiro. Mas a objeção de Atanásio não parece seguir. Se a água é formada pela união de hidrogênio e oxigênio, não é a causa de sua união que é a água. Da mesma forma, o Filho é o resultado, não a causa, da união do Verbo com a carne. Atanásio nota outra opção que seus oponentes podem advogar: que o Filho é o Filho apenas no nome. Isso parece ainda mais plausível: o Filho não é uma nova substância formada pela união do Verbo com a carne, mas “Filho” designa um ofício ou papel em que o Verbo entra em virtude da Encarnação, assim como alguém se torna Presidente em virtude de ter sido eleito para esse cargo. Atanásio objeta que então a carne é a causa de ele ser o Filho. Mas isso não segue; antes, é a união do Verbo e da carne que coloca o Verbo no papel do Filho na economia de Deus.
Nesta Trindade econômica há subordinação (ou, talvez melhor, submissão) de uma pessoa a outra, como o Filho encarnado faz a vontade do Pai e o Espírito fala, não por conta própria, mas em nome do Filho. A Trindade econômica não reflete diferenças ontológicas entre as pessoas, mas é uma expressão da condescendência amorosa de Deus em prol da nossa salvação. O erro da “Logos (Verbo) Cristologia” estava em confundir a Trindade econômica com a Trindade ontológica, introduzindo a subordinação na natureza da própria Divindade.
7 – Sua filiação veio a plena floração em Sua ressurreição. Ele é o Filho não só porque ele foi virgem, nascido na humanidade, más também porque ele foi gerado novamente dos mortos, agora glorificado.
Jesus Cristo tornou-se Filho no sentido mais pleno nascendo não uma, mas duas vezes. Esta verdade profunda Paulo deixa claro no livro de Romanos:
“Acerca de seu Filho, que nasceu da descendência de Davi segundo a carne, que foi declarado Filho de Deus com poder, pela ressurreição dos mortos, de acordo com o espírito de santidade, Jesus Cristo, nosso Senhor.” (Rom.1:3,4)
Ele se tornou um filho no momento do nascimento; Ele foi declarado ser um Filho em ressurreição. A plenitude da Sua filiação vem em Seu nascimento duas vezes.
Vejamos Atos 13:33:
Aqui encontramos esta verdade nos reportando para o mesmo Salmo, e até mesmo para o mesmo verso (2:7), assim como o escritor aos Hebreus, que relaciona a cotação para a ressurreição:
“Deus cumpriu esta promessa aos nossos filhos em que Ele ressuscitou a Jesus, como também está escrito no Salmo segundo, ‘Tu és meu Filho;. hoje te gerei”.
Jesus é o Filho em ressurreição, bem como no nascimento. Nós nunca devemos ficar presos na ideia herética de que Jesus Cristo é eternamente subserviente a Deus. Ele tornou-se o Filho para o nosso lado que era seu por direito, humilhando a si mesmo, e esvaziando-se de sua Glória (Fp. 2:6-8).
Algumas das muitas objeções que são levantadas contra essa doutrina é:
“Em Lucas 1:35 — texto muito utilizado — não afirma que o ente santo, Jesus, se tornaria o Filho de Deus, mas que Ele seria chamado Filho de Deus, ou seria reconhecido como Filho de Deus, e não simplesmente como filho de Maria. Além disso, não há evidência no Novo Testamento de que a natureza humana de Jesus, que é o que foi gerado em Maria, receba o nome de “Filho de Deus”
A isso respondemos:
Dentro das definições da palavra “kaleo” (chamado) no texto, está:
“ser chamado, i.e., ostentar um nome ou título (entre homens)”
Ora, “Filho de Deus” não é um nome, más como a pessoa é reconhecida mesmo, argumentar isso é chover no molhado, a questão é o porquê desse reconhecimento!
O texto não diz que “o Filho seria reconhecido Filho”, más que o ente santo que nasceria seria chamado/reconhecido assim, então nos é dito o porquê, a saber, a ação do Espírito Santo em sua geração com o poder do altíssimo.
Então lemos: “Assim — gr. διό (dio) “por meio do que”, i.e., “consequentemente”: “por que causa”, “portanto”, “motivo, “porquê” — aquele que há de nascer será chamado santo, Filho de Deus”. Note que essa palavra lança luz ao porque o ente que iria nascer seria chamado Filho, isso é, porque seria gerado diretamente pelo Espírito Santo!
Outros utilizam um texto em especial do antigo testamento para tentar provar a suposta filiação e subserviência eterna do Verbo, e esse é Provérbios 30:4, onde lemos:
“Quem subiu aos céus e desceu? Quem ajuntou nas mãos os ventos? Quem embrulhou as águas em sua capa? Quem fixou todos os limites da terra? Qual é o seu nome, e o nome do seu filho? Conte-me, se você sabe”.
Esta parte do versículo tem sido cristianizada para falar sobre o Filho, o qual comunicou coisas importantes sobre Deus. Alguns estudiosos lhe dão uma referência messiânica. Tais ideias, entretanto, dificilmente foram entendidas dessa maneira por Agur. Ele não falava de coisas que conhecemos, mas sobre coisas sobre as quais não sabemos absolutamente nada. Ele não queria solucionar mistérios, mas criar. Outrossim, não há qualquer garantia contextual que nos assegure que está sendo feita uma referência a um filho gerado na eternidade. É também importante relembrar que o Verbo só recebe o nome Jesus em seu nascimento na terra, indicando assim que antes desse evento o mesmo não possuía nome algum. Portanto, descartamos a possibilidade desse texto fazer menção de uma eterna geração do Filho de Deus.
Deus seja louvado
Deus abençoe
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Brício Lube, via Facebook