O ensino de que a perseverança é condicional é expresso várias vezes ao longo da Sagrada Escritura. Calvinistas creem na incondicionalidade da perseverança da mesma forma que creem na “eleição incondicional”, ou seja, que todos salvos perseverarão até o fim, e que isto é incondicional, não depende do homem em nenhuma medida, ele sempre estará perseverando e nunca cairá ao ponto de perder a salvação.
Se analisássemos um milhão de casos de pessoas que foram salvas uma vez, nestes um milhão de casos todas elas teriam sempre perseverado até o fim. Nenhuma delas teria perdido a fé, nenhuma delas teria apostatado, nenhuma delas teria caído. Os que caem, para eles, são sempre aqueles que nunca foram salvos. A perseverança é incondicional, pois só assim o crente não pode perder a salvação.
Este ensino calvinista, contudo, não encontra base nas Escrituras, pois a Bíblia sempre apresenta a perseverança como sendo algo condicional e sempre mostra o outro lado da moeda, que é a possibilidade de não perseverar até o fim. Em 1ª Coríntios, por exemplo, o apóstolo Paulo disse:
- “Por meio deste evangelho vocês são salvos, desde que se apeguem firmemente à palavra que lhes preguei; caso contrário, vocês têm crido em vão” (1ª Coríntios 15:2)
Eles eram salvos por meio do evangelho, desde que…
A salvação final, como está implícito neste e em outros textos, é condicional ao apego firme à Palavra até o fim. A salvação deles não era absolutamente garantida sob qualquer circunstância. Eles eram salvos e permaneceriam assim sob uma condição, o apego à Palavra. Essa condição não seria bem uma condição se a promessa da perseverança fosse incondicional. Uma condição incondicional é uma impossibilidade lógica e uma contradição de termos. A declaração faz presumir a possibilidade da falta da perseverança e da consequente perda da salvação.
O mesmo apóstolo também disse:
- “Mas agora ele os reconciliou pelo corpo físico de Cristo, mediante a morte, para apresentá-los diante dele santos, inculpáveis e livres de qualquer acusação, desde que continuem alicerçados e firmes na fé, sem se afastarem da esperança do evangelho, que vocês ouviram e que tem sido proclamado a todos os que estão debaixo do céu” (Colossenses 1.22,23)
Mais uma vez, vemos aqui o mesmo princípio que vimos no outro texto: a condicionalidade da perseverança. Seria inócua a exortação a não se afastar da esperança do evangelho se esse afastamento e consequente perdição fosse algo impossível de acontecer. Além de um desperdício de tinta, induziria que é possível que eles não ficassem alicerçados e firmes na fé até o fim. O simples fato de Paulo fazer ressalvas à declaração inicial de que eles eram salvos já deveria ser suficiente para mostrar que a perseverança não é incondicional.
O autor de Hebreus segue o mesmo conceito e diz:
- “Mas Cristo é fiel como Filho sobre a casa de Deus; e esta casa somos nós, se é que nos apegamos firmemente à confiança e à esperança da qual nos gloriamos” (Hebreus 3:6)
Pedro também faz o mesmo, ao dizer:
- “Portanto, irmãos, empenhem-se ainda mais para consolidar o chamado e a eleição de vocês, pois se agirem dessa forma, jamais tropeçarão, e assim vocês estarão ricamente providos quando entrarem no Reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2ª Pedro 1:10,11)
Judas igualmente nos mostra que não basta estar no amor de Deus, é preciso se manter neste amor:
- “Conservai-vos a vós mesmos no amor de Deus, esperando a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo para a vida eterna” (Judas 1:21)
A conclusão inferida destes e de outros textos semelhantes é a de que a perseverança, longe de ser incondicional, é sempre apresentada de modo a presumir que é possível que alguém não persevere, e, consequentemente, não seja salvo. Isso chamamos de perseverança condicional, pois ela depende da fé do início ao fim, e é possível que alguém não exerça fé até o último momento, abrindo a possibilidade da salvação não ser mantida.
Extraído do livro “Calvinismo X Arminianismo: quem está com a razão?”, Banzoli, cedido pela comunidade de arminianos do Facebook