Como no capítulo anterior, neste também não pretendo entrar no mérito da questão quanto a se Deus é ou não Trino, se a Bíblia é ou não verdadeira… Tampouco objetivo argumentar em defesa do Cristianismo. Se o Cristianismo está certo ou não por pregar a Trindade, não vem ao caso no momento. Estas questões também são importantes, mas por ora não trato destes assuntos. O que agora proponho é fazer mais uma demonstração do quanto o Kardecismo é incoerente. Não existe cristão unitário, assim como também não há cristão ateu. Se os kardecistas fossem ateus e, concomitantemente, afirmassem ser cristãos, eu tacharia isso de incoerência, ainda que eu fosse ateu, visto que o Cristianismo não é ateísta.
Neste capítulo empreendo demonstrar que o fato de o Kardecismo negar a Doutrina da Trindade, o descaracteriza como cristão.
Ora, para que fique claro que o Kardecismo deveras rejeita a Doutrina da Trindade, faz-se necessário provar que ele nega a Divindade do Filho e do Espírito Santo. Este é o motivo pelo qual este capítulo está dividido em duas partes: na primeira parte exibo o que Kardec disse acerca da Divindade de Jesus; já na segunda demonstro que ele negou a Personalidade e Divindade do Espírito Santo.
3.1. O Kardecismo nega a Divindade de Jesus
Crer na Trindade não implica crer em três Deuses em um, antes significa reconhecer que o Deus da Bíblia não é uma unidade absoluta, e sim composta, constituída de três Pessoas distintas (isto é, nenhuma das três Pessoas é as outras duas), igualmente divinas (isto é, cada uma destas três Pessoas é Deus).
O fato de a Bíblia dizer que há um só Deus (1Tm 2:5), sem negar tanto a distinção entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo (Jo. 14:16; Mt 26:39), quanto a Divindade de cada uma destas três Pessoas (O Pai é Deus [Jo. 3:16], o Filho é Deus [Jo. 1:1], e o Espírito Santo é Deus [At 5:3-4]), nos impele a concluir que, segundo a Escritura Sagrada do Cristianismo, Deus é o que se convencionou chamar de Trindade, isto é, embora o Pai, o Filho, e o Espírito Santo sejam distintos e igualmente Divinos, não há três Deuses, mas um só. Logo, quem nega a Doutrina da Trindade não pode se considerar cristão, visto que fazê-lo é incoerência. Deste modo, aqui está mais uma demonstração de incoerência no Kardecismo, posto que Allan Kardec sustenta nas páginas 121-153 do livro Obras Póstumas, editado pela Federação Espírita Brasileira, 26ª edição, que Jesus não é Deus. Referindo-se a Jesus ele diz textualmente: “…ele não é Deus…”(página 131). “… Jesus… não era Deus…” (página 134).
