Neste capítulo pretendo provar, que embora saibamos que antes da entrada do pecado no mundo, ao homem foi dada a ordem de se alimentar só de vegetais: “… Eis que vos tenho dado todas as ervas que produzem semente, as quais se acham sobre a face de toda a terra, bem como todas as árvores em que há fruto que dê semente: ser-vos-ão para mantimento” (Gn 1.29), mais tarde o próprio Deus deu a seguinte contra-ordem: “Tudo quanto se move e vive vos servirá de mantimento…” (Gn 9.3a). Este novo mandamento era para Noé e sua família (Esposa, filhos, noras, netos, etc.). Logo, Noé e seus descendentes não tinham por que observar nenhuma restrição alimentar quanto ao consumo de carne, pelo menos até que Deus ditasse o que consta de Lv 11 e outros textos correlatos. Além disso, há aqui outros pontos dignos de nossa atenção. Vejamo-los:
1ª) estes textos (refiro-me a Lv 11 e demais textos correlatos que estabelecem o cardápio dos judeus) não era um retorno a Gn 1. 29, já que este texto proibia o consumo de todas as carnes, enquanto aquele (refiro-me a Lv 11) só proibia algumas carnes;
2ª) era uma ordem dada aos judeus, milênios após a criação do homem, a saber, quando a Lei veio, muitos séculos após Abraão (Gl 3.17). E, sendo assim, os demais descendentes de Noé (no caso, as outras nações) não estavam sujeitos a isso.
3ª) uma das muitas provas bíblicas de que algumas das restrições feitas aos judeus, não eram extensivas aos outros povos, é o que consta de Dt 14. 21, que diz: “Não comerás nenhum animal que tenha morrido por si; ao peregrino que está dentro das tuas portas o darás a comer, ou o venderás ao estrangeiro…” (Grifo nosso). Aqui Deus proíbe os judeus de comerem um animal que não tenha sido morto pelo homem, mas os manda doá-lo ao peregrino ou vendê-lo a um estrangeiro. Estaria Deus autorizando os judeus a induzir os estrangeiros ao pecado? De modo nenhum. Este caso é similar ao dos nazireus que, como todos os que estudam a Bíblia sabem, não podiam comer uvas: (…”nem uvas secas ou frescas comerá” [ Nm 6: 3b]). Esta proibição não era nem para todos os israelitas, mas apenas para aqueles que, dentre os judeus, fizessem o voto de nazireu, e enquanto o dito voto durasse. Logo, alguns mandamentos eram só para os judeus. E, como se não bastasse, havia alguns mandamentos que eram só para alguns dos judeus;
4ª) ninguém deve estranhar o fato de o imutável Deus estabelecer para Adão uma dieta à base de vegetais; depois, mandar Noé comer todas as carnes; posteriormente, proibir algumas carnes aos judeus; e, atualmente, voltar a nos dizer o mesmo que dissera a Noé: “Tudo quanto se move e vive vos servirá de mantimento… ” como o veremos abaixo. Sim, pois o Deus da Bíblia é assim mesmo. Só os que ignoram que há várias Dispensações, bem como diversos Pactos (com Adão, com Noé, com Abraão, com os judeus, com Davi e com a Igreja), se surpreendem com isso. Sim, conforme Deus firma com o homem um Novo Pacto, coisas que haviam sido proibidas antes, podem ser liberadas e vice-versa. Veja os exemplos abaixo:
- Deus proibiu matar Caim (Gn 4:15), mas mandou Noé executar os assassinos (9:6). Isto significa que se Caim fosse contemporâneo de Noé, a lei de talião lhe teria sido aplicada por ordem divina;
- Jacó casou com a sua cunhada (Gn 29: 21-31), mas aos judeu isso foi proibido (Lv 18:18);
- dissemos e provamos que Abraão era de um Novo Testamento. E o mesmo podemos dizer de Moisés e seus liderados. Estes também receberam mandamentos que nenhum servo de Deus havia recebido antes. A nenhum de Seus servos que viveram antes do êxodo de Israel do Egito, mandou Deus observar o Ano Sabático, o Jubileu, o Dia da Expiação, etc. Logo, Moisés e os demais que com ele saíram do Egito também viveram numa espécie de Novo Testamento. De certo modo, Moisés também podia dizer: “Abrão era do Velho Testamento”.
