O Pr. Olavo Silveira Bueno, fundador da IEFA (Igreja Evangélica Fundamento Apostólico) sempre se notabilizou nos meios evangélicos por suas doutrinas excêntricas, atribuídas às suas frequentes revelações. Em cultos semanais na IEFA, essas revelações eram expostas como mistérios. Os membros não entendiam bem determinados ensinos, mas como eram tidos como mistérios, é bem possível até que houvesse acanhamento para fazerem maiores investigações. Assim os crentes eram levados a crer que estavam com um primor de doutrinas, que as demais igrejas evangélicas não possuíam, por falta de um líder carismático como o “tio Olavo”.
Essas ‘revelações’ eram a priori comunicadas à liderança da IEFA e depois de aceitas pelos pastores e obreiros eram comunicadas à Igreja. Algumas dessas ‘revelações’ eram ligadas a costumes, principalmente no que concerne à restrição do sexo entre pessoas legalmente casadas, com a justificativa de que a frequência de tais atos sexuais acarretaria, como consequência, ter filhos imundos. As revelações depois de aceitas pela membresia, eram transmitidas à Igreja por meio de boletins dominicais denominados RENOVO. Dezenas desses boletins estão arquivados no Instituto Cristão de Pesquisas.
Um crente escreveu-nos expondo o novo ensino sobre o “Pai x Jeová”, naturalmente estranhando tal ensino, e solicitando esclarecimentos se tal ensino tinha base bíblica. Assim, foi-nos comunicado por carta que a ‘nova revelação’ do Pr. Olavo já vinha sendo apreciada pelos pastores da IEFA e transmitidas à Igreja em Barueri a partir de setembro de 1997. A comunicação dessa revelação dividiu a opinião dos membros, provocando uma divisão na Igreja. Metade da Igreja aceitou e a outra metade se retirou. Outras igrejas da IEFA rejeitaram também o ensino decorrente dessa ‘revelação’ sobre o Pai versus Jeová. O material com a doutrina exposta foi entregue à Igreja de Barueri em 12 de outubro de 1997. O ICP tem duas fitas K-7 gravadas com a exposição do pastor.
ADVERTÊNCIA BÍBLICA
O apóstolo Pedro se refere a heresias de perdição: “E também houve entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá também falsos doutores, que introduzirão encobertamente heresias de perdição, e negarão o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina perdição. E muitos seguirão as suas dissoluções, pelos quais será blasfemado o caminho da verdade” (2Pe. 2.1-2). São advertências a respeito de mestres dentro das igrejas, que colocam suas ‘revelações’ acima da autoridade da Bíblia. Afirmam haver recebido determinadas revelações e depois buscam apoio na Bíblia para dar embasamento a esses ensinos de perdição. Isso não é novidade. Já no meio do povo de Israel surgiram os profetas, videntes com sonhos e visões alegando terem-na recebido da parte de Deus. O Senhor advertiu o povo que pusesse à prova tais profetas (Dt. 18.20-22; 13.1-5), porque nem todas as profecias procedem de Deus (Jr. 14.14; 1Co. 14.29), assim se pronunciando sobre tais visionários. Ezequiel também fala de tais visões falsas (13.4,6-9).
EXPOSIÇÃO DA DOUTRINA
Quando se estuda o Espiritismo, descobre-se que Allan Kardec procura estabelecer uma distinção entre o Deus do Velho Testamento com o Deus amoroso do Novo Testamento. O Deus Jeová do Velho Testamento é tido como tirano déspota, por causa das suas ordens específicas a Moisés para aniquilamento dos inimigos do povo de Israel. Exatamente como os espíritas, assim é o ensino do Pr. Olavo nessa doutrina de “Pai x Jeová”.
Analisemos as palavras com que o primeiro sermão foi apresentado na IEFA de Barueri:
“Como você idealizaria um Deus para você? Bondoso, fiel, coerente, vive na luz, não esquecido, não faz acepção de pessoas, pacificador. Permite o adultério? Permite o divórcio? Um deus único? Com essas palavras introdutórias procura-se fazer uma distinção entre o Deus Jeová com o Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo. Duas pessoas espirituais distintas: uma má e a outra boa. Jeová é o deus do mal, que deve ser rejeitado, repelido pois não passa de outra pessoa senão da antiga serpente, chamado Satanás (Ap. 12.9)”.