Sabemos que, segundo a Bíblia, Jesus afirmou que Ele, de Si mesmo nada podia fazer (Jo.5:30); que Ele se submetia à vontade de Deus (Mt.26:39); declarou-se inferior ao Pai (Jo.14:28); e, quando de Sua morte, Ele entregou Seu espírito a Deus (Lc.23:46). Destas afirmações de Jesus e outras correlatas, Kardec infere e registra no referido livro Obras Póstumas, no trecho supradito, que Jesus e Deus não são a mesma pessoa; e que, portanto, Ele não é Deus. Mas os argumentos que Kardec, à base destes fatos bíblicos, apresenta para subtrair a Deidade de Cristo, estão errados por três razões:
1ª) Allan Kardec não pode citar a Bíblia no intuito de provar a “ortodoxia” de suas doutrinas, pois como já deixamos claro, ele não acreditava nela;
2ª) Os cristãos, desde os primórdios do Cristianismo sustentam que Jesus, por ser Deus (Jo.1:1-3,10; Cl.1: 14-17; 2:9) e homem (1Tm 2:5), pode falar como Deus (Mt. 18:20; Mc.2:10) ou como homem (Jo.5:30);
3ª) Kardec alega que (falo com minhas palavras) “se Jesus realmente fosse Deus e homem, de humano Ele teria o corpo, e de Divino, Ele teria o Espírito; mas é justamente o Espírito que Ele entrega nas mãos do Pai, quando de Sua morte (Lc. 23:46). Ora, como entregar Deus aos cuidados de Deus?” Esse argumento, porém, não é tão consistente como talvez possa parecer a uma pessoa desavisada. Veja estas considerações:
Kardec “esqueceu” de considerar que o Cristianismo sempre pregou que de humano, Jesus não possuía só o corpo, mas também o espírito (espírito ou alma, na concepção dos dicotomistas; ou espírito e alma, segundo os tricotomistas);
Se de humano, Jesus possuísse só o corpo, Ele não seria 100% homem, como o Cristianismo sempre sustentou, e sim, um ser parcialmente humano;
O Cristianismo clássico jamais ensinou que o Pai e o Filho sejam a mesma Pessoa. Essa crença, estranha ao Cristianismo bíblico e rechaçada pelos católicos, pelos ortodoxos, e pelos evangélicos, é conhecida pelos nomes de Sabelianismo, Modalismo e Unicismo. Deste modo, por que Cristo não poderia entregar o Seu espírito humano aos cuidados do Pai, isto é, aos cuidados da Divindade, da qual Ele é integrante? Salta aos olhos que Kardec, das duas uma: Ou ignorava o que o Cristianismo prega, ou usou de má fé. Sim, para nos refutar, ele deveria se ater a solapar as bases sobre as quais nos fundamentamos, e não se valer de premissas rejeitadas por todos os teólogos trinitarianos. Tentar refutar uma idéia, sem solapar a (s) premissa (s) sobre a (s) qual (ais) a mesma esteja apoiada, não é uma atitude filosófica, e sim, um disparate indigno de ser apreciado.
Jesus, à luz da Bíblia, é o Deus Todo-Poderoso, Criador dos Céus, da Terra e de tudo quanto neles há (Jo.1:1-3,10; 5:18; 20:28 Hb. 1: 8-12; Rm. 9: 5; Cl.1: 14-17; 2:9; Tt.2:13; 2Pe 1:1, etc.).
Jesus existe desde a eternidade (Mq.5:2; Jo. 1:1-3,10); logo, não foi criado por ninguém, nem mesmo por Deus Pai, pois é Criador, como já vimos, e não criatura. Contudo, kardec, no seu inglório afã de “provar” que Jesus é criatura, serviu-se do fato de Jesus ser chamado na Bíblia de “o Filho de Deus”. A questão é:Se Ele não é criatura, e sim, Eterno em absoluto, por que diz então a Bíblia que Ele é o Filho de Deus? Resposta: A expressão “filho de”, nem sempre significa “gerado por”, ou “criado por”. Veja os exemplos abaixo:
A) Filiação designa igualdade
a) Os filhos do diabo
Não comparando mal, assim como o diabo não criou ninguém, mas tem muitos filhos (Jo 8.44; At 13.10; 1 Jo 3.10, etc.); Deus não criou Jesus, mas Jesus é o Seu Filho.
Vejamos agora alguns dos textos bíblicos que categoricamente afirmam que Jesus é o Filho de Deus por identidade de natureza (ou igualdade) com o Pai.
b) O fato de Jesus ser o Filho de Deus, fá-lo Deus e igual ao Pai
Em Jo. 5:18 podemos ler: “Por isso, pois, os judeus ainda mais procuravam matá-lo, porque não só quebrantava o sábado, mas também dizia que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus”. Segundo este texto, as razões pelas quais os judeus queriam matar a Jesus erão as seguintes:
1ª – Jesus quebrantava (ou violava) o Sábado;
2ª – Jesus disse que Ele era igual a Deus, por dizer que Deus era o seu Pai;
3ª – Os judeus entenderam muito bem o que Ele estava dizendo;
4ª – Ao invés de crerem no que Jesus lhes dizia, isto é, ao invés de crerem que Jesus era de fato igual a Deus, acharam que Ele estava cometendo a blasfêmia de usurpar as prerrogativas divinas, razão pela qual o consideraram digno de morte. Aqui está, portanto, uma prova de que Jesus é o Filho de Deus porque é igual a Deus; e é igual a Deus, pois é o Filho de Deus.