- Abraão, Jacó e tantos outros servos de Deus, que viveram antes e durante a vigência do Antigo Testamento, além de serem bígamos e polígamos, se relacionavam sexualmente com suas criadas (Gn 16:4; 29:32 – 30:24). Hoje, porém, não se proíbe apenas o concubinato, mas se estabelece como Lei, sob pena de condenação eterna, a monogamia. Por que Deus permitiu no Antigo Testamento algumas coisas que Ele não permite hoje? Não posso tratar deste assunto aqui, pois, o mesmo foge ao escopo deste livro. Por ora quero apenas observar que a nossa responsabilidade e obrigações diante de Deus mudam de uma Dispensação para outra. Ademais, por razões não reveladas, Deus nunca proibiu o homem de fazer todas as coisas erradas. Até hoje, algumas coisas erradas são toleradas. Só para citar um exemplo, Deus nunca proibiu os seus servos de terem escravos. Abraão, Jacó, e outros servos do Senhor, os tiveram (Gn 22.3; 32.5). O Novo Testamento exige que os senhores sejam humanos para com seus escravos (Ef 6.9), o que implica em permissão para tê-los. Ora, todo o mundo sabe que a escravidão não é boa coisa. Por mais que o amo seja humano, ser amo é ser desumano. Isto significa que aquele crente que paga um salário miserável aos seus empregados, embora esteja errado, e precise mudar quanto a isso, não podemos tachá-lo de filho do diabo por isso, já que se ele pode até possuir escravos, remunerar mal as mãos-de-obra a seu serviço seria dos males o menor. Logo, Deus ainda nos tolera até hoje.
- · havia fervorosos servos de Deus (Abel, Enoque, Noé … ) antes de Abraão, mas só a partir deste patriarca que a circuncisão entrou em vigor (Gn 17: 9 – 27). Ademais, a Melquisedeque e a outros servos de Deus contemporâneos de Abraão, não encontramos Deus dando a mesma ordem. A circuncisão era só para Abraão, seus descendentes e os seus servos (Gn 17:27). Abraão era, portanto, do Novo Testamento. Sim, em relação ao Pacto de Deus com Noé, Abraão viveu uma espécie de Novo Testamento, tendo, pois, um dever que os que o precederam _Abel, Sete, Enoque, Noé…_ não tinham: a circuncisão. Aliás, até mesmo alguns de seus contemporâneos, como, por exemplo, Melquisedeque e os seus súditos, estavam sob outra Aliança;
Dividir a Lei em moral, sanitária, cerimonial, etc., não é errado, desde que o façamos com conhecimento de causa e para fins de estudo, e não para ludibriar os incautos por intermédio desse “malabarismo”. Informemos que este recurso é humano e não divino.