Assim as distinções entre Jeová e o Pai continuam a ser estabelecidas:
– O Pai é bondoso, fiel, coerente, vive na luz, não faz acepção de pessoas, é pacificador.
– Jeová é um deus esquecido, que faz acepção de pessoas, que permite o adultério, o divórcio, vive nas trevas.
Estabelecidas essas distinções, são elas alicerçadas com embasamento bíblico:
- a) sobre Deus ser tentado. Em Tiago 1.13 se lê que o Pai a ninguém tenta. Jeová, ao contrário, em Gn. 22.1 tentou Abraão. Jeová foi tentado (Nm. 14.22).
- b) sobre a identidade da serpente. “A serpente foi criada por Jeová-Elohim. Logo depois da queda, Adão e Eva foram proibidos de entrar no jardim do Eden, para comer da árvore da vida (Gn. 3.24), o que revela uma maldade da parte de Jeová”.
Textualmente se declara: “Jeová tem a forma de serpente, de dragão. Quem não conhece a figura de um dragão que solta fogo pela boca e fumaça pelas narinas? Assim são representados os dragões. Jeová é apresentado na semelhança de um dragão no SI. 18.8-9; 2Sm. 22.9-10. Sabendo-se que o dragão é identificado em Ap. 12.9 como Satanás, quem é realmente Jeová? É o deus do mal que cria o mal (Is. 45.7). Satanás, o dragão e Jeová são a mesma pessoa. Não pode ser identificado com o Pai que é luz, e não há nele trevas nenhuma (1Jo. 1.5). São duas pessoas distintas”.
- c) Jeová o deus do mal, o deus das trevas. Textualmente se declara “Jeová gosta de habitar nas trevas” (Ex. 20.21; Dt. 4.11; 2Cr. 6.1). No Pai não há trevas nenhuma (1Jo 1.5).
- d) Sobre retribuir o mal com o mal. Jeová mandou afligir os midianitas, porque os midianitas agiram da mesma forma com os israelitas no caso de Bete Peor e no caso de Cozbi. (Nm. 25.17,18). Assim também se lê em Ex. 21.22-25; Lv. 24.19-20. Enquanto isso, Paulo recomenda retribuir o mal com o bem (Rm. 12.17-21). Contrariando o que Jeová falou no passado de olho por olho (Dt. 19.21), Jesus recomendou a amar o inimigo (Mt. 5.38-39). Jeová quis não só destruir os inimigos, mas o seu próprio povo, precisando Moisés interceder a favor do povo, para que Israel não fosse destruído (Ex. 32.7-14), mostrando que Jeová é iracundo, sentimento impróprio para o Deus verdadeiro conhecido como o Pai. Logo depois Jeová se arrepende.
- e) Sobre fazer acepção de pessoas. Jeová escolheu o povo de Israel para ser seu povo em particular (Ex. 6.7; SI. 78.1). O Pai não faz acepção de pessoas (At. 10.34).
- f) Sobre o Amor. O Pai é amor (Mt. 5.44-45). Jeová é incapaz de amar seus inimigos (Lv. 19.18; ISm. 24.4; 26.8). Textualmente se declara: “O ‘amor’ de Jeová só contempla o amigo, mas o de Jesus o inimigo! Jeová além de não ser o pai, nada tem a ver com o pai em matéria de amor”.
- g) Sobre o divórcio. “Jeová é a favor do divórcio – como a igreja do século XX com exceções” (Dt. 24.1). “Jesus é contra o divórcio e portanto não é um com Jeová” (Mt. 5.31-32).
- h) Sobre o homem de guerra. Jeová é Homem de Guerra (Ex. 15.3). Jesus é o Príncipe da Paz (Is. 9.6).
- i) Sobre o dinheiro. Jeová é o dono da prata e do ouro (Ag. 2.8). Jesus recomendou a não amar a Deus e a riqueza (Mt. 6.24).
FINAL
No final de sua exposição, o Pr. David Ferres Ortega Filho faz a seguinte exposição e exortação. Invocando o texto de ICo. 8.5-6, que fala da existência de muitos deuses falsos, quando para os cristão existe apenas um Deus verdadeiro, o Pai, exorta o Pr. David os seus leitores e ouvintes que abandonem o deus falso chamado Jeová, nos seguintes termos: “Quem deseja renunciar a Jeová como seu Deus?”
