Embora a palavra reprovação não ocorre na Bíblia, a forma reprovado ocorre quatro vezes e o plural reprovados três vezes. A palavra reprovado ocorre apenas uma vez no Velho Testamento: “Prata rejeitada lhes chamarão, porque o SENHOR os rejeitou” (Jr 6.30). Neste caso, a palavra “reprovada” é claramente definida no versículo com a razão para ela dada no contexto. Eles foram reprovados porque foram rejeitados. Por que eles foram rejeitados? Por causa de um decreto eterno e soberano? O Senhor disse: “Ponde-vos nos caminhos, e vede, e perguntai pelas veredas antigas, qual é o bom caminho, e andai por ele; e achareis descanso para as vossas almas.” Mas eles responderam: “Não andaremos nele” (Jr 6.16). O Senhor disse novamente: “Também pus atalaias sobre vós, dizendo: Estai atentos ao som da trombeta.” Mas eles responderam novamente: “Não escutaremos” (Jr 6.17). Portanto, eles foram reprovados “porque não estão atentos às minhas palavras, e rejeitam a minha lei” (Jr 6.19). O “determinado conselho e presciência de Deus” (At 2.23) “segundo o conselho da sua vontade” (Ef 1.11) não teve nada a ver com isso.
Passando para o Novo Testamento, descobrimos que as formas da palavra reprovado são usadas seis vezes em quatro contextos. A primeira ocorrência está em Romanos: “E assim como não investigam o conhecimento inerente a Deus, rendeu-os Deus a uma mente reprovada, a práticas inconvenientes” (Rm 1.28). Porque eles “mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível” (Rm 1.23), Deus “os entregou às concupiscências” (Rm 1.24). Porque eles “mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador” (Rm 1.25), Deus “os abandonou às paixões infames” (Rm 1.26). E porque eles “não se importaram de ter conhecimento de Deus” (Rm 1.28), Deus “rendeu-os a uma mente reprovada” (Rm 1.28). Assim como Deus não ordenou suas “concupiscências” ou suas “paixões infames,” da mesma forma Deus não ordenou sua “mente reprovada.” John Murray descreveu uma “mente reprovada” como “abandonada ou rejeitada por Deus, tornando-se incapaz de qualquer atividade digna de aprovação ou estima.” E notem algumas dessas “coisas que não convêm” que esses abandonados a uma “mente reprovada” cometeram: injustiça, fornicação, cobiça. Após nomear estes pecados (1Co 6.9-10), Paulo disse sobre os coríntios: “E é o que alguns têm sido” (1Co 6.11). Os gentios que Deus abandonou “a uma mente reprovada” eram alguns dos convertidos de Paulo. Isto mostra que embora uma mente reprovada era uma mente que Deus não podia aprovar, Deus não criou ninguém reprovado. Alguém é um reprovado por causa de algo que faz. E não há nada que sugere que um reprovado está numa condição permanente, irreversível.
Os dois últimos usos do singular reprovado são encontrados nas Epístolas Pastorais:
E, como Janes e Jambres resistiram a Moisés, assim também estes resistem à verdade, sendo homens corruptos de entendimento e réprobos quanto à fé (2Tm 3.8).
Confessam que conhecem a Deus, mas negam-no com as obras, sendo abomináveis, e desobedientes, e reprovados para toda a boa obra (Tt 1.16).
Por que alguns homens eram “réprobos quanto à fé”? Porque foi eternamente decretado? De forma alguma. É dito que eles resistiram à verdade porque “aprendem sempre, e nunca podem chegar ao conhecimento da verdade” (2Tm 3.7). Clark diz que estes homens “falharam no teste da fé.” Isto está em contraste com aqueles que obedecem as palavras de Paulo: “Procura apresentar-te a Deus aprovado” (2Tm 2.15). Note no versículo seguinte que é para “toda boa obra” que estes são reprovados; a salvação de ninguém não está sequer em vista. Quando sua profissão é colocada à prova em uma boa obra – eles falham no teste. Em ambos os casos, Deus não os fez reprovados. Eles foram reprovados por causa de algo que fizeram. E não há nada que sugere que um reprovado está numa condição permanente, irreversível.
O plural reprovados ocorre três vezes em três versículos:
Examinai-vos a vós mesmos, se permaneceis na fé; provai-vos a vós mesmos. Ou não sabeis quanto a vós mesmos, que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais reprovados. Mas espero que entendereis que nós não somos reprovados. Ora, eu rogo a Deus que não façais mal algum, não para que sejamos achados aprovados, mas para que vós façais o bem, embora nós sejamos como reprovados (2Co 13.5-7).
A questão da interrogação de Paulo era porque os coríntios buscavam “uma prova de Cristo que fala em mim” (2Co 13.3), não porque Paulo desejava saber se os coríntios eram “eleitos” ou “reprovados.” Como prova que Cristo estava falando através dele, Paulo aconselhou os coríntios a examinar a si mesmos. Seu veredito acerca de si mesmos igualmente será seu veredito sobre ele porque eles devem sua salvação a ele (At 18.1, 4, 8). Para afirmar que Cristo estava neles, os coríntios tinham que afirmar que Cristo estava de fato falando através de Paulo. Se eles não eram reprovados então Paulo não era um reprovado. Se Paulo fosse um reprovado então da mesma forma eram eles. Note o contraste entre “provai” e “reprovados” (2Co 13.5) e “aprovados” e “reprovados” (2Co 13.7). A reprovação tinha a ver com falhar em um teste e ser desaprovado. Se Cristo não está em um homem então ele é um reprovado. Isto não significa que Deus o tornou em um reprovado. Significa, entretanto, que um homem é um reprovado por causa de algo que faz. E não há nada que sugere que um reprovado está numa condição permanente, irreversível. O calvinista Charles Hodge corretamente diz sobre “reprovados” que “a palavra deve ser tomada em seu sentido usual, desaprovado, indigno de aprovação.”
Qualquer reprovado na Escritura chegou a esse ponto não por criação divina, mas por seu próprio livre-arbítrio e depravação.
Autor: Laurence Vance