O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciou nesta quarta-feira (10) que seu país irá liderar uma grande coalizão internacional que tem como objetivo “destruir o Estado Islâmico”. Em pronunciamento em rede nacional, ele assegurou, porém, que não enviará soldados ao Iraque ou à Síria.
“Quero que os americanos entendam que esse esforço será diferente das guerras no Iraque e no Afeganistão. Ele não envolverá tropas dos Estados Unidos combatendo em solo estrangeiro. Essa campanha antiterrorismo será travada através de um esforço incansável e constante para eliminar o EI onde quer que ele exista, usando nosso poder aéreo e o apoio de forças aliadas em solo. Essa estratégia para erradicar terroristas que nos ameaçam, apoiando parceiros nas linhas de frente, é a mesma que temos aplicado com sucesso no Iêmen e na Somália há anos”, disse o presidente em seu discurso.
Antes de detalhar os planos de ação, Obama reforçou que o EI é uma ameaça real. “O Estado Islâmico não é ‘islâmico’. Nenhuma religião concorda com a matança de inocentes, e a maior parte das vítimas do EI tem sido de muçulmanos”, disse. “Ele não é reconhecido por nenhum governo e nem pelo povo que subjuga. O Estado Islâmico é uma organização terrorista, pura e simplesmente”.
O presidente americano anunciou então um plano com quatro pontos principais: dar apoio militar ao novo governo iraquiano para o combate ao EI, sem envio de tropas de solo; aumentar o apoio aos rebeldes de oposição ao governo da Síria; angariar apoio e recursos da comunidade internacional; oferecer ajuda humanitária aos muçulmanos sunitas e xiitas das regiões de controle do EI que estão refugiados, além de cristãos e outras minorias religiosas.
Segundo Obama, porém, as ofensivas militares no Iraque não serão como as guerras no próprio Iraque e no Afeganistão. No Iraque, o presidente disse que a instalação do novo governo permite que os Estados Unidos dê apoio de inteligência, armamentos e treinamento ao exército iraquiano, mas sem o envio de tropas de combate.
A ajuda anunciada é de 475 militares para dar apoio longe do combate pelo solo. A ideia de Obama é que a força aérea americana ataque as regiões controladas pelo Estado Islâmico para auxiliar os soldados iraquianos na luta contra o grupo radical.
No caso da Síria, Obama afirmou que o exército americano não terá o mesmo papel que no Iraque. No discurso, ele pediu a autorização do congresso dos EUA para aumentar a quantidade de armas e dinheiro a ser enviada aos rebeldes de oposição ao governo de Bashar al-Assad. “Na luta contra o EI nós não podemos contar com o regime de Assad, precisamos fortalecer a oposição”, disse.
O presidente dos EUA explicou que a missão de combate ao EI é semelhante a outras ações feitas pelo exército americano no Iêmen e na Somália, e que o risco de não responder às ameaças do grupo fundamentalista pode fazer com que ele ganhe força e comece a representar uma ameaça real aos territórios do país e dos aliados. Obama disse ainda que o grupo tem recrutado cidadãos de países europeus que podem estar sendo treinados no Oriente Médio. “Não registramos ainda um perigo sério, mas, treinados, esses soldados podem voltar a seus países e promover algum ataque.”
Ele ressaltou, porém, que a coalizão militar para combater o EI também serve para proteger os militares e civis americanos na região do Oriente Médio, lembrando dos dois jornalistas americanos que foram mortos pelo grupo terrorista.
Para angariar o apoio de outros países, Obama afirmou que o secretário de Estado, John Kerry, se reuniu nos últimos dias com o novo governo iraquiano, e nos próximos dias fará visitas a outros estados do Oriente Médio e da Europa.
Coalizão
Na sexta-feira (5), Kerry e o secretário de Defesa, Chuck Hagel, já ressaltavam a necessidade da criação de uma coalizão internacional em um comunicado conjunto, depois de uma reunião à margem da cúpula da Otan com os dirigentes de outros nove países. “Não podemos perder tempo para criar uma coalizão internacional para destruir a ameaça representada pelo EI”, dizia o texto.
Na ocasião, Kerry usou um termo já empregado anteriormente por Obama ao falar em “destruir o Estado Islâmico”. “Temos que atacá-los de maneira que os impeça de tomar territórios, que reforce a capacidade das forças iraquianas, de outros que estão na região e que estão preparados para enfrentá-los, sem comprometer nossas tropas, obviamente”, assinalou Kerry em uma reunião com seus colegas da Alemanha, França, Grã-Bretanha, Itália, Turquia, Polônia, Canadá, Dinamarca e Austrália.
A desintegração do grupo havia sido prometida pelo presidente dos EUA dois dias antes, na quarta (3), ao comentar o segundo vídeo com a decapitação de um jornalista americano por integrantes do EI, Steven Sottlof.
“A questão é esta: nosso objetivo é claro, degradar e destruir (o Estado Islâmico) para que não seja mais uma ameaça não só ao Iraque, mas à região e aos Estados Unidos”, afirmou em uma entrevista coletiva. “Seja lá o que for que estes assassinos pensam que irão conquistar matando norte-americanos inocentes como Steven, já fracassaram”, disse Obama. “Fracassaram porque, como muitos ao redor do mundo, os norte-americanos estão enojados com sua barbárie. Não seremos intimidados”.
No dia 20 de agosto, quando falou sobre a morte do primeiro jornalista, James Foley, o presidente chamou o EI de “câncer” e disse que o grupo tem uma “ideologia falida”.
“Sua ideologia é fracassada. Eles podem dizer que estão em guerra com os Estados Unidos ou o Ocidente, mas o fato é que aterrorizam seus vizinhos e não lhes oferecem nada além de uma escravidão sem fim à sua visão nula e o colapso de qualquer definição de comportamento civilizado”, disse a jornalistas.
Ataques aéreos
No Iraque, os EUA iniciaram ataques aéreos no dia 8 de agosto e mais de 150 ofensivas foram lançadas desde então, especialmente no norte do país. Segundo o Pentágono, mais de 200 alvos do Estado Islâmico foram destruídos e mais de 300 toneladas de ajuda foram entregues, sem nenhuma baixa ou acidente envolvendo caças americanos. A colaboração do governo local facilitou as ações no território iraquiano, em situação bem diferente da Síria.
Em 25 de agosto, o governo sírio afirmou estar “pronto para cooperar e coordenar” o trabalho da comunidade internacional na luta contra o terrorismo no país, no âmbito da resolução 2170 do Conselho de Segurança da ONU. A medida visa impedir o recrutamento e financiamento de jihadistas na Síria e no Iraque, que também já se declarou disposto a colaborar.
Mas o chefe da diplomacia síria, Walid Moallem, deixou claro que qualquer ataque dos aliados americanos dentro do território de seu país deveria ser coordenado por Damasco. Caso contrário, seria considerado uma agressão.
Fonte: G1