A ASSEMBLEIA DE DEUS, A LEI E O SÁBADO
Mais um exemplo de desonestidade intelectual
Citações do livro “O despertar de um mandamento” (p.17)
9) Contra o que Jesus Se levantou com relação ao sábado?
Alguns cristãos pensam que Jesus combateu o sábado do quarto mandamento. Será que foi isso mesmo? A “Casa Publicadora das Assembléias de Deus” (CPAD) publicou um livro comentando, brevemente, toda a Bíblia. Nele nós encontramos:
“O zelo dos fariseus não era pela Lei de Deus, mas das suas próprias tradições. Tinham tornado o dia de descanso em um dia cheio de preceitos e exigências absurdas. Jesus deliberadamente pisou-as, e estabeleceu o princípio de que ‘é lícito fazer bem no sábado’ (v.9).” — S. E. McNair, “A Bíblia Explicada”, p. 355. Grifos acrescentados.
Comentando sobre o capítulo 12 de Mateus, o Pr. Myer Pearlman escreveu isto:
“O capítulo 12 registra a oposição dos fariseus a Jesus. Seus motivos para opor-se a Ele eram os seguintes: Sua origem humilde; Sua associação com os pecadores; e a Sua oposição às tradições. O capítulo 12 descreve a oposição vinda pela última razão mencionada.” — Op. cit., p. 193.
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REFUTAÇÃO DA NONA PARTE
É interessante observar que neste mesmo comentário S.E. McNair, autor da Bíblia Explicada, citada pelos adventistas, tece o seguinte comentário sobre a passagem de Mateus capítulo 12:
“Cristo e o sábado (1-8). F.W.Grant, na exposição deste trecho, chama atenção para o caráter da lei do sábado nos dez mandamentos. ‘Um dia de descanso depois de seis dias laboriosos era concedido a Israel como privilégio: o sinal da aliança entre Israel e Jeová (Ex 31.17). Não era baseado nos eternos princípios da moralidade como os outros mandamentos; seu caráter era mais cerimonial que moral, e o privilégio do descanso semanal poderia perder-se caso fosse violada a aliança. […] Em que sentido é Cristo Senhor do Sábado? 1) Porque Ele o criou; 2) Porque Ele podia abolir o sétimo dia de obrigação legal para dar lugar ao primeiro dia, de guarda voluntária, caracterizado pelo gozo e culto que resultam na sua ressurreição (Goodman).’” (A Bíblia Explicada. 4. Ed. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleia de Deus, 1983, p. 317 – Comentário de Mateus 12.1 – destaque nosso)
Embora a nota da Bíblia Explicada, argumente que Jesus estava combatendo as tradições dos fariseus a respeito do sábado, o que em parte é verdade, ela nunca cai no erro adventista de afirmar que o sábado do decálogo fazia parte da “lei moral”, portanto, um mandamento eterno inviolável. Pelo contrário: ela afirma, para decepção dos sabatistas, que o sábado era cerimonial e que foi abolido por Cristo. Informação que o autor do livro fez questão de omitir.
Mas a pergunta persiste: Jesus quebrantou o sábado ou apenas as regras farisaicas sobre o dia? A resposta é sim para as duas opções. Sim Jesus quebrou o sábado junto com as regras impostas pelos fariseus. E não sou eu quem diz isso ou algum fariseu legalista, não! Quem afirma com todas as letras é o apóstolo João, o mais intimo dos doze:
“E os judeus perseguiam Jesus, porque fazia estas coisas no sábado. Mas Ele lhes disse: Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também. Por isso, pois, os judeus ainda mais procuravam matá-lo, porque não somente violava o sábado, mas também dizia que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus.” (Jo 5.16-18 – destaque nosso)
João apresenta dois grandes motivos pelos quais os fariseus se opuseram a Jesus nesta passagem:
- Violar o sábado;
- Fazer-se igual a Deus.
Uma análise honesta e sensata da perícope precisa levar em consideração a dependência mútua entre as duas ideias. As duas sentenças se mantem de pé ou caem juntas. Não há como separá-las. Admitir validade para uma e não para a outra é miopia exegética.
Analisaremos a segunda sentença perguntando: Jesus se fazia igual a Deus ou não? Todo o contexto aponta positivamente para a essa questão. João estava certo ao afirmar que Jesus “dizia que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus”. Suponho que até mesmo o autor do livro (que julgo ser trinitariano) não teria reservas em admitir tal interpretação.