Mesmo sendo a dieta judaica da qual trata Lv. 11, uma Lei sanitária, o certo é que os cristãos não estão sujeitos a esse cardápio, pois Rm 14.1-3 diz claramente que estamos livres para comermos de tudo, e que aquele que acha que o cristão deve comer só legumes, é fraco. Na Versão Revisada, Rm 14.2 está traduzido assim: “Um crê que de tudo se pode comer, e o que é fraco, come só legumes” (Grifo nosso). Medita também, ó leitor, em I Tm 4.1-5 e em I Co. 10.25 que respectivamente dizem:
a)“Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé dando ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de demônios, pela hipocrisia de homens que falam mentiras, tendo cauterizada a sua própria consciência, proibindo o casamento e ordenando a abstinência dos manjares que Deus criou para os fiéis e para os que conhecem a verdade, a fim de usarem deles com ações de graças; porque toda criatura de Deus é boa, e não há nada que rejeitar, sendo recebido com ações de graças porque, pela palavra de Deus e pela oração, é santificada”;
- b)“Comei de tudo quanto se vende no açougue sem perguntar nada, por causa da consciência”.(Este versículo é mais do que um retorno a Gn 9.3a. Trata-se da repetição e manutenção da Lei dada aos gentios nos dias de Noé. É que aos gentios Deus sempre permitiu o uso de todas as carnes na alimentação. E, quando nos convertemos ao Senhor, este nos mantém na mesma liberdade quanto a isso, como também, no passado, o fez a Noé, dizendo-lhe: “Tudo quanto se move e vive vos servirá de mantimento… ”. Ou seja, Deus não insere no pacote das doutrinas que constituem o Pacto firmado entre Ele e a Igreja, nenhuma novidade alimentar. E quando o faz, fá-lo apenas por razões éticas, como no caso de At 15. 28-29.
O fato de a Bíblia reprovar a glutonaria (Gl. 5.21), prova que é da vontade de Deus que cuidemos bem do nosso corpo. Daí os evangélicos absterem da maconha, da embriaguez, da cocaína, do fumo, etc. Mas os sabatistas extrapolam, proibindo o uso da carne de porco, bagre e outras carnes, conforme prescrito em Lv. 11, e desaconselhando toda e qualquer carne em obediência às recomendações da senhora Ellen White.
Não estamos nos levantando contra o cardápio dos adventistas, mas tão-somente sugerindo que mostremos aos nossos discipulandos a distinção que há entre o Cristianismo e o menu. E necessário informarmos a todos que a questão do que se deve ou não comer, não é tema religioso; antes refere-se a questão de ordem sanitária. É preciso informar que o Novo Testamento não preceitua nenhum cardápio á Igreja, como já vimos. É importante observarmos que a proibição a comer algumas carnes, consta só do Antigo Testamento; e que a sugestão à abstinência de toda e qualquer carne não consta em parte alguma da Bíblia. Sim, exageram os adventistas, quando desaconselham o uso do café e outros alimentos que eles consideram proibidos por Deus.
Se o cardápio dos adventistas é ou não salutar, é discutível; e que os nutricionistas se dêem ao trabalho de fazê-lo. Mas adicioná-lo ao corpo de doutrinas da fé cristã, é adulterar o puro leite espiritual (1Pe 2.20). Uma prova disso é o fato de o apóstolo Paulo, que segundo At. 20.27, anunciou“todo o conselho de Deus”, não ter registrado estes mandamentos nas suas epístolas.
É corretíssimo lavar as mãos antes das refeições; negligenciar isso pode ser fatal. Mas o Senhor Jesus Cristo disse que isto não contamina o homem (Mt 15.1-20). À luz das Palavras de Jesus, registrada em Mt. 15.20 afirmamos, sem medo de errar, que a única coisa “grave” que pode ocorrer a um cristão que come sem lavar as mãos é o apressamento da sua ida para o Paraíso Celestial.
Embora Jesus tenha dito que comer sem lavar as mãos não contamina o homem, ousamos dizer que contamina sim. E este paradoxo entre nós e Cristo se explica assim: Comer sem lavar as mãos pode contaminar materialmente, mas nunca espiritualmente. Isto prova que as obrigações do Ministério da Saúde não foram confiadas à Igreja (embora, como indivíduos, os membros da Igreja possam acatar e recomendar as orientações deste tão importante órgão).
Os adventistas alegam que é racional concluirmos que Deus quer que tomemos medidas salutares para com o nosso corpo. E nós concordamos plenamente e acrescentamos que, não obstante, Ele não nos lançará no Inferno, se não formos extremamente negligentes quanto a isso. Caso contrário Jesus Cristo teria ensinado heresia, quando sustentou que comer sem lavar as mãos não contamina o homem. Ora, comer sem lavar as mãos pode não ser menos prejudicial à saúde do que comer bagre, carne de porco, etc.
