Você não leu errado. É isso mesmo. No movimento G-12 alguns paradigmas são criados automaticamente. Pela grande ênfase em números, conforme vimos, as pessoas se esforçam bastante para cumprir suas metas de evangelismo, ou melhor dizendo, de atrair adeptos.
Sob a faceta do cumprimento da grande comissão, as pessoas se empenham bastante para multiplicar suas células, pois desta forma serão elogiadas pelo desempenho.
Um dos representantes internacionais do G-12, Ralph Neighbour, disse que, “a experiência de longos anos com os grupos constatou que eles estagnam depois de um certo período.” Em sua constatação, depois de “seis meses as pessoas atraem-se mutuamente; passado esse tempo elas tendem a se tolerar”. Por esta razão, “deve-se esperar que cada grupo de pastoreio seja multiplicado naturalmente após seis meses, ou que seja reestruturado”.[1]
Essa reestruturação pode acontecer através de uma punição, da troca do líder de célula, enfim, mediante qualquer manipulação humana para que os resultados sejam mais satisfatórios. O sucesso ou fracasso da célula é totalmente do líder que precisa atingir suas metas.
O próprio Neighbour conta que, se “os líderes de célula fracassam no alcance de seus objetivos, Cho os envia ao retiro da montanha de Oração da igreja para jejuar e orar”.[2] Em contrapartida, “os líderes de células e os auxiliares que conduziram suas células à multiplicação devem ser valorizados e elogiados em público diante de toda a igreja”.[3]
É natural que isso aconteça, uma vez que segundo o pensamento gedozista, a própria pessoa é capaz de converter o ouvinte.
Lembro-me de um culto em que fui com o pastor presidente certa vez numa cidade vizinha. Naquela ocasião um Apóstolo representante do G-12 em Minas Gerais, da cidade de Juiz de Fora, estava participando do culto. O pastor da Igreja que estávamos visitando, contava alegremente sobre a construção de um novo templo, o qual teria capacidade para umas 200 pessoas.
Depois de sua manifestação de alegria por este projeto, o Apóstolo pegou o microfone e começou a falar que o templo era pequeno, pois deveria sonhar mais alto e com palavras cheias e motivação levou a igreja a dar um alto brado de vitória.
Em meio a esse clima fervoroso onde a declaração era de conquistar muitas almas, o pastor presidente da igreja que fiz parte contou que estávamos na “visão” e que nossa igreja já era a maior da cidade. Mais uma vez ouvíamos as pessoas glorificando a Deus por isso.
Quando chegamos em nossa cidade, ele me deixou em frente da minha casa e comecei a conversar sobre o que tinha visto e ouvido naquela reunião. O foco em números me assustou, pois conforme lemos em Atos dos Apóstolos, a cada dia “acrescentava-lhes o Senhor os que iam sendo salvos” (At 2.47b – grifo meu).
Não eram os Apóstolos e nem os novos convertidos que conseguiam realizar essa tarefa. Da mesma forma, Paulo quase convenceu o Rei Agripa a tornar-se cristão (At 26.28) através de suas palavras, mas quem convence o homem do pecado, da justiça e do juízo é o Espírito Santo e não o homem (Jo 16.8).
A “paixão” por almas somada às metas, que mais parecem as estratégias de uma empresa, propulsionam um sofisma ligado a números.
As células que mais cresciam, eram as que do ponto de vista humano, Deus estava mais operando e o contrário também era visto, isto é, as que menos se desenvolviam tinham algum problema, pois Deus não estava abençoando.
Com isso, as pessoas passaram a disputar entre si quem produzia mais. No começo achei aquilo saudável, pois despertava as pessoas o desejo de se esforçarem mais, entretanto, passou a virar pesadelo, pois ninguém queria ficar para trás.