REFUTAÇÃO
- ESCLARECIMENTO
Em nenhum momento ocorre-nos a ideia de denegrir a imagem de qualquer pessoa. O nosso objetivo exclusivo é apontar os erros doutrinários a fim de esclarecer aqueles que nos procuram pedindo ajuda para discernir se esses ensinos estão apoiados pela Bíblia (At. 17.11-12). Não queremos com a nossa refutação atingir honra pessoal, falando da vida de qualquer das pessoas mencionadas. Não falamos de pessoas. Sabemos que o Pr. Olavo é pessoa de reputação ilibada e desconhecemos os demais pastores que lhe dão apoio nesse ensino. Mas isso não nos impede de sermos francos e apontarmos discordância deles.
- A TRINDADE
Nós todos que adotamos a doutrina da Trindade, cremos na existência de um só Deus eternamente subsistente em três pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo (Dt. 6.4; Mt. 28.19). A primeira vez que aparece a palavra Deus na Bíblia, é a tradução da palavra hebraica ‘Elohim’ (Gn. 1.1). Essa palavra ‘Elohim’ aparece centenas de vezes nas Escrituras Hebraicas e revela a existência de uma pluralidade de pessoas da mesma natureza, glória e poder (Gn. 1.26; 3.22; 11.7; Is. 6.1-3,8; 48.16). No Novo Testamento encontramos as três pessoas da Trindade manifestas ao mesmo tempo em Mt. 3.16-17; 28.19; Lc. 3.22; ICo. 12.4-6; 2Co 13.13; Ef. 4.4-6. A doutrina da Trindade também é provada biblicamente pelo fato de as três pessoas serem chamadas Deus, pessoalmente:
– O Pai é chamado Deus em 1Pe. 1.2;
– O Filho é chamado Deus em Jo. 1.1; 20.28; e
– O Espírito Santo é chamado Deus em At. 5.3,4.
Contudo, repetimos, há um só Deus por natureza (Gl. 4.8).
- OS NOMES DE DEUS
Deus tem vários nomes. Dentre eles destacam-se Elohim, Adonai, El Elyon, El Olam, El Shaday e o formado pelo tetragrama traduzido por Jeová, Javé, lahweh. As várias traduções traduzem o tetragrama da seguinte forma:
– Tradução de João Ferreira de Almeida, versão da Imprensa Bíblica Brasileira: Ex. 6.2-3; 17.15; Jz. 6.24; Ez. 48.35.
– João Ferreira de Almeida revista e corrigida: Gn. 15.2-8; Ex. 34.6; SI. 83.18; Is. 12.2; Jr. 32.17; 34.30-31; Am. 9.8.
- JESUS CRISTO
No confronto estabelecido pelos adeptos de “Pai x Jeová” eles identificam Jeová como o deus mal, contrastando com o próprio Jesus ou seu Pai, que são tidos como o Deus bom. A palavra Jeová significa “Aquele Causa Que Seja”. O nome Jesus significa “Jeová é o Salvador”. De modo que para nós, trinitarianos, o Deus que se apresenta no Velho Testamento como Jeová é o mesmo Deus que se apresenta no Novo testamento como Jesus, indicando que Jesus possui os nomes e títulos de Deus, dentre os quais está o de Deus Jeová.
- JESUS É JEOVÁ
Jesus pretendeu para si mesmo o nome mais reverenciado de Deus pelos judeus, um nome tão sagrado que os judeus evitavam e evitam pronunciá-lo. Enquanto Jesus afirmou à mulher samaritana que a salvação vem dos judeus (Jo. 4.22), e esse Deus Salvador (Is. 43.10-11) se identifica como Jeová (o tetragrama JHVH), tão reverenciado pelos judeus que se recusavam a pronunciá-lo, como explicar o surgimento de um grupo religioso que sob a liderança de um pastor ousa lançar um apelo para que aqueles que outrora invocavam esse Deus, deixem de fazê-lo? E por que? Porque esse Deus Jeová não passa de um deus falso, identificado como a antiga serpente, que seduz todo o mundo (Ap. 12.9).