Os Testemunhas de Jeová tentaram neutralizar o texto argumentando da seguinte maneira:
“Mas, quem disse que Jesus estava fazendo-se igual a Deus? Não foi Jesus. Ele se defendeu contra…acusações falsas de judeus que, como os trinitaristas, estavam tirando falsas conclusões!” (Deve-se Crer na Trindade? STV, 1989, p. 24,25)
Todavia, o texto não admite esse ponto de vista. O que João faz não é repetir uma falsa conclusão criada pelos fariseus, antes é expor sua opinião pessoal com a inequívoca e cristalina confissão a respeito da divindade plena do Filho.
Isso foi admitido até mesmo por um escritor adventista. No livro “As pretensiosas Testemunhas de Jeová”, o adventista Pedro Apolinário, refuta os TJ neste texto com o seguinte argumento:
“Não encontrando nenhuma base no texto grego, em defesa de suas eternas cavilações, as Testemunhas de Jeová afirmam, que João está aqui recordando o que os judeus diziam a respeito de Cristo. Não se encontra nesta passagem nenhum resquício desta estapafúrdia idéia, porque é o próprio João que por inspiração divina afirma em alto e bom som a igualdade de Cristo com Deus. A estrutura frasal apenas admite interpretar que foi João quem afirmou, inspirado pelo Espírito Santo, e não os judeus.” (As Pretensiosas Testemunhas de Jeová. Andrews University Instituto Adventista de Ensino, 1981, p. 124 – destaque nosso)
A interpretação do senhor Apolinário está corretíssima e nós concordamos com ela. Entretanto, a posição hermenêutica do adventismo quanto à segunda sentença conduz a uma incoerência gritante com a primeira, já que eles não levam até as últimas consequências o que o verso inteiro encerra. Pelo contrário, insistem que a afirmação de João, sobre a violação do sábado, dizia respeito meramente à interpretação legalista dos fariseus e não ao sábado em si. Em outras palavras, não era João que dizia que Jesus violava o sábado, mas unicamente os fariseus, pois na mente dos adventistas o sábado para Jesus era um “mandamento moral” e, como tal, nunca poderia ser quebrantado.
Observe o que afirmou Ellen White sobre essa passagem: “pediu ao homem que levasse a cama através da cidade, a fim de publicar a grande obra de que fora objeto. Isso daria lugar à questão do que era ou não era lícito fazer no sábado, e abriria o caminho para Ele condenar as restrições dos judeus quanto ao dia do Senhor, declarando vãs suas tradições.” (O Desejado de todas as nações, CPB, p.206)
Pergunto: por que essa mudança brusca na análise das duas sentenças, sendo que ambas admitem a mesmíssima lógica em sua interpretação?
Em hipótese alguma a violação dizia respeito meramente às trinta e nove regras da Mishná que os Fariseus haviam criado em torno da guarda do sábado. Admitir isso é desconsiderar completamente o tom da polêmica colocado por João.
João não deixava seus destinatários em suspense. Quando queria expor aos seus leitores o ponto de vista de terceiros ele mesmo registrava. Observe este exemplo a seguir:
“Por isso, alguns dos fariseus diziam: esse homem não é de Deus, porque não guarda o sábado” (João 9:16)
Essa é uma característica de João ao escrever seu evangelho: registrar e expor o real pensamento de outros, interpretando as entrelinhas (O que eu estou afirmando pode ser comprovado lendo os seguintes versos: João 2.20-22; 6.5-6, 6. 63-64, 6.70-71; 9.21-23; 11.11-14).
Como disse certo escritor: “João não ‘socorre’ Jesus do ‘engano’ dos leitores de entenderem que o Cristo profanou o sábado”.
Caso contrário, deveríamos esperar algo do tipo: “Não que Jesus tenha profanado o sábado, mas violou apenas as regras dos fariseus sobre a guarda do dia”, como ele fez em outras ocasiões, por exemplo, em relação ao santuário: “…replicaram os judeus: em quarenta e seis anos foi edificado esse santuário, e tu, em três dias, o levantarás? Ele porém, se referia ao santuário do seu corpo.” (Jo 2.20,21)
Assim como João não estava registrando mera opinião dos fariseus de Ele ser igual a Deus, tampouco era mera opinião dos fariseus que ele havia violado o sábado. Jesus de fato, tanto era Deus, quanto quebrantou o sábado. Não há como fugir da lógica a que o versículo nos leva. É a única interpretação coerente e possível a ser admitida.
Em outra ocasião Mateus coloca na boca de Cristo as seguintes palavras: “Ou não lestes na lei que, aos sábados, os sacerdotes no templo violam o sábado, e ficam sem culpa?” (Mateus 12:5)
Jesus estava dizendo a verdade ou não? Os sacerdotes violavam o sábado ou apenas violavam regras humanas impostas sobre o dia? Creio que a pergunta dispensa uma exegese mais sofisticada…
Se formos levar Jesus a sério e admitindo-se que os sacerdotes de fato violavam o sábado, qual a razão de Jesus não poder violá-lo sendo Ele o nosso Sumo Sacerdote?