Há quem diga que Jesus não se declarou igual a Deus em Jo 5.18, e sim, que “foram os judeus incrédulos que raciocinaram que Jesus procurava fazer-se igual a Deus por afirmar que Deus era seu Pai.” E concluem que “Jesus nunca afirmou ser igual a Deus.” Estas declarações constam de um dos livros da seita dos Testemunhas de Jeová, Raciocínios à Base das Escrituras, página 215, edição de 1.985. Mas os que assim dizem só estariam com a razão, se este texto dissesse assim: “ … mas também dizia que Deus era seu próprio Pai, o que fez com que os judeus pensassem que Ele estava fazendo-se igual a Deus.”
c) Dizer-se filho de Deus é blasfemar?!
- Segundo Jo 19.7, os judeus tentaram convencer a Pilatos de que Jesus era réu de morte, pelo fato de Ele haver afirmado que era Filho de Deus. Isto é prova cabal de que esta afirmação, à luz das línguas originais em que a Bíblia foi escrita, não significa criado por Deus, e sim, igual a Deus. Caso contrário, os ímpios não se apoiariam nisso para acusar Jesus de blasfêmia.
d) Jesus é um com Deus
Está registrado em Jo 10.30-36, que Jesus disse que Ele e o Pai são um. Isto equivale a dizer que Ele é Deus e os judeus quiseram matá-lo por isso, por acharem que o fato de Ele se fazer Deus era uma blasfêmia. Em outras palavras: Ele confessou que é Deus e os judeus acharam que Ele estava blasfemando ao fazer esta confissão. Senão vejamos: Logo após Jesus dizer que Ele e o Pai são um (v.30), os judeus ameaçaram apedrejá-lo (v.31). Jesus perguntou então por qual motivo queriam apedrejá-lo (v.32), e eles disseram que era porque Ele havia cometido a blasfêmia de se fazer Deus (v.33). Nos versículos 34 e 35 Jesus argumenta, citando e explicando o Sl 82.6, e formula uma pergunta que nos deixa claro que a afirmação “Eu e o Pai somos um”, equivale a dizer eu sou o Filho Deus. Veja o leitor que embora o debate entre Jesus e os judeus seja em torno do fato de Ele ter afirmado que Ele era um com Deus, Jesus não disseassim: “àquele a quem o Pai santificou, e enviou ao mundo, dizeis vós: Blasfemas; porque eu disse: Eu e o Pai somos um?” (Confere com Jo 10.36). Assim, se compararmos os versículos 30, 33 e 36 de Jo 10, veremos que a expressão “Eu e o Pai somos um”; corresponde a “Eu sou o Filho de Deus”. Do contrário, Jesus e os seus interlocutores não falavam coisa com coisa.
e) Que pensa Satã do Filho de Deus?