Seria bom se todos fôssemos vegetarianos? Há quem diga que sim, bem como os que divergem. E que debatam sobre este assunto os que pelo mesmo se interessarem. Porém, jamais admitamos que estas questões sejam incluídas no corpo de Doutrinas da fé cristã, visto que fazê-lo colide com Êx 12.8 e Lv. 11 onde, respectivamente, Deus manda comer carne ao instituir a Páscoa, e alista os animais que os judeus podiam comer.
Do que temos exposto, está claro que os adventistas crêem que um bom cristão é, necessariamente, um nutricionista que ensina e pratica uma boa dieta alimentar. A este respeito, eles são mais “zelosos” do que Deus. Senão, vejamos: No Antigo Testamento Deus proibiu comer certas carnes, mandou comer algumas e liberou outras. No Novo Testamento Ele não proibiu, não mandou e nem desaconselhou o comer quaisquer carnes. Mas os adventistas proíbem comer algumas carnes e desaconselham outras. Esta atitude colide com a Bíblia, que diz que podemos comer de TUDO quanto se vende no mercado (1Co. 10.25-26) e que ninguém nos pode julgar (ou condenar) pelo comer ou pelo beber (Cl. 2.16). Isto não significa que o cristão não possa abster-se de comer e/ou beber algo e, sim, que não é necessário submetermos ao que a Lei (o Pentateuco) determina quanto a isso. O corpo de doutrinas que norteia a Igreja é o que está contido em toda a Bíblia, do Gênesis ao Apocalipse. Mas é aí mesmo que encontramos a informação de que só são aplicáveis à Igreja, os mandamentos do Novo Pacto, embora todos os mandamentos morais constantes do Velho Testamento estejam repetidos no Novo. Como já dissemos, repetidos e não transportados.
Os adventistas adoram citar 2Co. 6.16-18 objetivando “provar” que as carnes tidas por imundas no Antigo Pacto não podem ser saboreadas pelos cristãos. Mas a verdade solene é que o apóstolo Paulo está tão-somente fazendo uma aplicação do que está exarado em Is. 52.11 e Jr. 31.1,9. O que este apóstolo está dizendo é que assim como na Velha Aliança, os judeus não podiam tocar algo que a Lei tachava de imundo (uma mulher hemorrágica, por exemplo), o cristão não pode transgredir os preceitos da Nova Aliança. Em outras palavras: Assim como os judeus não podiam comer as carnes de animais imundos, não podemos desobedecer aos mandamentos constantes do Novo Testamento.
Quando dizemos que a Lei foi abolida, não estamos afirmando que Gn 1.1, por exemplo, tenha sido abolido, pois como todos sabemos, esta referência bíblica é o registro de um fato histórico, e não uma Lei. Chamamos “Lei” aos mandamentos constantes do Pacto que Deus firmou com os judeus. Estes foram todos abolidos. Até os “não matarás, não adulterarás, não furtarás…” foram abolidos. O cristão não se abstém do furto em obediência às determinações da Lei de Moisés e, sim, em obediência à Lei de Cristo (I Co. 9.21). E a Lei de Cristo e a Lei de Moisés são distintas e diferentes. Muitos dos mandamentos da Lei de Cristo são iguais aos da Lei de Moisés, mas isso se dá por mera coincidência. Lembremo-nos que o Novo é novo, e não o Velho melhorado.