Que Jesus violou o sábado e não apenas as regras dos Fariseus já ficou comprovado. É fato. Agora se apresenta outra pergunta decorrente desta: como ele fez isso? O contexto fornece alguma pista de como isso ocorreu? Sim.
“Disse-lhe Jesus: Levanta-te, toma o teu leito e anda. Imediatamente o homem ficou são; e, tomando o seu leito, começou a andar. Ora, aquele dia era sábado. Pelo que disseram os judeus ao que fora curado: Hoje é sábado, e não te é lícito carregar o leito. Ele, porém, lhes respondeu: Aquele que me curou, esse mesmo me disse: Toma o teu leito e anda.” (Jo 5.9-11 – destaque nosso)
Tomar o leito não era de modo algum regra farisaica, estava escrito na Lei de Deus, lá no quarto mandamento mesmo, “não farás obra alguma” (Êx 20. 10; Dt 5.14).
Jeremias deixa mais explícita a ordem quando profetiza: “assim diz o Senhor: Guardai-vos a vós mesmos, e não tragais cargas no dia de sábado, nem as introduzais pelas portas de Jerusalém; nem tireis cargas de vossas casas no dia de sábado, nem façais trabalho algum; antes santificai o dia de sábado, como eu ordenei a vossos pais.” (Jr 17.21,22)
A cama era uma carga? Era sim. Jesus poderia ter curado o homem em outro dia, mas preferiu fazer no sábado, poderia apenas ter curado o corpo do homem, mas insistiu que ele carregasse uma carga quebrando a lei. Ao atrelar a cura com o ato de carregar uma carga o que era terminantemente proibido pela lei, não dos Fariseus, mas de Deus, Jesus estava dando o recado de superioridade sobre a Lei.
E olha que não foi a primeira vez que Jesus fez esse tipo de coisa! Em outras ocasiões disse: “ouviste o que foi dito aos antigos…Eu, porém vos digo”, Etc.
Jesus não só violava o sábado, mas incentivava os outros a violarem também.
Jesus violou o sábado? Sim. Ele poderia muito bem fazer isso, pois como era “igual a Deus”, não estava sujeito a lei do sábado, pois Jesus era “maior” que o “templo”, maior que “Salomão”, maior que “Jonas” e maior que o “sábado”. O sábado foi feito para o homem e não para o Messias. Ele era Senhor sobre o dia e podia modificar as regras quando quisesse. Isso só vem a corroborar com as palavras de McNair citadas a pouco de que o sábado: “Não era baseado nos eternos princípios da moralidade como os outros mandamentos; seu caráter era mais cerimonial que moral”
Como vimos, o texto é claro: Jesus quebrou o sábado. O problema no entanto, não se concentra no texto em si, mas no pressuposto exegético adventista de que o sábado é um mandamento moral, portanto, inviolável. O que não é verdade.
Leia as demais matérias sobre o tema:
A Assembleia de Deus, a Lei e o sábado Parte 11
A Assembléia de Deus, a Lei e o sábado Parte 13
Jesus não mudou nada; apenas veio para cumprir a Lei.
Leiam Mateus 5:17
O Sermão do monte é um discurso de Jesus Cristo que pode ser lido no Evangelho de Mateus (Caps. 5-7) e no Evangelho de Lucas (Fragmentado ao longo do livro). um detalhe que Ele citou foi sobre Jejum e esmolas, e nada sobre “sábado”, será que Ele esqueceu ?
Jesus e o dialogo com jovem rico (Mateus 19:18-19, Marcos 10:18-19 e Lucas 18:20) a resposta da pergunta do moço rico “como faço herdar a vida eterna?” Disse Jesus ” – sabes os mandamentos?”
não mencionou o “sábado” , então Jesus esqueceu NOVAMENTE ?
De fato Jesus veio cumprir a Lei. não só o decálogo mas o cerimonial também. e isso não significa que temos que cumprir também toda a lei. somente o que Ele mandou, e o que é explanado no magistério dos apóstolos do Senhor. e sobre o sabado no NT temos uma negativa Cl 2:16-17
não adianta nada você “concordar” o seu concorde não é canônico, faça um contra argumento, e não só ficar falando bravatas e citando “história”. Jesus e apóstolos comiam tanto peixe na época, será que Jesus esqueceu de mandar guardar sábado ? e só foi lembrar em 1844 c/ egw ?
Ótimo artigo e esclarecedor! As citações fora de contexto nesse livro adventista é lastimável! Portanto, o artigo é importante para colocar os “pontos nos is”. Muito bom.