Mt 4.3 nos diz que o diabo, tentando a Jesus, disse-lhe: “Se tu és o Filho de Deus, manda que estas pedras se tornem em pães”. Isto significa que na opinião do diabo, ser o Filho de Deus implica ser onipotente. Será que Satanás estava equivocado? Sabemos que o diabo é o pai da mentira e, portanto, indigno de confiança (Jo 8.44). Porém, às vezes os demônios fazem afirmações que não podem ser contraditadas por nós. Exemplos: Lc 8.28 diz que os demônios confessaram que Jesus é o Filho do Deus Altíssimo. Podemos refutar? Mc 1.24 nos assegura que os demônios disseram que Jesus é o Santo de Deus. Podemos contradizer? Ademais, se Satanás estava tentando a Jesus, obviamente ele procurava ser o mais “lógico” possível. Daí podermos perceber que o diabo tentou o Senhor Jesus a se identificar como o Filho de Deus por identidade de natureza. Das palavras do diabo podemos “pescar” que ele estava argumentando à base da seguinte lógica: Se Jesus é o Filho de Deus, então Ele tem, natural e necessariamente, poder sobrenatural. Se neste ponto Satanás não estava incoerentemente equivocado, como equivocados não estavam os seus subalternos ao fazerem as confissões registradas em Lc 8.28 e Mc 1.24, Jesus não é Filho de Deus por criação, pois ninguém tem a obrigação de ser portador de poder miraculoso só por ter sido criado por Deus. Tal exposição seria uma incoerência tão gritante quanto se alguém fizesse os seguintes desafios:
“Se tu és mecânico, conserta o meu televisor”;
“Se tu és carpinteiro, faze uma muda de roupa para mim”;
“Se tu és eletricista, corta os meus cabelos e faze a minha barba”;
Além dos exemplos acima, medite no fato de a Bíblia nos falar dos “filhos deste mundo” (Lc. 16:8), “filhos da luz” (Ef.5:8), “filhos das bodas” (Mt.9:15), “filhos da ressurreição” (Lc. 20:36), “filhos da desobediência” (Ef.2:2), “filhos da ira” (Ef.2:3), “filhos dos homens” (Ef.2: 5), etc. Em todos estes casos certamente salta à vista que o vocábulo “filho” não traz em si o conceito de procedência, derivação, criação, geração, formação, etc., mas sim, a idéia de participação. Pois bem, quando a Bíblia diz que Jesus é o Filho de Deus, está dizendo apenas que Ele é membro (isto ´é, integrante) ou participante da Divindade, ou seja, Ele é, juntamente com o Pai e o Espírito Santo, constituinte da Deidade. Jesus é o Filho, e não um dos filhos, ou ainda um filho.
Como já informei acima, por ora não está em discussão a autenticidade da Bíblia e do Cristianismo. O que nos interessa neste momento é: O Cristianismo prega ou não prega a Doutrina da Trindade? Estamos vendo que sim, e isto torna patente que o Kardecismo não fala coisa com coisa, visto que nega uma das doutrinas cardeais da fé cristã, que é a Trindade, e, simultaneamente quer se passar por cristão. Ora, se o Cristianismo é veraz, então os kardecistas devem abraçar a Doutrina da Trindade, já que se dizem cristãos e é isto que o Cristianismo prega; por outro lado, se a Triunidade de Deus é um ensino espúrio, os kardecistas precisam abjurar o Cristianismo e assumir que não são cristãos.
3.2. Nega a personalidade e Divindade do Espírito Santo.
Jesus nos prometeu outro Consolador (Jo. 14:16-17,26; 15:26; 16:7-14); disse que este é o Espírito Santo (Jo. 14: 26); mandou que os apóstolos o esperassem; garantiu que eles iriam recebê-lo dentro de breves dias, e que só podiam sair de Jerusalém para anunciarem o Evangelho ao mundo, após o recebimento desta bênção (At. 1:4-5; Lc. 24:49). Eles (os apóstolos e outros cristãos primitivos) foram, pois, a um cenáculo e lá permaneceram em oração (At.1:12-14) até que se cumpriu o que está exarado em At. 2: 1-4. Não pode haver dúvida, então, de que o fenômeno do qual trata este último texto bíblico (At 2: 1- 4), é a vinda do outro Consolador, conforme Jesus prometera. Logo, a bendita promessa se cumpriu há quase dois mil anos. O kardecismo, porém, apregoa que o outro Consolador que Jesus prometeu é o Espiritismo codificado por Allan Kardec, isto é, a doutrina Espírita; e que, portanto, o dito Consolador veio a 18 de abril de 1857, quando então Kardec lançou o seu primeiro livro intitulado O Livro dos Espíritos (O Evangelho Segundo o Espiritismo. Federação Espírita Brasileira: 109ª edição, capítulo 6, nº 4, páginas 128-129; e, O Reformador: Federação Espírita Brasileira, abril de 1995, página 6). Salta aos olhos, portanto, que o Kardecismo nega tanto a Personalidade quanto a Divindade do Consolador. Este não seria uma Pessoa Divina, e sim, um corpo de doutrinas. Por isso exibo abaixo as evidências de que o Cristianismo tem o Consolador (que, segundo a Bíblia, é o Espírito Santo) como Pessoal e Divino. Ao fazer isto, não estarei provando, por conseguinte, que o Cristianismo é veraz ou não; e sim, demonstrando mais uma vez que o Espiritismo (por se julgar cristão, sem crer na Pessoalidade e Divindade do Espírito Santo) é incoerente. Limito-me a este feito porque creio que fazê-lo basta para demover a um inquiridor sincero de depositar sua confiança no Kardecismo.