Tamanha heresia só existe em seitas esotéricas como a Maçonaria. Deus revelou primeiro o significado deste nome ao seu povo de Israel em Êxodo 3. Depois que Moisés perguntou a Deus com que nome devia ser chamado, Ele replicou: “Eu Sou o que sou” (Ex. 3.14). A frase EU SOU é derivado do verbo SER do qual o nome Jeová se deriva. A Septuaginta, tradução grega do Velho Testamento, traduz o primeiro uso da frase EU SOU (Ex. 3.14) como EGO EIMI. Assim, EGO EIMI no grego é equivalente ao hebraico EU SOU.
Em várias ocasiões Jesus empregou essa expressão EU SOU para si mesmo. O exemplo mais claro ocorreu quando os judeus disseram a Jesus, “Ainda não tens cinquenta anos, e viste Abraão? Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade eu vos digo: Antes que Abraão existisse, EU SOU (EGO EIMI)” (Jo. 8.57-59). Os judeus procuravam matá-lo por sua presunção de reivindicar deidade. A pena prescrita contra a blasfêmia era o apedrejamento.
Os escritores do Novo Testamento eram convencidos de que Jesus Cristo era Deus verdadeiro (Jo 1.1; 20.28; 1Jo. 5.20) e não viram conflito em atribuir a Jesus Cristo as passagens do Velho Testamento que se referiam a Jeová. Paulo cita Jl. 2.32 “Todo aquele que invocar o nome do Senhor (Jeová), será salvo” E aplica esta citação a Jesus em Rm. 10.13. De novo, Paulo, em Fp. 2.9-11 atribui a Jesus Cristo a passagem de Is. 45.23, onde se fala de uma adoração universal prestada a Jeová no Velho Testamento e atribuída a Jesus no Novo Testamento. Em Jr. 23.5,6 se declara que Jesus seria chamado Jeová, Justiça Nossa (Jeová Tsidkenu). Em Is. 40.3 se lê “Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor (Jeová); endireitai suas veredas”. Esse versículo foi citado por João Batista (Mt. 3.1-3) anunciando a chegada de Jesus.
Reiteramos que Jesus e Jeová constituem o mesmo Deus, embora sejam pessoas distintas.Ora, se Jesus e Jeová constituem o mesmo Deus para nós cristãos, como estabelecer uma nova doutrina fazendo distinção entre Jeová e o Pai, atribuindo a Jeová a pecha de deus falso? Se fosse válida tal distinção, teríamos também que reconhecer em Jesus um deus falso, o que é ilógico e herético.
- CONSIDERAÇÕES SOBRE EVENTUAIS CONTRADIÇÕES ENTRE AS AÇÕES DE DEUS NO VELHO TESTAMENTO E AS DECLARAÇÕES NO NOVO TESTAMENTO
- a) Sobre Deus Ser Tentado. Não existe contradição entre Gn 22.1, onde se diz que Abraão foi tentado, com Tg. 1.13, onde se declara que Deus a ninguém tenta. Em Gn. 22.1 se deve entender que Deus testou ou provou a Abraão, como o fez em outras ocasiões. A fé que Abraão tinha em Deus e sua dedicação a Ele foram testadas ao máximo. Deus o mandou fazer uma coisa totalmente contrária ao seu bom senso, ao seu amor paternal e à sua esperança, que era seu filho (v.2). Ora, todo o crente tem sua fé testada. Por outro lado, em Tg 1.13 está sendo ensinado que ninguém pode escusar-se pelo pecado cometido, lançando acusações sobre Deus. A natureza de Deus testifica que Ele não pode dar origem à tentação para pecar.
- b) Sobre Deus Jeová Ser a Serpente. É tão absurda essa comparação entre Jeová e a serpente que só o ocultismo pode ensinar tal heresia. A Maçonaria tem ensino semelhante. Que o Deus bom é Lúcifer, a serpente, que não queria restringir conhecimento a Adão e Eva, enquanto Adonai o fazia.
Justificar esse ensino sob o suposto apoio bíblico do SI. 18.8,9 é francamente deplorável, e não pode ser identificado com a linguagem metafórica do escritor, que chama a Deus de “meu rochedo, meu lugar forte, minha fortaleza, o meu escudo, força da minha salvação” no v. 2. Este Salmo é repetido em 2Sm. 22.
