Não veio sobre vós tentação, senão humana; mas fiel é Deus, que não vos deixará tentar acima do que podeis, antes com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar.
I Coríntios 10.13
Por razões particulares, não irei comentar no perfil de um amigo que fez uma análise de ICo 10.13. Meus comentários aqui serão breves, já que não vi razões para tantas discordâncias assim.
Antes, uma observação: eu não disse, ou pelo menos não quis dizer, que ICo 10.13 trata de livre-arbítrio libertário. O texto claramente não está tratando disso. A questão é: isto pode ser inferido do texto? Eu creio que pode.
Corretamente, meu amigo entende que as advertências dadas no capítulo são para que não façamos a mesma coisa (ou seja, não copiarmos o exemplo dos judeus que pereceram no deserto, ICo 10.5). Ele acrescenta, ainda, que “o texto não entra no mérito sobre a capacidade de podermos cair ou não”, ou seja, sobre a possibilidade de queda.
É verdade, o autor de 1 Coríntios não entra nesse mérito, mas acredito que por razões óbvias. Uma advertência é dada quando há o risco daquilo contra o que está sendo advertido acontecer. Isso obviamente não precisa ser dito toda vez que uma advertência é feita. Qualquer pessoa entende, quando vê uma advertência, que o risco é sério e que, se não atentarmos para a advertência, algo trágico pode acontecer.
Meu amigo diz ainda que “a pessoa que estabelece a advertência” faz isso “exatamente para utilizarmos disto para o nosso bem”. Isto também é verdadeiro, mas não traduz todas as intenções de quem faz uma advertência. Quem faz uma advertência, sabe que sua advertência pode ser violada. Ninguém faz advertências contra impossibilidades. Por exemplo, você não vê placas de advertência contra ataques de tubarão ao longo de rios.
Ele cita o exemplo de alguém que “coloca uma placa numa estrada arriscada (à beira de um precipício)”. E então pergunta: “[essa pessoa] está fazendo aquilo imaginando naqueles que se jogarão ali de forma suicida? É por esse motivo? Não. Porém, o propósito daquela placa é para sinalizar o perigo.” Certamente é para sinalizar o perigo, mas um perigo que pode verdadeiramente acontecer. Se fosse impossível, por quaisquer meios, que alguém chegasse perto do precipício, essa pessoa certamente não perderia seu tempo colocando advertências contra eventos que, sob hipótese nenhuma, pode acontecer.
Ele diz que “não podemos confundir o propósito da advertência com especulações sobre a possibilidade ou não da queda, embora possamos entender que somente os crentes se utilizarão dessas advertências como meios para perseverar até o final da caminha cristã.” Essa é uma conclusão que, como vimos, desvirtua a natureza das advertências.
Mas é estranho que ele inicialmente diz acreditar que não é possível responder à pergunta “Poderemos perseverar até o fim, ou podemos cair como eles fizeram?” com base no texto de 1Co 10.13, mas tira a conclusão que “os crentes se utilizarão dessas advertências como meios para perseverar até o final da caminha cristã.”
Embora ele diga que as provações “não nos levam a pecar contra o Senhor,” e que sempre sairemos vencedores, isso não está nada claro no texto. É certo que Deus sempre provê o livramento, mas isso ainda não significa que todas as provações serão vencidas.
Ele apoia essa certeza de vitória em três pontos:
1) Elas são dadas por Deus, e são motivos de alegria […] sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança (Tg 1.2,3);
2) Além das provas Deus ainda concede um ‘limite’ (ἔκβασιν”) para perseverar nesse momento (Keener, p.59);
3). Há meios e advertências para o crente (v.6,11,14ss).”
Acredito que é evidente que o fato de serem dadas por Deus, terem limites e possuirmos meios para suportá-las, nada disso prova a certeza de vitória em todas as provações.
Mas tirando o foco dos riscos envolvidos, o versículo nos enche de esperança. Podemos ter certeza que, para toda e qualquer provação, Deus está do nosso lado, não deixando que elas ultrapassem a nossa capacidade de suportar.
Paulo Cesar Antunes via Facebook