Veja a exposição abaixo e cientifique-se de que, segundo o Cristianismo, o Espírito Santo é Deus e Pessoal; não sendo, portanto, cristão, quem disso destoa.
3.2.1. A personalidade do Espírito Santo.
Atos pessoais são atribuídos ao Espírito Santo:
O Pastor Myer Pearlman, em seu livro intitulado “Conhecendo as Doutrinas da Bíblia”, 16ª edição, à página 180 define a personalidade da seguinte maneira: “É aquilo que possui inteligência, sentimento e vontade”. Esta definição é tão autêntica que não creio na possibilidade de alguém retrucá-la. E assim fica fácil sabermos se o Cristianismo prega ou não a personalidade do Espírito Santo. Basta lermos a Bíblia. Sim, as Escrituras Sagradas asseguram que o Espírito Santo tem:
a) Inteligência: Segundo Jo 16.13, Ele fala do que escuta e, como todos sabemos, só um ser portador de intelecto, pode fazer isso;
b) Sentimento: À luz de Ef 4.30, o Espírito Santo pode ser entristecido, pois aí se pede para não entristecermos a Ele. Ora, a ordem para não entristecermos o Espírito Santo, equivale a dizer que devemos mantê-lo alegre, já que qualquer cuidado para não entristecê-lo seria injustificável, se tristeza fosse o seu normal. Então o Espírito Santo pode se alegrar ou se entristecer. Além disso, Rm 15.30 assegura que o Espírito Santo ama. Ora, amor é um sentimento. Assim podemos ver nestas duas referências bíblicas que o Espírito Santo se alegra, se entristece e ama. E alegria, tristeza e amor, não são sentimentos? Pode uma doutrina fazer isto?
c) Vontade: 1 Co. 12:11, garante que o Espírito Santo tem vontade. E Rm 8.27 diz que Deus sabe qual é a INTENÇÃO do Espírito Santo. Deste modo fica patente que o Espírito Santo preenche todos os requisitos que um ser precisa preencher para caracterizar-se como Pessoal. Ele satisfaz todas as exigências: Ele tem intelecto, vontade e sentimentos. O que os kardecistas entendem por pessoa?
Além dos atos pessoais supra, atribuídos ao Espírito Santo, há muitos outros casos, dos quais alistamos apenas os que vêm a seguir:
1) O Espírito Santo geme inexprimivelmente (Rm. 8:26);
2) O Espírito Santo discorda (At. 16: 6,7);
3) O Espírito Santo concorda (At. 15:28);
4) O Espírito Santo intercede (isto é, ora) por nós (Rm. 8:26).
3.2.2. A Divindade do Espírito Santo
O apóstolo Pedro disse que Ananias mentiu ao Espírito Santo (At. 5:3) e, por conseguinte, a Deus (At 5.4). Se mentir ao Espírito Santo, é mentir a Deus, então o Espírito Santo é Deus.
