Primeiramente, é bom esclarecer, mais uma vez, que os indeterministas arminianos não creem que nada é determinado por Deus, e sim que nem tudo é determinado por ele. Desta forma, se há um único evento no Universo que não foi determinado por Deus e que foi autocausado por alguém, já teríamos que ser indeterministas.
Da mesma forma que o naturalista não pode abrir nenhuma exceção ao natural (senão deixaria de ser naturalista), o determinista não pode abrir exceções ao determinismo, senão deixaria de ser determinista, pois Deus não determinaria tudo. A visão arminiana do indeterminismo difere tanto da visão extremista dos deterministas calvinistas como também do outro extremo, o deísmo (ou mesmo o ateísmo). No ateísmo, Deus não existe. No deísmo, Deus existe mas não tem controle sobre a sua criação. No indeterminismo arminiano, Deus tem controle sobre tudo mas não determina tudo. E, no determinismo calvinista, Deus controla e determina tudo.
Desta forma, o indeterminismo arminiano é uma visão sóbria e equilibrada entre dois extremos errôneos, um que nega a soberania de Deus e outro que responsabiliza o Criador por todos os pecados do mundo, que seriam por ele determinados. No indeterminismo, Deus continua sendo soberano sem ser pecador. O homem continua sendo livre e responsável, tendo que prestar contas por atos autocausados, praticados de forma livre e voluntária.
O “acaso” absoluto, no sentido de algo acontecer sem ter sido previsto ou permitido, não existe. Tudo o que acontece, como diz Olson, “é, no mínimo, permitido por Deus, mas nem tudo o que acontece é positivamente desejado ou até mesmo tornado certo por Deus”[1].
Mas se o indeterminista crê que Deus determina algumas coisas, até que ponto podemos definir o que Deus determinou? Logicamente, ninguém pode perscrutar a mente de Deus para saber de tudo. Mas podemos biblicamente seguir certas diretrizes que nos mostram algumas coisas que Deus determinou antes do acontecimento. Dentre elas, Paulo inclui os lugares onde cada povo habitaria:
“De um só fez ele todos os povos, para que povoassem toda a terra, tendo determinado os tempos anteriormente estabelecidos e os lugares exatos em que deveriam habitar” (Atos 17:26)
Outra coisa que Deus decretou é que todas as pessoas que praticam atos pecaminosos de forma deliberada e voluntária merecem a morte:
“Embora conheçam o justo decreto de Deus, de que as pessoas que praticam tais coisas merecem a morte, não somente continuam a praticá-las, mas também aprovam aqueles que as praticam” (Romanos 1:32)
O ímpio que peca, portanto, está predestinado à morte eterna, a não ser que se arrependa de seus maus caminhos e herde uma vida eterna com Deus, que é o que foi predeterminado a respeito dos justos. Deus fixou, desde antes da fundação do mundo, que os ímpios seriam justamente condenados e os justos seriam justamente salvos. Embora ele não determine as ações pecaminosas do ímpio, ele decretou que, se ele permanecer nelas e não se arrepender de seus pecados, perecerá eternamente. Isso é estar predestinado à perdição, a qual abordaremos melhor no próximo capítulo.
Em “O Outro Lado do Calvinismo”, Laurence Vance faz um estudo sobre todas as ocasiões onde o termo “decreto” ocorre na Bíblia, e descobriu:
“A palavra decreto ocorre quarenta e nove vezes em quarenta e oito versos, a palavra decretou ocorre cinco vezes em cinco versos, enquanto o plural decretos é usado duas vezes em dois versos. Todavia, dos cinqüenta e seis casos nos quais uma forma da palavra decreto é usada, somente oito vezes ela está relacionada a Deus”[2]
Ele ainda diz:
“O termo é usado mais em relação aos homens do que a Deus. No Velho Testamento, Ciro fez um decreto (Ed 5.13), Dario fez um decreto (Ed 6.1), Artaxerxes fez um decreto (Ed 7.21), Nabucodonosor fez um decreto (Dn 3.10), e Ester fez um decreto (Et 9.32). No Novo Testamento descobrimos que os Césares (Lc 2.1; At 17.7) e os apóstolos (At 16.4) fizeram decretos. Verificar os decretos de Deus envolve uma simples leitura da Bíblia, não uma teologia sistemática de Berkhof, Dabney, ou Hodge”[3]
De todos os decretos de Deus existentes na Escritura, ele enumera:
- A respeito da chuva (Jó 28:26). Deus “determinou a força do vento” (Jó 28:25) e “fez um decreto para a chuva e o caminho para a tempestade trovejante” (Jó 28:26).