Como já dissemos, os adventistas tripartem a Lei em Lei moral, Lei sanitária e Lei de Moisés. Afirmam que a parte cerimonial da Lei, como os sacrifícios de animais, por exemplo, não é, em parte alguma da Bíblia, chamada de Lei de Deus; e que essa é a Lei que Cristo aboliu, à qual não estamos sujeitos. Segundo eles, sempre que o Novo Testamento diz que “Cristo nos libertou da Lei”, está, ou se referindo à libertação da condenação da Lei, ou aludindo à Lei de Moisés, e não à Lei de Deus. Acontece, porém, que em II Cr. 31.3 e em Lc. 2.24, os sacrifícios de animais são chamados de “Lei do Senhor” ou “Lei de Jeová”, segundo os originais. Ora, se a Lei de Deus não foi abolida, e os sacrifícios de animais constam da Lei de Jeová, os adventistas devem sacrificar animais a Deus até hoje. Talvez os adventistas retruquem dizendo que os sacrifícios de animais constam da Lei do Senhor ou Lei de Jeová, e não da Lei de Deus; mas aí perguntaremos: Jeová e Deus são duas pessoas distintas? O Senhor é uma pessoa e Deus é outra? É possível ser de Jeová sem ser de Deus?
A Lei de Deus é chamada de Lei de Moisés porque este foi o seu medianeiro, ou seja, Deus a deu por sua instrumentalidade; senão, compare os versículos 1 e 8 de Ne. 8.
Já deixamos claro que o Novo Testamento não prescreve um cardápio especial para a Noiva de Cristo; mas como esta afirmação parece colidir com At 15.28-29, esclarecemos que as restrições em questão eram de caráter provisório e se destinava a facilitar o relacionamento entre os judeus e os gentios que haviam se convertido à fé cristã. Nada mais era que uma demonstração de respeito às crenças dos irmãos fracos na fé. Uma prova clara de que as coisas são assim, é que esta passagem só proíbe quatro coisas. Por que isso? Só há quatro pecados? Por que não se proíbe neste texto, a inveja, o roubo, a calúnia, a mentira, etc.? Será que alcançaremos o Reino de Deus se guardarmos só estes quatro mandamentos? Obviamente que não.
Esta passagem (At. 15.28-29) pode ser parafraseada assim: “No que diz respeito às leis judaicas (às quais não estamos sujeitos, pois as praticando ou não, seremos salvos pela fé em Jesus), pareceu bem ao Espírito Santos e a nós, para não escandalizarmos os nossos irmãos judeus, que vocês abstenham dessas quatro coisas: Do sangue, das coisas sacrificadas aos ídolos, da carne sufocada, e do casamento com os judeus, bem como do relacionamento sexual durante a menstruação. Não há maldade alguma em fazer estas coisas, mas devemos fazer como fracos para ganharmos os fracos, e como judeus para ganharmos os judeus”.
Uma prova de que esta conclusão está correta, é que esta passagem proíbe comer algo que tenha sido sacrificado aos ídolos e, não obstante, o apóstolo Paulo deixa claro, em 1Co. 8, que o cristão está livre para comer estas coisas, contanto que não escandalize o irmão fraco. O erudito pastor Raimundo F. de Oliveira, em seu livro intitulado Como Estudar e Interpretar a Bíblia, editado pela CPAD – Casa Publicadora das Assembléias de Deus – página 139, argumenta: “Para Paulo, comer carne sacrificada a ídolos não significa nada, mas por causa daqueles que estavam à sua volta e que pensavam que isto implicava em pecado, ele não comia”.
A nosso ver, a interpretação acima é correta e que, portanto, 1Co 8 prova que At. 15.28-29 era uma medida de caráter provisório, objetivando tão-somente o estreitamento da comunhão entre os irmãos. Assim pensa também a liderança das Assembléias de Deus no Brasil, visto que segundo o livro Administração Eclesiástica, da autoria dos pastores Nemuel Kessler e Samuel Câmara, também editado pela CPAD, 2ª edição de 1.992, página 100, a CPAD não publica livro algum, sem antes submetê-lo ao Conselho de Doutrina da Convenção Geral das Assembléias de Deus, que examina se“nada contraria as doutrinas esposadas pelas Assembléias de Deus.” Logo, a cúpula assembleiana aprovou o livro supracitado, da autoria do pastor Raimundo. E, sendo assim, fica claro que pelo menos um dos mandamentos constantes de At 15.29, não precisa ser observado (a não ser por questão de consciência), segundo a alta liderança das Assembléias de Deus. Ora, se um dos mandamentos registrados em At 15.29, não é moral, os demais mandamentos registrados neste versículo também não podem ser morais, pois tamanha falta de coerência ou associação de idéias constituiria insuperável violência à Hermenêutica.
