Todos aqueles por quem Cristo morreu devem ser salvos?
Resposta
Será que defender que pessoas sofrerão tormento eterno tendo Cristo morrido por seus pecados realmente não degrada a morte de Cristo? Não seria melhor adotarmos uma posição contrária para desvencilharmos desses problemas? Antes que defender o que seria melhor ou negar o que soa aviltante, precisamos sustentar o que é bíblico, quer as pessoas gostem ou não.
Devemos, antes de mais nada, analisar se a conclusão apresentada verdadeiramente pode ser aceita: pessoas por quem Cristo morreu realmente devem ser salvas? A resposta a esta pergunta irá depender de como entendemos a natureza da expiação de Cristo. Se a vemos como uma dívida pecuniária, não há dúvida de que todos aqueles por quem Cristo morreu devem ser salvos. Isso, não por uma questão de graça, mas de justiça. Não há, não pode possivelmente haver, graça na liberação de uma dívida pecuniária liquidada. O credor deve, por uma questão de justiça, liberar todos aqueles cuja dívida foi, por ele ou por um representante, paga. Agora, se vemos a expiação de Cristo como o pagamento de uma dívida judicial, como realmente ela é, então esta conclusão não somente pode como deve ser descartada. Deus não está obrigado a aceitar o pagamento de uma dívida judicial. Se Ele aceita, é uma questão de graça, não de justiça. Essa é a grande doutrina da graça de Deus, tão linda e fartamente exarada nas Sagradas Escrituras.
Portanto, os cristãos não precisam ter vergonha de responder que pessoas por quem Cristo morreu podem perder-se eternamente. Quem deveriam ter vergonha são os fatalistas que, com esta conclusão, eles não apenas infamam a graça de Deus, eles a eliminam por completo. Não há nenhuma graça se todos aqueles por quem Cristo morreu devem ser salvos.
Esta objeção ainda despreza que os benefícios concedidos por meio de uma satisfação penal podem depender de certas condições a serem cumpridas pelo ofensor. O simples fato de Jesus morrer por uma pessoa não a libera automaticamente da condenação. Nascemos, como todo mundo, “filhos da ira” (Ef 2.3). Enquanto não formos justificados, a ira de Deus permanece sobre nós mesmo tendo Jesus morrido em nosso lugar.
Hodge, invalide esta objeção: Não existe graça alguma em aceitar uma satisfação pecuniária. Ela não pode ser confundida. Ela libera ipso facto. No momento em que a dívida é paga, o devedor fica livre; e isso sem nenhuma condição. Nada disso procede no caso da satisfação judicial. Se um substituto é providenciado e aceito, é uma questão de graça. Sua satisfação não libera ipso facto. Ela pode resultar em benefício daqueles por quem é feita imediatamente ou em um período remoto; completa ou gradualmente; sob condições ou incondicionalmente; ou jamais poderá beneficiá-los, a menos que atenda à condição sob a qual sua aplicação é suspensa.
Logo após ele ainda acrescenta que todos os homens estão na obrigação de crer em Cristo e, se não o fizerem, inevitavelmente perecerão a despeito da satisfação feita por todos os seus pecados (ênfase acrescentada).