Imagine o problema para os que identificam Jeová com a serpente, que fumega pelas narinas, com o que se lê no v. 49 que, profeticamente, se refere a Cristo, na linguagem de Paulo em Rm. 15.9. Acresce notar que no v. 3 Davi fala desse Deus Jeová como digno de louvor. Estaria Davi identificando esse Deus como a antiga serpente chamada o diabo (Ap. 12.9) e se o fizesse poderia atribuir-lhe louvores?
- c) Sobre Deus Jeová Ser o Deus do Mal, o Deus das Trevas. Se antes de fazer essa afirmação blasfema, de Deus habitar nas trevas, tivesse o autor desse ensino escabroso consultado várias traduções da Bíblia, não cairia no ridículo de atribuir a Deus habitar em trevas, quando o próprio autor reconhece com base em 1Jo. 1.5 que nele não há trevas nenhuma. É só ler a ARA e encontrar o seguinte: “O Senhor declarou que habitaria em nuvem espessa!” Habitar em nuvem espessa não é habitar nas trevas. Davi afirma no SI. 139.12 que as próprias trevas para Deus não são escuras e que as trevas e a luz para Deus são indiferentes.
- d) Sobre Deus Jeová Retribuir o Mal com o Mal. Deus não apenas fica irado com o pecado, como também o julga. Ele estabeleceu leis imutáveis antes de o pecado entrar no mundo. Uma dessas leis dizia respeito à sua punição. Deus começou a puni-lo assim que foi introduzido no mundo. A Bíblia nos fornece exemplos em que Deus puniu o pecado. Em algumas ocasiões ele julgou o pecado enviando uma catástrofe natural (Nm. 11.1). Noutra ocasião Deus julgou o pecado enviando uma doença sobre aqueles que o irritaram( Nm. 12.9-10). O maior julgamento de Deus contra o pecado foi o envio de Israel para o cativeiro babilônico. Devido ao pecado contínuo dos israelitas, ele os lançou num cativeiro que durou setenta anos. Entretanto, Deus não se agrada do julgamento do pecado. Ele prefere conceder misericórdia. Nos três exemplos bíblicos citados, Deus mostrou-se grandemente misericordioso com o povo que julgara. Depois que o fogo irrompeu no acampamento dos filhos de Israel, Moisés orou ao Senhor e o fogo se apagou. Miriã foi curada da lepra porque oraram em seu favor. Foi permitido aos filhos de Israel voltarem à sua pátria após os setenta anos do cativeiro babilônico.
Surge agora a pergunta: Por que Deus ordenou o extermínio dos Cananeus? É o que se lê em Js. 6.21. Por que Deus ordenou que todos fossem mortos, incluindo mulheres, crianças e animais? Isso não revela uma atitude cruel? Jesus não recomendou amar os inimigos? Com essa pergunta procuram mostrar que o Deus do Velho Testamento chamado Jeová é um e o Deus do Novo Testamento é outro. Isso não é verdade. Embora o sacrifício de vidas inocentes deva ser condenado, é preciso que se analise a situação tendo em vista os seguintes fatos: a terra prometida onde os israelitas iriam morar era habitada pelos cananeus, povo esse que havia contaminado e deturpado a verdade de Deus. Eles se corromperam a ponto de não terem mais salvação. Se algum deles sobrevivesse, infectaria Israel com sua depravação moral. Antes que Israel pudesse se estabelecer naquela região como testemunha do único Deus verdadeiro, todo resquício da cultura pagã tinha que ser destruído. O fracasso do extermínio total de todos os pagãos na terra prometida acabou por causar a derrocada da nação no tempo dos juízes (Jz. 2.1-3). Muitas vezes tem-se a impressão de que Deus mandou matar gente inocente. Acontece que aquela gente não era nem inocente nem ignorante. Eles já tinham ouvido falar do Deus de Israel, mas o rejeitaram. Quando os dois espias foram enviados para espionar a terra da promessa, a prostituta Raabe disse isso (Js. 2.9-11). Os habitantes de Canaã não foram vítimas ignorantes nem inocentes de um Deus enfurecido, como alegam os defensores da doutrina Jeová x Pai Eles vinham cometendo horrível pecado, estando plenamente cientes do Deus vivo e verdadeiro. Pelo fato de o terem rejeitado e ao seu perdão, o pecado deles foi julgado (Rm. 1.21-25).
