Certamente não é comum que pessoas enaltecidas pelos protestantes sejam ao mesmo tempo adotadas também pela Igreja Católica Romana. Mas esse é o caso de Agostinho. Ele, junto com Jerônimo (331-420), Ambrósio (340-397), e Gregório o Grande (c. 540-604), foi um dos quatro originais “Doutores da Igreja” do Catolicismo.[1] Ele tem uma data comemorativa na Igreja Católica em 28 de agosto (o dia de sua morte).[2] A enciclopédia católica o denomina o fundador do Cristianismo ocidental e elogia a “grandeza de sua realização como pensador e teólogo.”[3] No 1.600º aniversário da conversão de Agostinho, o Papa João Paulo II o designou o “pai comum de nossa civilização cristã.”[4] Um oficial do Vaticano diz que através de Agostinho: “Eu aprendi a crer, a conhecer a fé e amar a igreja.”[5] Como qualquer relíquia católica romana, os ossos de Agostinho foram transportados por toda a Europa.[6] Então os calvinistas não são os únicos que recorrem a Agostinho a favor de seu sistema de teologia, pois, como um historiador disse: “Dificilmente há um único dogma católico romano que seja historicamente compreensível sem referência a seu ensino.”[7]
Agostinho foi em primeiro lugar um católico romano. Todos os calvinistas, se honestos, admitem isso. Warfield reconhece que Agostinho foi “num sentido exato o fundador do Catolicismo Romano.”[8] Philip Schaff (1819-1893) o chama de o “principal criador teológico do sistema latino-católico, igualmente distinto do Catolicismo grego por um lado, e do Protestantismo evangélico por outro.”[9] Que significa, como outro escritor tão francamente afirmou: “O primeiro verdadeiro ‘católico romano.’”[10] Somente por Agostinho ter sido tão dissimulado que Warfield o considera como “tanto o fundador do Catolicismo Romano quanto o autor daquela doutrina da graça constantemente perseguida pelo Catolicismo Romano para neutralizá-la.”[11] Todavia, o batista Tom Rom, após admitir que Agostinho não foi “nenhum amigo dos batistas”[12] o cita como “o renomado teólogo católico” quando procura um aliado da pré-Reforma que “cria nas doutrinas da graça.”[13] Mas mesmo que os calvinistas se alegram em reinvidicar Agostinho como um dos seus, nem todos os católicos estão dispostos a cedê-lo com tanta facilidade.[14]
[1] The Oxford Dictionary of the Christian Church, 2a ed. (Londres: Oxford University Press, 1974), s.v. “Augustine,” p. 414.
[2] New Catholic Encyclopedia (Nova York: McGraw-Hill Book Company, 1967), s.v. “Augustine, St.,” vol. 1, p. 1041.
[3] Ibid.
[4] Papa João Paulo II, citado em Ostling, p. 76.
[5] Joseph Cardinal Ratzinger, citado em Ostling, p. 76.
[6] Christian History, Vol. 6:3 (1987), pp. 34-35.
[7] The New Schaff-Herzog Encyclopedia of Religious Knowledge (Grand Rapids: Baker Book House, 1949-1950), s.v. “Augustine,” vol. 1, p. 368.
[8] Warfield, Calvin, p. 313.
[9] Philip Schaff, History of the Christian Church (Grand Rapids: Wm. B. Eerdmans Publishing Co., 1910), vol. 3, p. 1018.
[10] Peter S. Ruckman, The History of the New Testament Church (Pensacola: Bible Baptist Bookstore, 1982-1984), vol. 1, p. 149.
[11] Warfield, Calvin, pp. 321-322.
[12] Tom Ross, Abandoned Truth, p. 11.
[13] Ibid., p. 16.
[14] Veja The Catholic Encyclopedia (Nova York: The Encyclopedia Press, 1913), s.v. “Augustine of Hippo,” vol. 2, pp. 91-99.
Autor: Laurence Vance