As almas que deveriam ser ganhas para Jesus, passaram despercebidamente a serem ganhas para a visão. Posteriormente, deixaram de serem ganhas para a visão e passaram a serem ganhas para si próprias. Qualquer um negaria isso e alegaria veementemente que estavam ganhando para Jesus, mas a motivação era claramente vista.
As pessoas disputavam um visitante. Quando alguém ia a convite de um membro da igreja e esse visitante era abordado por outro que não o havia convidado, quem o havia feito o convite ficava de cara feia, pois estava “roubando” sua ovelha.
Renê Terra Nova conta que quando realizam o Fruto Fiel, cada 12 traz consigo seus discípulos e esta é a forma desse seguidor demonstrar sua fidelidade e honra ao discipulador.[4]
Além disso, as pessoas queriam ostentar quantos estavam levando ao batismo, ao encontro, quantos 12 já tinham levantado e quantos membros de células tinham. No meio dos discípulos de Jesus houve esse tipo de competição, dois deles queriam lugares especiais com o Mestre, desejando assentarem-se um à Sua direita e outro à esquerda.
Essa atitude despertou ciúmes entre os demais discípulos, mas Jesus tratou o problema e ensinou-os, dizendo:
Mateus 20.25-28 – “Sabeis que os governadores dos gentios os dominam, e os seus grandes exercem autoridades sobre eles. Não será assim entre vós; antes, qualquer que entre vós quiser tornar-se grande, será esse o que vos sirva; e qualquer que entre vós quiser ser o primeiro, será vosso servo; assim como o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos”.
Esse foco por almas, embora pareça bastante bíblico acaba se desviando do verdadeiro propósito de Deus. Mas como Deus discordaria de pregar o Evangelho? Alguém perguntaria. Quando não ensinamos de acordo com a sã doutrina, quando trocamos o fundamento da pregação, estamos pregando algo diferente ao que o Mestre nos comissionou (1 Co 3.11-15).
O que vale é a intenção do coração – Já me disseram – entretanto, os budistas, os hinduístas, os muçulmanos e os demais religiosos não estão servindo a seus deuses com má intenção.
Aliás, em termos de boas intenções, os espíritas ganham de muita gente, mas nem por isso o evangelho segundo Alan Kardec está em acordo com as Sagradas Escrituras.
Outra passagem bastante usada para defender a pregação por parte dos gedozistas é a resposta de Jesus a João, quando este relatou ter proibido outro homem de expulsar demônios porque não os seguia: “Não lho proibais; porque ninguém há que faça milagre em meu nome e possa logo depois falar mal de mim” (Mc 9.39).
Se este homem estivesse propagando algo contrário aos Seus ensinamentos a resposta seria outra. Quem defende esse versículo isoladamente, isto é, sem aplicá-lo no devido contexto, deve então tratar as Testemunhas de Jeová como grandes irmãos em Cristo, pois saem por várias casas para ensinar a Bíblia.
Para entendermos que Jesus rejeita sim, uma pregação fora do parâmetro de Suas doutrinas, basta lermos as passagens a seguir:
Mateus 23.15 – “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque percorreis o mar e a terra para fazer um prosélito; e, depois de o terdes feito, o tornais duas vezes mais filho do inferno do que vós”.
Apocalipse 2.2,6 – “Conheço as tuas obras, e o teu trabalho, e a tua perseverança; sei que não podes suportar os maus, e que puseste à prova os que se dizem apóstolos e não o são, e os achaste mentirosos; Tens, porém, isto, que aborreces as obras dos nicolaítas, as quais eu também aborreço”.
[1] NEIGHBOUR, Ralph. Manual do Líder de Célula. Ministério Igreja em Células. Curitiba, 2001, p.113.
[2] Ibid, p. 25.
[3] Ibid, p. 97.
[4] NOVA, Renê Terra. M-12, O Modelo de Jesus. Semente de Vida. São Paulo, 2009, p. 35.
xtraído do livro “A Verdade Sobre o G12″, Couto