1 Co. 6:19 diz que nós, os cristãos, somos o templo do Espírito Santo. Ora, só a Deus se dedica templo. Como sabemos, nenhuma frase será bem estruturada até que haja, entre as palavras que a constituem, uma associação de idéias. A palavra “gaiola” tem que ter alguma relação com pássaro. E o vocábulo “chiqueiro” tem que estar ligada de alguma forma ao substantivo porco. Igualmente a palavra “palácio” lembra estadista. Quando isso não ocorre, diz-se que não se está falando coisa com coisa. Deste modo, se somos o Templo do Espírito Santo, então Ele é Deus. Pense: Que seria o Espírito Santo, se fôssemos o seu chiqueiro? E se fôssemos a sua gaiola? Não constituiria mais uma prova de Sua Majestade, se a Bíblia dissesse que somos o seu palácio? Não seria Ele um pássaro, se fôssemos a sua gaiola? Não seria Ele um porco, se fôssemos o seu chiqueiro? (Desculpe-me por usar este último argumento tão forte).
A Bíblia diz que o Espírito Santo é Senhor (2 Co. 3:18 ARA). Este versículo, além de provar a personalidade do Espírito Santo, prova também a Sua Divindade. Claro, algo impessoal não pode ser Senhor. Ademais, neste sentido só Deus é Senhor.
Há, na língua original do Novo Testamento, duas palavras equivalentes a “outro” em Português: ÉTEROS e ALLOS. Esta significa “outro” da mesma espécie, da mesma qualidade e da mesma natureza. Mas aquela significa “outro” diferente. João, por saber que os membros da Trindade são iguais, ao registrar que Jesus nos prometeu outro Consolador, optou pelo vocábulo ALLOS, querendo dizer com isto que o Consolador que Deus nos deu mediante os rogos de Jesus, é igual a este. Logo, o Espírito Santo tem que ser tão Pessoal quanto Jesus. Sim, se Jesus é um personagem, então o Espírito Santo também o é. E se o Consolador é apenas um conjunto de doutrinas, como o imaginam os Kardecistas, então Jesus também é um conjunto de doutrinas. Deste modo temos em Jo 14.16, mais uma exibição da Deidade do Espírito. O raciocínio é o seguinte: Se Jesus é igual ao Pai (Jo 5.18), e não difere do Espírito Santo (Jo. 14:6), então este é igual ao Pai e ao Filho, o que prova a Sua Personalidade e Divindade.
Bem, estamos cientes que os kardecistas negam a Personalidade e a Divindade do Espírito Santo, confundindo-o com a codificação Kardequiana. Mas a coisa não pára por aí. Os kardecistas confundem as manifestações do Espírito Santo com o que eles chamam de mediunidade. Só para citar um exemplo, o senhor Durval Ciamponi, em um artigo de sua autoria publicado no “jornal espírita”, órgão oficial da Federação Espírita do Estado de São Paulo, junho de 1.991, afirmou: “No dia de Pentecostes todos os apóstolos foram envolvidos pelos espíritos, ocorrendo a maior sessão coletiva de manifestação mediúnica na história religiosa do mundo… os… estudiosos irão descobrir que o Espírito Santo nada mais é que a alma dos homens que se foram…”.
Do exposto, certamente está patente que se os Kardecistas são cristãos, então os ateus também o são. Também posso dizer que se os Kardecistas são cristãos, o autor destas linhas é ou hinduísta, ou budista ou muçulmano. Não creio nos Vedas, rejeito a Tripitaca e desdenho o Alcorão; não obstante, sou de uma dessas religiões, ou, quem sabe, de todas as três. Que importa?