Salientamos que At. 15.28-29 é, simultaneamente, cultural e transcultural, temporal e eterno. É transcultural, pois em qualquer parte do mundo se deve respeitar a consciência alheia; e é cultural, pois trata duma demonstração de respeito à cultura judaica. É temporal, pois passou com o tempo; e é eterno, pois sempre que se fizer necessário, o cristão deve abster-se de algo que possa fazer o seu irmão inexperiente tropeçar.
Na nossa obra intitulada “Transfusão de Sangue Não é Pecado”, tecemos um comentário mais profundo, em apreço a At. 15.28-29. Lá mostramos que assim como o apóstolo Paulo circuncidou Timóteo (At. 16.1-5), fez voto de nazireu (deixou os cabelos crescerem e depois rapou a cabeça, At. 18.18) e ofereceu sacrifícios, mas todos nós compreendemos que tais medidas eram provisórias, assim devemos também encarar este texto em apreço, a saber, At. 15.28-29.
O maior erro dos adventistas do sétimo dia quanto ao que se deve ou não comer, não consiste no fato de se absterem de certos alimentos, nem tão pouco no fato de nos aconselharem a fazermos o mesmo; mas sim, por afirmarem que aqueles cujos cardápios diferem do deles estão indo para o Inferno. Senão, vejamos o que diz o “pastor” adventista, Alejandro Bullón, um dos maiores líderes dos adventistas, no prefácio do livro abaixo identificado: “A questão não é simplesmente se posso ou não posso comer carne de porco… O assunto é muito sério. É uma questão de vida ou morte, de salvação ou perdição…” (Transcrito do livro adventista intitulado Assim Diz o Senhor, 3ª Edição, 1986, da autoria de Lourenço Gonzalez Silva, edição do autor, página 5). O senhor Lourenço Gonzalez Silva, autor desse livro infernal, que é prefaciado com elogios e recomendações pelo “pastor” Alejandro Bullón, afirma às páginas 323-327 que as igrejas evangélicas que não se abstêm de café, coca-cola, presunto, mortadela, salame, camarão, lagosta carne de porco… são igrejas falsas, hipócritas, e que, portanto, estão indo para o Inferno.
A atitude radical do “pastor” Alejandro Bullón, de condenar os evangélicos que comem carne de porco e outras carnes por ele proibida, não constitui um ato isolado. Aliás, o adventista que não for tão fanático quanto ele, não estará sendo um autêntico seguidor do Adventismo. Podemos dizer inclusive, que os adventistas devem ser até mais radicais do que ele, se é que querem mesmo obedecer à papisa Ellen White, visto que essa falsa profetisa teve a audácia de proibir o consumo de toda e qualquer carne, chegando ao cúmulo de dizer que os que consomem alimento cárneo não estão mantendo uma linha divisória com os ímpios e seriamente comprometendo sua salvação eterna. Para que o leitor veja que de fato as coisas são assim, vejamos as transcrições abaixo:
“…Há pessoas que devem ser despertadas para o perigo de comer carne, que ainda comem carne de animais, pondo assim em risco a saúde física, mental e espiritual. Muitos que são agora só meio convertidos quanto aa questão de comer carne, sairão do povo de Deus, para não mais andar com ele”. (Conselhos Sobre o Regime Alimentar, pág. 388, da autoria de Ellen G. White, Casa Publicadora Brasileira – grifo nosso)
“…O regime cárneo é questão séria. Hão de seres humanos viver da carne de animais mortos? A resposta, segundo a luz dada por Deus é: Não, decididamente não”.(ibidem. Grifo nosso)
