A importância da participação evangélica contra a corrupção
Os meios de comunicação alardeiam diariamente escândalos que espocam em todo o território nacional, demonstrando a corrupção que tem se instalado em diversos segmentos da sociedade brasileira, especialmente na administração pública.
Pergunta-se, então, qual a posição que a Igreja de Jesus deve tomar diante de tal quadro? Uma posição simplesmente denunciativa ou militante junto à sociedade? Ou, quem sabe, de completa isenção em relação aos temas sociais?
Corrupção, no vernáculo, significa decomposição, putrefação, apodrecimento ou também, devassidão ou depravação, podendo ainda ter o sentido de suborno. Todos os significados têm um liame entre si. Sem sombra de dúvida é o apodrecimento da sociedade, com a perda de seus valores morais e éticos, que têm levado a nação à depravação e, consequentemente, à multiplicação de casos de suborno, tráfico de influência e desvios, que têm dilapidado os já combalidos cofres públicos.
Três são as posições possíveis à Igreja de Jesus nesta hora. A primeira, de omissão em relação a tais temas. Na defesa dessa atitude omissa, poder-se-ia afirmar que o nosso reino não é deste mundo. Que a Igreja deve adotar posição de atrelamento aos governantes, quer corruptos ou não, pois são instituídos por Deus, ou ainda que qualquer atitude da igreja evangélica seria inócua, pois a corrupção é um mal nacional. Porém, não é isso o que a Bíblia ensina. Apesar da igreja não ser deste mundo, cada crente é comprometido com a sua geração. Nós temos uma missão em relação à sociedade onde estamos inseridos. Em Mateus 5.13-14, Jesus aponta uma missão dúplice para a Igreja: “luz do mundo e sal da terra”. Como luz, a Igreja deve pregar a Verdade, para que as más obras sejam manifestas, e reconhecidos os pecados dos homens, seja-lhes iluminado o caminho para a salvação. Porém, como sal, estamos aqui como instrumentos de Deus para evitar o total apodrecimento da sociedade onde vivemos. Como luz, desempenhamos a nossa missão transcendental; como sal, exercemos nossa missão terrenal. A Igreja, como sal da terra, tem o seu papel atuante junto à comunidade.
Em Romanos 1.22-32, a Bíblia nos dá o retrato de uma sociedade corrompida, e arremata dizendo que “os quais, conhecendo a justiça de Deus (que são dignos de morte os que tais coisas praticam), não somente as fazem, mas também consentem aos que as fazem”.
Ora, se a condenação de Deus é também para os que aprovam a corrupção, aí não estariam incluídos os que se calam diante do mal? Não estaria correto o adágio popular “quem cala consente?”
A segunda posição seria a meramente denunciativa. É a posição assumida por boa parte dos movimentos da sociedade organizada. Gritam contra a corrupção, emitem nota à imprensa, falam meia dúzia de jargões surrados, xingam este ou aquele corrupto, aparecem na mídia e vão dormir tranquilos dizendo “fiz a minha parte”.
Bem, talvez essa posição seja um pouco melhor que a de simples omissão. Porém, não é esse o papel da Igreja. Ela é sal. Ser sal não é fazer uso de um discurso demagógico e de conveniência. O sal interage com o meio. É a ação, e não o discurso, que faz o sal conservar, por exemplo, o charque (ou carne-de-sol).
É a tomada da terceira posição, a de militante e transformadora, que fará a Igreja cumprir a sua missão de sal da terra. É essa, seguramente, a posição bíblica. Ser militante, contudo, não significa que a Igreja deva tomar, como instituição, essa ou aquela cor partidária ou, ainda sair para a rua em passeatas ou qualquer outro tipo de manifestação que exalte a violência. A Igreja não deve assumir posições contra pessoas ou instituições, mas combater, com toda firmeza, o pecado. Como sal da terra, João Batista combateu o adultério que se instalara nos meios políticos de sua época (Lucas 3.19). Tiago advertiu os ricos opressores (Tiago 5.1-6), Paulo estabeleceu bases de relacionamento entre a classe dos patrões e a dos empregados (Efésio 6.5-9) e condenou o calote(Romanos 13.8). Como sal da terra a Igreja, tal qual fez Isaías, condena o suborno (Isaías 1.23).
Sabemos que o Congresso Nacional, e todo o setor público, é reflexo da sociedade brasileira. É certo, pelo menos nas democracias, o ditado de que “todo o povo tem o governo que merece”. Uma sociedade corrompida terá, como representantes, políticos corruptos. Assim, para o combate eficaz da corrupção, devemos formar cidadãos honestos. Temos que implantar uma “cultura de honestidade” em lugar da “cultura da esperteza”, para não dizer da safadeza. E essa é a missão por excelência da Igreja. Infelizmente, setores evangélicos estão falhando nessa missão. Como? Quando pregam a falsamente denominada Teologia da Prosperidade, que mede a espiritualidade pelo tanto de riqueza que o fiel ostenta, transformando em virtude o pecado da cobiça, e oferecendo o crente no altar assassino do consumismo capitalista. Quando pregam que o fim justifica os meios, se o objetivo é bom, pouco importa que no caminho se faça alguma malandragem. Quando os líderes “vendem” o apoio da congregação a determinado candidato por meia dúzia de trocados, “santificando” a venda de votos, o que não é outra coisa que não uma deslavada proposta de suborno coletivo. Quando acatam uma política eclesiástica feita na base de presentes, favorecimentos e troca de favores mútuos, esquecendo dos interesses do Reino de Deus. Esquecendo-se que a Bíblia, desde tempos imemoriais, já nos adverte “o rei com juízo sustém a terra, mas o amigo de subornos a transtorna” (Provérbios 29.4).
Oremos para que a igreja de Jesus Cristo assuma, com intrepidez, o papel de sal da terra, e seja conhecido no torrão brasileiro como uma reserva moral capaz de auxiliar nas mudanças de que tanto precisamos.
Pr. Humberto Schimitt Vieira, Membro do Conselho de Doutrina e Líder da Assembleia de Deus em Porto Alegre/RS