Está, pois, claro que o unitarismo (isto, é, negação da Doutrina da Trindade) pregado pelo Kardecismo e muitas outras instituições religiosas, não é cristão; e que o trinitarianismo (postura teológica cristã, segunda a qual a Doutrina da Trindade é correta) pregado pela Igreja Ortodoxa, pelos evangélicos e pela Igreja Católica, é sim, doutrina genuinamente cristã. Se quem nega a Triunidade de Deus está ou não com a razão, é discutível; mas que quem não crê que Deus é Triúno não é cristão, é indiscutível, já que o Cristianismo prega isto.
Outra relevante prova da Divindade do Espírito Santo é o fato de a Bíblia o chamar de Espírito de Deus (1 Sm.10:10; 19:23, etc.). Já fiz constar do primeiro tópico deste capítulo que nenhum estudante da Bíblia pode ignorar a índole dos idiomas semíticos (no caso, o Hebraico, o Aramaico e o Grego), que há por detrás da fraseologia bíblica, sem perder muito por esse desconhecimento. Por exemplo, em Ap. 16:14 lemos: “porque são espíritos de demônios”… (Grifo meu). Ora, os demônios são espíritos, logo, eles não têm espíritos. Espírito não tem espírito. A locução “espírito de demônios” não pode significar, portanto, que tais espíritos pertençam aos demônios (isto é, que sejam da propriedade deles), ou que deles derivem, ou ainda que sejam iguais a eles; antes quer dizer que tais espíritos são demônios. Assim também as locuções Espírito de Deus, Espírito de Jeová e Espírito do Senhor, tão comuns nas páginas da Bíblia. Estas afirmações equivalem a dizer que o Espírito Santo se identifica com Deus por ser da mesma espécie, isto é, Ele é Deus, Jeová e Senhor; sendo, pois, Seu fiel representante, e, por conseguinte, capaz de torná-lo presente e que está a fazê-lo. Uma prova disso está em Rm. 8:9, onde o Espírito Santo é chamado de Espírito de Cristo. Claro, “Espírito de Cristo”, neste caso, não se refere à alma de Cristo, e sim, que o Espírito Santo é igual a Cristo e que, por ser capaz de representá-lo à altura, está a fazê-lo.
Eu disse no parágrafo acima que espírito não têm espírito. Nada mais óbvio, não é mesmo? Sendo assim, a expressão “o Espírito Santo de Deus”, apenas designa que Ele (Refiro-me ao Espírito Santo) é Espírito (isto é, Ele é imaterial), é Santo (separado de todo o mal), e é Divino (ou seja, Ele é Deus). Até porque, uma vez que já concluímos que espírito não possui espírito, Deus não pode ter espírito, pois Ele já é Espírito (Jo. 4:24). Deus, o Pai (a primeira Pessoa da Trindade), também é Espírito Santo, pois é Espírito e é Santo. A Bíblia fala do Pai, do Filho e do Espírito Santo (Mt.28:19), mas estes termos são apenas funcionais, a saber, estas nomenclaturas têm por finalidade única fazer com que não confundamos as Pessoas. Repito: Jesus existe desde a eternidade (Mq.5:2; Jo. 1:1-3,10); logo, não foi criado por ninguém, nem por Deus Pai, pois é Criador (Jo. 1:1-3,10; Cl 1. 14-17; Hb 1: 10, etc.), e não criatura. Desde a eternidade até o momento da Sua humanização, o Filho de Deus não tinha corpo, mas era apenas Espírito. Ora, se o lado Divino de Jesus é o Criador dos Céus, da Terra e de tudo quanto neles há; é Espírito e é Santo, então Jesus não é menos Pai do que o Pai, não é menos Espírito do que o Espírito Santo, nem tampouco é menos Santo do que o Pai e o Espírito Santo juntos.
* * *
No capítulo seguinte vamos considerar mais três incoerências Kardequianas. Vamos provar que segundo o Kardecismo, nós, e também o Senhor Jesus Cristo, já fomos bichos nas encarnações anteriores. Vamos, pois, ao próximo capítulo.
Extraído do livro O ESPIRITISMO KARDECISTA, E SUAS INCOERÊNCIAS – Pr. Joel Santana