- A respeito do mar (Jó 38:10; Pv.8:29). Deus “fixou os limites” (Jó 38:10) do mar e determinou suas fronteiras (Pv.8:29).
- A respeito de Jesus Cristo (Sl.2:7). Deus decretou que Jesus é Seu Filho e é gerado por Ele.
- A respeito dos céus (Sl.148:6). Deus estabeleceu os céus em seus lugares para sempre.
- A respeito de uma destruição (Is.10:22). Deus decretou que somente o remanescente de Israel se voltaria para Deus.
- A respeito da areia (Jr.5:22). Deus decretou que a areia seria um limite para o mar.
- A respeito de Nabucodonosor (Dn.4:24). Deus decretou que, em consequencia do orgulho deste rei, ele seria expulso do meio dos homens.
A primeira coisa que Vance observa é que não existe um único decreto, como creem os calvinistas, mas pelo menos sete deles. A Bíblia nunca fala “do decreto”, como dizia Calvino, mas de vários deles, em contextos diferentes e situações específicas. A segunda é que estes decretos são bem gerais. Eles estão muito longe de determinar cada ação e cada pensamento de cada indivíduo humano. A terceira coisa é que nem todos os decretos são incondicionais. Deus fez “da areia um limite para o mar, um decreto eterno que ele não pode ultrapassar” (Jr.5:22), mas os tsunamis são a prova de que esse decreto foi condicional a atitudes humanas que afetaram a própria natureza das coisas.
Em resumo, a posição calvinista é um salto às Escrituras. Elas nunca falam de um único decreto, e muito menos de um que inclua todas as coisas. O indeterminismo arminiano, longe de ser um deísmo ou uma forma de ateísmo, como crê Sproul, é uma visão equilibrada que respeita a soberania de Deus e ao mesmo tempo o livra de qualquer parte com o pecado, resgatando o amor de Deus, a liberdade e a responsabilidade humana. É uma visão que não cria decretos extra-bíblicos e que respeita a razão, a lógica e as Escrituras.
[1] OLSON, Roger. Teologia Arminiana: Mitos e Realidades. Editora Reflexão: 2013, p. 49-50.
[2] VANCE, Laurence M. O outro lado do calvinismo.
[3] VANCE, Laurence M. O outro lado do calvinismo.
Extraído do livro “Calvinismo X Arminianismo”, cedido pela comunidade de arminianos do Facebook
Predestinação islâmica : acredita que todos os acontecimentos estão previstos pela vontade divina, estando previamente fixados no livro do Destino (“fatalismo árabe”). os muçulmanos acreditam que Alá decretou tudo o que vai acontecer, a argumentação é mesma “a soberania de Deus”.
O islamismo do séc.9 = calvinismo séc.16 : Na predestinação arbitrária os argumento são idênticas de ambos, vide item “predestinação/fatalismo arabe)
http://pt.wikisource.org/wiki/Pensar_%C3%A9_preciso/V/A_doutrina_isl%C3%A2mica
a predestinação arbitrária é fator do extremismo.
Não só no Islã, mas também diversas seitas gnósticas já tinham essa ideia. E antes mesmo do Cristianismo, várias seitas pagãs antigas tinham seus “escolhidos”.