- e) Sobre Deus Jeová Fazer Acepção de Pessoas. A nação israelita foi escolhida para ser testemunha do Deus vivo e verdadeiro para o mundo. Os israelitas deveriam viver na terra prometida cercados por nações idólatras, mas não deveriam se deixar influenciar por suas religiões. Deus instruiu o povo para que não adotasse nenhum dos elementos das religiões pagãs e falsas (Dt. 18.9-12). Foi a Israel que a Palavra de Deus veio como diz Paulo (Rm. 3.1-2; 9.1-5). A Bíblia deixa claro, contudo, que Deus escolheu Israel para ser seu instrumento porque era o queria e não porque fosse melhor do que qualquer outra nação (Dt. 9.6). A situação atual de Israel hoje não é a mesma. Israel não está mais sendo usado como agente de testemunho para incrédulos. Deus agora está disseminando sua Palavra por intermédio dos seus crentes. Jesus disse que aqueles que nele creem devem sair e pregar o evangelho (Mt. 28.19). Faz Deus acepção de pessoas quando manda aos que creem no Evangelho que saiam e preguem o Evangelho a toda a criatura? Não disse Pedro que Deus não faz acepção de pessoas, mas que lhe é agradável aquele que em qualquer nação o teme e opera o que é justo? (At. 10.34-35). Por que Deus não manda os incrédulos pregar? É por acepção de pessoas ou porque não lhe obedecem?
- f) Sobre Deus Jeová Não Ser o Deus de Amor. Dentre os atributos morais de Deus estão a bondade e o amor. A Bíblia diz que Deus é bom (SI. 25.8; 106.1; Mc. 10.18). Tudo quanto Deus criou originalmente era bom, era uma extensão da sua própria natureza (Gn. 1.4,10,12,18,21,25,31). Além de bom, Deus é amor (1Jo. 4.8) Seu amor é altruísta, pois abraça o mundo todo pecador (Jo. 3.16; Rm. 5.8). Como afirmar que Deus é incapaz de amar o inimigo? A manifestação principal desse amor de Deus foi a de enviar seu único Filho, Jesus, para morrer em lugar dos pecadores (1Jo. 4.9-10). Agora, não se pode negar que Deus tem amor especial àqueles que estão reconciliados com Ele por meio de Jesus (Jo. 16.27). Deus ama todas as pessoas (Jo. 3.16), mas também é verdade que ele tem amor especial àqueles que por meio de Jesus, estão reconciliados com Ele, e o amam e permanecem leais a Ele, em meio às tribulações deste mundo (Jo. 16.33).
- g) Sobre Deus Jeová Ser A Favor Do Divórcio. Como Deus poderia ser a favor do divórcio, se Ele mesmo disse em Ml. 2.14-16 que aborrecia o divórcio? Mas o divórcio não é pecado, se tiver fundamento bíblico (Mt. 19.9) “A não ser por causa da prostituição” (poméia no grego), palavra esta que no original inclui o adultério ou qualquer outro tipo de imoralidade sexual (Mt. 5.32). O próprio Deus repudiou Israel por causa da sua infidelidade e adultério espiritual (Is. 50.1; Jr. 3.1; 6-8). Poderia Ele ao mesmo tempo ser a favor do divórcio? Certo que não.
- h) Sobre Deus Jeová Ser Homem De Guerra. Êxodo 15.1-18 registra o chamado cântico de Moisés. Este cântico celebra a vitória de Deus no mar Vermelho contra o poder do Egito e dos seus deuses. É um hino de louvor e ações de graças a Deus por sua majestade, por seu poderio nas batalhas e pela sua fidelidade ao seu povo. A expressão usada por Moisés sobre ser Deus “varão de guerra” naturalmente é figurativa para ilustrar a vitória de Deus sobre os inimigos de Israel. Sem dúvida Jesus é o “Príncipe da Paz” (Is. 9.6), mas não podemos esquecer-nos que no dia da sua volta virá como Rei dos reis e Senhor dos senhores para executar juízo contra a besta, o falso profeta e toda a humanidade que hoje o tem rejeitado (Ap. 19.11-21).