“… Foi-me mostrado claramente que o povo de Deus deve assumir atitude firme contra o comer carne… Os que usam carne menosprezam todas as advertências que Deus tem dado relativamente a esta questão. Não possuem nenhuma prova de estar andando em veredas seguras. Não têm a mínima desculpa quanto a comer a carne de animais mortos”. (ibidem – grifo nosso)
“ Não dê nenhum de nossos pastores um mau exemplo no comer carne. Vivam, eles e suas famílias, segundo a luz da reforma de saúde. Não animalizem nossos pastores sua natureza e a de seus filhos… (Ibidem pág. 399 – grifo nosso)
“Andem nossos pastores sob a bandeira da estrita temperança. Nunca vos envergonheis de dizer: Não, obrigado; não como carne”.(Ibidem pág. 402)
O Professor Tavares (EX-ADVENTISTA), em seu artigo intitulado PARA OS ADVENTISTAS A SALVAÇÃO É MUITO MAIS DO QUE ACEITAR A CRISTO, publicado no jornal Desafio das Seitas, segundo trimestre de 2001, editado pelo CPR_ Centro de Pesquisas Religiosas, à página 11 faz a seguinte observação: “Ellen White afirma que tomar chá e café é pecado. Escreveu essa advertência no livro Temperança, pág. 80. Na pág. 273 do mencionado livro Ellen White cita que Daniel foi vegetariano.
Assim é ensinado pela Igreja Adventista não somente em seus púlpitos como nas lições da Escola Sabatina. Entretanto, nas Escrituras Sagradas, no próprio livro de Daniel 10:3, o texto deixa claro que Daniel comia carne.
Fico pensando que, segundo a doutrina adventista, Daniel perdeu a salvação pelo fato de ter comido carne”.
Repetimos que comer isto ou aquilo outro não é questão relevante, visto não possuir valor salvífico, segundo Romanos 14. Mas, nos acusarmos mutuamente por essas questões, pode nos levar à perdição. Atentemos para o fato de que Romanos 14 não reprova prato algum, mas censura aqueles que vêem no cardápio alheio, motivo de perdição.
Circuncidar ou não, era, segundo o apóstolo Paulo, algo de somenos importância (I Co. 7.19; Gl. 5.6; At. 16.3). Mas como os gálatas o faziam para se salvar (At. 15.1), ele asseverou que eles haviam caído da graça e que estavam separados de Cristo (Gl. 5.2-4). Isto prova que os escrúpulos dos adventistas só poderiam ser tachados de infantilidade inofensiva se eles não fizessem disso motivo de salvação ou perdição. Mas, como vimos acima, Ellen White e seus discípulos afirmam que a dieta alimentar interfere na salvação. Sim, ao fanatismo de Ellen White aquiescem até os expoentes da seita em questão, como Alejandro Bullón, Lourenço Gonzalez, Floriano Xavier, etc.
Repito que se o cardápio dos adventistas é ou não salutar, é discutível; e que os nutricionistas se dêem ao trabalho de fazê-lo. E, pelo que me consta, o cardápio dos adventistas já está sendo questionado por nutricionistas e gastronômicos. Estes já estão recomendando o café. Sob o cabeçalho Café, a bebida do bem, numa revista do ramo, consta o que se segue: “Além de ser delicioso, o café é ótimo para proteger o organismo contra certas doenças. Previne contra o diabetes [e] ajuda a diminuir o risco dos males de Alzheimer e de Parkinson, de cirrose e de cálculos da vesícula biliar. […] A cafeína evita a liberação do colesterol ruim no sangue e favorece a queima de gordura, prevenindo doenças do coração. […]funciona, também, como antioxidante, combatendo os radicais livres” (Revista AnaMaria. São Paulo: Editora Abril. 31 de agosto de 2007, p. 29). Bem, dessa briga posso me eximir, pois tenho outros ofícios: evangelizar os perdidos e doutrinar a Igreja. E, para fazer muito bem este trabalho, não preciso me formar em nutrição e gastronomia. Basta-me a Teologia.
Extraído do livro “IASD: Que Seita É Essa?” – Pr. Joel Santana